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CAPÍTULO III PERCURSO METODOLÓGICO

4.4 Práticas Pedagógicas Interdisciplinares: projetos e relatórios de estágio de licenciandos em

4.4.6 Projeto 6: A arte de estudar, técnicas de estudos envolvendo neurobiologia da aprendizagem

A socialização do projeto “A arte de estudar”, apresentado pelos estudantes L14 e L15 para seus colegas da disciplina ESECN 4, foi apresentada pelo estudante L15, porque L14 ausentou-se nesse dia por motivo de força maior. O projeto foi realizado em uma Escola do Campo de uma cidade vizinha, em uma turma do 3º ano do Ensino Médio com aproximadamente 20 estudantes. As disciplinas escolhidas por L14 e L15 foram Biologia e Português.

Inicialmente os estudantes foram à escola conversar com os professores para conhecê-los, e destacam a receptividade dos mesmos, conforme relatou L15:

[...] então, desde o momento que a gente propôs fazer o projeto interdisciplinar lá, vários professores que tinham afinidade com a professora, toparam, principalmente a professora de artes, não lembro se era professora de História, alguma coisa assim, e aí o professor de Português topou. Aí a gente falou que o que a gente estava querendo propor se encaixa bacana com o Português, né? Aí. é... então, vamos lá... (L15).

Depois desse momento, eles apresentaram a proposta aos professores de Biologia e Português. Sobre detalhes do planejamento, o estudante L15 relatou:

Os professores foram bem assim, maleáveis, né? Tipo é... a gente só tinha aula com eles na sexta, mas só que a gente pegou e conseguiu conversar com alguns professores que estavam interessados no projeto que a gente queria propor. E a gente conseguiu dar aula durante uma semana inteira, o dia inteiro, entendeu? A gente fez uma espécie de curso para eles, né? E aí a gente pegou o tempo corrido [...]. Mas assim, acabaram contribuindo para a gente expor o que a gente tinha para propor (L14 e L15).

Para iniciar o projeto, L14 e L15 fizeram uma reflexão com os estudantes da Educação Básica, fazendo-os refletir por que não estavam tendo um bom desempenho nas disciplinas, conforme disse L15:

[...] a gente propôs técnicas de estudo e foi feito na disciplina de Língua Portuguesa. Então, a gente fez. Começou as técnicas. A gente quis que os alunos se conhecessem primeiro, como é que eles eram como estudantes, se eles eram bons estudantes, maus estudantes, o que eles poderiam fazer, se eles estavam dedicando o tempo deles para o estudo, o que eles poderiam fazer para melhorar, entendeu? [...] (L15).

A gente começou com uma parte toda motivacional com os alunos para saber se eles de fato queriam participar daquilo, se eles estavam dispostos a mudar e realmente participar daquele projeto que a gente estava tentando propor. Porque não adianta a gente estar lá falando, se o cara não quer ouvir sobre aquilo, né? Então, a gente fez toda essa parte motivacional com eles, né? Para tentar ter um retorno melhor deles (L15).

O curso “incluiu as técnicas de compreensão, motivação, organização, estudo em grupo, leitura prévia, leitura de estudo, anotações, mapas mentais, diagramas, memorização” (L15). Durante o curso, “o professor de Língua Portuguesa apresentou, dentro do conteúdo dele, a compreensão de texto e análise sintática [...] que faz parte de algumas dessas técnicas de estudo que a gente apresentou [...]” (L15).

Os licenciandos-estagiários, juntamente com o professor de Português, fizeram uma análise sintática com os estudantes da Educação Básica utilizando um texto que falava sobre o futebol. Desse texto foi extraído sujeito, predicado, objeto direto e objeto indireto, explicados pelo professor de Português, por meio das técnicas de estudo (diagramação) ensinadas por L14 e L15 para identificar a ideia principal, secundária e demais detalhes.

De acordo com L15, a interdisciplinaridade aconteceu nesse momento em que os alunos fizeram a atividade da análise sintática do texto com o professor de Português, e depois com o texto sobre esporte com os estudantes L14 e L15:

O futebol é um esporte mundialmente conhecido, é praticado no campo gramado, 75 metros de largura por 110 de comprimento, e aí vai falando, o handebol [...] a gente montou em sala com eles e eu fiquei assim, de cara porque ficou idêntico ao que já estava pronto, ao que a gente já tinha preparado, aí com a análise sintática que o professor fez, ficou tão bem feito que, é... se assimilou com o que a gente já tinha preparado [...] Se você destacar aí qual o tema: esporte, a ideia primária, ali alguns... ideias secundárias e alguns detalhes, né? [...] isso aí foi o que a gente trabalhou interdisciplinarmente [...] (L15).

Diante do que foi apresentado, considera-se que o curso de “técnicas de estudo” só estava relacionado com a disciplina de Português, com o conteúdo análise sintática. Isso nos sinaliza que a atividade desenvolvida no projeto não foi interdisciplinar porque não houve integração com os conteúdos de Biologia.

Porém, conforme ressaltou o estudante L15, os professores gostaram do curso e se animaram em trabalhar com as técnicas durante suas aulas:

[...] então a professora achou isso muito importante. Os outros professores queriam que a gente continuasse o projeto aplicando em outras turmas. Convidaram a gente para estar

lá em outros semestres e continuando o projeto. Inclusive, eles ficaram interessados, os próprios professores também em fazer isso, é... acreditam que é importante e queriam aprender essas técnicas [...] (L15).

Além do interesse apresentado pelos professores na fala de L15, na citação abaixo o estudante L15 contemplou os critérios da reflexão do fazer interdisciplinar e o do interesse, comprometimento e cumplicidade quanto à aprendizagem dos estudantes da Educação Básica em suas conclusões:

É…algumas das conclusões que eu tive, que a gente teve, né? Que eu acredito ter interdisciplinaridade, não só pelo professor dar aula junto com a gente, mas sim pelos conteúdos, os conteúdos um depende do outro, não está limitado, entendeu? [...] então, acredito que houve sim a interdisciplinaridade, e segundo o tópico que coloquei ali, que acredito que houve uma aceitação muito grande pelos alunos, tanto que alguns professores já estavam se deparando com alguns alunos que já estavam resolvendo atividades com essas novas técnicas de estudo que a gente apresentou para eles, que até então ninguém conhecia nenhuma delas [...] (L15).

Durante a apresentação de L15, a professora da disciplina de ESECN 4 perguntou qual foi o conteúdo de Biologia que eles teriam que ter trabalhado. Então, o estudante L15 explicou que, devido ao tempo, não foi possível chegar a técnica de estudo “memorização”, por isso, não contemplaram o conteúdo planejado para a disciplina de Biologia. Também ressaltou que esse curso ocorreu em cinco dias durante todas as manhãs graças aos horários cedidos pelos professores de outras disciplinas.

Assim, na apresentação do projeto “técnicas de estudo”, mesmo ele tendo contemplado os critérios da reflexão do fazer interdisciplinar e do interesse, comprometimento e cumplicidade com a aprendizagem dos estudantes da Educação Básica, a interdisciplinaridade não se efetivou por completo devido ao pouco diálogo com os professores, e à falta de um planejamento minucioso para que ocorresse a integração dos conteúdos disciplinares.

No relatório descrito pela dupla L14 e L15, o título do projeto foi alterado para “A arte de estudar, técnicas de estudos envolvendo neurobiologia da aprendizagem no ensino de Português como proposta interdisciplinar”. As disciplinas envolvidas foram Biologia com os conteúdos funcionamento do cérebro, memória de trabalho (Córtex pré-frontal), memória de curta duração (hipocampo) e memória de longa duração (hipocampo com a expressão de alguns genes e síntese de proteína) e Português, com os conteúdos análise sintática, leitura prévia, leitura continuada, formas de anotações, interpretação de textos.

De acordo com o relatório, o projeto teve como objetivo “aplicar um minicurso sobre Neurobiologia da Aprendizagem e Técnicas de Estudos, associado aos conteúdos de Língua Portuguesa, e verificar se houve interdisciplinaridade entre as disciplinas trabalhadas no minicurso” (L14 e L15).

A metodologia apresentada no relatório foi um minicurso com aula expositiva, investigativa e dinâmica de grupo, com duração de 12 horas/aula e tema gerador “A arte de estudar”.

No primeiro momento, os estudantes L14 e L15 fizeram uma sensibilização dos estudantes, mostrando que, por meio das técnicas de estudo, eles poderiam alcançar melhor desempenho nas disciplinas. No segundo momento, os estudantes L14 e L15 explanaram sobre o conhecimento que envolve a neurobiologia na aprendizagem. E, no terceiro momento, L14 e L15 fizeram uma associação das técnicas de estudo com as aulas de análise sintática feitas juntamente com o professor de português. Ao final do minicurso, foi solicitada uma redação escrita pelos estudantes da Educação Básica, apontando os pontos positivos e negativos percebidos, com o objetivo de obter informações sobre a interdisciplinaridade.

Nos resultados apresentados no relatório, L14 e L15 trouxeram algumas observações sobre o entendimento da interdisciplinaridade na visão dos professores da escola:

Em relação à conversa com os professores, foi constatado que a grande maioria não tem um conhecimento sobre a interdisciplinaridade, acreditando que interdisciplinaridade seria apenas abordar o mesmo tema em sua disciplina, como exemplo de tema: “A água”. Cada um trabalhará esse tema separadamente, não havendo qualquer relação entre os conteúdos desenvolvidos. Alguns docentes acreditam que interdisciplinaridade seria apenas ceder horário de aula de suas disciplinas, para outros professores aplicarem trabalhos (L14 e L15).

Ao discorrer que a visão de interdisciplinaridade dos professores dessa escola era bem diferente de suas concepções, atenderam ao critério da reflexão do fazer interdisciplinar sobre as ações do projeto, tanto os licenciandos-estagiários, como os professores envolvidos.

Lembraram, também, que houve uma participação significativa dos estudantes da Educação Básica: “a participação dos alunos foi muito efetiva em todos os momentos. Participaram das atividades propostas, fizeram questionamentos e em seus resumos finais apresentaram apenas pontos positivos sobre o Minicurso” (L14 e L15).

Ao analisar o conteúdo do relatório, poder-se-ia cogitar que o projeto tenha se efetivado como interdisciplinar, conforme concluíram os estudantes L14 e L15:

Em relação ao Minicurso, consideramos que as expectativas foram superadas devido o retorno positivo dos alunos em todas as atividades e por acreditarmos ter alcançado a interdisciplinaridade entre a Neurobiologia da Aprendizagem e Técnicas de Estudo com a disciplina de Português, aplicando o conteúdo de Análise Sintática (L14 e L15). Entretanto, nada assegura que realmente o projeto desenvolvido tenha sido interdisciplinar, pois o que foi relatado não condiz com a apresentação oral do mesmo projeto, na qual ficou explícito a ausência de um dos critérios, a integração dos conteúdos da disciplina de Biologia e Português.

Assim, de acordo com minha concepção, o projeto desenvolvido pelos estudantes L14 e L15 não se efetivou como interdisciplinar, visto que houve pouco diálogo e planejamento entre os envolvidos, comprometendo, dessa forma, os conteúdos de Biologia que não foram contemplados.

4.4.7 Projeto 7: Abordagem interdisciplinar na aula de Ciências para o Ensino