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Nas palavras de Mirabete e Fabbrini (2014), as causas de exclusão das imunidades, dispostas no artigo 183 do CP, são aplicáveis tanto em relação às imunidades absolutas, como também relativas. Ocorrendo uma das hipóteses elencadas neste dispositivo, o agente responde pelo crime e a ação penal será pública incondicionada.

A primeira hipótese que exclui a incidência das imunidades dos crimes patrimoniais, conforme dispõe o artigo 183, I, do CP é quando o crime é roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa. Conforme indica Masson (2014), por conta do roubo e da extorsão serem crimes pluriofensivos, existe esta restrição. Se não apenas o bem jurídico do patrimônio, mas também outro for atingido, como a integridade física e liberdade individual, a lei não poderia conceder um favor que se aplica apenas com relação aos crimes patrimoniais.

Afirma Capez (2019) que não incide imunidade absoluta ou relativa se o crime é de roubo ou extorsão, direta ou indireta, ou se, de forma geral, na prática do crime patrimonial se tenha o emprego de grave ameaça ou violência à pessoa. Destaca,

ainda, que esta violência tem que ser real, tendo em vista que, além da lesão patrimonial, possui ofensa a bens ou interesses que são inerentes a pessoa humana, como por exemplo, a integridade física e a saúde.

Com relação à inclusão ou não da extorsão indireta, pelo fato do legislador ter apenas indicado genericamente a palavra extorsão, Nucci (2019) diz haver duas posições acerca da sua inclusão: a primeira diz não se incluir nesse inciso e a segunda diz se incluir. Na opinião do autor, aplica-se a segunda posição, posto que o CP menciona apenas em extorsão, fazendo incidir nas três formas de extorsão previstas nos artigos 158, 159 e 160 do CP. Assim, havendo ou não violência ou grave ameaça, a extorsão deve restar excluída da abrangência da imunidade penal.

A palavra extorsão foi empregada como indicativa de gênero, com a finalidade de abarcar os crimes de extorsão (art. 158), inclusive na modalidade praticada mediante a restrição da liberdade da vítima (“sequestro-relâmpago”), extorsão mediante sequestro (art. 159) e extorsão indireta (art. 160), pois em todos eles o agente intimida a vítima, de um modo qualquer, para atacar seu patrimônio e locupletar-se ilicitamente. Também não podem ser concedidas as imunidades para qualquer outro crime patrimonial cometido com emprego de grave ameaça ou violência à pessoa. Nesse rol ingressam o esbulho possessório (CP, art. 161, § 1º, I) e o dano qualificado (CP, art. 163, p. único, I). É irrelevante que a violência física e a grave ameaça integrem o delito patrimonial como elementares (esbulho possessório) ou circunstância qualificadora (dano qualificado), formando unidade complexa, ou constituam outro delito conexo ao patrimonial. (MASSON, 2014, p. 1374)

Assim, verifica-se que as imunidades são inaplicáveis com relação aos crimes patrimoniais que se tenha uso de violência ou grave ameaça, lesando não apenas o bem jurídico objeto destes, o patrimônio, mas também bens inerentes à pessoa humana, como a integridade física e a saúde.

A segunda hipótese de inaplicabilidade das imunidades absolutas e relativas, prevista no artigo 183, II do CP diz respeito ao estranho que participa do crime. Conforme expõe Greco (2017) o estranho que participa do crime não está inserido no círculo familiar a que pertence a vítima, não tendo explicação qualquer limitação a sua punição.

Conforme salienta Bitencourt (2012), esta hipótese de inaplicabilidade já se encontra estampada no artigo 30 do Código Penal, que aduz: “Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do

crime”. Entretanto, o legislador se preocupou em não deixar margens para dúvidas interpretativas, prevendo expressamente que a punibilidade não se estende ao estranho.

Nas palavras de Masson (2014), a opção legislativa foi acertada, ao passo que o estranho falta interesse na preservação da harmonia familiar que justamente fundamenta as imunidades penais nos crimes contra o patrimônio. Outrossim, aduz o autor que é importante ressaltar que, muitas vezes, o estranho até mesmo incita ou fomenta a discórdia entre os membros da família, não podendo receber benesse alguma no tocante ao crime praticado com o seu apoio.

A terceira exceção à aplicação das imunidades patrimoniais, disposta no artigo 183, III do CP, corresponde ao crime praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. Conforme aduz Nucci (2019), essa modificação introduzida pela Lei 10.741/2013 tem a finalidade de conferir maior proteção ao idoso e, ainda, maior proteção a quem pratica o crime contra um idoso.

A Lei 10.741 de 01 de outubro de 2003 – Estatuto do Idoso – foi quem acrescentou inciso III do artigo 183 do Código Penal, vedando a aplicação das imunidades se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. O objetivo desta hipótese legal é de dar maior proteção ao idoso, tendo em vista o maior desvalor da ação, posto que essa qualidade da vítima distancia a viabilidade de uma efetiva reação contra essa ação criminosa, alargando a possibilidade de produção do resultado delitivo. (PRADO, 2014, p. 1007)

Assim, conforme ensina Greco (2017), não importa se existe relação entre cônjuges, durante a constância da sociedade conjugal ou nem mesmo relação de parentesco entre ascendentes e descendentes, pois resta afastada a imunidade absoluta se o crime foi cometido em desfavor de pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. Além disso, o fato pode ser objeto de persecução por intermédio da justiça criminal e a ação penal será considerada pública incondicionada.

Importante mencionar que a idade da vítima deve ser auferida no momento da conduta, conforme prevê o Código Penal, em seu artigo 4º, no que tange o tempo do crime. Portanto, se a vítima tiver 59 (cinquenta e nove) anos de idade na data do crime, faltando apenas um dia para completar seus 60 (sessenta) anos, o agente será beneficiado com a imunidade penal que for aplicável ao caso. (CAPEZ, 2019, p. 830)

Outrossim, a exclusão das imunidades tem caráter obrigatório. Não há qualquer imunidade quando diante de um crime patrimonial cometido por um idoso contra qualquer outra pessoa, ainda que com idade inferior a 60 (sessenta) anos. Destaca-se, ainda, que as imunidades – absolutas e relativas – não incidem nos crimes elencados pelos artigos 96 a 108 do Estatuto do Idoso, consoante à regra estampada no artigo 95 da referida Lei. (MASSON, 2014, p. 1375).

Com relação a esta hipótese, não há incidência das imunidades patrimoniais, destaca Nucci (2019) por ser conveniente, uma vez que é manifesto o comportamento de muitos descendentes que se apropriam de pensões ou mesmo outros bens de seus pais idosos, deixando-os a própria sorte. Excetua o autor o fato da pessoa com 59 (cinquenta e nove anos), em que o agente terá guarita nas imunidades no caso de cometimento de delito patrimonial sem emprego de violência ou grave ameaça.

Por fim, destacam as seguintes digressões: “Entendeu-se que o respeito e consideração devidos à pessoa idosa e a presunção de sua menor capacidade de reação devem prevalecer sobre o vínculo conjugal ou a relação de parentesco com o agente quanto à exigência de punição. ” (FABBRINI, MIRABETE, 2014, p. 351)

Ante o exposto, restam-se demonstradas as situações na qual o legislador optou por não conceder ao agente do crime patrimonial aquelas imunidades constantes nos artigos 181 e 182 do Código Penal. Assim, passaremos adiante a tratar da Lei 11.340/2006, popularmente conhecida de Lei Maria da Penha, desenvolvendo ainda mais conhecimentos acerca da problemática proposta.

4 LEI MARIA DA PENHA