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ESTRUTURA ORGANIZACIONAL E FUNÇÕES INSTITUCIONAIS DA

4 RELEVÂNCIA DA DEFENSORIA PÚBLICA NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE

4.4 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL E FUNÇÕES INSTITUCIONAIS DA

O quadro estrutural da Defensoria Pública é formado pela Defensoria da União, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Estados, conforme previsto na Lei Complementar Federal nº 80/1994260.

Cada uma destas Defensorias guarda unidade própria e indivisibilidade entre seus membros, mas não entre as mesmas, sendo que cada qual possui sua autonomia administrativa e organizacional, sendo seus membros aprovados mediante concurso público de provas e títulos.

Ao revés do que vem acontecendo em alguns Municípios, a Lei Complementar Federal nº 80/1994, não previu a instituição de Defensoria Pública Municipal, bem como, face a simetria com a organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, que encontram previsão constitucional apenas nas esferas Federal e Estadual, não se pode admitir a instituição absurda de Defensorias Públicas Municipais. Não se pretende com este argumento, afirmar que a assistência judiciária seria atribuição exclusiva do Órgão Defensorial, e sim, evitar que sejam utilizados os símbolos, garantias e prerrogativas dos Defensores Públicos por pessoas que não fazem parte do quadro funcional da instituição.

A Defensoria Pública da União tem por atribuição a defesa dos hipossuficientes no âmbito federal, trabalhista, eleitoral, militar, junto aos Tribunais Superiores e instâncias administrativas da União, localizando-se em regra nas capitais dos Estados. Noutro pórtico, face a grande quantidade de pessoas que necessitam dos préstimos do Defensor Público Federal, verifica-se a crescente instalação desta instituição em outras cidades de grande porte nos Estados da Federação.

Ademais, sobre a atuação do Defensor Público Federal, merece destaque a relevância do mesmo nas demandas de natureza previdenciária, na qual, na seara da Justiça Federal, é crescente o número de demandas propostas, com o fito de revisar ou implantar benefícios previdenciários ou assistenciais, ressaltando-se ainda de oportuno, que nas comarcas que não for sede da Justiça Federal, deverá o Defensor Público Estadual, em atenção ao disposto no

260 Art. 2º A Defensoria Pública abrange: I - a Defensoria Pública da União;

II - a Defensoria Pública do Distrito Federal e dos Territórios;

III - as Defensorias Públicas dos Estados. Consulta realizada no site www.planalto.gov.br, em 05 de junho de 2011.

artigo 109, § 3º261 da Constituição Federal, atender e propor a demanda de natureza previdenciária.

A Defensoria Pública da União organiza-se, consoante o disposto no artigo 5º da Lei Complementar Federal nº 80/1994262.

De seu turno, a Defensoria Pública do Distrito Federal, em que pese ser organizada pela União, consoante artigo 21 inciso XIII da Constituição Federal263, tem por dever a atuação dentro do Distrito Federal nas causas que não sejam de âmbito federal ou trabalhista, ou seja, atribuição semelhante a das Defensorias Públicas Estaduais.

No âmbito estadual, as Defensorias Públicas em regra, organizam-se com os seguintes órgãos: a Defensoria Pública-Geral do Estado, a Subdefensoria Pública-Geral do Estado, o Conselho Superior da Defensoria Pública do Estado, a Corregedoria-Geral da Defensoria Pública do Estado e como órgãos de atuação os Defensores Públicos Estaduais.

Destaque-se ainda, as funções institucionais, dentre as quais promover, extrajudicialmente, a conciliação entre as partes em conflito de interesses; patrocinar ação penal privada e a subsidiária da pública; patrocinar ação civil; patrocinar defesa em ação penal; patrocinar defesa em ação civil e reconvir; atuar como Curador Especial, nos casos previstos em lei; exercer a defesa da criança e do adolescente; atuar junto aos estabelecimentos policiais e penitenciários, visando assegurar à pessoa, sob quaisquer circunstâncias, o exercício dos direitos e garantias individuais; assegurar aos seus assistidos, em processo judicial ou administrativo e aos acusados em geral, o contraditório e a ampla defesa, com recursos e meios a ela inerentes; atuar junto aos Juizados Especiais; patrocinar os

261Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...)

§ 3º - Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dos segurados ou beneficiários, as causas em que forem parte instituição de previdência social e segurado, sempre que a comarca não seja sede de vara do juízo federal, e, se verificada essa condição, a lei poderá permitir que outras causas sejam também processadas e julgadas pela justiça estadual. Consulta realizada no site www.planalto.gov.br, em 05 de junho de 2011.

262Art. 5º A Defensoria Pública da União compreende: I - órgãos de administração superior:

a) a Defensoria Pública-Geral da União; b) a Subdefensoria Pública-Geral da União;

c) o Conselho Superior da Defensoria Pública da União; d) a Corregedoria-Geral da Defensoria Pública da União; II - órgãos de atuação:

a) as Defensorias Públicas da União nos Estados, no Distrito Federal e nos Territórios; b) os Núcleos da Defensoria Pública da União;

III - órgãos de execução:

a) os Defensores Públicos Federais nos Estados, no Distrito Federal e nos Territórios (Alteração da Lei Complementar nº 132/2009). Consulta realizada no site www.planalto.gov.br, em 05 de junho de 2011.

263Art. 21. Compete à União: (...)

XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público e a Defensoria Pública do Distrito Federal e dos Territórios; Consulta realizada no site www.planalto.gov.br, em 05 de junho de 2011.

direitos e interesses do consumidor lesado, dentre outros, consoante disposição do artigo 4º da Lei Complementar nº 80/1994264, podendo cada Estado Membro, restringir ou ampliar estas funções, no qual destaca-se no Estado do Rio Grande do Norte, a Lei Complementar nº 251 de 2003265 prevê em seu artigo 3º, inciso XII, que caberá ao Defensor Público promover, junto aos cartórios competentes, o assentamento de registro civil de nascimento e óbito de necessitados . Já no Estado do Ceará, consoante Lei Complementar nº 06/1997266, é atribuição do Defensor Público a defesa dos praças da Polícia Militar, perante a Justiça Castrense Estadual.

Merece ainda destaque, a possibilidade da Defensoria Pública tutelar os interesses não só de pessoas físicas, mas também as pessoas jurídicas podem buscar a assistência

264 Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:

I - promover, extrajudicialmente, a conciliação entre as partes em conflito de interesses; II - patrocinar ação penal privada e a subsidiária da pública;

III - patrocinar ação civil;

IV - patrocinar defesa em ação penal;

V - patrocinar defesa em ação civil e reconvir;

VI - atuar como Curador Especial, nos casos previstos em lei; VII - exercer a defesa da criança e do adolescente;

VIII - atuar junto aos estabelecimentos policiais e penitenciários, visando assegurar à pessoa, sob quaisquer circunstâncias, o exercício dos direitos e garantias individuais;

IX - assegurar aos seus assistidos, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral, o contraditório e a ampla defesa, com recursos e meios a ela inerentes;

X - atuar junto aos Juizados Especiais de Pequenas Causas; XI - patrocinar os direitos e interesses do consumidor lesado; § 1º (VETADO)

§ 2º As funções institucionais da Defensoria Pública serão exercidas inclusive contra as Pessoas Jurídicas de Direito Público.

§ 3º (VETADO) Consulta realizada no site www.planalto.gov.br, em 05 de junho de 2011.

265 Art. 3º São funções institucionais da Defensoria Pública do Estado, dentre outras que lhes sejam correlatas: I - promover, extrajudicialmente, a conciliação entre as partes em conflito de interesses;

II - patrocinar ação penal privada e a subsidiária da pública; III - patrocinar defesa em ação penal;

IV - patrocinar ação civil;

V - patrocinar defesa em ação civil e reconvir;

VI - atuar como Curador Especial de necessitados, nos casos previstos em lei; VII - exercer a defesa da criança e do adolescente, nos casos previstos em Lei;

VIII - atuar junto aos estabelecimentos policiais e penitenciários, visando assegurar à pessoa, sob quaisquer circunstâncias, o exercício dos direitos e garantias individuais;

IX - assegurar aos seus assistidos, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral, o contraditório e a ampla defesa, com recursos e meios a ela inerentes;

X - atuar junto aos Juizados Especiais Cíveis e Criminais;

XI - patrocinar os direitos e interesses do consumidor necessitado lesado;

XII - promover, junto aos cartórios competentes, o assentamento de registro civil de nascimento e óbito de necessitados.

Parágrafo único. As funções institucionais da Defensoria Pública do Estado serão exercidas inclusive contra as Pessoas Jurídicas de Direito Público. Consulta realizada no site www.planalto.gov.br, em 05 de junho de 2011. 266 Art. 3º. São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras: (...)

XIII - defender os praças da Polícia Militar, perante a Justiça Militar do Estado; (...).Consulta realizada no site www.planalto.gov.br, em 05 de junho de 2011.

judiciária, uma vez que o artigo 134 da Carta Política não traz qualquer restrição, desde que comprovada a sua condição de hipossuficiência. Neste sentido, escreve Sérgio Luiz Junkes267:

Em termos genéricos, dentre as pessoas jurídicas merecedoras de assistência jurídica podem ser alinhadas aquelas, desprovidas de patrimônio, ou com patrimônio inalienável ou reduzido, as que tenham fins filantrópicos, assistenciais ou que sejam reconhecidas de utilidade pública. Nesse último caso, segundo Marcacini, tais pessoas jurídicas além de suprirem funções em que o desempenho do Estado é insatisfatório, não têm como obter recursos para financiar uma demanda judicial. Em contrapartida, conforme Marcacini, deve ser vedada, via de regra, a concessão do beneficio às pessoas jurídicas que tenham fins lucrativos, muito embora deficitárias, quando os seus sócios reúnam condições ou de investir mais capital na sociedade ou, então, de arcar somente com os ônus processuais. Também, em principio, deve se negar a assistência jurídica às sociedades sem fins lucrativos, quando estas sirvam aos seus associados, como no caso de clubes e associações esportivas. Nesse caso, o benefício só seria justificável se os seus associados não pudessem de alguma forma custear o valor das despesas processuais e honorários advocatícios, através do acréscimo correspondente nas contribuições ou mensalidades cobradas pela sociedade, ou então, por meio da instituição de alguma taxa social. De qualquer maneira, conforme Marcacini, só diante de um caso concreto é que se poderá aferir a impossibilidade de a pessoa jurídica litigar em juízo, a menos que gratuitamente. Verificada essa impossibilidade, deverá ser concedida a assistência jurídica à sociedade postulante.

Cumpre destacar no entanto, que encontra-se em curso perante o Supremo Tribunal Federal268, Ação Direta de Inconstitucionalidade n° 4636269, movida pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), tendo por objeto a declaração de inconstitucionalidade de dispositivos da Lei Complementar n° 80/1994 e 132/2009, que permitem à Defensoria Pública atuar em favor de pessoas jurídicas, bem como determinando a capacidade postulatória do Defensor Público a partir de sua investidura no cargo270.

Neste esteio entende a aludida entidade de classe que a Defensoria Pública ao defender pessoas jurídicas, extrapolaria seu mister constitucional, conforme artigo 134, que determina a defesa dos ―necessitados‖, conquanto que pessoas jurídicas não se enquadrariam neste conceito.

267 JUNKES, Sérgio Luiz. Defensoria pública e o princípio da justiça social. Curitiba: Juruá, 2006, p. 83. 268 A referida ação ainda encontra-se em curso perante o Supremo Tribunal Federal, tendo sido protocolizada em 01 de agosto de 2011, sendo o relator o Ministro Gilmar Ferreira Mendes.

269 Disponível no site www.stf.jus.br, consulta realizada em 20 de agosto de 2011. 270 Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:

V – exercer, mediante o recebimento dos autos com vista, a ampla defesa e o contraditório em favor de pessoas naturais e jurídicas, em processos administrativos e judiciais, perante todos os órgãos e em todas as instâncias, ordinárias ou extraordinárias, utilizando todas as medidas capazes de propiciar a adequada e efetiva defesa de seus interesses; (Redação dada pela Lei Complementar nº 132, de 2009). (...)

§ 6º A capacidade postulatória do Defensor Público decorre exclusivamente de sua nomeação e posse no cargo público. (Incluído pela Lei Complementar nº 132, de 2009). Consulta realizada no site www.planalto.jus.br, em 20 de agosto de 2011.

Bem como, os Defensores Públicos em sua essência seriam advogados, devendo-se manter vinculados a Ordem dos Advogados do Brasil, pagando suas anuidades.

Cumpre, com todo respeito, discordar do entendimento resgatado da referida Ação Direta de Inconstitucionalidade, posto que pessoas jurídicas podem se encontrar em situações de vulnerabilidade, quando não possuem qualquer dinheiro em caixa, sendo seu capital social sequer integralizado, ademais, pessoas jurídicas que apresentem dificuldades, apresentam como regra sócios ou administradores com iguais dificuldades, não podendo contratar advogados para representa-los juridicamente. Prudente ainda lembrar, que existem também pessoas jurídicas filantrópicas, ou seja, que não detêm o lucro como finalidade.

Conquanto, no que concerne à discussão sore a manutenção do Defensor Público, como membro da Ordem dos Advogados do Brasil, assim como outras carreiras jurídicas que também detém capacidade postulatória, esta capacidade decorre da posse no cargo de Defensor, na qual, a função advocatícia exercida é exclusiva no exercício de seu mister constitucional271.

Destarte, não se há como negar a possibilidade de se prestar assistência judiciária às pessoas jurídicas, desde que comprovada a impossibilidade desta de custear honorários advocatícios, face a inexistência de óbices legais para tanto.

A título informativo, e para melhor verificar como está organizada a Defensoria Pública no Brasil, o Ministério da Justiça já realizou 03 (três) diagnósticos que retratam a situação desta instituição. O último diagnóstico é datado de 2009, e contou com a contribuição direta de diversos Defensores Públicos do país, que responderam a questionários sobre a situação real do Órgão Defensorial.

271 Relevante destacar que o parecer da Advocacia Geral da União nesta Ação Direta de Inconstitucionalidade, é no sentido de que não haveria inconstitucionalidade. O parecer assinado pelo advogado-geral substituto, Fernando Luiz Albuquerque e Faria, destaca que a prestação de assistência jurídica integral e gratuita pela Defensoria Pública ―se relaciona à situação econômica, e não à natureza do interessado‖. Ainda de acordo com o parecer, a prestação de assistência a pessoas jurídicas justifica-se na medida em que tais entidades, criadas com ou sem fins lucrativos, podem não ter condições econômicas de custear um processo. A Advocacia-Geral lembrou ainda que o próprio Supremo Tribunal Federal, por meio de suas turmas, já se pronunciou pelo reconhecimento do direito a assistência judiciária gratuita das pessoas jurídicas, desde que comprovada a insuficiência de recursos. A Advocacia Geral da União pondera, no entanto, que artigo 133 da Constituição Federal não exige que a advocacia seja atividade privativa daqueles que possuam inscrição na OAB, pois o mandamento constitucional estabelece, apenas, que ―o advogado é sujeito indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão‖. Assim, a Lei Complementar 132/09, ao modificar a Lei Complementar 80/94, estabelecendo que a capacidade postulatória dos defensores públicos decorre da nomeação e posse, revogou a norma que incluía os membros da Defensoria Pública dentre os que deveriam ter inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil, com a obrigação de contribuir para a entidade.

Analisando o Terceiro Diagnóstico272, verifica-se que até julho de 2009, estavam na ativa no Brasil 4.515 (quatro mil quinhentos e quinze)273 Defensores Públicos, totalizando uma média de 32.044 (trinta e dois mil e quarenta e quatro) cidadãos274 por Defensor Público.

4.5 DIREITOS, PRERROGATIVAS, OBRIGAÇÕES E GARANTIAS INSTITUCIONAIS