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Capítulo V: Estudo I Construção da Escala de Desenvolvimento Grupal no

5.6. Procedimentos Estatísticos: Construção e Validação da EDG_D

5.6.1. Processo de Construção: Estrutura e Conteúdo

5.6.1.1. Estudo de Validade de Conteúdo da EDG_D

Segundo as recomendações de Bryman e Cramer (2004), um processo de avaliação da validade de conteúdo deverá incluir a apresentação da escala a um painel de investigadores, com o objectivo destes realizarem uma apreciação crítica da terminologia utilizada na construção dos itens, do seu grau de adequação aos constructos teóricos e ao que pretende medir. Nesta lógica de trabalho, enviámos a 9ª versão do instrumento em questão, via e-mail, a quatro peritos na área da Psicologia Organizacional e a dois especialistas na área das Ciências do Desporto (todos eles profundamente familiarizados com o modelo teórico que “subsidia” a EDG_D), bem como a dois dos orientadores do presente trabalho e que são os autores do MIDG (Miguez & Lourenço, 2001).

Posteriormente, e pelo facto de estes especialistas se encontrarem todos em Portugal, mas geograficamente distantes, foi realizada uma reunião virtual, recorrendo a um programa informático – ooVoo - que permitia a presença simultânea e, consequentemente, a interacção, de todos os especialistas. Os objectivos centrais desta reunião consistiram em:

Analisar se as categorias definidas cobriam o essencial do que o MIDG de Miguez e Lourenço (2001) preconizava;

Averiguar se as categorias definidas eram pertinentes, em função do objectivo que o EDG_D se propunha;

Verificar se cada item permitia a diferenciação entre as fases de desenvolvimento grupal, de acordo com o MIDG (Miguez & Lourenço, 2001);

Rever a construção frásica de cada item;

Analisar vantagens e desvantagens dos dois tipos de estrutura concebidos para o instrumento (Forma A e Forma B), tendo em vista decidir sobre qual adoptar.

Nesta reunião verificou-se uma concordância dos diferentes especialistas relativamente as alíneas a) e b) pelo que o número definitivo de categorias se manteve em 9. O Quadro 14 explicita a designação acordada para cada uma das categorias.

Quadro 14 – Categorias e respectivas designações adoptadas para a EDG_D, após a reunião com os peritos Categorias Seleccionadas para o EDG–D

A - Comunicação: tipo de participação B - Gestão da Diferença

C - Conflitos e Gestão de Conflitos D - Processo de Tomada de Decisão E - Coesão de Grupo

F - Existência de Subgrupos

G - Normas que Regulam o Funcionamento da Equipa H - Papeis Desempenhados na Equipa

I - Definição de Objectivos de Equipa

Nos pontos c) e d) procurou-se o incremento da clareza de cada item, tendo particular cuidado com a capacidade dos mesmos para, em cada categoria, discriminar cada uma das 4 fases de desenvolvimento grupal. Aqui surgiram posições diversas, sendo que o formato/redacção final reflecte o resultado do debate das diferentes perspectivas. No Quadro 15 apresentamos os itens onde, após diálogo e troca de argumentos, se optou por manter a redacção que constava desta versão.

Quadro 15 – Itens da EDG_D em que existiu total acordo entre os especialistas 1.Os jogadores esperam que as decisões na equipa sejam tomadas pelo treinador.

2.O facto de existirem diferentes formas de pensar e de agir na equipa é visto como uma mais-valia pelos jogadores. A equipa encoraja e procura integrar construtivamente essas diferenças.

3.O papel que cada jogador desempenha na equipa é claro e aceite por todos. Os jogadores conversam regularmente sobre o papel de cada um e são capazes de efectuar reajustamentos de forma autónoma, se tal lhes for permitido.

4. Só alguns jogadores participam nas conversas. A maior parte não expressa as suas opiniões, optando por

“jogar à defesa”.

5. Existe elevada coesão, estando a equipa muito unida em torno das posições do treinador. 6. Existe elevada coesão, estando a equipa muito unida em torno das posições do treinador.

7. Existem subgrupos que, embora, por vezes, tenham posições diferentes, procuram respeitar-se e adaptar- se para que a equipa funcione bem.

8. Os jogadores têm formas de pensar e de agir muito diferentes, o que gera, frequentemente, mal entendidos, e tensões.

9. As normas que regulam a equipa são frequentemente questionadas pelos jogadores (ora por uns, ora por outros), que procuram, a todo o custo, modificá-las.

10. Existem conflitos, no entanto, na maior parte das vezes, os jogadores tentam geri-los de forma a não prejudicarem o funcionamento da equipa.

11. Os jogadores procuram, a todo o custo, participar nas decisões da equipa e fazer valer as suas ideias. 12. Existe forte coesão, confiança, proximidade e cooperação entre todos os jogadores, que embora possam ser diferentes entre si, sentem que dependem uns dos outros.

13. Os jogadores concordam, no essencial, com o papel que foi atribuído a cada um na equipa. Quando sentem necessidade de o alterar, fazem propostas nesse sentido, num clima positivo.

14. Os jogadores conversam com alguma frequência sobre as normas que regulam a equipa e, no geral, aceitam-nas e seguem-nas. Os desvios às normas são aceites se forem vistos como benéficos para todos. 15. A coesão é muito fraca, existindo muita tensão, oposição e rivalidades entre os jogadores.

16. Existem conflitos, no entanto, os jogadores abordam-nos de forma construtiva, procurando que todos “saiam a ganhar”.

17. Os jogadores procuram participar nas decisões da equipa, sempre que lhes é permitido, tentando que o resultado das mesmas seja o melhor para a equipa.

18. Os jogadores procuram participar nas conversas e expor os seus diferentes pontos de vista, esforçando- se por escutar os dos outros.

19. Existem subgrupos que competem entre si e procuram alcançar maior poder dentro da equipa.

20. A maioria dos jogadores que participa nas conversas preocupa-se mais em impor os seus pontos de vista do que em conhecer e escutar os dos colegas.

21. Existem subgrupos que se relacionam de forma positiva e que são muito importantes para que a equipa funcione bem.

22. Os jogadores seguem as normas que regulam a equipa sem as questionar. Este assunto não é, sequer, abordado.

23. Os objectivos da equipa são claros são aceites por todos e são conversados de forma aberta.

24. Os jogadores debatem aberta e frequentemente as normas que regulam o grupo. Sempre que julgam vantajoso para a equipa, procuram modificá-las. A inovação e a criatividade são encorajadas.

25. O papel que é esperado de cada jogador não é discutido. Os jogadores esperam que o treinador lhes diga o que devem fazer e como fazê-lo.

26. Os jogadores estão preparados para, quando necessário, tomarem decisões relativas à equipa, de forma autónoma, requerendo apenas o acompanhamento por parte do treinador.

27. O esforço de adaptação mútua e de ultrapassar com êxito as divergências que ocorrem, faz com que exista uma coesão crescente na equipa.

28. Não existem subgrupos.

29. Os jogadores esperam que seja o treinador a definir os objectivos da equipa, aceitando-os, mesmo que não concordem com eles.

30. Os jogadores conhecem e concordam, no essencial, com os objectivos da equipa e são capazes de os discutir sem gerar tensões e mal entendidos.

31. Existe um clima de total abertura, onde a participação é encorajada, todos se escutam e partilham as diferentes opiniões, procurando integrá-las.

Por seu lado, a consulta do Quadro 16 permite-nos observar os itens em que foi considerado preferível proceder a alterações na sua formulação. Assim, na coluna A são apresentados os itens da versão 9 do instrumento em questão, sendo que na coluna B exibimos o resultado final do trabalho realizado pelo grupo de peritos, relativamente a esses mesmos itens, que são coincidentes com os que surgem na 10ª e 11ª versões EDG_D.

Quadro 16 – Itens modificados decorrentes da reunião com os especialistas

A B

- Parecem não existir grandes diferenças entre os jogadores quanto à forma de pensar e de agir

5. Parece que os jogadores são muito parecidos quanto à forma de pensar e de agir.

- Existem desentendimentos causados pelo facto de existirem diferentes opiniões na equipa a respeito dos objectivos a alcançar;

27. Quando se estabelecem os objectivos a alcançar existem desentendimentos entre alguns jogadores.

- Os jogadores esforçam-se por respeitar e aceitar as diferenças que existem na equipa quanto à forma de pensar e de agir.

34. Os jogadores esforçam-se por respeitar e aceitar, eventuais, diferenças que existam quanto à forma de pensar e de agir dos seus colegas.

- Existem pouquíssimos conflitos. Os jogadores procuram evitar interacções desagradáveis com os colegas e com o treinador

9. Existem pouquíssimos conflitos. Os jogadores procuram evitar a todo o custo interacções desagradáveis com os colegas e com o treinador. - Alguns jogadores questionam o papel que lhes foi

atribuído no grupo, expressando, vivamente, desacordo e descontentamento. Tal origina momentos de tensão e conflito.

12. Alguns jogadores questionam o papel que lhes foi atribuído na equipa, expressando o seu desacordo e descontentamento, originando momentos de tensão e conflito.

Relativamente ao ponto e), foram analisadas as vantagens das duas estruturas da EDG_D, culminando na unanimidade, por parte dos especialistas, pela Forma (B). Após a análise de vários cenários, esta estrutura colheu a preferência da totalidade dos peritos.

Resumidamente, podemos referir que esta posição decorre do facto de se considerar que a remoção das categorias evitaria ruído no corpo do questionário. Considerou-se vantajoso distribuir aleatoriamente os itens referentes às categorias e respectivas fases de desenvolvimento grupal, procurando eliminar ou minimizar a possibilidade dos inquiridos

poderem retirar ilações perante a Forma (A), distorcendo as suas respostas, nomeadamente polarizando-as (em as “boas” e as “más”).

Outrossim, a escala tipo alfaiate foi encarada como sendo redutora da realidade grupal, visto que uma fase grupal é uma gestalt ou uma configuração que denota comportamentos dominantes e outros residuais. Neste sentido, julgou-se que uma escala de 7 pontos com extremos de “não se aplica” e “aplica-se totalmente” teria superiores probabilidades de retratar mais fielmente o que se passaria na equipa.

Após o procedimento que acabámos de explicitar, foi possível criar uma nova versão da EDG_D – a versão 10.

A etapa seguinte do processo de avaliação da validade de conteúdo consistiu na condução de um estudo preliminar que se consubstanciou na aplicação do questionário a um grupo de jogadores (n=17), com características semelhantes às da população alvo do estudo. Foram, assim, convidados jogadores das mesmas modalidades desportivas colectivas que o nosso estudo iria contemplar – Andebol, Basquetebol, Futsal, Hóquei em Patins e Voleibol –, com habilitações académicas diferenciadas (o jogador com habilitações académicas mais baixas tinha o 8º ano de escolaridade e três jogadores tinham a Licenciatura, que constituía a habilitação mais elevada), de ambos os géneros (7 do sexo feminino e 10 do masculino), e todos integrando competições do escalão sénior da respectiva modalidade. Este estudo teve como principais objectivos:

Avaliar a compreensibilidade dos itens por parte dos respondentes; Efectuar uma estimativa do tempo de preenchimento do questionário;

Averiguar se a opinião dos jogadores era coincidente com a dos especialistas no que concerne à estrutura do instrumento a adoptar.

Este estudo preliminar, realizado a um de Abril de 2009, decorreu em regime presencial, na Cidade do Funchal, mais concretamente, na sala 14 da Universidade da Madeira, requerida especificamente para este fim. Após o acolhimento dos 17 jogadores, apresentámos sucintamente o estudo e solicitámos o preenchimento dos questionários.

Embora, recordamos, que a preferência dos especialistas recaísse na escala de respostas de tipo Likert, optámos por adiar a decisão final quanto ao tipo de escala a adoptar para o momento posterior ao estudo preliminar. Tal opção permitia aferir a sensibilidade dos inquiridos face ao tipo de escala preferencial. Aplicámos, assim, as duas Formas (A e B), convidando os participantes a responderem a cada uma delas em momentos diferentes.

Foi ainda solicitado que os respondentes anotassem as dúvidas sentidas durante o seu preenchimento. Após a resposta aos dois questionários, realizámos uma reflexão falada sobre o instrumento, tomando em consideração os objectivos desta aplicação.

Todos os inquiridos referiram que os itens eram de fácil compreensão. Após obtermos feedback, seguro, de que os inquiridos teriam compreendido as ideias-chave que cada item continha, lançamos um repto que consistiu na selecção da estrutura da EDG_D.

No que concerne às duas estruturas do EDG_D (Formas A e B) apresentadas aos participantes no estudo piloto, 16 sujeitos demonstraram preferência pela que apresentava a escala de Likert (Forma B). Só uma jogadora apontou a estrutura relativa à Forma (A) como a que considerava mais apósita.

Resumidamente, a fundamentação deste elemento consubstanciava-se no facto de o preenchimento ser mais rápido e prático quando comparado com a escala de Likert. Por contraste, os elementos que elegeram a estrutura que utilizava a escala de Likert, evidenciaram que esta possibilitava que as respostas retratassem de uma forma mais aproximada o que se passava nas respectivas equipas, já que permitia responder utilizando o grau de aplicabilidade das situações descritas ao que efectivamente ocorria na sua equipa, algo, que, na opinião destes, não era possível com a estrutura de tipo (A).

Importa, assim, sublinhar que a escolha da maioria dos participantes neste estudo, no que concerne ao formato (A ou B) da EDG_D, foi convergente com a decisão dos especialistas. O tempo de preenchimento médio da Forma A foi de 10 minutos e 36 segundos. O elemento que terminou mais rapidamente realizou-a em 7 minutos e 56 segundos, sendo que o que utilizou mais tempo gastou 13 minutos e 12 segundos. Por seu turno, a Forma B teve um tempo médio de preenchimento de 12 minutos e 33 segundos, sendo que o primeiro jogador a concluir o seu preenchimento despendeu 10 minutos e 04 segundos e o último elemento demorou 15 minutos e 42 segundos.

Observou-se, assim, que o preenchimento da Forma (B) era ligeiramente mais demorado, quando comparado com a Forma (A). O tempo de preenchimento da totalidade dos 17 elementos participantes neste estudo piloto, revelou-se, contudo, perfeitamente aceitável.

Após este estudo construímos a 11ª versão do instrumento. Esta versão congrega 36 itens, distribuídos por 9 categorias. O Quadro 17 apresenta as nove categorias da Escala de Desenvolvimento Grupal – Desporto (EDG-D), que consideramos ser representativa dos principais processos grupais, com base no MIDG (Miguez & Lourenço, 2001).

Quadro 17 - Categorias contidas na versão final da EDG-D Categorias Seleccionadas para o EDG – D

A - Comunicação: tipo de participação B - Gestão da Diferença

C - Conflitos e Gestão de Conflitos D - Processo de Tomada de Decisão E - Coesão de Grupo

F - Existência de Subgrupos

G - Normas que Regulam o Funcionamento da Equipa H - Papeis Desempenhados na Equipa

A estrutura eleita, com base no descrito anteriormente, foi a que contemplava a escala de Likert (com sete pontos: de 1–“nunca se aplica” a 7–“aplica-se totalmente”). A sequência da apresentação dos itens foi aleatorizada, com recurso a uma técnica sugerida por Hill e Hill (2002), designada de método de lotaria.

O Quadro 18 exibe a sequência de apresentação dos itens na 11ª versão da EDG_D, bem como o seu posicionamento relativamente à fase de desenvolvimento grupal e à categoria a que pertencem.

Quadro 18 - Itens apresentados de acordo com a sequência que surgem na EDG-D (11ª versão), respectiva correspondência no que concerne à fase de desenvolvimento grupal e à categoria a que pertencem

Número do Item Fase de Desenvolvimento Grupal Categoria

1 1 Processo de Tomada de Decisão

2 4 Gestão da Diferença

3 4 Papeis Desempenhados na Equipa

4 1 Comunicação: tipo de participação

5 1 Gestão da Diferença

6 2 Conflitos e Gestão de Conflitos

7 1 Coesão de Grupo

8 3 Existência de Subgrupos

9 1 Conflitos e Gestão de Conflitos

10 2 Gestão da Diferença

11 2 Normas que Regulam o Funcionamento da Equipa

12 2 Papeis Desempenhados na Equipa

13 2 Conflitos e Gestão de Conflitos

14 3 Processo de Tomada de Decisão

15 2 Coesão de Grupo

16 4 Papeis Desempenhados na Equipa

17 3 Normas que Regulam o Funcionamento da Equipa

18 3 Coesão de Grupo

19 2 Conflitos e Gestão de Conflitos

21 3 Comunicação: tipo de participação

22 3 Existência de Subgrupos

23 2 Comunicação: tipo de participação

24 4 Existência de Subgrupos

25 1 Normas que Regulam o Funcionamento da Equipa

26 4 Definição de Objectivos de Equipa

27 2 Definição de Objectivos de Equipa

28 4 Normas que Regulam o Funcionamento da Equipa

29 1 Papeis Desempenhados na Equipa

30 4 Processo de Tomada de Decisão

31 3 Coesão de Grupo

32 1 Existência de Subgrupos

33 1 Definição de Objectivos de Equipa

34 3 Gestão da Diferença

35 3 Definição de Objectivos de Equipa

36 4 Comunicação: tipo de participação