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CAPÍTULO 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: ESTUDOS ANTIGOS E

3.2 ESTUDOS MODERNOS

A descrição dos elementos mórficos pré-desinenciais dos verbos latinos não se restringe aos estudiosos da Roma Antiga. Assim, esta seção apresenta o mesmo objeto, descrito em estudos modernos.

Em seguida, a seção expande sua abordagem a morfemas derivacionais situados em posições pré-desinenciais em línguas diversas, também de origem indoeuropeia. São abordadas línguas como Holandês, Alemão e Português.

3.2.1 Gramáticas do Latim

Assim como a maior parte da tradição gramatical antiga motiva os estudos modernos, especialmente no que diz respeito à taxonomia das categorias gramaticais, também os sufixos pré-desinenciais mantêm, em grande parte, aspectos da descrição dos antigos. Essa manutenção ocorre ainda que a “forma uerbi” como categoria não faça parte das descrições modernas.

Os manuais modernos que têm como base um aparato metodológico histórico- comparativista agrupam, em uma mesma categoria, os sufixos de “forma do verbo” e todos os demais elementos mórficos que compõem os temas verbais latinos. Os estudiosos listam-nos entre os processos de formação dos temas aspectuais, remontando-os às suas origens mais remotas, segundo o que os estudos histórico- comparaticos lhes permitem. Desse modo, cada um dos sufixos pré-desinenciais de forma do verbo é parte de um tipo de formação aspectual.

O sufixo frequentativo –ta, assim, é reconhecido como uma das formações de verbos denominativos em –a (MONTEIL,1974: 294; MEILLET,1948: 288). Entretanto, a associação entre os verbos frequentativos e os verbos denominativos em –a não pode ser observada nos gramáticos antigos. Essa ausência de reconhecimento mostra que, na época antiga, os estudiosos já não reconhecem o –a como um elemento mórfico autônomo, o que ocorre de modo oposto com o sufixo –ta.

O sufixo incoativo –sc é abordado por Meillet (1948: 280) como parte da formação de temas verbais de infectum do tipo “o, is”, pertencentes à terceira conjugação verbal. Monteil (1974: 288) já faz uma distinção entre dois grandes grupos de verbos formados pelo sufixo –sc, segundo o seu valor semântico, reconhecendo que aquelas mais recentes na língua, de valor incoativo, são produtivas no Latim Clássico.

O sufixo meditativo –turi é listado entre os verbos do tipo denominativos, formados a por um sufixo *-ye/o, usado para a constituição de temas verbais a partir de temas nominais (MONTEIL, 1974: 353; MEILLET, 1948: 284). De acordo com essa explicação, a forma nominal de origem em questão é a dos particípios futuros, que têm uma terminação em –turus, -a, -um.

Quando se comparam os estudos antigos e modernos sobre os sufixos pré- desinenciais, a principal diferença é que os antigos estabeleceram uma categoria, que denominaram “forma uerbi”, para aqueles sufixos que reconheciam como morfemas que fazem parte de um processo derivacional. Já os estudiosos modernos, uma vez que

dispõem de estudos diacrônicos, podem reconstruir temas verbais de modo a encontrar processos de formação que não são produtivos no Latim, muitos deles remontando ao Indoeuropeu. O exemplo do verbo horreo, -ere no gramático Donato, no entanto, mostra que boa parte desses elementos reconstituídos diacronicamente não é reconhecida como sufixo pelos falantes do Latim, na Antiguidade.

3.2.2 Sufixos pré-desinenciais em outras línguas

Há diversos estudos que se dedicam ao estudo de elementos mórficos em posição pré-desinencial de verbos em outras línguas. A observação de tal objeto nessas línguas mostra-se, em muitos pontos, semelhante aos sufixos pré-desinenciais dos verbos latinos. Este item mostra alguns exemplos de línguas que apresentam processos semelhantes.

No Holandês há uma série de verbos derivados por meio de um sufixo –el, colocado entre o radical do verbo e suas desinências flexionais, o que, no infinitivo, resulta em uma terminação –elen. Verbos com esse elemento podem ter como base um nome, um verbo ou ainda uma raiz. Ele confere ao verbo uma valor frequentativo/iterativo de modo muito próximo aos verbos com o sufixo –ta em Latim. Assim há, nessa língua, pares de verbos primitivos e derivados como huppen e huppelen (pular e pular repetidamente). Esse tipo de derivação é bastante produtivo me Holandês e inclui verbos derivados de nomes, como drup, druppen e druppelen (gota, pingar e pingar repetidamente) (BOOIJ & AUDRING, in BOOIJ, 2018). A quantidade de verbos que segue esse padrão derivacional é motivação para a existência de dicionários de verbos frquentativos holandeses (DE JAGER,1875).

A língua alemã também mostra uma série de verbos com traços bastante semelhantes aos dos verbos frequentativos holandeses. São verbos derivados por meio de um sufixo –el, que resulta, no infinitivo, em uma terminação –eln. No caso do alemão, o conteúdo semântico de ação realizada de modo repetitivo ou iterativo estendeu-se a um valor diminutivo, de modo que são conhecidos, em Alemão, como verbos diminutivos. Assim, há pares de verbos como lachen e lächeln (rir e sorrir). De modo semelhante ao holandês, há a possibilidade de distintas bases para esse processo derivacional, nominais ou verbais (WEIDHAAS &SCHMID, 2015).

Processo semelhante também pode ser observado em Francês e Italiano. Em ambos os casos, o resultado da derivação por meio de sufixo pré-desinencial apresenta

um conteúdo semântico diminutivo. Na língua francesa, há pares de verbos como mordre e mordiller (morder e mordiscar). Na língua italiana, há pares de verbos como dormire e dormicchiare (dormir e cochilar). Boa parte desse tipo de derivação verbal é estudada sob a perspectiva da existência de um conteúdo avaliativo além da simples soma das partes (EFTHYMIOU, 2017).

O sistema verbal do Inglês também conta com uma série de sufixos derivacionais que estão associados a valores semânticos. Entre eles, há morfemas como –ize, –ate, –en (PLAG, 1999; HILPERT, 2014: 82).

Em língua portuguesa, diversos estudos também mostram uma série de elementos mórficos derivacionais em posição pré-desinencial que concorre com valores semânticos ao verbo. Cunha & Cintra (2017: 114-5) listam, em uma tabela, sufixos como –ear, –iscar, –izar, de valores frequentativo, diminutivo e factitivo, respectivamente. Do mesmo modo, Said Ali também elabora uma lista de sufixos de Português que compõem o que chama de verbos de derivação mediata, isto é, “aqueles que interpõem um elemento formativo entre o termo derivante ou vocábulo básico e o sufixo característico do verbo” (SAID ALI, 1927: 24).

3.3 RESUMO DA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

De modo geral, sufixos derivacionais em verbos concorrem para uma mudança de conteúdo semântico em relação à sua base. São, para essa finalidade, muito menos comuns que prefixos e ainda menos comuns que morfemas derivacionais em classes nominais. Há, contudo, exemplos num grande número de línguas indoeuropeias (EFTHYMIOU, 2014). É notável, nas línguas mencionadas neste item, a recorrência de conteúdos semânticos diminutivos e frequentativos entre aqueles veiculados pelos sufixos pré-desinenciais.

CAPÍTULO 4 – TEMPO, ASPECTO E AKTIONSART NOS SUFIXOS PRÉ- DESINENCIAIS

Este capítulo apresenta a discussão conceitual acerca da categoria na qual se devem enquadrar, de modo mais adequado, os sufixos de “forma do verbo”, isto é, os morfemas pré-desinenciais dos verbos latinos. A primeira seção expõe a trajetória pregressa que leva esta pesquisa a se deparar com os conceitos de aspecto e aktionsart. Em seguida a seção expõe um breve percurso e as principais definições de ambas as categorias. A segunda seção marca a opção por conceber os morfemas pré-desinenciais como categoria derivacional, apresentando também as razões para tal opção. A alternativa tomada é por classificá-los como morfemas que veiculam noções aspectuais. Finalmente, a terceira seção mostra como os morfemas -ta frequentativo, -sc incoativo e -turi medidativo se comportam morfologicamente no paradigma verbal latino, bem como suas relações com o tradicional aspecto verbal, que incide sobre a telicidade21 do verbo.

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