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CAPÍTULO III PERCURSO METODOLÓGICO

4.4 Práticas Pedagógicas Interdisciplinares: projetos e relatórios de estágio de licenciandos em

4.4.7 Projeto 7: Abordagem interdisciplinar na aula de Ciências para o Ensino

A dupla de estudantes L8 e L16 apresentaram o projeto denominado “Abordagem interdisciplinar na aula de ciências para o ensino fundamental: estudo de vírus e Região Norte” realizado em uma das turmas do 7º ano do Ensino Fundamental com 39 estudantes. As disciplinas escolhidas pelos estudantes foram Ciências Naturais - vírus, e Geografia - região norte.

Os estudantes apresentaram como objetivos “compreender as características dos vírus, reconhecer algumas doenças que eram causadas por vírus e relacionar com a incidência de doenças virais em um determinado espaço geográfico; no nosso caso, era região norte” (L8 e L16).

De acordo com o que afirmou L8, esses conteúdos foram escolhidos após uma consulta ao planejamento de trabalho dos professores da Educação Básica:

[...] nós teríamos que estar verificando com os professores quais eram os conteúdos que eles estavam dando no momento, que nós iriamos estar ministrando o estágio de forma interdisciplinar. A professora Mônica, ela tinha dado vírus, todas as diferenciações de vírus, esse tópico para os alunos de 7º ano. E aí a gente foi, verificou com o professor de geografia. Ele disse que estava trabalhando a região norte, aí eu falei, ah legal, vai casar bem [...] região norte e vírus, e aí a gente fez a proposta de estar trabalhando esses dois temas ligando interdisciplinaridade e a contextualização também, porque é um foco que está bem em voga, né? (L8).

Dessa forma, observa-se que os estudantes L8 e L16 foram conhecer os professores e os conteúdos de ambas as disciplinas, para depois elaborarem a proposta de trabalho interdisciplinar, envolvendo conteúdos disciplinares. Porém, ainda não podemos afirmar que o diálogo e o planejamento realizados pela dupla com os professores da Educação Básica por si só assegurem a efetivação da interdisciplinaridade.

As atividades do projeto foram delineando-se a partir de uma sondagem dos conteúdos ministrados pelos professores de Ciências Naturais e Geografia, conforme L16 relatou:

Quando a gente chegou lá com questionamentos a respeito do que eles já tinham visto sobre vírus na turma do 7º ano. Foi tipo na semana anterior a nossa presença lá, e eles praticamente... só o pessoalzinho da frente que comentava alguma coisa que lembrava de algum tipo de vírus, de até mesmo uma doença que a gente até perguntou também, mas fora isso, a maioria nem lembrava mais do que a professora tinha dado em sala de aula e a professora estava lá presente. Ela falou: -gente eu falei isso a semana passada, cadê… teve pouco rendimento, lá (L16).

O posicionamento do estudante L16 sinalizou uma das dificuldades encontradas no desenvolvimento do projeto: a falta de participação dos estudantes da Educação Básica quando instigados a responder sobre o conteúdo de Vírus e Região Norte. Afinal, de acordo com o planejamento, tais conteúdos já haviam sido ministrados pelos professores envolvidos no projeto.

Mesmo com essa dificuldade, L8 insistiu que todos os estudantes participassem dos questionamentos, com a finalidade de desenvolver outra atividade que dependia desses conhecimentos.

Foi um fato, porque a intenção não era que nós pudéssemos falar de novo o conteúdo que ela já tinha dado, é que nós pudéssemos fazer uma integração entre os dois conteúdos trazendo novas abordagens. Porém, quando a gente perguntou conceitos básicos que eles já teriam de ter assimilado, eles não sabiam, e aí eu falei: - eu não vim trazer esse conhecimento que vocês já tiveram, eu vim trazer novos conhecimentos para vocês. Eu preciso que vocês participem, não é necessário que vocês fiquem acanhados, podem falar mesmo que vocês acham que esteja errado, pode falar [...] (L8).

Desse modo, a metodologia trabalhada pela dupla para revisar os conteúdos foi o ensino por investigação, em que os licenciandos L8 e L16 perguntavam, e os estudantes, na medida do que sabiam, iam respondendo e gerando outros questionamentos.

Após o diagnóstico dos conteúdos, os estudantes L8 e L16 elaboraram temas relacionados a Vírus e Região Norte para apresentação em forma de seminários pela turma, a qual foi dividida em três grupos de sete estudantes e três grupos de seis estudantes, totalizando seis grupos, conforme relatou L16:

[...] temas dos seminários que foram divididos em 6 grupos, o grupo 1 ficou com aglomerados e urbanos [...]. O segundo grupo ficou de identificar no mapa da região norte as principais endemias da região. O grupo 3, quais os fatores de complicação da doença, do Zika, da dengue, do H1N1 [...]. O grupo 4 ficou com o histórico do mosquito, [...]. O grupo 5 e o 6 ficaram com uma proposta de como está a propagação do vírus da Zika, da dengue, do H1N1 no Brasil e onde tem mais gente infectada, fazer um quadro epidemiológico dessas doenças [...] que [...] acometem muito o pessoal da região norte (L16).

Contudo, o estudante L8 ressaltou:

[...] na hora da apresentação eles não quiseram participar não, ficavam mais quietos. [...] então, o que a gente observou no estágio foi que não houve interdisciplinaridade, de fato, não houve, pelo fato desses fatores que eu falei com vocês, a falta de interação, de conhecimento, a dedicação, pode ter sido, não sei se foi, o fator crucial [...] (L8). Diante do exposto, a dupla também contemplou nosso critério da reflexão do fazer interdisciplinar, pois analisou se aquela atividade do projeto foi interdisciplinar. Devido a esses resultados, a professora da disciplina de ESECN 4 questionou a dupla se a metodologia utilizada influenciou na efetivação da interdisciplinaridade. Na concepção do estudante L8, não foi a metodologia a responsável por não efetivarem a interdisciplinaridade, mas a forma de divisão dos grupos.

[...] inicialmente, acho que teria sido diferente, é, é, poderia ter sido diferente, porque os fatores deles estarem mexendo até com coisas que eles não têm tanta habilidade, é, pode ter sido um fator que..., mas o que eu pude perceber mais, foi essa falta de interação, professora, porque quando eles tem o grupo deles, as panelinhas, eles vão um na casa do outro, eles tem contato maior. Agora quando é alunos assim que... diferente, acho que eles não quiseram, não se interessaram direito, então assim, fizeram por fazer mesmo (L8).

Assim, na opinião dos estudantes L8 e L16, o projeto que desenvolveram não efetivou a interdisciplinaridade porque os estudantes da Educação Básica não conseguiram reconhecer a integração dos conteúdos na atividade proposta, e por isso não participaram como deveriam.

Da mesma forma, apesar de terem se reunido com os professores envolvidos, dialogando e realizando o planejamento, faltou repensar qual seria a melhor atividade para a interdisciplinaridade se efetivar. Talvez, se fosse utilizada outra metodologia que não a apresentação de seminário, poder-se-ia envolver os estudantes da Educação Básica, resgatando o interesse e provocando a participação no projeto, a fim de alcançar a aprendizagem desejada.

No relatório, o projeto teve como objetivos: “desenvolver nos estudantes da Educação Básica a compreensão de doenças causadas por vírus, e a relação das principais endemias de diferentes vetores na Região Norte do Brasil; analisar as consequências advindas da falta de saneamento básico, além de estimular as práticas de higienização pessoal” (L8 e L16).

No decorrer do relatório não foi mencionado se houve diálogo e planejamento entre os licenciandos-estagiários e os professores das disciplinas envolvidas da Educação Básica. Esse fato se diferencia das informações apresentadas pela dupla na disciplina de ESECN 4, pois naquele momento afirmaram que houve diálogo e planejamento entre os envolvidos.

É possível perceber nos resultados que os licenciandos-estagiários atenderam ao critério da reflexão do fazer interdisciplinar, mesmo não tendo efetivado a interdisciplinaridade, conforme pontuaram:

Foi feito um levantamento subjetivo com 39 alunos de uma turma do 7º ano, e verificou- se que 45% dos alunos não conseguiram compreender a forma de trabalho interdisciplinar, 45% não tiveram uma boa aprendizagem dos conteúdos trabalhados pelos professores, destacando também a inabilidade destes de trabalhar em grupos; aliado a tudo isso, a abordagem de trabalho de seminários pode não ter sido a melhor escolha das estagiárias (L8 e L16).

Portanto, de acordo com o discorrido no relatório, a dupla demonstrou preocupação com a aprendizagem dos estudantes da Educação Básica por meio da reflexão do fazer interdisciplinar, mesmo não conseguindo efetivar a interdisciplinaridade.

Pode-se considerar que, neste caso, a não efetivação da interdisciplinaridade se deu pela ausência de um planejamento minucioso e de diálogo entre os licenciandos-estagiários e professores da Educação Básica.

4.4.8 Projeto 8: O estágio supervisionado como uma proposta de trabalho interdisciplinar