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6.1. Objectivos

O presente estudo empírico, à semelhança do que se verificou com o estudo I, tomou em consideração a revisão e análise da literatura que perspectivava os níveis de desenvolvimento grupal numa particular relação com o estilo de liderança adoptado pelo líder formal (o treinador principal), considerando que a interacção entre estas duas componentes, para além de ser de natureza bidireccional e dinâmica, influencia o rendimento das equipas desportivas, e consequentemente, a respectiva eficácia colectiva nas dimensões instrumental e relacional.

Nesta perspectiva, a finalidade do estudo II consistiu em compreender como é que a díade treinador-nível de desenvolvimento da equipa desportiva influenciará a eficácia colectiva desta última, no subsistema tarefa e no subsistema socioafectivo. Mais concretamente, o objectivo geral do estudo II foi:

- Compreender como é que a interacção entre o padrão comportamental adoptado pelos respectivos líderes formais (os treinadores principais) e as fases de desenvolvimento grupal em que as equipas se encontram e se modificam ao longo de dois momentos de observação numa época desportiva, influi ao nível da satisfação das equipas e do desempenho colectivo das mesmas.

Neste estudo procurámos investigar, através de um design longitudinal composto por dois momentos de observação, correspondentes ao início e final da época desportiva (denominados t1 e t2, respectivamente) e com base nas propostas do MIDG (Miguez & Lourenço, 2001), em que medida o ajustamento ou o não ajustamento do estilo de liderança do treinador principal ao nível de existência grupal (estádio ou fase de desenvolvimento) influencia a dimensão instrumental e a dimensão relacional da eficácia das equipas desportivas.

O “Desenvolvimento Grupal da Equipa”, o “Ajustamento do Estilo de Liderança à Fase de Desenvolvimento Grupal”, e a “Eficácia Grupal”, em que se incluem o “Nível de Desempenho da Equipa” (percepcionado pelo líder), o “Nível de Satisfação da Equipa”, e o “Nível de Consecução de Objectivos propostos pela/para a Equipa”, constituem, deste modo, as variáveis de investigação no estudo II.

O objectivo geral apresentado, bem como os objectivos específicos e questões de investigação que em seguida vamos enunciar, encontram a sua fundamentação no MIDG (Miguez & Lourenço, 2001), que aprofundámos nos capítulos da presente dissertação consignado às temáticas do Desenvolvimento Grupal, da Liderança, mas também da Eficácia Grupal. Foi nosso propósito no presente estudo formularmos somente objectivos específicos e questões de investigação, não avançando com hipóteses para os resultados, uma vez que a

problemática abordada no presente estudo, até ao momento, ainda não foi alvo de investigação no contexto desportivo e com recurso a um design longitudinal.

Deste modo, na medida em que alguma literatura (e. g., Hersey & Blanchard, 1996; Wheelan, 1994; Wheelan et al. 2003) sobre Desenvolvimento Grupal, Liderança e Eficácia Grupal e, em particular o MIDG, apontam no sentido de que as equipas cujo líder adopta um estilo adequado/ajustado à respectiva fase de desenvolvimento grupal, serão aquelas que apresentarão níveis de desenvolvimento mais elevados e uma eficácia colectiva superior, definimos um conjunto de objectivos específicos (e respectivas questões de investigação) para o presente estudo:

A – Analisar a mudança (diferenças de t1 para t2) nas percepções relativas ao estádio de desenvolvimento grupal das equipas desportivas, Satisfação da Equipa e Desempenho Colectivo (objectivo, naturalmente, decorrente, de forma directa da própria natureza longitudinal do estudo).

B - Analisar em que medida o ajustamento do estilo de liderança adoptado pelo treinador à fase de desenvolvimento grupal em que a equipa se encontra, promove o desenvolvimento do grupo para níveis de maior maturidade e se, por contraste, o desajustamento estilo-fase constitui obstáculo ao desenvolvimento grupal.

Questão de Investigação nº 1: Um estilo de liderança ajustado ao nível de existência grupal no t1 terá um efeito positivo no desenvolvimento grupal da equipa desportiva no t2?

C - Analisar em que medida uma relação caracterizada pelo ajustamento do estilo de liderança adoptado pelo treinador principal à fase de desenvolvimento grupal em que a equipa se encontra, terá um efeito positivo sobre a eficácia colectiva, nas dimensões tarefa e socioafectiva.

Questão de Investigação nº 2: Um estilo de liderança ajustado ao nível de existência grupal no t1 terá um efeito positivo no nível de satisfação da equipa desportiva no t2?

Questão de Investigação nº 3: Um estilo de liderança ajustado ao nível de existência grupal no t1 terá um efeito positivo no nível de desempenho (percepcionado) da equipa desportiva no t2?

Questão de Investigação nº 4: Um estilo de liderança ajustado ao nível de existência grupal no t1 terá uma relação positiva no nível de consecução dos objectivos da equipa desportiva no t2?

Considerando, ainda, o MIDG, que o nível de existência grupal é um factor decisivo ao nível da eficácia colectiva, quer no subsistema instrumental quer no subsistema socioafectivo, afirmando, em particular, que equipas no segundo ciclo de desenvolvimento (fases 3 e 4) são mais eficazes que equipas no primeiro ciclo de desenvolvimento (fases 1 e 2) formulámos um terceiro objectivo específico:

D - Analisar a relação entre a fase de desenvolvimento grupal em que a equipa se encontra e a eficácia apresentada pela mesma, quer ao nível do subsistema tarefa, quer ao nível do subsistema socioafectivo.

Questão de Investigação nº 5:O nível de existência grupal em que a equipa se encontra terá um efeito diferenciado no nível de satisfação da equipa desportiva?

Questão de Investigação nº 6:O nível de existência grupal em que as equipa se encontra terá um efeito diferenciado no nível de desempenho (percepcionado) da equipa desportiva?

Questão de Investigação nº 7: O nível de existência grupal em que a equipa se encontra terá uma relação diferenciada com o nível de consecução dos objectivos?

6.2. Metodologia

Tendo em consideração os objectivos apresentados para o estudo II, optou-se por uma abordagem quantitativa concretizada através de um design longitudinal com dois pontos de medida no tempo que corresponderam ao início e final de uma época desportiva (t1 e t2). Esta metodologia permite uma maior compreensão do desenvolvimento das percepções dos jogadores na qualidade de membros de equipas e, também, dos seus líderes (treinadores principais), ao longo do tempo e, neste sentido, uma visão mais fina sobre as relações entre as diferentes variáveis em estudo.

Deste modo tornou-se fundamental eleger os instrumentos e os indicadores que permitissem identificar, caracterizar e tratar estas variáveis de investigação, nomeadamente: “Desenvolvimento Grupal”, “Ajustamento do Estilo de Liderança à Fase de Desenvolvimento Grupal”, “Nível de Satisfação das Equipas”,“Nível de Desempenho das Equipas” e “Nível de Consecução de Objectivos da Equipa”.

Nesta lógica de trabalho, importa evidenciar a forte articulação existente entre os dois estudos empíricos que compõem o trabalho de investigação que realizámos. O estudo I permitiu criar e validar um instrumento fundamental na realização do estudo II, que nos permite situar a fase de desenvolvimento grupal em que uma equipa desportiva se encontra: a EDG_D.

Tendo em consideração as boas qualidades psicométricas que a EDG_D revelou possuir na realização do estudo I, foi este o instrumento utilizado para medir os níveis de desenvolvimento grupal das equipas desportivas (Cf. Anexo D, pp. 21-23 e Anexo E, pp. 37- 39).

Com o propósito de se identificar e caracterizar o estilo de liderança apresentado pelos treinadores principais, utilizámos o Questionário de Estilos de Liderança (QEL) (Silva, 2007) (Cf. Anexo D, pp. 25-27 e Anexo E, pp. 41-43), para que, após relacionarmos os resultados fornecidos por este instrumento com a fase de desenvolvimento grupal, conseguíssemos apurar o ajustamento/não ajustamento do estilo de liderança ao nível de existência grupal. Todavia, como o QEL foi construído e validado em equipas de trabalho em contexto organizacional não desportivo, considerámos apósito a realização de alguns ajustamentos

neste instrumento, de forma a ficar adaptado ao contexto desportivo em que se iria desenvolver o estudo. Os procedimentos adoptados relativamente à adaptação e análise das qualidades psicométricas da QEL_D serão apresentados no ponto 6.4.2. deste capítulo.

Por sua vez, com o propósito de avaliar a eficácia colectiva elegemos dois instrumentos - o Questionário de Avaliação de Desempenho em Equipas Desportiva (segundo a percepção do treinador principal) (QADED_L) (Cf. Anexo E, pp. 33) e a Escala de Satisfação Grupal (ESAG) (Dimas, 2007) (Cf. Anexo D, pp. 29 e Anexo E, pp. 45) – e, como adiante explicitaremos, também o indicador “Nível de Consecução de Objectivos propostos pela/para a Equipa”. A opção por elegermos estas medidas para avaliarmos a eficácia das equipas desportivas explica-se pelo facto de, com base na revisão da literatura realizada, nomeadamente a apresentada no capítulo IV (e.g., Chelladurai, 1990; 1993) do presente trabalho, considerarmos a bidimensionalidade desta componente: rendimento desportivo (dimensão tarefa) e relação (dimensão socioafectiva).

Para a avaliação da dimensão tarefa da eficácia colectiva – percepcionada por cada um dos líderes das equipas participantes – utilizámos, então, o QADED_L. Trata-se de um novo instrumento, por nós concebido, mas que teve como referência a Escala de Avaliação de Desempenho Grupal (EADG-Forma II) (Dimas et al., 2007). A razão central de se ter optado por construir um novo instrumento em detrimento de se utilizar outro que já existia e, inclusive, que se encontrava validado, evidenciando boas qualidades psicométricas, (EADG-Forma II), explica-se pelo facto de este instrumento ter sido pensado, edificado e validado no contexto organizacional não desportivo, facto que conduziu a que alguns dos itens se revelassem desadequados em termos da sua aplicação em equipas desportivas.

Na secção 6.4.3. do presente capítulo, apresentamos o processo de construção do QADED_L, bem como os estudos relativos às suas qualidades psicométricas.

Porque o QADED_L constitui uma medida de “eficácia percepcionada”, julgámos assumir pertinência, introduzir outra medida através de indicadores de natureza “objectiva”. Nesse sentido, no início da temporada colocámos uma questão à totalidade dos treinadores das equipas que constituíram a nossa amostra, a respeito dos objectivos propostos para a equipa na corrente época desportiva, no subsistema instrumental ou de tarefa (Cf. Anexo E, pp. 35). Os objectivos mencionados na resposta a esta questão permitiram-nos, no final da época desportiva, aferir se os mesmos tinham sido alcançados (na sua totalidade ou em parte) ou se não teria existido prossecução dos mesmos.

Esta medida, que podemos assumir como um indicador de “eficácia de tarefa objectiva”, foi operacionalizada com base nos seguintes critérios: consecução da totalidade dos objectivos pré-definidos (quando todos os objectivos mencionados foram alcançados); consecução parcial dos objectivos pré-definidos (quando nem todos os objectivos mencionados foram alcançados, mas se verificou sucesso em pelo menos 50% deles); não consecução dos objectivos definidos (quando a percentagem de prossecução dos objectivos referidos foi inferior a 50%).

Por fim, a avaliação da dimensão socioafectiva da eficácia grupal foi realizada com base na Escala de Satisfação Grupal (ESAG) (Dimas, 2007), um instrumento validado pela sua autora e que tem sido utilizado em diversas investigações (e.g.,Carvalho; 2008; Rocha, 2010; Silva, 2007), revelando boas qualidades psicométricas e mostrando-se passível de ser aplicado a qualquer tipo de equipas, desde que sujeito a pequenas adaptações da linguagem no caso particular do domínio do desporto.

À semelhança do que afirmámos para os instrumentos anteriores, também os procedimentos adoptados relativamente à análise das qualidades psicométricas da ESAG serão apresentados no ponto 6.4.4. deste capítulo.

Todos os instrumentos de medida referidos, com excepção do QADED_L, foram respondidos pelos jogadores (membros) de cada equipa. O QADED_L foi aplicado somente aos treinadores (líderes). Esta opção encontra-se devidamente fundamentada na secção 6.4.3. O indicador relativo à consecução dos objectivos da equipa foi operacionalizado, como vimos, a partir da definição dos objectivos desportivos propostos pelos treinadores para a sua equipa na época desportiva em que decorreu o estudo que realizámos.

6.3. População e Amostra

A amostra do presente estudo foi composta por equipas desportivas nas modalidades de Andebol, Basquetebol, Futsal, Hóquei em Patins e Voleibol. A opção em estudar este tipo de equipas assenta nos seguintes aspectos: a) o domínio em que se enquadra o presente trabalho é o das Ciências do Desporto; b) serem equipas que se enquadram na concepção de grupos de trabalho que adoptámos (Cf. Capítulo II); c) serem grupos “naturais” (por contraposição com os grupos laboratoriais) que, então, possuem uma história, onde os acontecimentos e as interacções passadas influenciam as relações futuras; d) serem grupos com dimensão semelhante12; e) serem grupos em que existe alguma facilidade em operacionalizar medidas de desempenho de natureza objectiva.

Para evitar que os resultados do nosso estudo fossem enviesados pelo efeito de aprendizagem (sobretudo no que se reporta à EDG_D), nenhuma das 54 equipas desportivas

12Widmeyer, Carron e Brawley (1993) consideram o número de jogadores que faz parte de uma equipa desportiva, um

dos factores que afectará o nível de coesão grupal (sobretudo a relacionada com a tarefa) e, concludentemente, sustentam que a componente dimensão grupal influi, positiva ou negativamente, nos processos grupais e, em última análise, na performance colectiva. Tomando em consideração as perspectivas destes autores, com o propósito de minimizar a possibilidade das eventuais interferências da componente dimensão da equipa nos processos grupais, respectivo processo de desenvolvimento e eficácia colectiva, podendo tal situação distorcer conclusões a extrair do presente trabalho, considerámos mais adequado, optar por eleger modalidades desportivas em que na condiçãode jogadores de campo, o número é semelhante (basquetebol: cinco elementos; hóquei em patins: cinco elementos; futsal: cinco elementos; voleibol: seis elementos; andebol: sete elementos). Obviamente que o número de jogadores de campo tem repercussões na dimensão do plantel, fazendo com que o número total de jogadores não seja muito discrepante.

que compunham a amostra no estudo II, fez parte da amostra do estudo I. Tal opção, conduziu- nos a que a totalidade das equipas desportivas do estudo II se encontrasse sediada em Portugal Continental ou na Região Autónoma dos Açores, pois as equipas da Região Autónoma da Madeira que não participaram no estudo I (pelas razões já apresentadas) eram em número diminuto (apenas seis) e voltaram a não manifestar interesse em participar da nossa amostra.

Como resultado do aduzido a montante, a amostra do estudo II foi composta por 54 equipas desportivas pertencentes ao escalão de seniores, distribuídas pelas modalidades de Andebol, Basquetebol, Hóquei em Patins, Futsal e Voleibol. Estas equipas competiram na época desportiva 2009/2010 a nível internacional e nacional ou, apenas, nacional ou regional. Tratava-se quer de equipas masculinas (35; 64.81%), quer de equipas femininas (19; 35.19%) reunindo um total de 620 participantes (54 treinadores, 9.50% do total da amostra e 566 jogadores, 90.50% do total da amostra) (Cf. Quadro 24 e 25).

Como podemos observar a partir da consulta dos Quadros 24 e 25a nossa amostra é composta maioritariamente por indivíduos do sexo masculino, tanto no que se refere aos jogadores (7; 12.97% da totalidade da amostra) como relativamente aos treinadores (47; 87.03%da totalidade da amostra).

No que se relaciona com as habilitações literárias dos jogadores, a maioria tem o ensino secundário (326; 57.60%da totalidade da amostra). Esta situação é diferente nos treinadores, cuja habilitação académica maioritariamente apresentada é o ensino superior (41; 75.90da totalidade da amostra). No que concerne à modalidade desportiva praticada pelos jogadores inquiridos, o Andebol (159; 28.10%da totalidade da amostra), o Voleibol (146; 25.80%da totalidade da amostra) e o futsal (133; 23.50%da totalidade da amostra) constituem as modalidades mais representadas na nossa amostra. Nesta componente, no que se refere aos treinadores inquiridos, o quadro é muito próximo, alterando-se, apenas, a ordem entre a primeira modalidade mais representada e a segunda. O Voleibol (15; 27.80%da totalidade da amostra) passa a ser a modalidade mais representada, seguida do Andebol (14; 25.90%da totalidade da amostra) e do Futsal (11; 20.40%da totalidade da amostra).