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O Estudo B objetivou examinar se há diferenças entre BL e LDC quanto à integração léxico-semântica. Participaram do estudo os grupos de BL (n = 49) e LDC (n = 37)

previamente selecionados por meio das duas etapas de seleção detalhadas na seção 3.4. A caracterização dos grupos foi descrita na seção 3.4.3.

3.6.1 Instrumentos e procedimentos para a coleta de dados

O Estudo B é composto por duas tarefas de integração léxico-semântica. A coleta de dados foi realizada individualmente em uma sala, separada da sala de aula, nas dependências da escola, pela pesquisadora. As tarefas foram administradas separadamente em dois encontros de aproximadamente 25 minutos cada, antecedidas por uma tarefa do Estudo A. A tarefa de integração de palavra seguiu à de julgamento semântico e a tarefa de incongruência seguiu à de decisão lexical. Antes de iniciar a coleta de dados, fizemos um estudo piloto com 15 estudantes de 8ª série participantes da primeira etapa de seleção, mas que não foram selecionados para os estudos. Eles receberam as tarefas em papel com as seguintes instruções: “a) Integração – Leia os extratos de textos e marque a alternativa que contém o significado da palavra em negrito no contexto; b) Incongruência – Leia os extratos de textos. Em cada um deles existe uma palavra utilizada de modo equivocado. Marque a alternativa que contém a palavra que não faz sentido no texto.” A análise das repostas mostrou a necessidade de substituir e encurtar alguns extratos, bem como modificar algumas alternativas. Após as modificações, três juízes, participantes do GENP (Grupo de Estudos em Neurolinguística e Psicolinguística) da PUCRS, avaliaram e aprovaram as tarefas com algumas sugestões. Acatadas as sugestões, fizemos um piloto com três participantes utilizando o E-primn (Professional 2.0.10.242) para nos certificarmos de que as instruções e os tempos estavam adequados. As tarefas foram administradas conforme a descrição a seguir.

- Integração de palavra (Apêndice K): avaliou a acurácia e o TR na tarefa de integração léxico-semântica. A tarefa foi composta por 20 extratos de textos, de gêneros diversos, retirados de jornais, revistas e blogs, com extensão entre 24 e 54 palavras, mínimo 50 e máximo 91 sílabas. As alternativas foram construídas a partir da consulta a um dicionário de sinônimos (http://www.sinonimos.com.br/). Os textos foram exibidos individualmente em fonte Courier New, preta, na primeira tela com fonte tamanho 18 e na segunda 15, centralizados em uma tela branca de um laptop. Na primeira apresentação apenas o texto com uma palavra em MAIÚSCULO era exibido. Após ler o texto, o participante devia pressionar a tecla de espaço para a exibição da segunda tela na qual o mesmo texto era exibido novamente com cinco possíveis significados para a palavra destacada em letras maiúsculas, conforme o exemplo a seguir.

1ª tela

Um grupo de alunos está reunido na sala de aula no meio de um debate CALOROSO. Mas a lição aqui não é de matemática ou história - eles estão tentando adaptar um carro normal em um

modelo ecológico e econômico. Essa é apenas uma das lições desta escola, chamada Minddrive, no Kansas, EUA. 2ª tela

Um grupo de alunos está reunido na sala de aula no meio de um debate CALOROSO. Mas a lição aqui não é de matemática ou história - eles estão tentando adaptar um carro normal em um modelo ecológico e econômico. Essa é

apenas uma das lições desta escola, chamada Minddrive, no Kansas, EUA. 1. Afetuoso

2. Cordial 3. Veemente

4. Calmo 5. Carinhoso

Os participantes deviam escolher a opção que continha o sentido mais adequado ao texto, pressionando o número correspondente à alternativa no teclado. Antes de iniciar a tarefa, os participantes receberam as seguintes instruções: “Você verá na tela um pequeno texto com uma palavra escrita em letras MAIÚSCULAS. Leia o texto com atenção e quando tiver terminado de ler TUDO, pressione a tecla de espaço. O texto aparecerá novamente e abaixo dele estarão 5 opções de sentido para a palavra em MAIÚSCULO. Sua tarefa é descobrir qual é o sentido certo para essa palavra no texto. Se você precisar, releia o texto ou parte dele. Faça sua escolha o mais RÁPIDO e CORRETAMENTE possível. Escolha a alternativa que tenha o sentido mais adequado pressionando o número correspondente no teclado do computador. Você está pronto para começar a tarefa?”. Os participantes receberam treinamento antes do início da tarefa com dois textos.

O programa E-primn (Professional 2.0.10.242) foi utilizado para a apresentação dos estímulos, registro da acurácia e do TR. Após a exibição do texto nas duas telas sequenciais e a indicação da resposta, uma tela com um ponto de fixação (+) era exibida por 1000 ms. e, em seguida, o novo estímulo. A ordem de apresentação da resposta correta foi balanceada entre as posições de um a cinco. Utilizamos duas versões do experimento variando a ordem de apresentação dos textos. Solicitamos aos participantes que mantivessem sempre as mãos sobre o teclado próximas das teclas numéricas visando maior acurácia no TR. Ao fim do experimento, uma tela com um agradecimento era exibida.

- Incongruência de palavra (Apêndice L): também avaliou o processo de integração léxico-semântica utilizando para isso a tarefa de identificação de palavras empregadas de forma errônea. A tarefa foi composta por 20 extratos de textos, de gêneros diversos, retirados de jornais, revistas e blogs, com extensão entre 25 e 50 palavras, no mínimo 65 e no máximo 99 sílabas. Os textos foram exibidos em fonte Courier New, preta, em uma tela branca do laptop, na primeira apresentação o tamanho da fonte foi 18 e na segunda 15. Na primeira tela somente o texto era exposto. Os participantes deviam ler todo o texto e, após, pressionar a tecla de espaço. Na segunda tela, o mesmo texto surgia novamente com cinco alternativas com possíveis palavras empregadas de forma incorreta. Então, os leitores deviam avaliar qual palavra havia sido usada de forma incorreta, em termos de significado, no trecho e indicar sua resposta por meio do teclado numérico.

1ª tela

Médicos da Finlândia acompanharam 397 recém-nascidos ao longo de um ano e descobriram que as crianças com cachorro em casa ficavam menos doentes (até 29 dias a menos). O maior benefício

foi registrado quando o réptil era sujinho: passava ao menos 18 horas por dia fora de casa. É que as bactérias trazidas

pelo cão fortalecem o sistema imunológico do bebê.

2ª tela

Médicos da Finlândia acompanharam 397 recém-nascidos ao longo de um ano e descobriram que as crianças com cachorro em casa ficavam menos doentes (até

29 dias a menos). O maior benefício foi registrado quando o réptil era sujinho: passava ao menos 18 horas por dia fora de casa. É que as bactérias

trazidas pelo cão fortalecem o sistema imunológico do bebê. 1. Acompanharam

2. Doentes 3. Réptil 4. Bactérias

5. Casa

As seguintes instruções foram exibidas ao longo de três telas antes do início da tarefa: “Você verá na tela um pequeno texto. Leia o texto silenciosamente com MUITA ATENÇÃO. Depois de lê-lo pressione a tecla de espaço. O texto aparecerá novamente e abaixo dele estarão 5 opções de palavras. Sua tarefa é descobrir qual palavra NÃO FAZ SENTIDO no texto. Pressione no teclado do computador o número correspondente à palavra inadequada. Você está pronto para começar a tarefa?”. Previamente ao começo da tarefa, os participantes

receberam treinamento com três textos e instruções para que mantivessem sempre as mãos sobre o teclado próximas das teclas numéricas.

O programa E-primn (Professional 2.0.10.242) foi usado para a apresentação dos estímulos, bem como para o registro da acurácia e do TR. Depois da indicação da resposta, um ponto de fixação (+) era exibido por 1000 ms. e, em seguida, surgia uma tela com um novo estímulo. A ordem de apresentação da resposta correta foi balanceada entre as posições de um a cinco. Utilizamos duas versões do experimento variando a ordem de apresentação dos textos. Ao fim do experimento, uma tela com um agradecimento era exibida.

3.6.2 Apresentação e discussão dos resultados

Conforme demonstra o Gráfico 16, os BL tiveram maior número de acertos do que os LDC, mesmo quando controlada a habilidade de leitura de palavra isolada por meio de Ancova (p = 0,001). O resultado indica que não só BL e LDC se diferenciam no conhecimento das palavras, mas também na habilidade de integrar as palavras ao contexto, o que requer que o leitor seja capaz de aplicar seu conhecimento léxico-semântico na seleção do sentido adequado da palavra. É como se o leitor sintonizasse a palavra ao contexto, o que às vezes requer não apenas a seleção, mas (re)construção de seu sentido. Enquanto no Estudo A usamos como contexto apenas uma palavra (primn), no Estudo B usamos um contexto discursivo amplo, mais rico e complexo, que se aproxima mais da situação real de leitura. Para realizar a integração lexical nessa tarefa o leitor precisa tentar elaborar o sentido da palavra que seja coerente tanto com o contexto sentencial-local, quanto com o contexto discursivo-global. Por meio da integração da palavra ao texto, o leitor atualiza incrementalmente seu modelo textual. O contexto não funciona apenas como um limitador que delimita o escopo semântico da palavra ou como uma seta apontando para o significado a ser selecionado dentre os demais existentes na memória. Na verdade, ele também pode acrescentar à palavra aspectos semântico-pragmáticos inexistentes na sua representação, podendo resultar em aprendizado e, assim, melhorar a qualidade da representação léxico- semântica.

Gráfico 16 – Desempenho dos grupos na tarefa de integração

Fonte: A autora (2015).

O Apêndice T exibe os resultados individuais das tarefas de integração e incongruência de palavra. Além da acurácia, também averiguamos o tempo que os participantes levaram para ler os textos quando apresentados na primeira tela e para escolher dentre as alternativas a resposta correta. Para interpretar o TR, fizemos algumas simulações no E-primn: leitura rápida dos textos, leitura lenta dos textos, leitura apenas das alternativas, indicação de alternativa sem a leitura de todas as opções, releitura do texto com leitura das alternativas e resposta. Verificamos que em menos de 1000 ms. não seria possível distinguir dentre as opções e indicar uma resposta, então, TR inferiores a esse valor poderiam indicar meramente adivinhação. Nenhum participante apresentou TR menores que 1000 ms., não havendo necessidade de exclusões. Não foi possível estabelecer o valor máximo do TR porque, além da leitura das alternativas, alguns estudantes precisaram reler partes ou todo o texto para tomar sua decisão. Sendo assim, decidimos não excluir os TR longos. A média do TR dos grupos exibida na Tabela 20 foi calculada considerando apenas as respostas corretas. Por isso, precisamos desconsiderar o TR de participantes que tiveram erros iguais ou superiores ao percentil 97. Assim, desconsideramos o TR de leitores que tiveram mais de 13 erros, seis participantes do grupo de LDC, na tarefa. Para a leitura dos textos, estabelecemos como parâmetro o tempo mínimo de 4000 ms. tendo por base o texto com o menor número de sílabas. Para a aplicação desse critério excluímos manualmente 21 (1,23%) tempos de leitura

inferiores ao mínimo estabelecido. Um participante do grupo de BL teve que ser desconsiderado da análise do tempo de leitura dos textos por exibir tempos inferiores a 4000 ms. em 10 dos 20 textos apresentados.

Tabela 20 – Desempenho dos grupos na tarefa de integração léxico-semântica

BL (n = 49)* LDC (n = 37)** Teste Mann-Whitne5

Mediana (IQQ) Mediana (IQQ) U z p

Acurácia 14,00 (13,00 - 15,00) 10,00 (9,00 - 12,50) 297,50 -5,35 0,001 TR nas corretas 7717 (6182 - 11554) 8513 (7128 - 12017) 790,00 -1,01 0,310 Tempo leitura textos 17674 (11503 - 30070) 23456 (15165 - 32524) 707,00 -1,60 0,109 Tempo leitura por sílaba 11,94 (7,79 - 20,86) 16,62 (10,24 - 21,97) 696,00 -1,702 0,089 Legenda: IQQ = Intervalo interquartílico; n = número de participantes.

* Foram 48 os BL considerados no Tempo de leitura dos textos e por sílaba. ** Foram 31 os LDC considerados no TR nas corretas.

Fonte: A autora (2015).

Apesar de os BL exibirem tempos menores que os LDC, a diferença no TR e no tempo de leitura dos textos não atingiu o nível de significância. Já o cálculo do tempo de leitura por sílaba apresentou-se marginalmente significativo, podendo indicar que os BL leiam mais rápido e, possivelmente, com maior fluência do que os LDC. Levantamos duas hipóteses para a explicação desse resultado. Primeiro, é possível que devido ao número reduzido de estímulos, apenas 20, o experimento não tenha atingido poder estatístico para exibir diferenças significativas. Segundo, o TR dos BL pode indicar um maior cuidado durante a realização da tarefa na busca de alcançar um bom desempenho. Ainda que essa última não seja empírica, nos pareceu ao longo do estudo que os LDC, por serem menos motivados e terem menor autoestima enquanto leitores, desistiam mais facilmente de resolver a tarefa e acabavam respondendo com maior rapidez e menor empenho. Finger-Kratochvil (2010) também observou em leitores universitários que maior tempo de leitura não indica necessariamente menor compreensão, pois assim como pode indicar maior dificuldade, pode ser o resultado de uma leitura mais cuidadosa.

Na tarefa de incongruência de palavra, o leitor devia julgar qual palavra estava sendo usada de modo incorreto no texto, gerando falha no processo de integração. Para realizar a tarefa os leitores deviam analisar o significado da palavra em seu contexto local e global, verificando se era possível integrá-la. No Gráfico 17, observamos claramente que os BL tiveram média de acertos muito maior que a dos LDC. Tal diferença mostrou-se significativa ainda quando controlada a habilidade de leitura de palavra isolada por meio de Ancova (p = 0,001).

Gráfico 17 – Desempenho dos grupos na tarefa de incongruência

Fonte: A autora (2015).

Além da acurácia, a tarefa verificou o tempo de leitura dos textos apresentados separadamente na primeira tela e o TR, ou seja, o tempo que o participante levou para responder qual dentre as cinco palavras estava sendo utilizada de modo incorreto no texto.

Adotamos o mesmo critério de análise da tarefa de integração. Por meio do programa E-primn, filtramos os TR incorretos e os inferiores a 1000 ms. Para o cálculo da mediana

foram filtrados os TR de leitores com erros iguais ou acima do percentil 97, nessa tarefa 17 erros. Assim, desconsideramos na medida de TR os dados de três LDC. Para a medida do tempo de leitura dos textos estabelecemos como mínimo 4000 ms., sendo assim, filtrados 23 tempos de leitura (1,33%) inferiores ao mínimo estabelecido. A Tabela 21 exibe as comparações feitas entre os grupos.

Tabela 21 - Desempenho dos grupos na tarefa de incongruência

BL (n = 49) LDC (n = 37)* Teste Mann-Whitne5

Mediana (IQQ) Mediana (IQQ) U z p

Acurácia 15,00 (13,00 -16,00) 8,00 (6,00 - 11,50) 257,00 -5,356 0,001 TR nas corretas 8950 (5183 - 13711) 8949 (4371 - 13757) 770,00 -0,583 0,560 Tempo leitura textos 17575 (15249 - 20548) 17601 (14597 - 22962) 874,00 -0,283 0,777 Tempo leitura por sílaba 10,96 (9,57 - 12,81) 11,35 (9,35 - 14,76) 825,50 -0,707 0,480 Legenda: IQQ = Intervalo interquartílico; n= número de participantes; TR = Tempo de resposta em milissegundos. * Foram 34 os LDC no TR das corretas.

Diferentemente dos dados da acurácia, não encontramos diferenças estatísticas entre os grupos nas medidas de tempo na tarefa de incongruência. O tempo de decisão e escolha da palavra inadequada foi semelhante nos dois grupos. Apesar das suas dificuldades, os LDC não dedicaram maior tempo para a leitura dos textos e para a resolução da tarefa. A diferença marginalmente significativa encontrada no tempo de leitura por sílaba na tarefa de integração não se confirmou na tarefa de incongruência. Portanto, não há indícios que apontem para a diferença na velocidade de leitura dos grupos nas tarefas de integração.

As duas tarefas que visaram avaliar a habilidade de integração léxico-semântica apresentaram correlação significativa tanto na acurácia (rs =0,548; p = 0,001), quanto no TR

(rs =0,451; p = 0,001). No entanto, na tarefa de integração a média do tempo de leitura dos

textos e a média do tempo por sílaba foram superiores, em especial para os LDC, apesar da semelhança na extensão dos textos utilizados nas duas tarefas. Acreditamos que isso tenha ocorrido na tarefa de integração porque quando apresentado o texto na primeira tela a palavra a ser questionada já aparecia em letras maiúsculas, o que pode ter levado os LDC a prestarem maior atenção à palavra. Já os BL, provavelmente por terem maior facilidade, ou por terem utilizado algum tipo de estratégia, não alteraram seu ritmo de leitura e apresentaram tempo semelhante nas duas tarefas.

O Estudo B mostra que BL e LDC não só se diferenciam no conhecimento léxico- semântico, como também no uso desse conhecimento para a realização da integração das palavras ao contexto local e global. A diferença na habilidade de integração entre BL e LDC já havia sido identificada por Yang et al. (2005) e Perfetti et al. (2008). O estudo mais recente investigou o processo de integração online através de ERP em leitores adultos com níveis distintos de compreensão. As medidas de tempo obtidas com ERP ocorrem no momento da leitura, palavra por palavra, o que lhes conferem grande precisão e confiabilidade. Eles encontraram marcas de diferenciação de tempos de processamento, sugerindo dessemelhanças no processamento léxico-semântico dos grupos. Os leitores com menor habilidade de compreensão apresentaram identificação e integração léxico-semântica mais lenta e menos eficiente quando comparados aos bons leitores.

O outro estudo de que temos conhecimento foi realizado por Henderson e Snowling (2013). Eles investigaram o efeito de priming em sentenças orais, com tendência subordinada ou controle, cujo final era completado por uma figura que apresentava relação homonímica subordinada (apropriado) ou relação homonímica dominante (inapropriado) utilizando SOA de 250 e 1000 ms. Os resultados mostraram que os LDC, de em média 10 anos de idade, foram significativamente mais lentos que os BL na nomeação de figuras; em SOA de 250 ms.,

eles exibiram priming nas condições apropriadas e inapropriadas, enquanto no SOA de 1000 ms. não exibiram priming nas sentenças apropriadas embora tenham exibido nas

inapropriadas. Já os BL exibiram priming apenas nas apropriadas. Segundo os autores, o efeito de priming em sentenças inapropriadas pode indicar problemas na inibição de informações irrelevantes durante o processo de integração. Apesar das diferenças no tipo de estímulo utilizado, Henderson e Snowling apresentaram sentenças e nós extratos de textos, em ambos os estudos os LDC demonstraram menor habilidade de integração léxico-semântica quando comparados aos BL.

O fato de em nosso experimento não termos encontrado diferença de tempo entre os grupos nas tarefas de integração provavelmente se deve a opções metodológicas, visto que o registro não foi feito de forma online, mas ao final da leitura do texto apresentado na primeira tela e no momento da indicação de uma das cinco alternativas na segunda tela. Assim, a medida registrou o tempo que o participante levou para ler as alternativas e decidir o sentido da palavra ou qual palavra estava sendo usada de forma incorreta, para isso muitas vezes era necessário reler alguns trechos ou todo o texto novamente; o que torna a medida menos precisa.

A tarefa de incongruência, também chamada de julgamento de erro, é comumente utilizada em pesquisas sobre a habilidade de monitoramento durante a leitura, pois para perceber a existência de uma incoerência é preciso estar atento ao sentido que se está construindo para o texto. Ehrlich e colaboradores (1999) estudaram o monitoramento metacognitivo na tarefa de julgamento de erro por meio da resolução de dois tipos de anáforas: pronominal e lexical. O processamento da anáfora nada mais é do que um tipo de integração léxico-semântica uma vez que para integrar a nova palavra ao contexto é preciso recuperar o elemento linguístico antecedente que a ela faz referência. Os grupos com maior e menor nível de compreensão leitora não exibiram diferença no tempo de leitura na tarefa de julgamento de erro. Todavia, os resultados mostraram que os LDC têm a tendência a superestimar sua compreensão, fazem menor número de retomadas durante a leitura e são menos capazes de perceber inconsistências textuais e, quando as percebem, muitas vezes não conseguem identificar a palavra incongruente. Já os BL apresentaram capacidade de adaptar suas estratégias de leitura à tarefa, exibindo maior número de retomadas no texto e maior tempo de leitura na tarefa de julgamento de erro do que na tarefa de autoavaliação da compreensão leitora. Os pesquisadores concluíram que os LDC mostram deficiência no monitoramento da leitura, entretanto, também poderiam ter concluído que o grupo mostra deficiência na resolução de anáforas e, consequentemente, de integração palavra-texto. O fato

de identificarem maior uso da estratégia de retomada da leitura por parte dos BL corrobora nossa hipótese de que nas tarefas de integração léxico-semântica os TRs mais longos possam indicar uma leitura mais cuidadosa e maior uso de estratégias ao invés de dificuldade na realização da tarefa.

A tarefa de incongruência semântica realizada no Estudo B possivelmente tenha sofrido interferências do uso de estratégias e de processos de compreensão leitora como monitoramento. Observando as medidas de tempo sob a mesma perspectiva de Ehrlich e colaboradores (1999) podemos interpretá-las como sendo um indício da existência de