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4.2 Base teórica para os procedimentos metodológicos

4.2.3 Estudo de casos múltiplos

O estudo de caso envolve o exame de determinado fenômeno em seu ambiente natural. É voltado especificamente para a pesquisa em áreas tópicas na qual a ênfase esteja no entendimento de questões relacionadas a determinado conjunto de eventos contemporâneos, sendo o seu objetivo obter insight para construir teoria e não para testar hipóteses. Apesar dos termos "estudo de caso" e "abordagem qualitativa" serem freqüentemente utilizados para estabelecer relação absolutamente inferencial, o estudo de caso pode envolver somente dados qualitativos, somente dados quantitativos e ambos (EISENHARDT, 1989; YIN, 2001). Comumente se combinam métodos de coleta de dados como análise documental, entrevistas e observações para permitir a triangulação, isto é, a comparação dos dados de tal forma que incentive linhas convergentes de investigação. Com a triangulação, obtêm-se conclusões mais convincentes e exatas ao corroborar ou não a informação obtida (YIN, 2001).

No estudo de caso, a generalização é possível mas não automática. Deve- se adotar, então, o estudo de casos múltiplos, permitindo que a teoria seja testada através da lógica de replicação das descobertas em outros locais nos quais se supõe ocorrerem os mesmos resultados (YIN, 2001). Uma vez que a replicação se constate, os resultados poderiam ser aceitos por um número muito maior de casos. Essa "lógica de replicação" é a mesma que subjaz a utilização de experimentos múltiplos: se forem obtidos resultados semelhantes a partir dos casos, considera-se a ocorrência de replicação. Nesse sentido, a seleção de cada caso deve ser cuidadosamente planejada de forma a prever resultados semelhantes – replicação literal –, ou produzir resultados contrastantes apenas por razões previsíveis – replicação teórica.

A capacidade de se produzir seis ou dez estudos de caso, efetivamente organizados dentro de um projeto de casos múltiplos, é análoga à capacidade de se conduzir seis ou dez experimentos sobre tópicos relacionados; poucos casos (dois ou três) seriam replicações literais, ao passo que outros casos (quatro a seis) podem ser projetados para buscar padrões diferentes de replicações teóricas. Se todos os casos vierem a ser previsíveis, esses seis a dez casos, no conjunto fornecerão uma base convincente para o conjunto inicial de proposições. Se os casos forem de alguma forma contraditórios, as proposições iniciais deverão ser revisadas e testadas novamente com outro conjunto de casos. Novamente, essa lógica é semelhante à maneira como os cientistas lidam com descobertas experimentais contraditórias.

Um passo importante em todos esses procedimentos de replicação é o desenvolvimento de uma rica estrutura teórica. A estrutura precisa expor as condições sob as quais é provável que se encontre um fenômeno em particular (uma replicação literal), assim como as condições em que não é provável que se encontre (uma replicação teórica). A estrutura teórica torna- se mais tarde o instrumento para se generalizar a casos novos, novamente semelhantes ao papel desempenhado de projetos de experimentos cruzados. Ademais, da mesma forma que na ciência experimental, se alguns dos casos empíricos não funcionar como casos previsíveis, deve-se fazer alguma modificação na teoria. Lembre-se também de que as teorias podem ser de ordem prática, e não apenas de ordem acadêmica. (YIN, 2001, p. 69)

O estudo de casos múltiplos geralmente é considerado mais confiável que o estudo de caso único, visto que as comparações entre os casos permitem maior robustez no desenvolvimento de insights e consideração sobre a dependência contextual (YIN, 2001). O estudo de somente três ou quatro casos permite análise

qualitativa muito mais profunda e detalhada do que seria possível se amostra maior fosse estudada. Assim, a riqueza da descrição supera as desvantagens associadas ao tamanho pequeno da amostra.

A FIG. 4 indica que, ao se empreender o estudo de casos múltiplos, a etapa inicial consiste no desenvolvimento da teoria e, em seguida, revela que a seleção dos casos e a definição do protocolo de coleta de dados são etapas importantes para a condução da pesquisa propriamente dita. Cada caso em particular constitui estudo completo, no qual se procuram provas convergentes com respeito aos fatos e às conclusões. Acredita-se, assim, que as conclusões de cada caso sejam as informações a serem replicadas nos outros casos. O relatório individual deve descrever "como" e "porque" se demonstrou, ou não, determinada proposição. Ao longo da pesquisa, os resultados devem indicar a extensão da lógica de replicação e o motivo pelo qual se previu que certos casos apresentariam resultados semelhantes, enquanto outros, se houver, apresentariam resultados contraditórios. FIGURA 4: MÉTODO DE ESTUDO DE CASOS MÚLTIPLOS

FONTE: Yin, 2001, p. 73 seleciona os casos projeta o protocolo de coleta de dados desenvolve a teoria conduz pri- meiro estudo de caso conduz se- gundo estudo de caso conduz estu- dos de casos remanescentes escreve um relatório de caso individual escreve um relatório de caso individual escreve um relatório de caso individual chega a conclusões de casos mais práticos

modifica a teoria

desenvolve im- plicações políticas

escreve um relatório de dados cruzados DEFINIÇÃO E PLANEJAMENTO PREPARAÇÃO, COLETA E ANÁLISE CONCLUSÃOANÁLISE E

Outra questão importante a ser considerada no estudo de casos múltiplos é a quantidade de casos supostamente necessários ou suficientes para o estudo. Como os critérios de amostragem se tornam irrelevantes nessa situação, a decisão deve refletir a quantidade pretendida de replicações de caso. Para as replicações literais, o nível de certeza dos resultados obtidos deve ser avaliado, considerando-se que quanto maior a quantidade de casos, maior será a certeza. Para as replicações teóricas, importa o entendimento da influência das condições externas sobre os resultados obtidos, isto é, muitos fatores, mais casos; poucos fatores, menos casos.