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NATUREZA JURÍDICA E PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS DA DEFENSORIA

4 RELEVÂNCIA DA DEFENSORIA PÚBLICA NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE

4.3 NATUREZA JURÍDICA E PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS DA DEFENSORIA

A Defensoria Pública encontra-se hoje em patamar constitucional, encontrando sua definição legal no art. 134 da Constituição Federal.

Ao exercer o seu munus, o Órgão Defensorial envolve duas atividades basilares: a) a de consultoria, e b) a de representação, esta inerente tanto a esfera judicial e extrajudicial. No exercício do seu mister, cabe a Defensoria Pública a defesa dos interesses jurídicos dos seus tutelados, podendo ser consultiva ou postulatória, de ordem preventiva ou consistente na provocação da atuação de qualquer dos poderes do Estado, mormente, Judiciário.

Goza ainda a Defensoria Pública de autonomia funcional e administrativa, tendo sido estas reforçadas após a Emenda Constitucional nº 45/2004, fixando-se, ainda, sua competência para proposta orçamentária, conforme artigo 134, § 2º254, gerando uma importante desvinculação do Poder Executivo, garantido uma maior independência funcional na atuação do Defensor.

No que concerne a necessidade do Defensor Público estar inscrito perante a Ordem dos Advogados do Brasil, e pagar a anuidade desta entidade profissional, tal obrigação não se coaduna propriamente com o mister defensorial, primus porque a capacidade postulatória255 do Defensor Público é inerente ao cargo que exerce, secundus o Defensor Público não recebe honorários advocatícios, sendo estes revertidos a um fundo financeiro institucional, tercius o Defensor Público é proibido de exercer a atividade advocatícia fora de sua atividade institucional, não o podendo fazer nem em causa própria.

254 Art. 134. A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV.)

§ 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e dos Territórios e prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados, em cargos de carreira, providos, na classe inicial, mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições institucionais. (Renumerado pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004).

§ 2º Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas autonomia funcional e administrativa e a iniciativa de sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias e subordinação ao disposto no art. 99, § 2º. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). Consulta realizada no site www.planalto.gov.br, em 05 de junho de 2011.

255 Capacidade postulatória também discutida na Ação Direta de Inconstitucionalidade n° 4636, discutida à fl. 169 desta dissertação.

Sobre o pagamento de anuidade da Ordem dos Advogados do Brasil, interessante é a ponderação de Paulo Galliez256:

O ingresso na carreira, como se sabe, só é possível mediante a realização de concurso público e provas e títulos, sendo vedado, a partir daí o exercício da advocacia. Por outro lado, a atuação do Defensor Público decorre de munus público sendo-lhe dispensado, por isso mesmo, comprovar inscrição nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil, por ser indiferente a qualificação de ―advogado‖ para assim agir, pois a prática profissional de seus atos está respaldada em mandato constitucional.

A Defensoria Pública tem como princípios institucionais a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional, consoante disposição do artigo 3º da Lei Complementar Federal n º 80/1994257.

O princípio da unidade significa que a Defensoria Pública é um todo orgânico formado por idênticos aspectos estruturais (mesma direção, mesmos fundamentos e mesmas finalidades). Destarte, impossível a existência de instituições públicas concorrentes, com a mesma base política e com chefias distintas, para o exercício das funções cometidas a cada Defensoria Pública.

O princípio da indivisibilidade dispõe que a Defensoria Pública é um todo orgânico, não admite rupturas e fracionamentos, possibilitando que seus membros, substituam uns aos outros sem qualquer prejuízo para a atuação institucional e validade processual. No entanto, este princípio somente se aplica às defensorias de cada unidade da federação, ou seja, no que concerne ao princípio da unidade, seus membros devem estar sob uma mesma direção no âmbito na federação e, no que concerne ao princípio da indivisibilidade, podem se substituir uns defensores pelos outros apenas dentro do mesmo Estado.

No que concerne ao princípio da independência funcional, a Defensoria Pública deve gozar de plena autonomia para atuar livremente, livre de qualquer ingerência de outro organismo estatal, e inclusive do próprio Poder Executivo, ao qual se encontra vinculado por força da Emenda Constitucional nº 45/2004.

A subordinação a que estão sujeitos os membros da Defensoria é apenas administrativa e não hierárquica, ou seja, os Defensores Públicos, no uso de suas funções institucionais, estão sujeitos apenas aos ditames legais, e à sua própria convicção e não a ordens de quem quer que seja. No entanto, no plano administrativo, estão os Defensores

256 GALLIEZ, Paulo. Princípios institucionais da defensoria pública. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001, p. 16. 257 Art. 3º São princípios institucionais da Defensoria Pública a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional. Consulta realizada no site www.planalto.gov.br, em 05 de junho de 2011.

Públicos sujeitos aos atos e decisões de direção, organização e fiscalização dos Órgãos Superiores da Defensoria Pública.

No afã de esclarecer a independência funcional, prudente mencionar o magistério de Hely Lopes Meirelles apud Paulo Galliez258 “Atuam com plena liberdade funcional, equiparável à independência dos juízes nos seus julgamentos, desempenhando suas atribuições com prerrogativas e responsabilidades próprias, estabelecidas na Constituição e em leis especiais”.

Destarte os princípios institucionais da Defensoria Pública assemelham-se com os primados norteadores do Ministério Público, tendo como objetivo fortalecer o Defensor Público no exercício de seu mister e enaltecer a instituição. Não se pode falar em uma instituição forte, capaz de tutelar os interesses da maioria menos favorecida, se existisse qualquer subordinação hierárquica do Defensor em face do Executivo ou Judiciário, se houvesse tal subordinação, não poderíamos falar nas inúmeras demandas propostas pela Defensoria face aos governos dos Estados e da União, ou então, da possibilidade de interposição de recursos, se os Defensores fossem subordinados ao Judiciário, tendo que acatar as decisões dos juízes.

Assim como os Magistrados julgam de acordo com o seu livre convencimento, deve o Defensor agir dentro dos limites do seu próprio convencimento, gozando de sua independência funcional, não sendo compelido no seu agir, pode-se até tomar por diapasão o disposto no artigo 28259 do Código de Processo Penal, na qual, não entendendo o Promotor de Justiça pelo oferecimento da denúncia, os autos do Inquérito Policial serão remetidos ao Procurador Geral de Justiça, que por sua vez oferecerá ele próprio a denúncia ou remeterá os autos para outro Promotor de Justiça fazê-lo, e nunca obrigar o Promotor original a fazê-lo, preservando a sua independência funcional.

258 GALLIEZ, Paulo. Princípios institucionais da defensoria pública. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001, p. 16. 259 Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender. Consulta realizada no site www.planalto.gov.br, em 05 de junho de 2011.

4.4 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL E FUNÇÕES INSTITUCIONAIS DA