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PESQUISA SOBRE CONSTRIÇÃO DUCTAL FETAL

RELACIONADA À INGESTÃO MATERNA DE ALIMENTOS RICOS EM POLIFENÓIS

O grupo de pesquisa da Unidade de Cardiologia Fetal publicou recentemente o estudo prospectivo realizado com fetos hígidos com o objetivo de avaliar a repercussão da ingesta materna de polifenóis no terceiro trimestre de gestação sobre a dinâmica do ducto arterioso fetal através da inibição da síntese de prostaglandinas. Foram excluídas do estudo gestantes com doenças sistêmicas, fumantes ou em uso de medicação. Foi realizada análise das velocidades ductais e da relação ventrículo direito – ventrículo esquerdo (VD/VE) de 102 fetos expostos a substâncias ricas em polifenóis (consumo materno diário estimado - percentil >75, ou 1089 mg) foram comparados com 41 fetos não-expostos (ingestão de flavonóides - percentil <25, ou 127 mg). Foram observados os seguintes resultados: nos fetos expostos as velocidades ductais eram maiores (sistólica: 0.96 ± 0.23 m/s; diastólica: 0.17 ± 0.05 m/s) e a razão VD/ VE era maior (1.23 ± 0.23) do que nos fetos não-expostos (sistólica: 0.61±0.18 m/s, p < 0.001; diastólica: 0.11 ± 0.04 m/s, p = 0.011; razão VD/VE: 0.94 ± 0.14, p < 0.001) 280. Concluiu-se que a ingestão materna de substâncias ricas em polifenóis no terceiro trimestre de gestação pode resultar em alterações da dinâmica ductal fetal 281-

284

.

Em um estudo de intervenção, testamos a hipótese de que a dinâmica do fluxo no ducto arterioso melhora em fetos expostos a uma dieta materna pobre em

polifenóis por um período superior a duas semanas. Foram avaliados 46 fetos com idade gestacional ≥ 28 semanas foram submetidos a 2 estudos ecocardiográficos com Doppler em cores com um intervalo ≥ 2 semanas. Foi realizada análise das velocidades ductais e da relação ventrículo direito – ventrículo esquerdo (VD/VE) nessa amostra. Na primeira avaliação, os examinadores não tinham informações sobre os hábitos alimentares maternos e nenhuma orientação dietética foi feita às gestantes. Na segunda avaliação, foi aplicado um questionário de frequência alimentar baseado em instrumentos validados e uma dieta baseada em alimentos pobres em polifenóis (<30mg de polifenóis/100g de alimentos) foi recomendada. A idade gestacional média na avaliação inicial foi de 32 ± 2 semanas. A concentração calculada de polifenóis na dieta materna foi de 1509 mg (percentil > 75) no segundo exame. Após a orientação dietética, o consumo materno diário médio de polifenóis diminuiu para 80 mg (percentil < 25) (p = 0.0001). Comparando os dois estudos, foram observadas modificações significativas na dinâmica do fluxo ductal e na relação VD/VE. Houve redução das médias das velocidades sistólica (1.2 ± 0.4 m/s para 0.9 ± 0.3 m/s, p = 0.018) e diastólica (0.21 ± 0.09 m/s para 0.18 ± 0.06 m/s, p = 0.016), assim como da relação VD/VE (1.3 ± 0.2 para 1.1 ± 0.2, p = 0.004) e aumento do índice de pulsatilidade (2.2 ± 0.3 para 2.4 ± 0.4, p = 0.04). Concluiu-se que a dieta materna rica em polifenóis durante o terceiro trimestre de gestação pode interferir na dinâmica do ducto arterioso fetal e essas alterações podem ser revertidas pela redução da ingesta materna desses alimentos 285.

Os achados observados nesses estudos motivaram o grupo de pesquisa a prosseguir o estudo dos efeitos dos polifenóis sobre o ducto arterioso. Foi desenhado um estudo experimental com fetos de ovelhas Corriedale com mais de 120 dias de gestação para testar essa hipótese. Treze fetos de ovelhas, em idade gestacional

equivalente ao terceiro trimestre, foram submetidos ao exame de Doppler- ecocardiograma fetal antes da administração materna de doses concentradas de chá vede (4 ovelhas), chá mate (4 ovelhas) e suco de uva (5 ovelhas) como única fonte de líquido ofertado. Uma semana após, foi realizado um Doppler-ecocardiograma fetal em 7 fetos sobreviventes (3 expostos ao chá verde e 4 ao chá mate), foram demonstradas evidências de constrição ductal, com aumento da média da velocidade de pico sistólico (0.80 ± 0.19 m/s para 1.17 ± 0.15 m/s, p = 0.018) e diastólico (0.21 ± 0.05 m/s para 0.31 ± 0.01 m/s, p = 0.018) e da média da razão entre as dimensões dos ventrículos direito e esquerdo (1.05 ± 0.14 para 1.43 ± 0.23, p = 0.02), além de turbulência ductal, abaulamento septal para esquerda e regurgitação tricúspide em todos os fetos que realizaram exame ecocardiográfico de controle. Regurgitação pulmonar estava presente em 2 fetos. Ocorreu 1 morte fetal no grupo recebendo chá verde. Na necropsia, esse feto apresentou um ventrículo direito dilatado e hipertrófico e evidências histológicas de constrição ductal severa – diminuição do diâmetro luminal (diâmetro do ducto arterioso/ diâmetro da artéria pulmonar = 0.03) e aumento na zona avascular. Os 5 fetos expostos ao suco de uva foram submetidos a exame anátomo-patológico post-mortem. Todos os 5 espécimes apresentaram dilatação da cavidade ventricular direita e forte evidência histológica de constrição ductal, com maior média da razão diâmetro do ducto arterioso/ diâmetro da artéria pulmonar = 0.51 ± 0.15 (0.26 - 0.68) e aumento da espessura da zona avascular (687.7 - 1168.5 µm, média = 868.3 ± 206.9), quando comparado a modelos previamente publicados.

Foi, assim, demonstrado experimentalmente que o consumo do chá verde, chá mate e do suco de uva poderiam causar constrição ductal em fetos de ovelhas 286-289.

O seguimento da avaliação experimental do efeito dos polifenóis sobre o ducto arterioso foi realizado com o chá verde. Esse estudo testou a hipótese de que a

ingestão materna experimental de chá verde no final da gestação pode causar constrição do ducto arterioso fetal. Doze fetos de ovelhas com mais de 120 dias de gestação foram examinados por ecocardiografia Doppler antes da administração materna de chá verde a oito e de água a quatro (grupo controle), como única fonte de líquido. Após 1 semana foi realizada reavaliação ecocardiográfica e interrupção da gestação e análise histológica do coração e vasos da base desses fetos. Evidências de constrição ductal foram demonstradas em todos os fetos expostos ao chá verde, com aumento da média das velocidades sistólica (0.70 ± 0.19 m/s para 1.17 ± 0.15 m/s, p = 0.001) e diastólica (0.19 ± 0.05 m/s para 0.31 ± 0.01 m/s, p < 0.001), além de diminuição do índice de pulsatilidade (2.2 ± 0.4 para 1.8 ± 0.3, p = 0.003) e aumento da relação VD/VE (0.89 ± 0.14 para 1.43 ± 0.23, p < 0.001). Nos 4 fetos controle que receberam apenas água, não ocorreram modificações significativas. Todos os espécimes de fetos expostos a chá verde mostraram ventrículos direitos hipertróficos e dilatados, o que não foi observado nos fetos do grupo controle. A análise histológica mostrou um aumento significativo da espessura da zona avascular do ducto arterioso nos fetos expostos ao chá verde quando comparados com os controles (747.6 ± 214.6 μm versus 255.3 ± 97.9 μm, p < 0.001). Esse estudo demonstrou relação de causa e efeito entre a constrição do ducto arterioso fetal experimental e a exposição materna de chá verde na gestação tardia 290.

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