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3.4. EPIDEMIOLOGIA DO USO DE TABACO E BEBIDA ALCOÓLICA EM

3.4.2. ESTUDOS INTERNACIONAIS

O mundo vem apresentando grave problema de saúde pública que repercuti na morte de cinco milhões de pessoas por ano em conseqüência de doenças associadas ao cigarro e a outros derivados do tabaco (PAHO, 2002). Dentre os estudos que procuram identificar a prevalência de jovens fumantes encontram-se valores significativos em países da Europa (HUBLET et al., 2006) e da América Latina (CHAVEZ; O’BRIEN e PILLON, 2005).

Camenga, Klein & Roy (2006), ao analisar o perfil de adolescentes americanos que fumavam no período de 1991 a 2003 utilizando o YRBS, verificaram forte associação entre uso de tabaco e outros comportamentos de risco para a saúde como: consumo excessivo de álcool, não utilização de capacete quando uso de bicicletas e comportamentos sexuais de risco.

Segundo o CDC (2002), nos Estados Unidos aproximadamente 440 mil pessoas vão a óbito por ano por causas relacionadas ao uso de tabaco. Das doenças que estão relacionadas ao tabagismo, a maioria delas se manifestam somente em idades adulta, devido ao efeito cumulativo do tabagismo. Porém, existem também outros riscos para a saúde que podem acontecer entre os jovens, incluindo reações alérgicas, infecções respiratórias, tosses, asma e dispnéia (LIMA, 1999).

Em mais da metade das escolas nos Estados Unidos é proibido o uso de tabaco em ambiente escolar, funcionários, visitantes e estudantes. No entanto, mesmo com a proibição, 7% dos estudantes foram identificados como fumantes regulares no ambiente escolar, sendo que, 54,3% desses estudantes já haviam, em algum momento, tentado parar de fumar. Os 23% dos estudantes que afirmaram usar cigarros, 10,7% relataram fumar mais de 10 cigarros/dia (Eaton et al, 2006).

Uma vez iniciado o uso de tabaco na adolescência a tendência é perdurar durante a vida adulta. Tal afirmação vai ao encontro do estudo de Mowery et al. (2004) que chama a atenção aos estágios de progressão para o estabelecimento do jovem fumante. O estudo aponta sete estágios, que vão dos adolescentes que nunca fumaram aos adolescentes que em 30 dias fumam em pelo menos 20 dias. Utilizando dados provenientes do National

Youth Tobacco Surveys (NYTS) aplicado em escolares do ensino médio entre 1999 e 2000, os autores da investigação identificaram que a opção por ser um fumante ou não, ocorre entre as idades de 11 e 18 anos, que as ações dos pais e as campanhas anti-tabaco nas escolas podem minimizar ou prevenir a progressão pelos estágios de aderência dos jovens frente ao tabaco, que adolescentes expostos ao tabaco em casa e/ou entre os colegas, somados ao marketing da indústria do tabaco, podem ter influência na progressão pelos estágios.

De acordo com DiFranza, (2000), os sintomas de dependência à nicotina podem aparecer após dias ou semanas de uso ocasional, mesmo sem um consumo diário e regular ter se instalado. No entanto, nem todos os jovens ou adolescentes que experimentam o consumo de tabaco vêm a tornarem-se dependentes.

Visto a associação entre a iniciação do uso de tabaco com a interação de uma série de variáveis pessoais, como é o caso de comportamentos e condição sócio-demográfica, programas de prevenção no uso de tabaco devem atuar sobre esses fatores. Os programas de prevenção ao uso de tabaco devem estar atentos também a raça e a etnia. Tal fato se dá pelo fato de Caraballo et al. (2006) terem o consumo de tabaco entre jovens norte- americanos de diferentes etnias e raças nos anos de 1999 a 2001. No estudo foram encontradas diferenças nas idades de iniciação do tabaco nos subgrupos analisados (índios, japoneses, nativos do Alasca, brancos e negros), indicando estratégias de intervenções específicas para cada cultura.

Em pesquisa realizada na população jovem da Espanha foi apontado redução nas últimas décadas quanto à prevalência de infecções e doenças nutricionais. Porém, ao mesmo tempo, verificou-se aumento na quantidade de adolescentes expostos às drogas, violência, acidentes, doenças sexualmente transmissíveis, gravidez indesejada, distúrbios alimentares, entre outros comportamentos que podem ser prevenidos (Hidalgo, Garrido & Hernandez, 2000).

Estudo direcionado à identificação da prevalência de tabagismo entre estudantes adolescentes de um distrito rural no estado de Kerala apontou índice de 8%. Os resultados apontaram associação significativa entre idade

e tabaco, evidenciando que a conscientização sobre a legislação contra o tabagismo em locais públicos foi maior em idades mais elevadas, e as moças foram mais conscientes da proibição de fumar do que os rapazes. A conscientização sobre os perigos associados ao tabagismo revelou que 41,5% dos alunos sabiam da ligação entre o câncer oral e de tabaco, apresentando novamente maior conscientização das moças em comparação com os rapazes (64,3% vs 35,4%). O estudo concluiu que o fato do consumo de tabaco aumentar com a idade é uma questão de preocupação, emitindo um alerta para conscientização da população sobre os perigos do tabaco (JAYAKRISHNAN, 2011).

Com preocupação de analisar o uso de tabaco em segmentos específicos da população de países subdesenvolvidos, Fawibe & Shittu (2011) pesquisaram o consumo de cigarros entre estudantes universitários da Universidade de Ilorin, na região Norte Central da Nigéria. Uma amostra de 1.754 alunos foi selecionada sendo, 65,5% do sexo masculino e 34,5% do sexo feminino com idade média de 21,6 anos. A taxa de prevalência de tabagismo encontrada foi de 5,7%, sendo 7,7% entre os rapazes e 2% entre as moças. Aqueles que relataram nunca ter fumado apresentou proporção de 17,1%. O estudo revelou ainda que, a maioria dos fumantes foram influenciados para fumar por pressão dos colegas e anúncios comerciais, 67,6% deles acreditavam que o fumo nunca poderia ter um impacto negativo sobre o seu estado de saúde e qualidade de vida, e apenas 39,4% dos universitários fumantes estavam dispostos a desistir do seu uso.

Para conter a epidemia do tabaco torna-se necessário uma combinação de intervenções abrangentes em diferentes níveis para tentar identificar o problema e, a partir dele, elaborar estratégias para combatê-lo. O estudo de Nilsson e Emmelin (2010) buscou analisar o papel do tabagismo em fumantes, centrando-se sobre os mecanismos que facilitam os jovens a iniciar o uso de tabaco e o que poderia ter impedido-os da iniciação. Seus resultados apontaram que jovens fumantes começam a fumar como um meio de ganhar o controle dos próprios sentimentos e situações durante o início da adolescência. Uma estreita relação com adultos preocupados poderia ser uma das razões para fumar menos freqüentes ou, tentando parar de

fumar. Intervenções que visam mudanças normativas, com mensagens consistentes das escolas e familiares sobre os aspectos negativos de consumir tabaco, parece ser uma abordagem viável para prevenir a juventude de usar tabaco.

Após relatos de muitos estudos, verifica-se que a epidemia do tabaco é um problema de saúde pública que afeta todos os países, inclusivo os latino- americanos. Segundo Zabert, Chatkin e Ponciano (2010), os países latino americanos têm características de uma ampla base da estrutura piramidal população, pelo fato de possuir muitos jovens, pessoas que foram alvos naturais para a indústria do tabaco. Portanto, nesta região do mundo existe a necessidade de se criar e estabelecer estratégias de prevenção e tratamento para reduzir a incidência e prevalência de tabagismo na população e, conseqüentemente, modificar os efeitos para a saúde. Os autores relatam ainda que, o tratamento da dependência de nicotina exige estratégias de intervenção realmente eficaz para reduzir a quantidade de fumantes atuais, ofertando-lhe ferramentas para evitar a “recaída” e mantê-los longe do vício. Verifica-se que grupos pobres e vulneráveis, que representam 44% da população total da América Latina, são os mais suscetíveis a sofrer os danos do tabagismo na saúde, devido a apresentar maiores taxas de prevalência e pouco ou nenhum acesso aos serviços de saúde.

O abuso de álcool e outras drogas atualmente estão entre os dez maiores problemas de saúde no mundo (USDHHS, 2000). Especificamente em relação à juventude, o CDC identificou álcool na adolescência e outras drogas como uma das suas seis áreas prioritárias (Grunbaum, et al. 2000). Dados epidemiológicos de origem norte-americana revelam que 74% dos estudantes de ensino médio consomem álcool pelo menos uma vez na vida (CDC, 2006).

O consumo de bebidas alcoólicas inicia-se em idades precoce. Alunos do ensino secundário, 19% do 8° nivel, 35% alunos do 10º, e 48% dos alunos do 12° consumiram álcool pelo menos uma vez nos últimos 30 dias, enquanto 11%, 22% e 29% dos alunos destas séries, respectivamente, consomem cinco ou mais doses de bebida alcoólica em uma única ocasião ("binge") pelo menos uma vez na última semana (JOHNSTON et al., 2005).

Uma pesquisa australiana realizada por O’Callaghan & Callan, (1992) verificou o comportamento de 122 calouros universitários, sendo 40 rapazes e 82 moças. O estudo reuniu dados mediante um diário preenchido pelos estudantes durante duas semanas. O diário continha questionário estruturado para cada dia da semana referente ao horário de consumo da bebida alcoólica, à quantidade de álcool ingerida, ao tipo de bebida alcoólica que era consumido, à companhia de quais pessoas isso acontecia, ao local onde era consumido, à atividade realizada durante o consumo, aos níveis de satisfação enquanto consumia bebida alcoólica, à excitação e conforto no momento, ao período em que a bebida foi ingerida, e às quatro razões para beber. A maioria dos pesquisados foram classificados como bebedores seguros; porém, mais rapazes representaram a categoria dos bebedores pesados. As moças demonstraram beber menos exageradamente e por menor tempo em relação aos rapazes. A sexta-feira foi o dia da semana que apresentou maior incidência de consumo de bebida alcoólica, seguida do sábado, domingo e quinta-feira. Os jovens relataram que beber era uma atividade social realizada com um grupo de duas ou mais pessoas de ambos os sexos ou mesmo com um amigo íntimo. A sociabilização foi o motivo alegado pelos episódios de bebedeira nocivos.

Os diários respondido pelos universitários também apontaram que os efeitos da bebedeira variou de acordo com os diferentes tipos de pessoas, ou seja, as diferenças entre sexo no estudo apontam que: rapazes que bebem a índices nocivos, possuem mais atitudes positivas em relação ao álcool, e moças que apresentam comportamento arriscado, relataram ter mais atitudes positivas do que moças que tem comportamento seguro. Ambos os gêneros relataram beber para convívio social, relaxamento, conversação e atividades recreativas como principais razões. As residências foi o local preferido para beber, seguido de hotéis e clubes. Interessante dado relatado neste estudo foi que, as companhias variavam de acordo com o tipo de bebida alcoólica consumido. O vinho foi a única bebida consumida por uma considerável parcela dos jovens em companhia da família.

Entre os anos 1991 e 2005 foi encontrada uma mudança em jovens que consumiam bebida alcoólica no mínimo uma dose em um ou mais dias durante

os 30 dias anteriores ao levantamento de dados, sendo que, em 1999 era de 50% e passou para 43,3% em 2005. Porém, 74,3% relataram ter tomado no mínimo uma dose de bebida alcoólica em um ou mais dias da sua vida, 25% da amostra pesquisada relataram ter bebido cinco ou mais doses de bebida alcoólica em um mesmo evento em pelo menos um dia dos últimos 30 dias antecedente a pesquisa realizada (EATON et al., 2006).

Pickard et al. (2000) reuniu amostra de universitários britânicos, e observou que 52,6% dos rapazes e 50,6% das moças apresentaram elevados níveis de consumo de bebida alcoólica. No estudo de Webb et al. (1996) o consumo elevado de álcool em 3.075 universitários na Inglaterra foi de 15%. Kypri et al. (2002) realizaram estudo com universitários da Nova Zelândia e observou que 60% dos rapazes e 58,2% das moças apresentavam consumo pesado de álcool.

Os fatores que levam adolescentes e jovens a beber podem não ser os mesmo que contribuem para os problemas recorrentes e graves da dependência do álcool. Levantamento realizado com 1.260 indivíduos acima de 15 anos, identificou algumas associações entre o consumo de bebida alcoólica. O resultado apontou as associações: sexo (homens bebem mais que mulheres), idade (mais velhos bebem menos que os mais novos), condição sócio-econômica (classe mais baixa é maior consumidora de bebida alcoólica), tabagismo (fumante tem maior consumo de bebida alcoólica do que não- fumantes) e desordens psiquiátrica (pessoas com problemas psíquicos tem maior consumo de bebida alcoólica em relação aos seus pares normais) (MENDOZA-SASSI e BÁRIA, 2003).

Nystron (1992) realizou estudo na Finlândia tentando relatar a opinião dos jovens universitários relacionada aos aspectos positivos de beber (ter mais companhias, sociabilização, tornar-se engraçado, aproximar-se de alguém do sexo oposto etc.) ou negativos (discussões, envolver-se em brigas, arrepender- se de alguma coisa que fez ou disse, acidentes etc.). O estudo constatou que cerca de 95% dos estudantes universitários finlandeses consomem álcool. Por volta de 10% dos universitários consomem 42% de todo o álcool consumido, classificados como bebedores pesados. Destes, 4,9% são moças e 11,6% são

rapazes. O ato de beber para provocar a embriaguez pelo menos uma vez por semana foi confirmado por 6,2% das moças e 21% dos rapazes.

Outro estudo verificou que, por volta de 50% dos estudantes tiveram muitas conseqüências positivas ao beber e não muitas conseqüências negativas. Os sintomas psicossomáticos, ansiedade, depressão e estresse não se correlacionaram com as conseqüências positivas ou negativas da bebida nem com o consumo de álcool. Logo o estudo afirma que a maioria dos jovens universitários da Finlândia bebem pelos aspectos “positivos” do álcool (NYSTRON,1992).

Para Pechansky, Szobot & Scivoletto (2004), a bebida alcoólica está associada a vários comportamentos de risco, promovendo dificuldade no aprendizado, perdas no desenvolvimento e estruturação das habilidades cognitivo-comportamentais, queda no desempenho escolar e prejuízos emocionais no desempenho escolar. Além disso, Dunn, Bartee & Perko (2003) afirmam que o consumo de bebida alcoólica está associado a ⅓ do total de mortes em acidentes de trânsito envolvendo jovens entre 15 e 19 anos nos EUA. Outro dado que merece destaque é que, a principal causa de morte de jovens é por acidentes de trânsito. O consumo abusivo de bebida alcoólica se associa também a um comportamento sexual de risco. Esse comportamento é verificado com a iniciação sexual, a relação sexual desprotegida, múltiplos parceiros e gravidez indesejada. Jhonson et al. (2000) e Everett et al. (2001) colaboram com essas evidencias, afirmando que esses comportamentos citados, estão associados ao uso de cocaína, maconha, cigarros e outras drogas ilegais.

Em 1999 foi publicado estudo que avaliou a incidência de embriagues em universitários norte americanos com o objetivo de comparar com o estudo realizado no ano de 1993 pela Harvard School of Public Health. A embriagues foi classificada como o consumo de 5 ou mais doses para os rapazes e de 4 ou mais doses para as mulheres, em 3 ou mais ocasiões nas últimas 2 semanas que antecederam a pesquisa. Os resultados apontaram que beber é ariscado e perigoso, tendo em vista que 25% dos estudantes enxergavam ocasionalmente após ter bebido. (WECHSLER et al., 1999).

Kebede et al. (2005) realizaram estudo na Etiópia envolvendo 20 mil jovens entre 15 e 24 anos de idade. No estudo os autores verificaram que os jovens que consumiam diariamente bebida alcoólica tinha três vezes mais chances de manter relação sexual desprotegido em relação aos que não consumiam diariamente bebida alcoólica. Portanto, verifica-se a importância em determinar a faixa etária da primeira dose alcoólica e como os jovens tiveram acesso a bebida alcoólica visto que, a venda é proibida a menores de idade segundo a legislação. Dent, Grube & Biglan (2005) realizaram estudo com aproximadamente 17 mil alunos entre 16 e 17 anos em 92 comunidades de Óregon – EUA. O objetivo do estudo foi analisar a relação entre o consumo de bebida alcoólica e a facilidade em obter a bebida. Os autores encontraram uma relação positiva entre o consumo de bebida alcoólica e mercado ilegal de bebida alcoólica.

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