• Nenhum resultado encontrado

3. GESTÃO PT – 1997 a 2002 – ISOLAMENTO POLÍTICO

3.3 A Estrutura Organizacional

para mim foi um momento muito difícil51

Essa declaração é reforçada por Ricardo Marques, quando afirma que,

esses quatro primeiros anos [1997-2000] a percepção que eu tinha, próximo, mas não dentro, era que a cultura não tinha prioridade, porque tinha muita coisa para fazer [na cidade]. Então Sônia não tinha muito o que fazer. O que tinha era o Micareta, o São João que era barracão e o Natal. (...). Era isso e os apoios, quando dava, pois Sônia não tinha orçamento e nem força política52.

Na verdade, a Micareta de Vitória da Conquista, que surgiu no ano de 1989 e que até o ano 2000 ocupava o lugar de terceiro maior evento carnavalesco da Bahia, ficando atrás de Salvador e Feira de Santana, e o São João, eram organizados pelo Departamento de Turismo, que agregava a Secretaria Municipal de Expansão Econômica, e não pela Coordenação de Cultura.

Mas, para analisarmos melhor as ações que conseguiram ser realizadas pela Coordenação de Cultura durante esse período, vamos explorar mais sua estrutura e equipamentos.

3.3 A Estrutura Organizacional

Até esse momento, o organograma administrativo da prefeitura era regido pela Lei n.º 421, de 31 de dezembro de 1987. A cultura estava incorporada à Secretaria Municipal de Educação e Cultura, tendo a Coordenação de Cultura como setor responsável por “planejar, coordenar e promover as atividades de cultura no Município”53, composta por três divisões: Divisão de promoção cultural; Divisão de Esportes e Recreação e a Biblioteca Municipal.

À Divisão de Promoção Cultural competia o desenvolvimento, planejamento e execução da política cultural do município. Observando o artigo 99 e seus incisos, a política cultural estava pautada em programas e ações de cunho cultural e artístico, além da proteção ao patrimônio cultural, histórico, artístico e até ambiental. As palavras desenvolvimento, estímulo e incentivo se fazem presente em quase todos os incisos do mencionado artigo, dando uma conotação de presença do poder público quanto ao fomento criativo, econômico e simbólico da

51 Entrevista concedida por Sônia Leite, em abril de 2019 52 Entrevista concedida por Ricardo Marques, em junho de 2019. 53 Art. 97 da Lei 421/1987.ica

cultura. Contudo, o conceito de cultura fica subentendido como “cultivo das ciências das artes e das letras”.

Além dessa divisão específica, o Conselho Municipal de Cultura (CMC) compõe o organograma da Secretaria Municipal de Educação e Cultura, como órgão normativo, deliberativo e consultivo sobre todos os assuntos culturais de competência do Município. Sua composição continha 10 (dez) membros que eram escolhidos, convidados e nomeados pelo prefeito, com prévia aprovação da Câmara Municipal de vereadores. Os critérios para o convite eram ser pessoa eminente de cultura e de reconhecida idoneidade, com residência no Município e que representasse alguma arte, ciência e letras, conforme os termos da lei.

O decreto nomeando o primeiro conselho da gestão estudada é o de número 9.352, datado de 08 de dezembro de 199854. Apesar de muitas buscas e solicitações junto à Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista, apenas um documento sobre as atividades do Conselho foi encontrado. Trata-se da pauta para discussão de uma reunião do conselho datada de 13 de julho de 199955. As atas, ou mesmo o Regimento Interno, não foram encontrados.

Apesar da ausência de mais documentos, é possível perceber algumas preocupações levantadas pelo o CMC naquele momento e a tentativa de organização interna em comissões temáticas para atacarem os pontos abordados. A exemplo da criação de uma comissão para organizar um cadastramento dos artistas e entidades culturais da cidade, para levantamento dos prédios e casarões para fins de tombamento, para acompanhamento dos projetos culturais enviados pela PMVC ao Ministério da Cultura56 e para elaboração de um calendário cultural para o município.

Outro ponto interessante do documento foi a sugestão de uma comissão para estudar e criar uma Secretaria Municipal de Cultura, como uma pasta independente da Secretaria de Educação. Contudo, a cultura permaneceu preterida na pasta da Educação até o ano de 2004, momento da primeira reforma administrativa realizada pelo governo petista.

Mas, podemos inferir uma certa dificuldade de atuação do CMC a partir da pouca participação dos membros, quando na pauta sugere, como ponto de discussão, a substituição automática dos membros ausentes às reuniões, situação que já teria sido levantada numa reunião ocorrida no dia 04 de maio de 1999.

54 Documento anexado 55 Documento anexado

Em entrevista concedida por Edgar Larry57, que à época era o presidente do Conselho, ele confirmou essa situação, assegurando que essas ausências eram resultado da falta de estrutura para o conselho trabalhar e da falta de espaço político por parte da gestão, levando a todos, gradativamente, a se desmotivarem quanto à permanência no Conselho. A única ação que o Conselho conseguiu efetuar, na época, foi o tombamento do prédio onde funcionou, durante muitos anos, a sede da Rádio Clube FM da cidade e do Grêmio Dramático Castro Alves. Ele disse que era

um período ainda (...) incipiente quanto a organização da cultura municipal de Vitória da Conquista, ainda padecendo, como até hoje é uma reclamação grande, de uma secretaria de cultura que funcionasse adequadamente. Me lembro que naquele momento, conversando com os pares, os conselheiros, a discutir a construção de um projeto político para a cultura do município, levando-se em conta (...) que Conquista possuía, e ainda possui, a cultura em grande destaque, com grande potencial para ser um atrativo, inclusive turístico para a cidade. (...) E nessa esteira uma das coisas que foram bem definidas, foi justamente o papel do Conselho do Municipal de Cultura criando, propondo uma política nesse sentido. Então, o papel do Conselho Municipal de Cultura que vinha num direcionamento apenas de mapeamento dos prédios históricos da cidade, dos casarões, ele passou a ter uma dimensão maior naquele momento, com essa nova formação do conselho, quando nós começamos a discutir. (...). E naquele momento de grandes mudanças políticas no município e de grandes expectativas, nós sentimos muita dificuldade em desenvolver um processo cultural adequado e que atendesse as expectativas, principalmente dos artistas de todos os setores. E foi um momento um muito difícil, porque a cultura infelizmente, sempre não esteve em primeiro plano, nas escolhas, nas ações programáticas das políticas dos poderes públicos, e na nossa cidade não foi diferente. (...). Consideramos que foi um momento muito difícil. Não tivemos o apoio [do governo] que achamos que deveríamos ter naquele momento, era um governo recente, de uma outra formação política, então acreditamos que o governo ainda estava se deparando com uma nova realidade e, por isso, não foi o projeto que sonhamos para aquele momento. Mas percebemos o embate de posicionamentos internos dos participantes do conselho. Quanto à atuação do CMC, Sônia Leite relata que:

O Conselho de Cultura sempre foi ocupado, praticamente por pessoas convidadas pelo prefeito... Acho que o Conselho de Cultura também naquele momento também não tinha representante de toda classe... Eu não tinha força [política] e ficava sempre com as mesmas pessoas, sempre, sempre... Eu sempre dizia que era um conselho elitista58.

57 Edgar Larry é poeta, escritor, advogado e professor da UESB. Foi integrante do Grupo de Teatro Avante Época,

além de presidente da Casa da Cultura e da Academia Conquistense de Letras. Entrevista concedida no dia 23 de julho de 2019.

Considerando que a Constituição Federal de 1988, pautada na redemocratização, inaugurou um período de formação participativa institucionalizada a partir de conselhos e conferências; considerando ainda que o governo do PT na cidade de Vitória da Conquista buscou implantar uma gestão cujo lema era “Governo Participativo”, com a presença direta da sociedade civil organizada em conselhos, associações e outros, a manutenção de um conselho de cultura totalmente nomeado pelo Prefeito, sem anuência de qualquer instituição civil, o que soava minimamente contraditório, pode-se dizer que, em tais circunstâncias, as possibilidades de construção de debates para a formação de um pensamento político e cultural para a cidade, que ambicionasse atingir a toda região, todos os bairros, classes sociais e linguagens de forma democrática, eram bem restritas.

Fato curioso sobre a estrutura da Coordenação de Cultura é a ausência, no corpo da lei, dos equipamentos culturais pertencentes ao município que já existiam na época. Eram eles: o Teatro Municipal Carlos Jehovah, a Filarmônica Maestro Francisco Vasconcelos e o Conservatório de Música que funcionava num casarão pertencente ao poder municipal denominado Casa Régis Pacheco. E, apesar da lei 421/1987 citar ser de responsabilidade da Coordenação Municipal organizar, manter e supervisionar o Museu Municipal, este não existia na cidade enquanto um setor na prefeitura.