• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2 – REVISÃO DE LITERATURA

2.4 Estudos sobre estilo de vida, qualidade de vida e docência no ensino

Considerando as buscas empreendidas, é possível apontar que no Brasil os temas deste estudo (estilo de vida, qualidade de vida, docência universitária, saúde) ainda carecem de pesquisas. Entretanto, identificaram-se estudos que tratam isoladamente de cada uma destas temáticas, inclusive, relacionando-os a diversas outras categorias, como estresse, produtividade, comportamentos de risco à saúde, modelos organizacionais, entre muitos outros.

Visando o levantamento de estudos sobre a temática, inicialmente foram realizadas buscas sobre estilo de vida e qualidade de vida de docentes do ensino superior em Educação Física. Como não foram encontradas pesquisas específicas sobre a temática, desenvolveu-se buscas no sítio eletrônico da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES que fornece um banco de teses e dissertações dos programas de mestrado e doutorado no Brasil, visando identificar estudos que tratassem de forma isolada, ou associada a outras categorias, os temas em tela. Além destes procedimentos, realizou-se também

buscas nas principais bases de dados disponíveis no Portal Capes, principalmente na OVID, ISISweb, Scielo, Google Acadêmico e ProQuest.

Costa (2000), ao pesquisar os fatores associados à qualidade de vida no trabalho de docentes de uma universidade do estado do Maranhão, desenvolveu um estudo de caso, através de uma pesquisa qualitativa, do tipo exploratório-descritivo, realizada por meio de entrevista semi-estruturada e de análise documental. Sendo assim, no que se refere à qualidade de vida no trabalho dos docentes investigados, o autor conclui que não há uma diferença crucial entre o modelo de qualidade de vida no trabalho adotado pela instituição, modelo este que contempla o ambiente físico, o relacionamento interpessoal, as políticas da organização e o sentido do trabalho, e o modelo de instituições congêneres, mas que existem singularidades de contexto e de significado. Entretanto, Costa (2000), no que tange ao conforto físico e sócio-afetivo, demonstra que é necessário promover a humanização das relações de trabalho como uma forma de contribuir para um viver individual e coletivo mais saudável.

Martins (2000) ao analisar os fatores determinantes da prática de atividades físicas de professores universitários, realizou um levantamento descritivo- correlacional com 190 professores que trabalham em regime de dedicação exclusiva, de uma universidade pública federal de Santa Catarina, utilizando um questionário. Deste modo, Martins (2000) concluiu que o nível de atividade física habitual dos professores universitários é reduzido e irregular; que entre homens e mulheres, existem diferenças na intensidade da prática, pois os homens praticam mais as atividades vigorosas; na regularidade da prática, pois as mulheres são mais regularmente ativas; na adesão à prática programada, pois as mulheres aderem melhor aos programas de atividade física; que existem barreiras para a prática de atividade física, predominando as de ordem pessoal (falta de tempo), psíquicas e ambientais; que existem fatores facilitadores, como as crenças normativas, os benefícios da prática de atividade física, o ambiente físico favorável e a alta auto- eficácia; que os docentes apresentam conhecimentos satisfatórios sobre as atividades físicas; que as características sócio-demográficas influem na percepção de barreiras, principalmente as relacionadas à profissão, à família e à classe econômica, levando a uma atividade física reduzida e irregular, sobrepondo-se deste modo, aos fatores facilitadores.

Souza (2001), ao estudar o nível de qualidade de vida de professores universitários que se encontram cursando o mestrado para aumento da qualificação profissional, desenvolveu uma pesquisa com 200 professores da área biológica, através de um questionário sobre indicadores de hábitos de vida, nível afetivo, social e profissional. Deste modo, a autora conclui que todos os indivíduos pesquisados não possuem uma qualidade de vida ideal, com falhas em diversos aspectos, demonstrando desequilíbrio entre as necessidades psíquicas e fisiológicas, já que a maioria apresenta elevados níveis de estresse. Souza (2001) aponta ainda, que a competitividade organizacional das universidades gera alta pressão temporal na qualificação de seus docentes visando à qualidade do ensino. Autora demonstra ainda, a diminuição do nível de qualidade de vida dos docentes pode comprometer o nível de produtividade, assim como a saúde física e mental destes indivíduos.

Schuch (2001) ao investigar os fatores determinantes da qualidade de vida no trabalho de docentes de uma universidade privada no estado de Santa Catarina, realizou um estudo de caso através de uma pesquisa do tipo descritivo-analítico, aplicando um questionário a 53 professores. Deste modo, o autor concluiu que dos oito fatores pesquisados, quatro (condições de trabalho, uso e desenvolvimento das capacidades, trabalho e espaço total pela vida, e a relevância social da vida no trabalho) são considerados razoáveis, e os restantes (compensação justa e adequada, oportunidade de crescimento e segurança, integração social e o constitucionalismo) apontados como resultado a pouca satisfação ou pouca concordância ao tratamento dispensado a estes fatores pela instituição.

Bahia (2002), ao investigar a qualidade de vida de docentes do curso de graduação de fisioterapia de uma universidade privada no Paraná, demonstra que o conceito de qualidade de vida “(...) implica na inter-relação harmoniosa de vários fatores que moldam e diferenciam o cotidiano do ser humano e resultam numa rede de fenômenos, pessoas e situações”. A autora aponta que a vida social moderna está progressivamente se tornando estressante, e deste modo, a qualidade de vida e a saúde do trabalhador sofrem comprometimentos cada vez maiores, ocasionados principalmente pelas exigências de excelência em relação à produtividade e a qualidade do trabalho oferecido. Este quadro de exploração humana tem levado os indivíduos a se adaptarem cada vez mais, sendo que para a autora, a “(...) a vulnerabilidade individual e a capacidade de adaptação são muito importantes na ocorrência e na gravidade das reações ao processo de estresse”. Bahia (2002)

afirma ainda, que existem fatores biológicos, psicológicos e sócio-culturais que estão associados à qualidade de vida, tais como a saúde (física e mental), a longevidade, a satisfação no trabalho, as relações familiares, a produtividade e até mesmo a espiritualidade, entro outros.

Silva (2002), ao estudar as diferenças entre as variáveis de qualidade de vida no trabalho, de estresse ocupacional e de saúde mental de professores universitários de instituições públicas e privadas de Minas Gerais, desenvolveu uma pesquisa descritiva, comparativa, de enfoque quantitativo e qualitativo, realizada através de

survey, com profissionais de dez cursos superiores (Ciência da

Informação/Computação, Comunicação, Direito, Fisioterapia, Geografia, História, Letras, Matemática, Psicologia, Pedagogia), de três instituições de ensino superior: (uma universidade pública federal, uma universidade privada confessional, um centro universitário privado). Para tanto, a autora afirma que “(...) as atividades docentes de nível superior vêm sofrendo pressões em virtude de amplas mudanças pelas quais a sociedade tem passado, e que também afetam as experiências de trabalho e seus significados, gerando impactos na saúde mental dos indivíduos”. A autora aponta ainda, que o trabalho docente já foi considerado como uma função de alto valor e status social, mas que devido à desvalorização econômica e a submissão às exigências do sistema capitalista de trabalho, o professor de ensino superior acaba sofrendo as mesmas formas de exploração que os trabalhadores em geral, tais como instabilidade, ritmo intenso e as extensas jornadas de trabalho.

Andrade (2002), ao investigar a influência das condições de trabalho na qualidade de vida dos docentes de uma instituição de ensino superior devido ao processo de adaptação ao novo paradigma educacional, realizou uma pesquisa de campo em uma instituição de ensino superior do Paraná, com 50 professores. Assim sendo, a autora afirma que as condições de trabalho provocam pressão constante na carga emocional e profissional dos docentes, pois necessitam alavancar a demanda de alunos, a competitividade e a qualificação profissional. Andrade (2002) aponta que esse processo de exploração docente iniciou-se devido às transformações inerentes à globalização e às inovações tecnológicas que levaram a valorização do conhecimento e aceleraram sua transferência. Deste modo, a autora verificou um índice significativo de stress, acarretando na diminuição da qualidade de vida do trabalho e pessoal, e degenerando a fluência do processo de ensino- aprendizagem.

Reis (2005) ao realizar pesquisas sobre a prevalência, os fatores psicosociais e os aspectos de saúde que estão relacionados aos comportamentos de risco à saúde de professores de instituições de ensino superior, através de um estudo epidemiológico descritivo nas instituições federais de ensino do sul do Brasil, contou com 842 indivíduos pertencentes ao quadro de ativos destas universidades. Para tanto, o autor utilizou uma escala de estresse percebido (PSS-10), além de medições sobre tabagismo, ingestão de frutas e verduras, consumo abusivo de álcool e inatividade física. Deste modo, Reis (2005), concluiu que a maior parte dos professores possui dois ou mais comportamentos de risco à saúde, pois o tabagismo está associado à maior renda e menor tempo de docência, e a baixa ingestão de frutas e verduras está associado ao menor tempo de docência e a maior carga horária semanal. O autor demonstra ainda, que não foi verificada associação entre variáveis sócio-demográficas ou de trabalho com a inatividade física, e que as mulheres apresentam maior prevalência de estresse que os homens, no entanto estes não diferiram na percepção negativa de saúde. Reis (2005) aponta também que os comportamentos de risco à saúde em homens, combinados apenas com a inatividade física estava associado ao estresse, e que a percepção negativa de saúde estava associada com a inatividade física entre os homens, e com o tabagismo entre as mulheres. Segundo o autor, o estresse está associado com a percepção negativa de saúde, e que a prevalência dos comportamentos de risco à saúde nos sujeitos investigados é similar a da população Brasileira, diferindo apenas na combinação entre o estresse e a percepção negativa de saúde.

Lemos (2005) ao caracterizar as cargas psíquicas no trabalho de professores universitários e sua influência nos processos de saúde, inicialmente desenvolveu uma pesquisa documental acerca dos afastamentos para tratamento de saúde dos professores de uma universidade federal do Rio Grande do Sul, com a posterior observação das atividades docentes nas aulas teóricas e práticas, embasando assim, o questionário de avaliação da carga psíquica. Após estes procedimentos, o autor procedeu a aplicação do questionário com 86 docentes. Lemos (2005) aponta que as condições de saúde dos docentes, assim como da maioria dos trabalhadores, dependem das relações entre as exigências e condições de realização do trabalho. Deste modo, Lemos (2005), concluiu que as condições físicas dos ambientes de trabalho (ruídos, estado de conservação dos materiais e equipamentos, exigências posturais) são fatores geradores de desconfortos,

gerando efeitos psicogênicos das cargas físicas. No que diz respeito à organização do trabalho, o autor verificou que os professores estão insatisfeitos com a desproporcionalidade entre a responsabilidade exigida e a remuneração percebida pelo seu trabalho e que mais de um terço está descontente com o seu trabalho, entretanto, a maioria nunca pensou em mudar de emprego. Lemos (2005) constatou ainda, que existe que o bem-estar psicológico interfere na avaliação da carga psíquica, sendo que as condições para o trabalho docente são precárias, fragilizando os sujeitos e deixando-os suscetíveis a processos de adoecimento físico e psíquico.

Petrosky (2005), ao analisar a qualidade de vida no trabalho de professores de uma universidade pública federal de Santa Catarina, investigou 366 professores permanentes ativos, de ambos os sexos, com regime de dedicação exclusiva e que estavam atuando no ensino de graduação e/ou pós-graduação, por meio da escala de avaliação da qualidade de vida no trabalho percebida, a escala de percepção de estresse e o questionário internacional de atividade física - versão curta, além da tabela de escores de risco de Framingham. O autor concluiu que os docentes têm percepções diferentes sobre a qualidade de vida no trabalho, pois quase metade dos sujeitos não está satisfeita com suas vidas no trabalho, sendo que apenas pouco mais de um terço dos professores está satisfeita. Petrosky (2005) concluiu ainda, que existe associação positiva entre qualidade de vida no trabalho e diversos aspectos, como o gênero, o nível e a área de atuação. O autor verificou também que existe uma relação inversa entre qualidade de vida no trabalho e percepção de estresse em todos os grupos de qualidade de vida no trabalho, sendo que não houve associação entre estresse percebido e parâmetros bioquímicos do sangue. Petrosky (2005) concluiu ainda, que a maior parte dos professores são ativos e com estimativa de baixo risco coronariano para os próximos 10 anos.

Considerando as dificuldades de se encontrar pesquisas sobre o estilo de vida e a qualidade de vida de professores de Educação Física no ensino superior, identificaram-se estudos que relacionam o ensino superior a diversos outros temas. Deste modo, verificou-se que a qualidade de vida de docentes universitários apresenta óbices à sua consecução, tais como as características pessoais relacionadas à saúde e ao sedentarismo, as condições de trabalho na universidade pública e os modelos organizacionais das universidades privadas.