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É cediço que a violência doméstica contra a mulher assola a sociedade brasileira como um todo, não obstante, luta e consequente conquista de tantos direitos que foram – e continuam sendo – alcançados ao longo da história. A evolução na luta das mulheres tem um grande marco no nosso país, que é a Lei nº 11.340/2006, popularmente conhecida como Lei Maria da Penha.

Conforme aduzem Seixas e Dias (2013), traçando as palavras de Maria da Penha Maia Fernandes, a farmacêutica bioquímica pela Universidade Federal do

Ceará, com mestrado em Parasitologia pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo conheceu o colombiano Marco Antonio Heredia Viveros na USP, quando ele estudava na Faculdade de Economia e Administração desta universidade como bolsista.

Afirma Maria da Penha que, quando decidiu se casar com Marco, acreditava ser ele a escolha certa, sendo esta uma união para toda sua vida. Concluído então seu mestrado, retornou a farmacêutica para Fortaleza, reassumindo a sua função no Laboratório de Análises Clínicas do Instituto de Previdência do Estado do Ceará (IPEC). Aproximadamente três meses após a chegada de Maria a Fortaleza, Marco concluiu seus estudos.

Todavia, diferente do que Maria da Penha acreditava ser a escolha certa, Marco, após a sua naturalização, mudou totalmente a sua forma de ser, agindo de forma grosseira, intolerante e agressiva. Consequentemente, no dia 29 maio de 1983, Maria foi atingida por um projétil enquanto dormia, deixando-a paraplégica. (SEIXAS, DIAS 2013, p. 3)

Segundo Cunha e Pinto (2007), Marco tinha um temperamento violento e sua forma agressiva de agir com a esposa a impedia de tomar qualquer atitude que objetivasse o término do casamento. Além disso, descobriu-se posteriormente que ele já havia se envolvido na prática de delitos e possuía um filho na Colômbia.

Acrescentam ainda os autores que a atitude de Marco foi premeditada e ele, inclusive, tentou persuadir a esposa a celebrar um seguro de vida do qual seria o beneficiário. Não se bastando a isso, cinco dias antes da agressão, Maria assinou um recibo de venda de seu veículo em branco, a pedido de Marco.

Não vencido ao que sofrera Maria da Penha com o disparo de arma de fogo perpetrado por ele, Marco ainda tentou eletrocutá-la enquanto tomava banho por meio de uma descarga elétrica. Dias (2007) descreve que as investigações iniciaram em junho de 1983, todavia, a denúncia apenas foi oferecida em setembro de 1984.

Acrescenta, ainda, Dias (2007) que Marco foi condenado pelo tribunal do júri em 1991 a oito anos de prisão. Entretanto, além de recorrer em liberdade, o réu ainda teve seu julgamento anulado. Em seu novo julgamento em 1996, teve determinada a sua pena em dez anos e seis meses, recorrendo novamente em liberdade e tão somente 19 anos e seis meses depois dos fatos que fora preso, no ano de 2002.

Conforme transcrevem Seixas e Dias (2013), nas palavras de Maria da Penha, a prisão do agressor somente aconteceu em outubro de 2002 e por conta de pressões internacionais, posto que ela, o Centro pela Justiça e o Direito Internacional (Cejil) e o Comitê Latino-americano e do Caribe pela Defesa dos Direitos das Mulheres (CLADEM) fizeram uma denúncia contra o Brasil no Comitê Interamericano de Direito humanos (CIDH), com fundamento na clara discriminação em desfavor das mulheres agredidas, dos sistemas judiciais brasileiros e sua indevida aplicação de preceitos nacionais e internacionais.

Ressalta-se aqui, conforme se extrai das lições de Cunha e Pinto (2007), que a função primordial da Comissão Interamericana de Direitos Humanos – que é órgão da Organização dos Estados Americanos (OEA), sediada em Washington nos Estados Unidos da América – é a de analisar petições que lhes são endereçadas e denunciam violação de direitos humanos relacionados na Declaração Americana de Direitos Humanos.

Denunciou-se a violação aos artigos 1° (Obrigação de respeitar os direitos), 8° (Garantias judiciais), 24 (Igualdade perante a lei) e 25 (Proteção judicial) da Convenção Americana de Direitos Humanos; dos artigos II e XVIII da Declaração Americana dos Direitos e Deveres dos Homens bem como os artigos 3°, 4°, “a”, “b”, “c”, “d”, “e”, “f”, “g”, 5° e 7° da Convenção Interamericana para Prevenir, Prevenir e Erradicar a Violência Contra a Mulher, também conhecida como Convenção de Belém do Pará. (SOUZA, BARACHO, 2015, p. 83)

Deste modo, tendo em vista a provocação que desaguou na Comissão Interamericana de Direitos Humanos, no dia 16 de abril de 2001 foi publicado o Relatório 54/2001. Aclaram Cunha e Pinto (2007) que no momento em que fora publicado este relatório, o caso ainda não tinha uma solução, tendo em vista que o autor do crime somente foi preso no ano de 2002.

Além disso, quanto ao conteúdo do relatório, descrevem os autores que foi realizada acentuada análise do fato denunciado, indicando as falhas cometidas pelo Brasil na qualidade de parte da Convenção Americana (ratificada pelo Brasil em 25 de setembro de 1992) e Convenção de Belém do Pará (ratificada pelo Brasil em 27 de novembro de 2005), onde assumiu diante da comunidade internacional a implantação e cumprimento dos dispositivos que lá são positivados.

Conforme expressam Seixas e Dias (2013), o Relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos recomendou diversas ações com o fito de

resguardar os direitos humanos das mulheres, com fins específicos em prevenir, punir e erradicar a discriminação e a violência contra a mulher. Destacam as autoras que, com a posse do então presidente Luís Inácio Lula da Silva, no ano de 2002, a Secretaria Especial de Política das Mulheres, liderada pela Ministra Nilcéa Freire preparou um consórcio de Organizações Não Governamentais (ONG) e de juristas conceituados para efetivar as mudanças legislativas que foram indicadas no relatório da OEA, fazendo jus assim aos compromissos assinados e ratificados pelo Brasil.

Assim, sendo a relatora a Deputada Federal Jandira Freghali, o Projeto de Lei de nº 4.559/2004 que fora apresentado ao Congresso teve uma aprovação unânime. No dia 07 de agosto de 2006 o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei nº 11.340, intitulada de Lei Maria da Penha. (SEIXAS, DIAS, 2013, p. 04) Conclui-se, portanto, que Maria da Penha Maia Fernandes não se calou e lutou muito para que uma mudança legislativa acontecesse, para que a justiça fosse feita. No entanto, isso demorou, foi um longo processo de sofrimento o qual ela percorreu para que no ano de 2006 então tivéssemos o sancionamento da Lei 11.340/2006, concebida de Lei Maria da Penha em sua homenagem, fazendo jus a proteção da mulher vítima de violência doméstica, a qual será apresentada um pouco adiante.