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Primeira Parte

EVOLUÇÃO DO SFH – 1980-

Ano Ano base

1980=100

Taxa de crescimento (%)

Porcentagem do PIB

Gasto per capita em US$ 1980 100 - 1,0 20,6 1981 86 -14,2 0,9 17,3 1982 87 1,9 0,9 17,2 1983 70 -20,2 0,7 13,5 1984 40 -42,5 0,4 7,6 1985 32 -20,1 0,3 5,9 1986 17 -48,2 0,1 3,0 1987 10 -37,6 0,1 1,8 Fonte: Royer, 2002: 28 (Dados primários CEF).

Após o colapso do BNH, a fragmentação institucional e a descentralização das políticas, não se definiu um novo conjunto articulado de ações na promoção pública de habitação popular. O Governo Federal manteve seu controle sobre o setor ao centralizar os recursos financeiros e pela função regulatória que exercia sobre os dois subsistemas do SFH (FGTS e SBPE), principalmente no que se refere à definição das taxas de remuneração dos recursos captados (Castro, 1999: 101). Continuando o SFH como a base do financiamento habitacional, não foram feitas, na realidade, até a década de 1990, modificações estruturais no sistema.

A Caixa Econômica Federal, através da Circular Normativa nº 58, de 13/04/88, passou a transferir os créditos dos recursos do FGTS, anteriormente canalizados aos promotores públicos (Companhias Habitacionais), diretamente para as empresas

construtoras, caracterizando, segundo Castro (1999: 102), uma clara opção em direção à privatização da política habitacional para a população de baixa renda, com a conseqüente exclusão desse segmento populacional do acesso à moradia.

Com o Governo Collor (1990-1992), mudanças ocorreram com relação à política habitacional, sem, contudo levarem a uma melhoria nas condições de vida da população com rendas baixa e média. Em sua gestão foi elaborado o Plano de Ação Imediata para a Habitação (PAIH), marcado pela subordinação institucional da habitação como questão de assistência social e pela centralização do financiamento habitacional na CEF (Royer, 2002: 29). Segundo Castro (1999: 104), por meio do PAIH foram transferidos recursos de política social à iniciativa privada, enquanto as Cohabs encontravam-se desempenhando um papel secundário de órgãos assessores, aprofundando a tendência de privatização da política habitacional iniciada no governo Sarney. Assim, os agentes públicos receberam somente 21% do montante de recursos emprestados pelo FGTS, e as Cooperativas Habitacionais, com contratos com empreiteiras e visando as faixas de renda médias, receberam cerca de 70% dos recursos do FGTS (Castro, 1999: 105), numa clara demonstração de quão afastada da política de provisão de moradia para a população de baixa renda a política governamental se encontrava. Na verdade, o que se observou foi a permanência do direcionamento da maior parte dos recursos para os programas produtores de unidades acabadas, que beneficiavam mais os grupos empresariais da construção do que a população usuária.

Com o Governo Itamar Franco, que sucedeu Collor, ocorreu a instituição do financiamento direto à pessoa física e ao produtor, o que representa um avanço pela desintermediação bancária e diminuição da burocracia. Foi criado o Ministério do Bem- Estar Social (MBES), foram instituídos os conselhos de participação comunitária e passou a ser exigida contrapartida financeira dos governos locais aos investimentos da União, com a intenção de melhorar o controle social e dar transparência à gestão administrativa dos recursos liberados (Royer, 2002: 30). Na gestão Itamar Franco foram criados os programas de habitação popular que constituíram a base dos programas de seu sucessor, Fernando Henrique Cardoso (FHC), que governou de 1995 a 2002. Esses programas foram o Habitar-Brasil, para cidades de porte médio e grande e o Morar-Município, para pequenos municípios. Segundo dados do MBES (Castro, 1999: 107), em 1993 e 1994, estes

programas financiaram cerca de 54 mil unidades para a população que recebia até três salários mínimos.

No primeiro governo FHC (1995-1998), também não foi realizada a reforma do SFH, sendo que a política habitacional ficou subordinada à Secretaria de Política Urbana (SEPURB) do Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO). Os programas desenvolvidos pela SEPURB podem ser, segundo Royer (2002: 31), divididos segundo sua fonte de recursos, sendo o Habitar-Brasil o único programa financiado com recursos do Orçamento Geral da União. A maior parte dos programas foi financiada com recursos oriundos do FGTS, dividindo-se quanto aos tomadores do financiamento: Pró-Moradia e Pró-Saneamento para o setor público, Carta de Crédito Associativa e Carta de Crédito Individual, para as pessoas físicas e associações e Apoio à Produção, para o produtor.

Segundo Castro (1999: 121), os resultados alcançados pelo MPO mostram a prioridade aos investimentos realizados com recursos do FGTS e SBPE, enquanto que os provenientes do Orçamento Geral da União, que facilitariam soluções habitacionais à população de baixa renda, foram pouco significativos. Mais uma vez, “o desempenho da

política federal ficou condicionado pela lógica do mercado. Os critérios econômicos e financeiros que predominavam na seleção e aprovação de projetos pela CEF, em prejuízo da finalidade social do emprego dos recursos, mostraram as fragilidades das propostas”

(Castro, 1999: 121).

De acordo com Royer (2002: 31), podia-se perceber, já em 1996, que os programas para o setor público, Habitar-Brasil e Pró-Moradia, eram os que tinham menor número de contratações no total de recursos liberados pelo governo, devido, principalmente ao contingencionamento do setor público, que já se manifestava como conseqüência da política econômica do governo. A habitação de interesse social, mais uma vez, ficava em segundo plano, e as necessidades da iniciativa privada se sobrepuseram às necessidades de moradia da maioria da população. Os recursos liberados foram inferiores aos gastos previstos no orçamento do FGTS, no período 1995-1997, revelando o desinteresse da CEF para repassar os recursos colocados à disposição pelo plano orçamentário do FGTS.

Justamente nos programas que atenderiam às populações mais pobres (Pró-Moradia e Pró-Saneamento) é que observamos a menor liberação de recursos. E como eram programas destinados à população de menor renda, recursos do SBPE não substituíram os

recursos não repassados pela CEF, já que o SBPE atenderia a uma faixa de renda mais elevada, por se tratar de financiamento para imóveis de mercado, ao contrário dos recursos provenientes do FGTS que eram destinados à produção de moradias para o chamado “mercado econômico”. Os dados abaixo nos mostram o caráter regressivo da alocação dos recursos do FGTS destinados à moradia, entre 1995 e 1998:

QUADRO 5

APLICAÇÕES DO FGTS ENTRE 1995 E 1998