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OS EXAMES DE CERTIFICAÇÃO DE ESCOLARIDADE: PROPOSTA DE UM PROGRAMA PREPARATÓRIO PARA ESTRANGEIROS EM

SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL

A. BERTOLDI1*, T. COLLET1, P. R. CORREA1, F. N. A. LIMA1,

L. L. SEVIGNANI1, M. P. BEDIM2, G. M. FLORIANI1

1Instituto Federal de Santa Catarina – Campus Jaraguá do Sul-Rau;2Instituto Federal de Santa Catarina – Campus Jaraguá do Sul-Centro *anderson.bertoldi@ifsc.edu.br

RESUMO: Movimentos migratórios recentes têm trazido ao Brasil, em número crescente, imigrantes de diferentes partes do mundo, como haitianos, venezuelanos e sírios. Muitos precisam concluir o ensino médio para entrar em cursos técnicos subsequentes e fazer o Enem para ingressar no ensino superior. Assim, apresenta-se neste trabalho um projeto de pesquisa que teve como objetivo investigar as ações existentes acerca do ensino preparatório para exames de certificação de escolaridade para estrangeiros, buscando (i) identificar se, de fato, existia alguma ação registrada na literatura especializada ou em websites; e (ii) estipular, com base em projetos já existentes, ou criar uma fundamentação teórico-metodológica para a criação de um curso FIC preparatório para exames de certificação de escolaridade para estrangeiros. Como resultado, propôs-se um curso FIC consorciado a diferentes ações de extensão que permitam aos estrangeiros a integração com alunos brasileiros e a orientação sobre exames de escolaridade necessários para que eles possam retomar seus estudos no Brasil.

Palavras-chave: Imigrantes, Exames de certificação, Curso FIC.

1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, tem havido um aumento da migração forçada em todo o mundo, principalmente devido a conflitos, perseguições, degradação ambiental e falta de oportunidade e segurança para os emigrantes em seus países de origem (IOM, 2019). De acordo com os últimos dados publicados pela United Nations High Commissioner for Refugees, aproximadamente 71 milhões de pessoas estão em situação de deslocamento forçado no mundo, sendo que, desses, cerca de 26 milhões são considerados refugiados (UNHCR, 2019). Nos últimos anos, o Brasil acolheu imigrantes, solicitantes de refúgio e refugiados de diferentes origens, com destaque para haitianos, venezuelanos, senegaleses, bolivianos e sírios. Ao chegarem no Brasil, os imigrantes/refugiados enfrentam dificuldades para trabalhar e estudar, ficando em situação de vulnerabilidade social. Além de não falar a língua nacional, muitos não conhecem o processo burocrático

de validação de estudos.

Dados coletados junto ao setor de registros acadêmicos do Câmpus Jaraguá do Sul-Rau mostram um crescente interesse da comunidade estrangeira pelo curso de português para estrangeiros. Esse fato indica uma demanda pelo aperfeiçoamento das habilidades de comunicação em língua portuguesa de um público considerado estratégico pela instituição. É preciso enfatizar que a missão do IFSC é “promover a inclusão e formar cidadãos, por meio da educação profissional, científica e tecnológica, gerando, difundindo e aplicando conhecimento e inovação, contribuindo para o desenvolvimento socioeconômico e cultural”. Para se promover a inclusão desse grupo, é fundamental a ação em duas frentes de trabalho complementares: o ensino da língua portuguesa, para que esses imigrantes/refugiados possam acompanhar as aulas nas diversas instituições de ensino do País, e a preparação para exames de certificação de escolaridade, para que esse público possa, de fato, ter acesso ao sistema de ensino brasileiro e aos cursos superiores que utilizam a nota do ENEM como requisito de entrada.

Dessa forma, o projeto relatado teve como objetivo investigar as ações existentes acerca do ensino preparatório para exames de certificação de escolaridade para estrangeiros, buscando (i) identificar se existia alguma ação registrada na literatura especializada; e (ii) estipular, com base em projetos existentes, ou criar uma fundamentação teórico-metodológica para a criação de curso FIC preparatório para exames de certificação de escolaridade para estrangeiros.

2 METODOLOGIA

O desenvolvimento das atividades foi baseado nos princípios do Design for Change, ou Design para Mudança, que busca trabalhar de forma horizontal, permitindo que integrantes com diferentes conhecimentos deem contribuições igualmente importantes para a constituição final do produto por meio de quatro etapas: (1) sentir; (2) imaginar; (3) fazer; e (4) compartilhar. Na etapa Sentir, buscou-se conhecer a realidade dos estrangeiros em situação de vulnerabilidade social por meio de relatos de

tema de ensino e ao mundo do trabalho. Na etapa Fazer, o grupo realizou uma revisão da literatura e das ações já existentes relacionadas ao ensino preparatório para exames de certificação, buscando estabelecer princípios teórico-metodológicos para o trabalho com estrangeiros em situação de vulnerabilidade social. Na etapa Compartilhar, o grupo tem buscado divulgar o trabalho em eventos internos e externos, com a finalidade de sensibilizar a sociedade para a necessidade de se tratar da inclusão de imigrantes/refugiados em situação de vulnerabilidade. A fim de atingir os objetivos propostos, realizaram-se reuniões semanais de forma virtual (devido à pandemia Covid-19) para investigar a literatura acerca do tema e verificar a existência de rela tos de cursos preparatórios para Encceja (Exame Nacional de Certificação de Competências de Jovens e Adultos) e ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) voltados a estudantes estrangeiros. Realizaram-se, também, buscas por sites de projetos sociais, com o intento de se identificar ações de ensino que preparem alunos estrangeiros para exames de escolaridade.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram identificadas três ações de ensino que preparam alunos estrangeiros para exa mes de escolaridade: o Cursinho Popular Mafalda, da cidade de São Paulo/SP, o Projeto Pró Imigrantes, da Universidade Federal de Minas Gerais, e o Programa Universidade Brasileira e Política Migratória (PMUB), da Universidade Federal do Paraná. Os cursos preparatórios oferecidos por esses cursos e programas focam seus esforços no ENEM. Assim, identificou-se uma lacuna na preparação para o Encceja, visto que muitos estrangeiros não conseguem a revalidação de seus estudos de nível médio e, portanto, acabam não conseguindo ingressar em cursos técnicos. No entanto, muitos estrangeiros identificam no ensino técnico uma possibilidade de colocação mais rápida no mercado de trabalho, e, a partir dessa colocação, podem pensar no ensino superior. Faltam, portanto, ações de ensino que busquem preparar esses estrangeiros não apenas para o ENEM, mas também para o Encceja, para que eles consigam a validação dos estudos de nível médio e, por conseguinte, o ingresso em cursos técnicos de ensino médio. Pensando nessa lacuna, propôs-se um curso FIC consorciado a diferentes ações de extensão que permitam aos estrangeiros a integração com alunos brasileiros e a orientação sobre exames de escolaridade necessários para que eles possam retomar seus estudos no Brasil.

A fim de embasar ações de extensão e investigar o interesse dos alunos do Câmpus em desenvolver ações de integração e acolhimento de estrangeiros, foi realizada uma pesquisa via grupos de alunos no WhatsApp. Embora uma quantidade reduzida de alunos tenha respondido a pesquisa (18 alunos dos Cursos de Fabricação Mecânica e Engenharia Elétrica), constatou-se que 88,9% deles gostariam de ter contato com alunos estrangeiros. Quando perguntados se estariam dispostos a auxiliar em ações de integração e acolhimento de estrangeiros, 77,8% afirmaram estar dispostos a auxiliar, por meio de auxílio com a língua portuguesa ou demonstrações culturais e culinárias. A proposta de um curso FIC foi elaborada a partir da análise de provas do Encceja, do ENEM e da matriz de referência do ENEM. Isso permitiu a identificação dos conteúdos do Ensino Médio que são avaliados por esses exames. Dessa forma, foram definidos os conteúdos e desenvolvida a proposta de um curso FIC de preparação de estrangeiros para exames de escolaridade. Atualmente, a proposta encontra-se em análise pelo CEPE.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados deste estudo demonstram uma lacuna na formação continuada de estrangeiros em nível médio, indicando que esse público deve ser tratado como estratégico pelo IFSC, visto que necessitam de formação profissional para entrar no mundo do trabalho brasileiro. Enquanto refugiados e migrantes não forem incluídos nas instituições de ensino brasileiras, eles continuarão a fazer parte dos grupos em situação de vulnerabilidade social. Portanto, é preciso pensar em possibilidades de formação de curto, médio e longo prazo para esse grupo.

REFERÊNCIAS

IOM (International Organization for Migration). World Migration Report 2020. Genebra: IOM, 2019. UNHCR (ACNUR Brasil). Dados sobre refúgio. 2019. Disponível em: https://www.acnur.org/portugues/dados-sobre-refugio/. Acesso em: 24 mai. 2020.

DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: UMA FORMA DE INCLUSÃO SOCIAL POR

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