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CAPÍTULO 2 – REVISÃO DE LITERATURA

2.2 Estilo de vida

2.2.1 Estilo de vida e saúde humana

2.2.1.1 Fatores de risco à saúde

Os riscos à saúde dos indivíduos têm relação direta com o estilo de vida atual. Apesar das divergências sobre os fatores de risco à saúde, é possível demonstrar que existem fatores de risco que predispõem o indivíduo a desenvolver doenças crônico-degenerativas, principalmente cardíacas e circulatórias. Estes fatores podem ser fixos ou modificáveis. Os fatores de risco não modificáveis são aqueles que não permitem intervenções ou alterações, como idade, hereditariedade e sexo. Já os fatores modificáveis de risco permitem que os indivíduos alterem seus comportamentos relacionados ao estilo de vida intervindo na saúde individual, principalmente o fumo, a obesidade, o sedentarismo, os níveis sanguíneos de colesterol (lipídios), a hipertensão arterial e o estresse (FOX, BOWERS e FOSS, 1991).

Os tipos de fatores de risco à saúde humana são de significativa relevância à análise da saúde individual e coletiva, pois apesar de se considerar que existem fatores de risco que não podem ser modificados, estes não devem ser considerados prioridades no tratamento das doenças crônico-degenerativas, principalmente àquelas relacionadas às patologias cardiovasculares, que são a principal causa de

mortes no mundo (FOX, et al., 1991). Segundo Lee (1993), com passar dos anos existe aumento na incidência da doença cardiovascular, principalmente em mulheres no período da menopausa e nos homens em idades avançadas, sendo o risco ampliado quando da existência de histórico da doença na família. Portanto, enquanto a ciência não oferecer conhecimentos suficientes à manipulação dos fatores de risco fixos, o foco de atenção deve situar-se nos fatores de risco modificáveis, ou seja, naqueles que incluem comportamentos e hábitos de vida.

Os fatores de risco modificáveis, segundo Green e Anderson (1986), representam um dos principais focos da medicina preventiva e da área da saúde pública. Entretanto, a intervenção sobre estes fatores ainda causa polêmica e sofre com alguns tipos de barreiras que exigem grande esforço dos sistemas públicos e privados de saúde. Segundo Rosemberg (1981), os fatores risco quando analisados separadamente apresentam praticamente a mesma significância na incidência da doença cardiovascular. Entretanto, quando existe combinação de dois ou mais fatores, o risco de doença cardiovascular aumenta significativamente. Estas relações podem ser verificadas no quadro 1 exposto a seguir, sendo que a incidência proporcional foi calculada dando valor 1,0 à incidência nos abstêmios.

Quadro 1 – Doenças coronárias em fumantes de cigarros e abstêmios Incidência Proporcional

Fator de Risco Grau Abstêmios Fumantes

Abaixo de 130 1,0 2,1

Pressão arterial 130 ou mais 1,8 3,8

Baixo 1,0 1,8

Colesterol no Sangue Alto 2,0 4,5

Muita 1,0 2,6

Atividade Física Pouca 2,4 3,4

Estável 1,0 1,5

Situação Social Instável 2,3 3,2

B 1,0 2,0

Tipo de

comportamento A 2,5 4,4

Fonte: Rosemberg, J. Tabagismo: Sério problema de saúde pública. (1981).

Os indivíduos, segundo Rosemberg (1981), que fumam vinte ou mais cigarros diários, apresentam um incremento de duas vezes e meia na incidência da doença cardiovascular. O autor demonstra ainda, que o risco originado no tabagismo é “alto” quando relacionado à obesidade e ao diabetes, e “muito alto” quando conjugado a hipertensão arterial. Portanto, o tabagismo não tem apenas um efeito aditivo, mas sinérgico e multiplicador dos outros fatores de risco.

Segundo Rosemberg (1981), as discussões sobre as conseqüências do tabagismo devem necessariamente incluir as atividades físicas. Segundo o autor, os indivíduos fumantes sedentários apresentam uma incidência duas vezes e meia maior que os abstêmios, enquanto que os fumantes ativos praticantes de exercícios vigorosos tiveram um aumento da incidência de infarto em uma vez e meia.

O sedentarismo, segundo Sallis e Owen (1999), pode ser considerado uma conseqüência do estilo de vida atual. A industrialização e o modo de vida urbano diminuem ou impedem a realização de atividades físicas habituais. Este quadro agrava-se pela violência urbana, a diminuição e ausência das áreas de lazer e esportivas, e a diminuição do poder aquisitivo, ou seja, com baixo salário o indivíduo precisa manter mais de um emprego e ainda, não consegue acessar alguns bens e serviços que lhe permitiriam praticar atividades física (clube, academia, entre outros). Esta diminuição acentuada do nível de atividade física pode ser considerada uma das principais causas das doenças crônico degenerativas na sociedade atual.

Estudos demonstram que as conseqüências do sedentarismo são negativas à saúde humana, segundo Fox et al. (1991, p.301), o risco de ataque cardíaco é tanto menor quanto maior for a atividade física realizada. Para os autores, o aumento de aproximadamente 15% do peso corporal ideal pode ser considerado aceitável. O aumento de peso em torno de 20% do peso ideal, já pode se considerado como sobre peso, enquanto que o aumento em torno de 25% já é considerado obesidade. Entretanto, os autores salientam que a quantidade de gordura depende do conteúdo lipídico de cada célula gordurosa e do número total de células gordurosas. Os autores demonstram que um aumento de 20% do peso corporal ideal incrementa em duas vezes e meia a incidência da doença cardiovascular.

A obesidade, segundo Leavell e Clark (1978, p.207), pode se definida como “(...) um estado no qual o peso do corpo é excessivo, devido à acumulação do tecido adiposo”. Este comprometimento está diretamente relacionado à saúde do indivíduo, e tem como origem a nutrição inadequada e a falta de atividade física. A dieta rica em calorias é a principal agente promotora da nutrição inadequada. Segundo os autores, as dietas que incluem grande quantidade de carboidratos e gorduras são favoráveis a acumulação de tecido adiposo. Leavell e Clark (1978) analisam ainda, que os indivíduos obesos podem apresentar maior necessidade de combustível orgânico que as pessoas dentro do peso adequado, haja vista que existe um

aumento do peso corporal e dos depósitos de gordura, diminuído a eficiência da mecânica dos movimentos.

Segundo Fox et al. (1991), a análise do níveis sanguíneos de lipídios é primordial para a saúde humana, principalmente para as doenças cardiovasculares. Segundo os autores, o colesterol de baixa densidade produz depósitos ateroscleróticos sobre o revestimento das artérias que podem transformar-se em verdadeiros tampões arteriais. Desta forma, segundo os autores, altos níveis de colesterol de baixa densidade estão relacionados a alta incidência de coronariopatias. Um índice de 259 mg% de colesterol sanguíneo aumenta em quase cinco vezes a incidência de coronariopatia em relação a um índice de 200 mg% ou inferior.

A pressão arterial, de acordo com Fox et al. (1991), é considerada dentro dos limites normais quando apresenta índices sistólicos em torno de 120 mm Hg. A pressão sistólica pode ser entendida através da resistência exercida durante a ejeção do sangue pelo coração que promove o reabastecimento dos nutrientes, do oxigênio e dos demais hemocomponentes. Segundo os autores, um indivíduo com pressão sistólica acima de 150 mm Hg apresenta incidência duas vezes maior que um indivíduo normotenso. Segundo Leavell e Clark, (1978), a hipertensão está dividida nos tipos primária e secundária. Segundo estes autores, real interesse recai sobre a hipertensão primária pelo fato de que a incidência deste tipo é maior que na secundária. No que tange à hipertensão primária, hoje os dados apontam que esta condição patológica é multifatorial, e está relacionada à obesidade e ao estresse.

O Brasil não apresenta dados detalhados sobre as conseqüências das doenças crônico-degenerativas e do estresse, principalmente sobre os prejuízos oriundos do absenteísmo ou sobre as conseqüências dos afastamentos do trabalho causado por estes acometimentos, mas hoje já é aceito que o estresse tem aumentado, especialmente, no mundo do trabalho (ANDRADE, 2001). Deste modo, verifica-se que existe uma pressão contínua que leva às diversas dificuldades na manuntenção da vida saudável. Entretanto, conforme Fox et al. (1991), existem possibilidades de superação dos estados patológicos de estresse, como por exemplo, as técnicas de controle do estresse. Hoje já é possível afirmar que a relação linear entre tipos de comportamentos e doenças crônico-degenerativas é uma etapa teóricamente superada, porém, o reconhecimento destes comportamentos contribui para a superação dos estados de estresse.

Sendo assim, segundo a literatura especializada, é possível identificar atualmente quatro tipos de comportamento frente ao estresse. O comportamento tipo A distingui-se por altos níveis de agressão, competição e atividade (ataque); o tipo B caracteriza-se pela paciência na realização das tarefas e pela alegria frente aos desafios; o tipo C, diferencia-se pelos altos níveis de agressão e competitividade, porém com retrações e disposição ao ataque; e o tipo D, caracteriza-se pela afetividade negativa e inibição social, como depressão, tensão crônica, fúria, pessimismo, e percepção de falta de apoio social, além de baixo nível de bem-estar subjetivo (FOX et al., 1981; FRIEDMAN, HALL e HARRIS, 1985; FRIEDMAN e BOOTH-KEWLEY, 1987; ANDRADE, 2001; MASTERS, LACAILLE e SHEARER, 2003; PENDERSEN e DENOLLET, 2004).

O estresse pode ser entendido, segundo Forattini (1992a, p.318) como “(...) um conjunto de reações orgânicas inespecíficas, como resposta a estímulos ambientais, e capazes de se oporem às ameaças, daí decorrentes, ao balanço homeostático”. Assim, a maneira como o organismo do indivíduo reage a um estímulo, e que altera seu equilíbrio pode gerar fatores de risco agudos ou crônicos. Este mecanismo pode ser descrito como um dos resultados do estilo de vida atual e está relacionado a diversas doenças, principalmente as crônico-degenerativas, como infarto e apoplexias, além de distúrbios nervosos, como depressão (NAHAS, 2001).

Considerando os diversos aspectos relacionados aos fatores de risco, é aceitável inferir que as análises sobre estes fatores, principalmente os modificáveis, estão associadas a fatores fisiológicos, psicológicos e sociológicos, inclusive aqueles patológicos. Deste modo, as intervenções em saúde coletiva exigem ações multidisciplinares, o que poderá permitir o entendimento de que os mecanismos das doenças crônico-degenerativas podem ser resultantes do estilo de vida atual.

2.2.1.2 Doenças crônico-degenerativas

Entre os séculos dezoito e dezenove, o modelo de saúde coletiva vigente buscava apenas entender o processo de saúde-doença pela análise miasmática, ou seja, aquela que entendia que as moléstias se originavam através de emanações que provinham do interior da terra e contaminavam os indivíduos. Além da falta de recursos tecnológicos e conhecimentos científicos consistentes acerca da vida