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3.4. EPIDEMIOLOGIA DO USO DE TABACO E BEBIDA ALCOÓLICA EM

3.4.1. ESTUDOS BRASILEIROS

O tabagismo é a principal causa de morte que poderia ser evitada em todo o mundo. Cerca de 1 bilhão de indivíduos da população eram fumantes até 1996 (BINI, 2004). A busca de estratégias de redução e abandono ao cigarro tem como líderes os EUA e o Canadá. No Brasil o foco de intervenção é a prevenção da iniciação do tabagismo através do Programa Nacional de Controle do Tabagismo. Além de prevenir a iniciação do tabagismo, o programa estimula fumantes a abandonar o vício e proteger a saúde dos não fumantes, proibindo através de decreto, fumantes de consumir cigarros em ambientes fechados, protegendo os não fumantes de ficar expostos a fumaça do cigarro (BRASIL, 2003).

Quanto à prevalência de fumantes no Brasil, dados obtidos através da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição realizado em 15 capitais e Distrito Federal, demonstra que as ações do Programa Nacional de Controle do tabagismo vêm reduzindo a proporção de fumantes no Brasil sendo: 32% em 1989, para 19% em 2003 (BRASIL, 2003).

Galduróz et al. (2004) publicaram os dados do V Levantamento Nacional sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas em estudantes do ensino fundamental e médio da rede pública de ensino das 27 capitais brasileiras. Ao investigar as doenças psicotrópicas (aquelas que atuam no cérebro alterando alguma maneira o psiquismo, ou seja, o que sentimos, fazemos e pensamos) em uma amostra de aproximadamente 50 mil estudantes, sendo: 27,1% idades 10-12 anos; 36,3% idades 13-15 anos; 20,3% idades 16-18 anos; 7,5% idades

> 18 anos, apontou que 24,9% dos estudantes relataram ter utilizado tabaco na vida, 19,6% afirmaram ter usado tabaco no ano que foi realizado o levantamento, 14,8% afirmaram ter usado tabaco naquele mês. O uso freqüente, definindo como o fumar 6 vezes ou mais no mês, encontrou 3,8%, 2% faziam uso pesado, definido como fumar 20 ou mais vezes no mês antecedente à pesquisa. Os rapazes apresentaram diferença significativa em relação as moças referente ao uso de tabaco na vida (23,5% e 21,7% respectivamente) e, quanto à faixa etária, prevalecem as idades de 16-18 anos, com 29,6% dos estudantes e acima de 18 anos, com 34,9% dos estudantes. Ao verificar a prevalência de tabaco entre as regiões do país, a região sul apresentou maior número de estudantes com uso freqüente de tabaco com 4,6%. Porto Alegre foi a capital que obteve a maior proporção: 7,2%, também maior consumo pesado de tabaco com 4,8% dos estudantes das capitais investigadas.

Um estudo conduzido por Souza e Filho (2007) investigou a prevalência do uso recente de tabaco, álcool e drogas entre estudantes adolescentes que trabalhavam e que não trabalhavam. Os estudantes estavam matriculados na rede pública da área urbana de Cuiabá – MT, do total de alunos investigados 798 trabalhavam e 1.493 não trabalhavam. Verificou-se no estudo a necessidade de planejar intervenções estratégicas de prevenção do uso, levando em consideração se o adolescente é ou não trabalhador. Tendo como exemplo o uso de tabaco uma ou mais vezes no período de 30 dias, a prevalência foi de 13,6% nos jovens trabalhadores e de 7,3% dos jovens não trabalhadores. A chance de um jovem trabalhador fazer uso recente de tabaco dobrou em relação ao jovem não trabalhador. Resultados semelhantes foram encontrados também para álcool e drogas.

Horta et al., (2007) conduziram uma pesquisa em Pelotas no estado do Rio Grande do Sul situado na região sul do país no ano de 2002. O objetivo da pesquisa era fazer um levantamento sobre uso de tabaco, álcool e outras drogas entre adolescentes. A investigação envolveu 960 jovens com idades entre 15 e 18 anos. Destes, 43% informaram ter feito uso na vida ou experimentado (uso de pelo menos uma vez na vida) cigarro, já 16,6% informaram fazer uso recente ou contínuo (uso pelo menos uma vez na

semana no mês que antecedeu a investigação). Neste estudo o público feminino prevaleceu entre os que fazem uso recente ou contínuo, chegando a 19,5%, já os rapazes chegou a 13%. O consumo de tabaco foi mais freqüente entre jovens com mais de 17 anos, vindos de classe D e E e com menor escolaridade. O consumo na vida de tabaco foi equivalente entre os gêneros, verificando também que, de cada 2,6 jovens que experimenta cigarros, um deles permanece fumante futuramente. O dado apresentado aponta maior consumo de tabaco entre meninas em relação e meninos, indicando uma tendência futura de consumo de tabaco.

Ao dimensionar o consumo antes de depois da proibição das propagandas de cigarro, Galduróz et al. (2007) compararam os levantamentos de consumo de drogas entre estudantes do ensino fundamental e médio. Ambos os levantamentos utilizaram mesma metodologia, um foi realizado em 1997 e o outro em 2004, após a proibição das propagandas de cigarro, pela Lei nº 10.167, de 27 de dezembro de 2000. Verificou-se que o uso do tabaco diminuiu em 7 das 10 capitais. Assim, entende-se que a diminuição significativa no consumo de tabaco entre os estudantes do ensino fundamental e médio está relacionada a ações de políticas públicas no Brasil.

No Brasil verifica-se o inicio de uso do cigarro em idades por volta dos 15 anos. O INCA, (2004) pesquisou as principais características associadas ao tabagismo entre pessoas com mais de 15 anos de idade e encontrou uma prevalência de tabagismo entre 12,9 a 25,2% nas cidades estudadas, visto que os avaliados do gênero masculino apresentaram prevalências mais elevadas em relação os avaliados do gênero feminino, a prevalência de experimentação e uso de cigarro em jovens variou entre 36 e 58% no gênero masculino e entre 31 e 55% no gênero feminino, já a prevalência de escolares fumantes atuais variou de 11 a 27% no gênero masculino e entre 9 e 24% no gênero feminino (BRASIL – INCA, 2008)

Um estudo muito interessante sobre o impacto do uso de tabaco no perfil lipídico-lipoproteico plasmático realizado por Guedes et al. (2006) relata que 15,4% das jovens moças entre 15 e 18 anos eram fumantes, já entre os rapazes subiu para 20,9%. Também, o estudo verificou níveis séricos de colesterol total, LDL-colesterol e triglicerídeos significativamente mais elevados,

enquanto os níveis séricos de HDL-colesterol significativamente menores entre fumantes em comparação com os não-fumantes. Esse estudo demonstrou que os adolescentes fumantes dobravam a probabilidade de chances de apresentarem risco de alteração nos níveis de lipídios-lipoproteínas plasmático quando comparados aos não-fumantes, apresentando maior predisposição ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

Avaliar e eficiência dos programas de prevenção no uso de tabaco têm sido uma tarefa muito difícil e complexa. Uma revisão realizada por Lima (1999) sobre os programas que previnem o tabagismo na adolescência apontou que os programas baseados na transmissão de conhecimentos objetivando a conscientização dos malefícios ao organismo advindos do uso de tabaco foram os menos eficientes. Mais estudos relacionados ao tabaco e comportamento de risco se faz necessário. Até o momento bons trabalhos já foram apresentados em âmbito nacional (GALDURÓZ et al., 2004; INCA, 2010) e regional (SOUZA e FILHO, 2007; HORTA et al., 2007; GUEDES et al., 2007).

A preocupação em torno do abuso de consumo de bebida alcoólica tem levado pesquisadores a identificar em que idade as pessoas iniciam o consumo de bebida alcoólica, de onde vem o fornecimento de bebida alcoólica e as conseqüências que acarretam para quem faz uso abusivo do álcool.

Algumas conseqüências do abuso de bebida alcoólica na população jovem, como é o caso de acidentes de trânsito e violência, são advindos do denominado alcoolismo, que inicialmente promove efeitos estimulantes associados à desinibição e à euforia; porém, mais tarde com maior consumo, verificam-se efeitos depressores, descontrole, falta de coordenação, sono e até estado de coma. Ainda, vale ressaltar que tal comportamento é aceito socialmente. Pessoas alcoólatras (dependentes do álcool) estão propensas a várias doenças oriundas do abuso do álcool, entre elas as mais freqüentes acometem o fígado, sistema digestivo e cardiovascular (CEBRID, 2003).

Entre os estudos sobre bebida alcoólica, verifica-se a pesquisa de Vieira et al., (2007), envolvendo jovens com idades entre 11 e 21 anos de ambos os gêneros, matriculados em escolas públicas e privadas com o propósito de analisar a disponibilidade e facilidade de acesso às bebidas alcoólicas, as conseqüências do consumo, entre outros dados. O estudo apontou que a

prevalência de consumo de bebida alcoólica na vida foi de 62,2%. Nos últimos 30 dias, 17,3% dos alunos relataram pelo menos um episódio de abuso agudo. Os adolescentes afirmaram adquirir facilmente bebidas alcoólicas em estabelecimentos comerciais e em outros locais como festas, com parentes e amigos. Apenas 1% dos menores de idade relatou que tentou, mas não conseguiu adquirir bebida alcoólica. Como conseqüências negativas do consumo nos últimos 12 meses, 17,9%, dos estudantes relataram ter passado mal por ter consumido bebida alcoólica, 11% se arrependeram por algo que fizeram sob o efeito do álcool, relataram ainda blackout ou amnésia após episódio de embriaguez 9,8% e ter se envolvido em brigas após beber 5%. Mais da metade, 55% dos estudantes conhecia alguém que se envolveu em acidente de trânsito provocado por motorista embriagado.

Torna-se de fundamental importância a pesquisa destinada ao consumo de álcool em jovens para efetivar estratégias que possam prevenir primariamente ou secundariamente o uso abusivo de bebida alcoólica. O tratamento de consumo elevado de ácool em indivíduos jovens parece apresentar eficácia se comparados ao tratamento em indivíduos mais velhos (KENKEL, 1993; SUTTON; GODFREY, 1995).

No que se refere a estudos nacionais, o CEBRID realizou uma das maiores pesquisas realizadas no Brasil. Foram realizados cinco levantamentos sobre o consumo de drogas psicotrópicas em estudantes do Ensino Fudamental e Médio da Rede Pública de Ensino. Os primeiros números levantados em 1987, 1989, 1993 e 1997 avaliaram adolescentes de 10 capitais brasileiras (Belém, Belo horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo). Em 2004 foram levantados dados de todas as 27 capitais do Brasil, em que foi demonstrado um aumento no campo epidemiológico referente relação ao abuso de drogas (GALDURÓZ et al., 2005).

Os resultados do CEBRID apontam uma tendência à diminuição do uso na vida de álcool e na freqüência do consumo em adolescentes brasileiros; porém, mesmo assim os dados continuam a ser preocupantes (GALDURÓZ et al., 2005). O estudo de 2004 do CEBRID indica que 65,2% dos adolescentes já consumiram bebida alcoólica na vida, 63,3% tiveram consumo de bebida

alcoólica no ano, 44,3% beberam no mês, 11,7% frequentemente consomem bebida alcoólica e 6,7% fazem uso pesado de bebida alcoólica (GALDURÓZ et al., 2005). Ao avaliar as 5 regiões do país, o CEBRID encontrou os importantes resultados sobre o consumo de álcool – tabela 1.

Tabela 1 - Comparação quanto ao uso na vida de bebida alcoólica entre as cinco capitais brasileiras.

Região Uso na vida Uso no ano Uso no mês Uso

freqüente Uso pesado

Norte 58,2% 56,1% 39,1% 8,4% 5,0%

Nordeste 66,0% 64,0% 44,7% 12,5% 7,2%

Centro-Oeste 65,5% 63,8% 44,1% 11,7% 6,8%

Sudeste 68,7% 67,0% 47,3% 12,5% 7,2%

Sul 67,8% 66,5% 46,3% 12,9% 6,8%

Fonte: Galduróz et al. (2005)

O estudo demonstrou que estudantes adolescentes do Ensino Fundamental Anos Finais (do 5° ao 9° ano) e Ensino Médio (1° ao 3° ano) da Rede Pública de Ensino de Curitiba (Capital do estado do Paraná localizada na região Sul do País) foi de uso na vida de 68,8%, uso no ano 67,3%, uso no mês 49,0%, uso frequente 13,0% e para uso pesado, 6,9%.

Soldera et al. (2004a) analisando o consumo de álcool em 2.287 alunos do Ensino Fundamental e Médio na cidade de Campinas – SP, entre a faixa etária de 11 a 26 anos de idade, encontraram um consumo pesado de álcool de 11,9%. Outro estudo envolvendo 1.107 estudantes adolescentes do ensino médio de Florianópolis, situada no estado de Santa Catarina, também pertencente à região sul do país, apontou que 23,9% consumiam bebida alcoólica em quantidades nocivas à saúde (cinco ou mais doses durante o mês que antecedeu o estudo). Foram encontrados valores muito próximos de consumo de bebida alcoólica entre rapazes (40,8%) e moças (35,4%); no entanto, rapazes mais velhos foram apontados como maiores consumidores de bebida alcoólica em relação aos mais jovens, o mesmo, porém, não aconteceu com as moças avaliadas (FARIAS e LOPES, 2004).

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