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“O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário.”

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1.

– Justificação do estudo / objetivos

Ao escolher este tema partimos do pressuposto de que, apesar de não realizar este estudo na Escola onde leciono, toda a aprendizagem que fizer com o trabalho será, certamente, muito útil no exercício do cargo como Assessora da Diretora e também como docente que não se preocupa apenas em ensinar conteúdos, mas também regras comportamentais e de civismo.

Assim, partimos para a nossa investigação com a seguinte questão:

“Qual o papel das lideranças de topo e intermédias, na gestão de conflitos, entre alunos, na Escola?”

Para responder a esta questão, tentamos perceber como está organizada a Escola onde foi realizado o estudo, de forma a gerir os conflitos entre os seus alunos.

Foram delineados como objetivos gerais deste estudo identificar e compreender as caraterísticas fundamentais da prática dos líderes de topo (Diretora do Agrupamento) e intermédios (Diretores de Turma), enquanto gestores de conflitos, entre alunos, nas escolas e, mais especificamente:

– Perceber, através da análise dos documentos estruturantes de uma escola TEIP (Territórios Educativos de Intervenção Prioritária), se a gestão de conflitos, entre alunos, é uma das suas prioridades de ação;

Conhecer a opinião dos docentes sobre o exercício das lideranças no âmbito da gestão de conflitos, entre alunos, nas Escolas do Agrupamento;

Averiguar a perceção dos docentes quanto a atuação da Escola relativamente à gestão de conflitos;

Conhecer a opinião dos docentes sobre conflitos na Escola, designadamente, frequência, local e causas.

Tendo em consideração os objetivos delineados procuramos responder às seguintes sub-questões:

Qual a atuação da Diretora da Escola na gestão de conflitos entre os seus alunos?

Como é que a Escola se organiza para que o DT (Diretor de Turma) tenha impacto no comportamento dos alunos?

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Será que a Escola, na gestão de conflitos entre alunos, continua a utilizar os métodos tradicionais?”

Como iremos verificar o Agrupamento onde serão recolhidos os dados não é muito grande, mas na nossa perspetiva o estudo realizado foi bastante pertinente uma vez que se trata de um Agrupamento com a designação TEIP. A opção por uma Escola TEIP prende-se com o facto de considerarmos que provavelmente nestas Escolas os conflitos são uma problemática relevante. Como veremos em seguida, as Escolas com a designação TEIP procuram diminuir o insucesso escolar e também situações de desigualdade, particularmente a segurança e a violência, (Despacho Normativo nº 55/2008).

Importa assim, apresentar sucintamente, os motivos de criação deste tipo de Escolas pelo Ministério da Educação e as suas características principais. Em 1996 o Ministério de Educação partindo do pressuposto que: “O processo educativo nas sociedades democráticas tem como finalidade o desenvolvimento e a formação de todos os cidadãos em condições de igualdade de oportunidades e no respeito pela diferença e autonomia de cada um.” (Despacho nº 147-B/ME/96), criou, através do despacho referido a designação TEIP atribuída a Escolas em regiões com carências sociais e económicas, tendo como objetivo minimizar essas diferenças relativamente a outros contextos escolares.

Com efeito, os contextos sociais em que as escolas se inserem condicionam a atitude dos alunos face ao processo educativo institucional e formal, verificando-se que em áreas social e economicamente carenciadas ou integradas em processos de transformação socioeconómica o sucesso educativo é muitas vezes reduzido, situação igualmente constatável em zonas com número significativo de alunos de diferentes etnias, filhos de migrantes ou filhos de populações itinerantes. (Despacho nº 147-B/ME/96)

Em 2008 surgiu a necessidade de alargar a designação TEIP a outras Escolas e / ou Agrupamentos e foi, implementado o TEIP2 (Territórios Educativos de Intervenção Prioritária 2):

Para efeito do disposto no presente despacho, podem integrar os territórios educativos de intervenção prioritária, adiante designados por TEIP2, as escolas ou

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os agrupamentos de escolas com elevado número de alunos em risco de exclusão social e escolar, identificados a partir da análise de indicadores de resultados do sistema educativo e de indicadores sociais dos territórios em que as escolas de inserem. (Despacho normativo n.º 55/2008)

As escolas às quais era atribuída a designação TEIP visavam combater não apenas o insucesso escolar, mas também outras situações de desigualdade, nomeadamente a segurança e a violência, tal como refere o Despacho Normativo nº 55/2008:

De acordo com o princípio da autonomia dos estabelecimentos de educação e ensino que integrem o TEIP2, a conceção e organização do respetivo projeto educativo deve corresponder às seguintes prioridades de desenvolvimento pedagógico: …

c) Fixação de áreas de intervenção e medidas que possam dar resposta às necessidades específicas identificadas nas escolas, designadamente nos seguintes domínios: …

v) Segurança e prevenção da violência, acompanhamento de atividades dentro e fora da escola;… (Despacho normativo n.º 55/2008).

Para uma Escola ter a designação TEIP teria que apresentar um projeto seguindo algumas linhas de orientação, nomeadamente:

O projeto educativo deve incluir, entre outros aspetos:

a) A identificação das situações problema, através de metodologias abertas e participadas de diagnóstico a três níveis, respetivamente do aluno, da organização e gestão escolar e da comunidade, envolvendo os diversos parceiros do processo educativo, devendo os resultados do diagnóstico da rede social ser sempre tidos

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em consideração na identificação das situações problema; … (Despacho normativo n.º 55/2008).

Por último surgiu o TEIP3 configuração em que o Agrupamento em estudo está integrado.

Na sequência da implementação do Programa TEIP2 – Programa dos Territórios Educativos de Intervenção Prioritária, pretende-se agora alargar a medida e reforçar a autonomia das escolas que, estando integradas em contextos particularmente desafiantes, devem ter possibilidades acrescidas para a implementação de projetos próprios, fortemente alicerçados em evidências e no conhecimento que detêm sobre as realidades locais. Justifica-se assim a criação de um terceiro programa TEIP3, mais concentrado em torno das ações que as escolas identificaram como promotoras da aprendizagem e do sucesso educativo, de modo a assegurar maior eficiência na gestão dos recursos disponíveis e maior eficácia nos resultados alcançados. (Despacho normativo n.º 20/2012)

Tal como referido por Ferreira e Teixeira (2010), o Ministério da Educação criou os Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP) em 1996 através do Despacho 147– B/ME/96 e permitiu a adoção de um novo modelo de gestão que proporciona maior autonomia aos estabelecimentos de ensino e uma vontade de descentralização e partilha do poder no processo educativo (Ferreira & Teixeira, 2010).

Nesta sequência, e de acordo com o previsto para o Programa TEIP3 (Territórios Educativos de Intervenção Prioritária 3), o Agrupamento ao elaborar o seu PE (Projeto Educativo) para 2013 – 2017, não descurou o problema dos conflitos / relacionamentos existentes entre os alunos tal como podemos verificar nas transcrições seguidamente apresentadas:

Problemas a resolver: … Comportamentos desajustados de alguns alunos que demonstram alguma ausência de valores de cidadania e regras de conduta. …

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Problemas emergentes: … Crescente indisciplina. …

Áreas onde o Agrupamento deve incidir prioritariamente os seus esforços: … A reflexão sobre as causas dos problemas no cumprimento das regras, de modo a consolidar medidas preventivas que visem extinguir as ocorrências. …

Metas: … Prevenção da indisciplina. …

Desenvolver hábitos de respeito pelos outros. …

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2.

– Contexto de investigação

O Agrupamento de Escolas, onde foi realizado o estudo constante desta dissertação, situa-se num concelho do distrito de Vila Real – Centro Escolar e Escola EB 2,3/S (Sede do Agrupamento) – servindo a população de todo o concelho e de outras freguesias de um concelho vizinho.

A caracterização do Agrupamento onde decorre a investigação é resultante da análise de alguns documentos estruturantes do Agrupamento (Regulamento Interno; Projeto Educativo; Contrato de Autonomia; Plano Plurianual de Melhoria – TEIP), omitindo elementos que permitam a identificação do mesmo.

O Agrupamento de Escolas em questão está integrado no Programa Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP), desde janeiro de 2013. Foi criado em 2003, resultante da fusão da escola EB 2,3/S com os Jardins-de-infância e Escolas do 1º Ciclo do concelho, integra cerca de 667 alunos, repartidos pelo Centro Escolar, onde funcionam 4 turmas de jardim-de-infância, num total de 77 alunos e 7 turmas do 1ºCiclo, num total de 167 alunos. A Escola Sede do Agrupamento acolhe 104 alunos do 2ºCiclo,165 alunos do 3ºCiclo e 154 do Ensino Secundário.

O corpo docente do Agrupamento é constituído por cerca de 70 elementos dos vários ciclos de ensino (educação pré-escolar, 1º, 2º e 3º Ciclos e ES, educação especial e apoio educativo) sendo cerca de 80% dos professores do quadro (de escola e de zona).

No Agrupamento exercem funções 1 Psicóloga (RH – Recursos Humanos – TEIP); 1 Psicóloga (RH da Autarquia) e 1 Animadora Social (RH: Contrato de Autonomia).

No que respeita ao pessoal não docente, laboram no Agrupamento 37 funcionários, sendo 7 assistentes técnicos, 1 chefe de serviços de administração escolar, 28 assistentes operacionais (24 na Escola Sede e 4 no Centro Escolar) e 1 encarregado operacional. Acrescem 13 funcionários afetos ao quadro da Autarquia a exercer funções de assistentes operacionais no Centro Escolar e no transporte/vigilância de crianças.

Do pessoal não docente afetos ao Agrupamento, sobressai a média de idades elevada, tendo 56,7% destas pessoas idade igual ou superior a 51 anos aos quais acrescem numerosos casos de problemas de saúde que direta ou indiretamente afetam o seu desempenho.

Existe ainda a participação de outros parceiros na vida quotidiana do Agrupamento, como é o caso dos pais e Encarregados/as de Educação e de instituições, nomeadamente a Câmara Municipal, Santa Casa da Misericórdia, o Centro de Saúde, os Bombeiros Voluntários, a Adega Cooperativa, Museu do Douro, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Universidade Católica, Universidade de Évora, Fundação Calouste Gulbenkian, para

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além de empresas que colaboram na organização dos serviços prestados no contexto escolar.

Como oferta educativa, para além da educação pré-escolar, ensino básico e ensino secundário dos cursos Científico-Humanístico (Ciências e Tecnologias e Línguas e Humanidades), o Agrupamento oferece os cursos profissionais nas áreas de informática, comércio e turismo.

Um considerável número de alunos estão referenciados para uma avaliação técnico – pedagógica e psicológica por revelarem dificuldades de aprendizagem, problemas comportamentais e de integração, sendo visível o absentismo à Escola, na maioria dos casos para irem trabalhar, emigrando com as suas famílias, antes de forma sazonal, mas neste momento de forma permanente, ou ficando entregues a familiares (tios, avós), refletindo-se negativamente no aproveitamento escolar. Muitas destas situações estão relacionadas com fatores ambientais, sociais, económicos e familiares, problemas relacionados com o alcoolismo, violência doméstica, famílias disfuncionais e negligentes no acompanhamento dos seus educandos, situação que se agudizou com a recente crise vivida no País.

A economia do concelho é substanciada pela agricultura, nomeadamente a vitivinicultura. O concelho é bastante pobre, rural, sendo a maioria das famílias desfavorecidas, com parcos recursos económicos e, por isso, com necessidade de beneficiar da ação social escolar (1ºCiclo – 75%; 2ºCiclo – 67%; 3ºCiclo – 75% e ES – 65,5%).

Cerca de três dezenas de alunos são acompanhados pela Comissão de Proteção de Crianças e Jovens e cerca de duas dezenas de alunos estão sinalizados com Necessidades Educativas Especiais.

A maioria dos EE (Encarregados de Educação) tem escolaridade baixa (4ª classe – 39,8% e 6º ano – 23,4%). O grau de analfabetismo é de 4%. Uma grande parte das famílias é beneficiária do Rendimento de Inserção Social. As dificuldades económicas dos EE refletem-se no rendimento escolar dos seus educandos. As suas expectativas são baixas, dando pouco incentivo à sua educação, o que explica o seu fraco desempenho escolar, baixa autoestima e baixas expectativas face ao futuro.

A Escola Sede do Agrupamento, onde incidiu este estudo, é constituída por quatro edifícios, do qual fazem parte os seguintes espaços/sectores: Salas de aula; Salas de estudo; Laboratório de Línguas; Laboratório de Matemática; Laboratórios Biologia; Laboratórios de Física e Química; Sala de História e Geografia; Sala de Informática; Sala de Educação Visual e Educação Tecnológica; Sala de Educação Musical; Biblioteca; Polivalente com palco; Gabinete da Direção; Secretaria; Reprografia; Papelaria; Auditório;

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Salas de reuniões; Central de Telefones; Bufete; Sala de Atendimento aos Pais e Encarregados de Educação; Sala de professores; Casas-de-banho (inclui uma casa-de- banho para deficientes físicos); Gabinete de Psicologia; Gabinete de Apoio à Comunidade Educativa; Cozinha; Cantina; Sala de audiovisuais / Arquivo; Ginásio; Campo de Jogos; Balneários Masculinos e Femininos; Sala de funcionários; Sala da Associação de Estudantes e Portaria.

Em 2007, foi concluída a sua requalificação, no âmbito do projeto de intervenção da empresa Parque Escolar. Esta intervenção melhorou significativamente as condições físicas, os equipamentos e, consequentemente, aumentou o nível de satisfação da comunidade escolar.

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3.

– Metodologia

3.1. – Participantes

Este estudo foi realizado com professores do 2º e 3º Ciclos e Ensino Secundário (Escola Sede). Dos 52 professores que lecionam nestes níveis de ensino foram entregues os questionários a 48, dos quais apenas 2 não responderam, o que corresponde a uma percentagem de colaboração no estudo de 96%. Foram ainda elaboradas entrevistas a 4 professores (Diretora do Agrupamento e 3 CDT - Coordenadores dos Diretores de Turma). Uma caracterização mais pormenorizada dos participantes será apresentada nos subcapítulos da apresentação dos resultados do inquérito por questionário (subcapítulo 4.1) e das entrevistas (subcapítulos 4.2.1. e 4.2.2.).

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