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CAPÍTULO III PERCURSO METODOLÓGICO

4.3 Estudos sobre interdisciplinaridade: ampliando concepções

4.3.6 Estudo 6: “Práticas interdisciplinares na Educação Básica: uma revisão bibliográfica-1970-

O artigo apresentado pela dupla de estudantes L2 e L7 foi uma revisão bibliográfica sobre as práticas interdisciplinares na Educação Básica. Após a apresentação do texto, o estudante L7 colocou a questão de debate: “A interdisciplinaridade mudou depois de 2000 para cá?” (L7). Na opinião do estudante L5, “mudou muito, tem escolas que quando tem uma boa coordenação, uma boa gestão, né? Vai ver que consegue funcionar pequenos projetos, às vezes não, mas às vezes consegue fazer, né?” (L5).

A professora da disciplina de ESECN 4 lembrou que, no caso do estágio supervisionado que eles irão realizar na Educação Básica como uma prática interdisciplinar, não é necessário ser exatamente por meio de um projeto, pode ser uma atividade interdisciplinar:

Na verdade, o de vocês, que a gente chama de projeto, às vezes é uma atividade, né? Porque o professor dá uma aula e o outro também. E você vai unir aquilo ali, em um momento com uma atividade, com alguma coisa. Então, não necessariamente é um projeto [...]. Mas, que realmente na literatura, é muito mais comum a realização da interdisciplinaridade por meio de projeto, não é necessário, mas é uma via que facilita (PROFESSORA).

Na opinião do estudante L7, “eu achei que a interdisciplinaridade no Ensino Médio era maior do que no Ensino Fundamental, e realmente não é, aí eu fui em cima, pesquisando, pensando. E, eu acho que é devido esse foco tão grande em vestibular que eles fazem em caixinhas por causa disso” (L7).

A professora da disciplina concorda com o estudante L7, mas acrescenta que o ensino da Educação Infantil é bem interdisciplinar:

Também. Mas também por causa da quantidade de disciplinas, porque se você pegar Educação Infantil ela é mais interdisciplinar do que o Ensino Fundamental. Porque eles sempre trabalham lixo na escola, higiene, água, doenças eles têm esse negócio mais resolvido, por quê? Porque uma professora em sala de aula ela dá português, matemática, ciências né? Ali tem poucos professores, às vezes vai dividir e não tem professor, por exemplo, professora de ciências sociais dá história e geografia juntas (PROFESSORA).

Considerando as discussões dessa apresentação, a percepção dos licenciandos em apontar o que é e o que não é interdisciplinaridade denota que eles já estão direcionando sua visão ao que realmente consideram como um ensino interdisciplinar. Desse modo, pode-se sinalizar a reflexão sobre o fazer interdisciplinar que, de uma forma ou de outra, está sendo debatido nesse contexto.

Segundo a opinião da professora sobre a evolução da interdisciplinaridade do ano 2000 para cá, já houve grande evolução e as demandas da sociedade atual estão sendo atendidas no que diz respeito ao ensino mais complexo e globalizado.

Como o artigo apresentado pelos estudantes L2 e L7 foi bastante resumido, não foi possível observar outro critério de análise, porém ficou sinalizado que as discussões encaminharam os licenciandos-estagiários para uma formação de concepções de interdisciplinaridade concebida de acordo com o ponto de vista de cada um.

4.3.7 Estudo 7: “Ciências no 9º ano do Ensino Fundamental, da disciplinaridade à Alfabetização Científica e Tecnológica”

Os estudantes L4 e L5 apresentaram o artigo que teve como objetivo, segundo os autores:

[...] apresentar uma análise geral do ensino de Ciências do nono ano, destacando quais e como conhecimentos de Química são abordados e discutir uma proposta de como a Química pode contribuir no processo de Alfabetização Científica e Tecnológica (ACT) para a formação da cidadania dos estudantes (MILARÉ e FILHO, 2010, p. 102).

De acordo com a opinião do estudante L5, os autores trazem a Alfabetização Científica e Tecnológica (ACT) como uma forma de contextualização, considerada como sendo interdisciplinar, conforme L5 relatou:

Ele traz a Alfabetização Científica e Tecnológica, pelo meu ver, é mais uma forma de contextualização, e eu não consegui ver do jeito que ele está falando no texto, como interdisciplinaridade. Ele não consegue fazer essa junção, ele só fala em Química. Ele até cita algumas partes de Biologia, mas ele não fala assim exatamente como fazer a interdisciplinaridade. Ele fala que, se tiver a contextualização, meio que é interdisciplinar (L5).

Na verdade, na interdisciplinaridade pode-se utilizar da contextualização, mas não é uma abordagem baseada somente nela. É necessário que haja a integração dos conteúdos disciplinares e que essa integração não seja feita superficialmente, e sim de forma que os estudantes compreendam aqueles conteúdos estudados dentro de um contexto maior. Sendo assim, a interdisciplinaridade vai além de uma simples contextualização.

Na interpretação do estudante L4, os autores analisaram os livros didáticos e perceberam que os conteúdos de Química e Física do 9º ano do Ensino Fundamental eram fragmentados; além disso, quem ministrava as aulas de Química e Física era um professor de Biologia, e, por isso não era possível praticar a interdisciplinaridade, conforme L4 afirmou:

[...] como o ensino do 9º ano, os livros são divididos em Química e Física, e, é ministrado por um professor de Biologia na maioria das vezes. E até fala sobre isso né? Que não funciona a interdisciplinaridade porque é Química e Física separada, e quem dá é o professor de Biologia, e que não conseguem fazer essa junção (L4).

Com essa realidade apontada pelos autores, a professora da disciplina de ESECN 4 aponta uma das principais causas da não efetivação de práticas interdisciplinares na escola: “foi o que a

gente falou da predisposição em fazer a interdisciplinaridade, deve partir do professor, já que nos livros didáticos não existe predisposição” (PROFESSORA).

Vale ressaltar que, se uma nova abordagem metodológica está sendo proposta, não será fácil adaptá-la em todos os aspectos do ensino. Por isso, o professor sempre se deparará com livros didáticos com conteúdos fragmentados, e dependerá dele fazer com que essa realidade seja transformada em uma nova perspectiva de ver o ensino de forma diferenciada. É nesse intuito que se insiste em dizer que a predisposição deve partir do professor em querer efetivar a interdisciplinaridade em sala de aula.

Fazenda (1996) enfatiza que a interdisciplinaridade

Não se ensina, nem se aprende, apenas vive-se, exerce-se e exige um engajamento pessoal de cada um [...] Todo indivíduo engajado nesse processo será não o aprendiz, mas, na medida em que familiarizar-se com as técnicas e quesitos básicos será o criador de novas estruturas, novos conteúdos, novos métodos; será motor de transformação, ou o iniciador de uma “feliz liberação” (FAZENDA, 1996, p. 56).

Outro ponto negativo apontado pelo artigo e relatado pelo estudante L4 são as arraigadas características do ensino tradicionalista e ritualístico, representadas pelos exaustivos exercícios mecânicos que os professores passam aos estudantes, bem como a descontextualização na qual esses conteúdos são repassados para os estudantes, conforme afirmou:

Aí, o autor do artigo traz nas considerações finais a visão que ele fala de assuntos de maneira descontextualizada, sem outras aplicações visíveis além da resolução mecânica de exercícios. Isso não acrescenta muito na formação dos estudantes desta fase do ensino. Ao contrário do desejado, ela pode reforçar a aprendizagem de conceitos equivocados e despertar desinteresse pela Química no Ensino Médio. Que é o que acontece, né? A maioria dos alunos, é que nem a passagem de 5º ano para o 6º ano, a galera já dá aquele desinteresse (L4).

Outro tópico exposto no artigo e apresentado pelo estudante L5 foi acerca da possibilidade de fugir do tradicional previsto nos livros didáticos por meio da Alfabetização Científica e Tecnológica: “é possível fugir da mesmice do programa pregado pelos livros didáticos como forma de contribuir para a Alfabetização Científica e Tecnológica e dar um sentido mais comprometido aos conteúdos de Ciências” (L5).

Com base nisso, a pergunta do debate foi: “Você acha que a Alfabetização Científica e Tecnológica pode melhorar a atual educação?” (L5).

Eu acho que não no intuito de melhorar, mas sim, trazer uma realidade totalmente diferente para o aluno. Eu acho que isso é de suma importância para todo mundo em geral, né? Dele saber conseguir ver as coisas, saber questionar porque a Ciência tem muito disso, mesmo que seja dita como verdade absoluta. Você tem que olhar aquilo ali e saber fazer hipóteses [...] (L5).

Diante da pergunta de debate e pelo ponto de vista apresentado pelo estudante L5, a professora da disciplina de ESECN 4 alertou:

Sobre a pergunta eu queria falar o seguinte: a gente não precisa só da ACT, assim como a gente não precisa só da interdisciplinaridade, assim como a gente não precisa só de recursos didáticos. A gente acredita que tudo isso vai levar a uma educação melhor, né? Agora, tudo junto, em algum momento você vai aplicar a interdisciplinar, em algum momento você vai aplicar um projeto sem ser interdisciplinar. Pode ser multidisciplinar. Em outro momento você vai aplicar a educação científica, a investigação científica por meio da experimentação, ou não. Então, assim, é importante para vocês futuros professores terem isso na cabeça, vocês têm que usar diversas ferramentas, e ferramentas no sentido mais amplo, não só de recursos didáticos, mas de diversas formas para poder melhorar a educação. Não existe uma receita, né? (PROFESSORA).

Dessa forma, a professora deixa um desafio para os futuros professores, que é a busca pela inovação de práticas pedagógicas que possam colaborar nos processos de ensino- aprendizagem e, assim, melhorar a educação. O importante é que todo professor não fique parado no tempo: é preciso inovar, buscar outras metodologias para alcançar resultados satisfatórios na aprendizagem dos estudantes. Ficou evidenciado, nesse relato, um dos nossos critérios; o do interesse, comprometimento e cumplicidade com a aprendizagem dos estudantes da Educação Básica.

Foi possível observar ainda que o debate sobre o olhar de outras abordagens apresentadas pelo artigo fez com que os licenciandos-estagiários repensassem que a profissão de professor exige um movimento constante de ideias, abordagens e metodologias. Observou-se também que, diante da proposta da interdisciplinaridade, eles puderam fazer uma breve análise do que é possível de ser efetivado, desde que estejam abertos ao diálogo e ao novo fazer pedagógico, contemplando, dessa forma, nosso critério da reflexão do fazer interdisciplinar.