• Nenhum resultado encontrado

Estudos de segurança como hipótese de trabalho para a compreensão dos

5 ANÁLISE CRÍTICA DOS PROGRAMAS SOCIAIS DA DEFESA E

5.1 HIPÓTESES PRELIMINARES DE TRABALHO

5.1.2 Estudos de segurança como hipótese de trabalho para a compreensão dos

Os estudos de segurança têm grande volume de trabalho, distribuídos em várias tendências teóricas. Como já exposto no trabalho anteriormente, por estudarmos a defesa e os Programas Sociais da Defesa do Brasil, tendo em sua existência histórica uma premissa, partimos de uma perspectiva que não se posicionasse ontológica ou normativamente anterior a este conceito ou aos conceitos de guerra e estratégia. Além disso, assumimos uma perspectiva relativamente nacionalista de análise, com foco no Estado ou na sociedade nacional.

Diferentemente dos estudos estratégicos, que centram sua base teórica no confronto de vontades, os estudos de segurança adotam como paradigma a ausência de ameaças ao ente político de interesse. Nos capítulos 1 e 2 passamos em revista a abrangência do debate, e

acompanhamos Barry Buzan e Lene Hansen (2009) na compilação que fazem dos grandes debates da área, que abriu uma linha interessante de exploração de nosso tema.

Num balanço sobre o histórico dos estudos de segurança, os autores mencionados acima percebem que a produção da área contempla alguns debates fundamentais. O primeiro deles contesta o Estado como objeto único ou primordial da segurança, passando a incluir elementos societários, ambientais, econômicos, dentre outros. Na eventualidade de observarmos em nossas fontes esta característica nos Programas Sociais da Defesa no repertório de políticas do ministério, isso poder ser justificado em termos políticos ou analíticos por meio da mudança do referencial da segurança praticada por governo ou Estado. Exploramos, por este motivo, neste trabalho, as diferenças entre a política declaratória e a prática governamental. Além disso, ressaltamos que nem toda política de segurança é uma política de defesa, por isso nossa análise nesta seção do trabalho vai além.

Buzan e Hansen observam uma segunda linha de discussão na área da segurança, concernindo a inclusão de assuntos internos e externos ao Estado na agenda de segurança. Tradicionalmente, a segurança do Estado era já um assunto externo, cabendo nessa seara afirmar apenas se houve uma ampliação nesse sentido. O fator decisivo que poderia encarar os Programas Sociais da Defesa na agenda de segurança brasileira e talvez explicar sua delegação ao Ministério da Defesa seria essa inclusão de temas internos à agenda de segurança. Isso porque a inclusão de um tema político à agenda de segurança implica, de acordo com Buzan, a processos não ordinários da política.

Essa discussão nos leva a retomar o terceiro e penúltimo debate sobre a ampliação da agenda de segurança, que seria a circunscrição dos estudos de segurança à esfera estratégica. Nessa linha, não apenas questões ligadas ao emprego da força ou da violência física, de escala institucional ou mais particularizada, poderiam compor a agenda de segurança de um país como o Brasil. A questão que norteou nosso trabalho foi a de verificar se os Programas Sociais da Defesa inserem-se nesse movimento ou não. A questão que deverá ser respondida é se os Programas Sociais da Defesa fazem parte de uma agenda de segurança que não contempla apenas os temas estratégicos, e como se justifica sua presença no Ministério da Defesa.

O último debate presente nos estudos de segurança contemporâneos concerne à relação entre a agenda de segurança e os elementos de urgência, ameaças ou perigo. A linha de exploração teórica que utilizamos neste trabalho acompanha a discussão do último parágrafo. Uma agenda de segurança que inclua temas não urgentes, ameaçadores ou

perigosos, a sua agenda de segurança, deveria delegá-los ao ministério que administra o braço armado do Estado?

Uma forma adicional de completarmos a análise a partir dos estudos de segurança, como o temos feito nesta seção do trabalho, é aumentar os subsídios formais ou metodológicos que nos permitam posicionar melhor os Programas Sociais da Defesa nos quatro debates citados acima. Uma oportunidade interessante foi a de explorar a linguagem construtivista presente nesta área, especialmente baseada no pensamento de Alexander Wendt (1999), para apurar como a área percebe a existência de programas sociais dentro da política de defesa brasileira. De acordo com essa perspectiva, os atores sociais e políticos constroem a realidade a partir do conceito que elaboram dela. Os conceitos, ideias, nomenclaturas e os discursos, declaratórios ou subtextuais, ganham importância como material de análise e pesquisa.

A perspectiva construtivista nos abriu um caminho de trabalho que viemos apresentando no capítulo 03 e que neste aprofundamos. Nele, exploramos o próprio discurso oficial, associado a um estudo sobre a organicidade e instituições do Ministério da Defesa como forma de apreender como posicioná-los nos debates sobre a centralidade do Estado para a segurança, a eventual inclusão de assuntos internos à agenda de segurança, o papel dos meios estratégicos dentro desta agenda e ainda o próprio caráter excepcional com o qual ela tradicionalmente conta. Ressaltamos que a questão prática sobre o quão apropriado é um ministério da defesa cuidar dos assuntos não militares ou estratégicos da agenda de segurança é fundamental.

De acordo com a revisão que fizemos sobre os estudos de segurança, associada à perspectiva construtivista aplicada a esta área, os Programas Sociais da Defesa poderiam ser entendidos condicionalmente como uma política de segurança do Estado brasileiro aplicado via Ministério da Defesa. A condicionante necessária para que isso ocorresse seria a excepcionalidade dos recursos disponíveis ao instrumento militar brasileiro para responder a uma necessidade do Estado ou da sociedade brasileira. Uma vez que a agenda de segurança ampliada do quadro contemporâneo não necessariamente se associa a questões fundamentais para a segurança de Estado e sociedade, a questões internacionais, que envolvam a violência ou que sejam urgentes, o emprego das Forças Armadas pelo Ministério da Defesa para responder a alguma questão só se justifica nas capacidades específicas do instrumento político que administra. A conclusão parcial a que chegamos a partir da revisão teórica dessa área é que o discurso teórico da segurança não justifica ou explica a presença dos Programas Sociais da Defesa na política de defesa brasileira ou no repertório do Ministério da Defesa.

5.1.3 Institucionalismo histórico como hipótese de trabalho para a compreensão dos