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DA ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO ENSINO À POLÍTICA E GESTÃO DA EDUCAÇÃO: MUDANÇAS DE CONCEITOS E DE

PARADIGMAS

O percurso e a trajetória da disciplina na área de política e gestão escolar são amplos e repletos de particularidades, e esta investigação não pretende apresentar uma meta-análise no que se refere aos estudos teóricos e epistemológicos. Não obstante, sua contribuição para o meio educacional delineia-se com o mapeamento dessa temática, procurando contribuir para um entendimento das opções curriculares que expressam o teor formativo encontrado nas ementas e nas bibliografias das instituições pesquisadas e que pode colaborar para uma nova reflexão sobre essas propostas.

Em retrospectiva histórica, pode-se perceber que, quando de sua criação, a disciplina de Estrutura e Funcionamento do Ensino tinha a ênfase centrada na legislação educacional, e sua proposta não previa um entendimento crítico e contextualizado do sistema educacional como um todo, mas o tempo possibilitou o avanço da sua intencionalidade. Esta disciplina foi proposta na reforma educacional ocorrida após o golpe de 1964, especificamente no Parecer CFE 252/1969 (BRASIL, 1981), e foi determinante para definir o teor da formação de professores. Primeiramente, ela era direcionada para a compreensão de que a escola deveria assegurar o desenvolvimento de uma mão de obra qualificada, por meio de uma concepção de educação voltada para a racionalidade, eficiência e produtividade (OLIVEIRA, 2000); passou, na década de 1970, a criticar a reforma de ensino ocorrida pela Lei nº 5.692 (BRASIL, 1971), que vinculava a formação geral à profissional em nível de educação média.

Na década de 1980, as concepções que orientam essa disciplina evoluem para o entendimento de que o professor tem papel determinante na transformação da educação/sociedade; isso ocorreu no contexto do movimento de redemocratização da educação (OLIVEIRA, 2000). Com a

disciplina Estrutura e Funcionamento do Ensino passou a ter concepção mais ampla, substituindo a ideia de formar um professor que entendesse da legislação para um profissional que compreendesse, de forma sistêmica, as políticas educacionais e a gestão escolar. Essa dinâmica e efervescência histórica, associada à formação do professor (explicada pela compreensão do contexto histórico, político, econômico, social e cultural) e ao desdobramento das políticas formativas vistas hoje, permitiu que a escolha da área de políticas educacionais e gestão escolar situasse e justificasse o propósito dessa investigação.

As concepções de estrutura e funcionamento dos níveis de ensino referem-se à organização do ensino e ao desempenho daqueles que compõem o cenário educacional. Segundo o dicionário online Michaelis, estrutura significa: “Organização das partes ou dos elementos que formam um todo. Arranjo de partículas ou partes em uma substância ou corpo; textura” (ESTRUTURA, 2014). Já o Dicionário Aulete Digital, dentre as várias acepções, consigna estrutura como “[...] a forma como as partes que formam um todo se relacionam entre si, determinando o funcionamento desse todo [...]”; “o que é fundamental, essencial”; “[...] a maneira como uma área específica da vida social está organizada”; “[...] conceito teórico das ciências humanas (antropologia, psicologia, etc.), baseado na ideia de estrutura como um sistema de relações que forma um todo sólido, inteligível e coerente, e que é subjacente à variedade e mobilidade dos fenômenos empíricos” (ESTRUTURA, 2012).

Em sua vertente ainda influenciada pela racionalidade técnica impregnada na Lei nº 5.692 (BRASIL, 1971), a disciplina sob a égide da estrutura e funcionamento do ensino pretendia que o estudante compreendesse o encadeamento das partes que compunham o sistema de ensino brasileiro. Já o termo funcionamento conduzia à organicidade, levando-se em conta seu significado: “Ação ou resultado de realizar, com regularidade e precisão, uma função (ou uma série de funções ou operações) para a qual [...] (um) sistema foi planejado” (FUNCIONAMENTO, 2015). Traduzia-se, então, na possibilidade de compreender a ideia de um bom e regular desempenho, que seria útil para a apreensão do termo no campo educacional (VIEIRA, 2009).

A estrutura e o funcionamento conduziam a uma análise do campo de utilidade e funcionamento, ou seja, ao apontar para a estrutura de uma escola, pode-se identificar sua condição predial, suas instalações; já seu funcionamento dirigia-se ao campo das relações estabelecidas por meio da administração da escola. Poder-se-iam encontrar prédios ótimos com péssimo funcionamento, assim como estruturas comprometidas com um movimento educacional muito bom.

Saviani (2000 apud VIEIRA, 2009) traduz essa dimensão dos termos estrutura e funcionamento argumentando que os contextos de sua utilização também definem seus significados. Constitui uma metáfora entre a estrutura e o funcionamento com dois campos das Ciências Biológicas: a Anatomia e a Fisiologia. Com a Anatomia, estabelece a relação da estrutura da escola, uma vez que este ramo da medicina estuda a forma e a estrutura dos diferentes elementos constituintes do corpo humano. Já com a Fisiologia a relação se dá pelo funcionamento, uma vez que esta área se ocupa dos estudos sobre a morfologia interna e externa dos seres vivos. Libâneo (2007), analisando a transição de um paradigma no qual a disciplina de Estrutura e Funcionamento do Ensino dá espaço a uma nova configuração pautada na Política e na Gestão, pontua que o contexto de intensas discussões sobre as políticas educacionais, sobre a escola pública e sobre a legislação educacional, que se efetivou a partir de 1980, propiciou o questionamento de toda a legislação anterior por seu caráter tecnicista e altamente positivista. Frente a esse processo de mudança, a disciplina, até então catalogada pela estrutura, passou a ser trabalhada sob o enfoque da política e gestão, pautada em abordagem político-ideológica, utilizando-se textos críticos em detrimento dos documentos legais, o que pode projetar um processo de ensino com uma abordagem parcial e frequentemente partidarizada.

Ainda, na percepção apresentada por Libâneo (2007), não raras vezes, a redução do estudo à análise político-ideológica do sistema de ensino e da legislação pode ter promovido um recorte na especificidade do conteúdo da Administração Escolar, sendo que, para atender a esse novo enfoque, alguns cursos de licenciaturas promoveram a adequação da nomenclatura das disciplinas de Administração Escolar e Estrutura e Funcionamento do

por exemplo: Educação Brasileira, Políticas Educacionais, Organização do Trabalho Pedagógico (ou Escolar), Gestão Escolar, com predomínio da análise política do que das questões propriamente administrativas.

Neste contexto, é preciso destacar que, ao longo da história, o conceito de política foi definindo-se de acordo com as necessidades, o que foi gerando um movimento para a constituição da disciplina que ora se apresenta. Para Ney (2008) a palavra política apresenta-se com duas acepções: pode referir-se ao programa de ação, ou seja, está nos fins a serem alcançados por uma administração/gestão, ou às políticas de Estado, visando definir meios e fins, por intermédio do poder e dos recursos disponíveis, para a realização da ação.

É possível compreender que:

[...] no caso brasileiro, a atual política educacional é parte do projeto de reforma do Estado que, tendo como diagnóstico da crise, a crise do Estado, e, não do capitalismo, busca, racionalizar recursos, diminuindo o seu papel que se refere às políticas sociais. E, dá-se em um contexto em que a proposta do governo federal para fazer frente para a crise do capital baseia-se na atração de capital especulativo, com juros altos, o que tem aumentado as dívidas interna e externa, provocando uma crise fiscal enorme nos Estados e municípios. Portanto, o governo propõe a municipalização das políticas sociais no exato momento em que os municípios têm, como principal problema, saldar as dívidas para com a União e, assim, não têm como investirem em políticas sociais. Isso nos leva a crer que a proposta de descentralização apresentada pela União consiste-se, em todos os sentidos, em um repasse, para a sociedade, das políticas sociais (NEY, 2008, p. 59).

Não obstante, cabe salientar que, com o advento da Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB nº 9.394 (BRASIL, 1996), a disciplina de Estrutura e Funcionamento do Ensino se consolida sob novas denominações, que traduzem também abordagens condizentes com os ajustes legais e o momento político do país. Esta lei incumbiu os sistemas de ensino e suas instituições a elaborar seus projetos pedagógicos e neles imprimir sua identidade, inclusive nos currículos, de forma que estes fossem analisados de acordo com as diferentes realidades que o país agrupa. As matrizes curriculares que antes recebiam de maneira engessada os mesmos nomes para as disciplinas que ofertavam, foram realinhadas com novos

componentes curriculares e títulos que traduzissem sua abrangência. Essa demanda evidencia-se no tópico a seguir, que traduz os diferentes nomes que a disciplina responsável pela temática de política educacional e gestão escolar recebe nas instituições pesquisadas.

EM DISCUSSÃO A DISCIPLINA DE POLÍTICAS EDUCACIONAIS: UM

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