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Estudo quantitativo e estudo qualitativo: Uma relação dinâmica

Através da conjugação dos resultados obtidos nos dois estudos apresentados neste trabalho teórico-empírico, com perspectivas metodológicas diferentes, procurou-se responder aos objectivos propostos. A relação dinâmica que os dois estudos empíricos estabeleceram entre si permitiu uma compreensão mais abrangente da realidade (Ingold & Ingold, 1988, citado por Fonte, 2005). Assim, os resultados obtidos no primeiro estudo, de carácter quantitativo, permitiram dar continuidade ao trabalho empírico, ao facultarem informação pertinente que serviu de premissa para o segundo estudo, de carácter qualitativo, dando particular relevância à opinião dos profissionais de saúde alvo neste último.

De facto, os resultados obtidos indicam que a esperança dos profissionais de saúde em estudo não se encontra demasiadamente debilitada, apesar das experiências e vivências adversas com que se deparam quotidianamente na sua prática laboral, pois esta detém características muito peculiares que, em maior ou menor grau, podem afectar a curto, médio ou longo prazo o bem-estar desta população. O estudo quantitativo permitiu, ao adoptar como referência o ponto médio da Escala de Esperança, adaptada e aferida ao contexto português, observar que os profissionais de saúde em estudo, de um modo geral, apresentam índices de esperança positivos. Foi possível ainda observar que as variáveis sócio-demográficas seleccionadas, mesmo aquelas que a literatura identifica como potenciadoras de baixos índices de esperança, não se associam aos índices de esperança, o que indica que as oscilações observadas se devem a outros factores não analisados neste estudo. Neste sentido, estes resultados não permitem confirmar que as variáveis sócio-demográficas em estudo podem tornar vulneráveis os profissionais de saúde a nível físico e psicológico, colocando a integridade do seu “eu” em causa (Labate & Cassorla, 1999; Lazure, 1996; Mota et al., 2006; Ramalho & Nogueira- Martins, 2007), nem mesmo aquelas que se encontram relacionadas com a prestação de cuidados de saúde a doentes em geral e a doentes oncológicos.

Ao dar voz aos profissionais de saúde no estudo de carácter qualitativo, foi ainda possível ter conhecimento da percepção destes acerca das suas experiências e vivências em contexto laboral, o que é que estas acarretam a nível físico e psicológico para o seu

bem-estar e que papel atribuem à esperança na sua prática profissional e no seu próprio bem-estar. Através das narrativas e significados atribuídos pelos profissionais de saúde em estudo teve-se conhecimento da realidade vivida por estes durante a sua prática profissional.

Estes relatos permitiram constatar que, de um modo geral, estes profissionais de saúde experienciam e vivenciam situações que os marcam física e psicologicamente, por estarem constantemente perante o sofrimento alheio e, em alguns casos, a perda. Estes profissionais de saúde descrevem a experiência de trabalhar em Oncologia recorrendo a três perspectivas: pessoal, profissional e relacional, através das quais caracterizam a vivência, os riscos e o impacto que esta pode acarretar, verificando-se uma significativa similaridade entre a descrição focada pela literatura e a opinião dos profissionais de saúde em estudo. Porém, através dos relatos destes profissionais de saúde identifica-se o suporte social, a aprendizagem adquirida e a auto-regulação como estratégias/recursos úteis para trabalhar em Oncologia, evitando, assim, tornarem-se vulneráveis aos riscos da prática profissional.

No que concerne a opinião dos profissionais de saúde em estudo relativamente à esperança, observou-se alguma reticência por parte destes em definir o construto, não por desconhecerem o seu significado, mas sim pela dificuldade que diziam sentir em traduzir em palavras a sua percepção e compreensão acerca deste construto. Porém, com maior ou menor facilidade, os profissionais de saúde em estudo descreveram a esperança sob duas ópticas: uma de ordem pessoal e uma outra de ordem profissional. Apesar dos profissionais de saúde manifestarem dúvidas, de um modo geral, definiram a virtude humana esperança realçando o seu carácter positivo e a sua pertinência na vida do ser humano. De facto, os profissionais de saúde em estudo atribuíram-lhe um papel extremamente importante no que respeita a saúde do ser humano, ao indicá-la como uma estratégia positiva para o restabelecimento da saúde ou promoção de qualidade de vida perante a doença e a saúde, assim como pela pertinência e necessidade de promoção no ser humano, sobretudo no domínio da saúde.

Os resultados obtidos nos estudos quantitativo e qualitativo permitiram fortalecer o fundamento já existente (Groopman, 2004; Lange, 1982, citado por Pires, 2006;

A esperança dos profissionais de saúde de uma unidade oncológica: Contributos para a prática profissional

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McDermott & Hastings, 2000, citado por Marques et al., 2008; Paludo & Koller, 2007; Seligman et al., 2005; Snyder & Lopez, 2002) de que a esperança, como virtude humana, constitui-se como um investimento de excelência para o desenvolvimento do funcionamento humano positivo, tornando-se uma forma inovadora e complementar de delimitar a experiência e vivência de emoções negativas perante situações adversas.

Deste modo, espera-se que as conclusões de ambos os estudos constituam um quadro de referência para a prática médica e de enfermagem, mas, sobretudo, para o bem-estar dos profissionais de saúde que, de um modo geral, se confrontam com o sofrimento alheio e a perda e, em particular, para o bem-estar dos profissionais de saúde em estudo da ULSAM, E.P.E, seus doentes e familiares destes últimos.