A exclusmo do jogo apresenta-se como o processo pelo qual os participantes do programa bbb smo sistematicamente impedidos (pelas regras) j continuar compartilhando da experirncia na casa. Smo inquiridos a ceder as posio}es que nmo lhes permitiram a mudanoa de vida.
Consiste num conjunto de ao}es e movimentos de cada jogador, como se uma teia invistvel estivesse sendo cuidadosamente tecida, a partir da qual uma ³verdade´ vai sendo aos poucos revelada aos telespectadores ± nmo tanto pelo que eles dizem, mas, fundamentalmente pela maneira como vmo se posicionando em relaomo aos sistemas de alianoas, articulao}es, lealdades ou em relaomo as hostilidades criadas.
A exclusmo foroa o jogador a reencontrar fora do espaoo midiitico vivenciado e compartilhado com os companheiros de programa. Isso se configura como uma estratpgia, na medida em que, atravps das quest}es que envolvem a eliminaomo (votaomo do ltder, dos participantes e do p~blico) cria-se toda uma construomo simbylica seguindo ±se as regras estabelecidas para o programa que determina a eliminaomo de um jogador por semana.
O pryprio grupo exclui entre si. Os exclutdos, conforme seus comportamentos ou o (comportamento solicitado pelo programa) procuram inventar maneiras de superar atravps de diferentes mecanismos a possibilidade de serem indicados a deixarem o jogo. O bbb 3 reproduz um modelo de vida marcado pelas tendrncias da competiomo e exclusmo, do sucesso individual a qualquer custo.
Nos confessionirios eletr{nicos desses programas, os jogadores revelam -se numa ambigidade de causar afliomo. Delatam os melhores amigos, prevalecendo na selva televisiva, a lei do mais forte, do mais
esperto, numa imitaomo do jogo da vida. Procuram justificar suas traio}es, invocando fatos banais ou simplesmente nmo sabem o que dizer no momento de proceder j indicaomo do candidato ao paredmo, de dar raz}es para a escolha que fizeram no jogo.Parecem repetir a lygica dos gladiadores romanos, eliminando o adversirio a qualquer preoo e se exib ir a uma platpia ivida por emoo}es fortes e bizarras.
O mecanismo da eliminaomo adotado no programa aparece como uma esppcie de morte. Cada vez que algupm sai da casa p como se celebrasse um funeral. A repetiomo semanal vai produzindo certa perversmo. No comeoo, sentem profundamente, depois as satdas vmo tornando -se uma experirncia sadomasoquista: Ficam tristes por estarem sendo submetidos aqueles tipos de prova, mas sabem que precisam suportar com certa firmeza.
Nessa estratpgia, o programa convoca o telespectador a participar do jogo, decidindo por votaomo semanal, qual dos participantes seri indicado pelos parceiros de jogo, ao paredmo, devendo deixar ou permanecer na casa. Percebemos, portanto, que nessa escolha, mesmo contando com a honestidade da emissora, na apuraomo dos votos o telespectador pode sofrer uma sprie de manipulao}es: Ediomo fragmentada, interferrncia do apresentador, falta de transparrncia nas votao}es, falta de fiscalizaomo na apuraomo dos votos. Alpm disso, temos a participaomo dos jogadores que na maioria das vezes optam por diferentes configurao}es de si mesmos, com vistas a corresponder js expectativas. ¬s vezes, por um mau desempenho, acabam revertendo as posio}es do p~blico que por nmo aceitar a transformaomo ocorrida com seu candidato.
O programa visibiliza o fato de que o eu p um produto construtdo e por isso, p extremamente delicado para o jogador, quando decide assumir uma performance, pois dependendo de sua evoluomo, pode ser prejudicial ou nmo j sua permanrncia no jogo. Os participantes fomentam os acontecimento, o que requer do telespectador o miximo de
atenomo e atp vigilkncia, pois qualquer movimentaomo mi sucedida, poderi mudar o percurso dos concorrentes, levando-os j exclusmo.
Vimos, que o ponto de partida repousa, pois, nas diferenoas, no exacerbado desejo pelo sucesso, pela determinaomo financeira representada pelo valor do prrmio de 500 mil reais. Essas criaturas submetem -se de diferentes personalidades smo inseridas no ambiente totalmente desconhecido e complexo, no qual esti profundamente enraizado o sentimento de limite. Mesmo assim submetem -se em troca do dinheiro e da fama, tendo por isso que vivenciarem com otimismo, pois o que importa p a ganhar.
Em virtude desse desejo, participam da organizaomo dompstica (casa bbb) composta de uma pluralidade de sentimentos e situao}es, reunindo ao mesmo tempo a rudeza e a dooura, formando um complexo agrupamento social de curta existrncia, que acreditamos podemos denominar de ordenaomo ³familiar´, com todo seu gestual cotidiano pr p - inscrito por ao}es individuais, devendo ser julgadas. A medida que nmo correspondam as exigrncias estabelecidas, devem ser automaticamente exclutdos desse convtvio.
Nisso tudo, o tpdio, a morosidade, a exaltaomo, a intensidade, encontram lugar e faz a diferenoa, provocando uma contraposiomo, fazendo com que exista prazer em disputar, e a experirncia possa ser naturalmente vivida, mesmo com os riscos das eliminao}es. Os jogadores sabem que smo suas atuao}es, que definem seu percurso e/ou seu sucesso, porpm procuram conciliar a sabedoria e a ren~ncia, como forma de amenizar a incerteza que o jogo proporciona e poder dessa forma lidar com as diversas possibilidades que se apresentam. Essa noomo permite que cada um a sua maneira admita essa experirncia como uma grande aventura.
Como um processo cujo desenvolvimento esti submetido ao acaso e ao perigo. Talvez, possamos que esse jogo p feito de conquistas e fracassos, sendo a exclusmo a marca definitiva. e importante que
compreendamos que a exclusmo funciona a partir de um jogo de interesses que se ordenam, combatendo-se. Os participantes sabendo disso prosseguem a marcha do jogo preconizando a miscara, mostrando claramente que aquilo que chamamos de ³autenticidade´ p apenas um disfarce para escapar da dureza da vida.
Na ordem das relao}es na casa, numerosas priticas smo utilizadas com vistas as armao}es que projetam a exclusmo, a desqualificaomo do outro e um conjunto de atitudes que constituem um arsenal eficaz de se proteger dos contra-ataques, eliminando- os, pois que sentem -se ameaoados todo o tempo. Nesse jogo para eliminaomo, passa a existir uma esppcie de ³cinismo´, no qual os participantes aparentam concordar com os acordos estabelecidos, isto p, nmo votar contra seus afetos. Porpm, ao chegar no confessionirio, com uma palavra e bastante ironia agem contrariamente ao combinado anteriormente e deflagra com seu voto a favor da exclusmo do parceiro.
Nesse sentido, o cinismo aqui aparece como uma defesa incomparivel, uma arma por excelrncia desse tipo de batalha, tudo serve para driblar a confianoa do amigo, porque assim, estmo garantindo a seu lugar no jogo com chances de triunfar. Nada que represente novidade, a repetiomo de alguns dos aspectos da existrncia social marcados pelo selo da ³aparrncia´ e que os atos humanos estmo dela impregnados. Devemos perceber que a ³aparrncia constitui a prypria sociedade´ nos diz MAFFESOLI. (1998, p. 179). Dizemos nys que ela se apresenta quase indispensivel ao jogo.
Inscrevendo -se na ordem do simbylico, a exclusmo aqui seria uma esppcie de ³puniomo´, Isto p, permissmo para que as atitudes dos jogadores sejam disciplinadas de acordo com as exigrncias normativas da sociedade. Diferentemente do que esti prescrito pelo social, no bbb 3 as relao}es smo pautados pela manipulaomo e utilizaomo das ³confiss}es´, ³segredos´, enfim de tudo aquilo que se pode saber uns dos outros. Essas revelao}es que smo na maioria das vezes, feitas em confianoa,
constituem -se em armas poderosas, pelas quais, os desafiantes e desafiados procuram afirmarem suas supremacias.
Na busca de maior autonomia, o que pressup}e para sua efetivaomo, ma certa eficicia, os participantes demonstram soberania de uns e dependrncia de outros e o que observamos que agindo assim, smo na sua grande maioria, reprovados, porque os ingredientes da manipulaomo, dominaomo e exploraomo representam ³os fortes´ que com seus poderes acabam esmagando os fracos, o que para o telespectador p imperdoivel e como soluomo a esse tipo de comportamento, prefere a exclusmo do jogo.
Nisso conseguimos ver uma esppcie de impedimento que p colocado mais no plano do impltcito, visto que o p~blico atento ao desenvolvimento da trama que o envolve, nmo tem parkmetros para distinguir as conex}es que constituem verdadeiramente essas exclus}es. Para ele, pode nmo passa do cumprimento js regras do jogo, que constituem a dinkmica do programa.
Os jogadores alpm do julgamento do ltder da semana, dos companheiros de casa, submetem -se ao implacivel acompanhamento do p~blico que diante de suas ao}es acaba por ser o principal responsivel pelas exclus}es. Reafirmamos a idpia de que na teia das relao}es, o jogador p salvo a medida que recebe aplausos e exclutdo, conforme seja o julgamento de sua conduta no decorrer das situao}es a que se exp}e. Apreendemos com a utilizaomo dessa estratpgia que as priticas da cotidianidade enfatizadas smo sempre as relacionadas com a falsidade, mentira, traiomo, hipocrisia e intrigas. Desse modo, o que o telespectador apreende p que a conduta perfilada por esses traoos p abominivel e, portanto, condeniveis.
Mas do que isso, essas atitudes smo nocivas j existrncia social, com elas, a biografia e trajetyria de cada jogador nmo obtpm mpritos. No bbb 3 ao que nos foi mostrado, prevaleceu j dominaomo de uns em relaomo aos outros, a busca incessante de visibilidade e a obrigaomo de
escolher cada um o seu caminho. O retrato extremamente negativo que foi pintado de certos jogadores nas edio}es contribuiu para exclut-los. As constantes referrncias de imagens retratando ³o diabo´ quando mostrava Jean, Emtlio e Harry, criaram um clima proptcio a acreditar- se em suas ao}es diabylicas.
A apresentaomo que a televismo fazia do confronto retratava uma luta entre o bem e o mal, em que os ³malvados´ tinham que ser punidos com a exclusmo, pois eram vistos sempre como ameaoas, produtores de grandes tens}es. A tevr satanizou o poder estrategista e articulista do Jean, claramente prejudicado pelas edio}es que envidava esforoos no sentido de mostri-lo como sendo um ser puramente racional, desprovido de emoo}es. e provivel que essas imagens tenham produzido efeitos negativos a ponto de favorecer a votaomo que indicou a expulsmo de todos que participaram do chamado ³trio infernal´. Nos deparamos mais uma vez com o poder de persuasmo da televismo que funcionou, sobr etudo como instrumento de convencimento para favorecer as partes consideradas por ela como sendo do bem.
Essa estratpgia mostra o sofrimento dos jogadores indicados ao paredmo, a possibilidade da eliminaomo causa- lhes um certo trauma de perda daquilo, que seria a recompensa, um prrmio em dinheiro. Esse drama, que se apresenta como um misto de medo, sofrimento e ansiedade smo mostrados com um grande espeticulo que di ao p~blico a possibilidade de participar das emocionantes experirncias e vibrar com a destruiomo dos outros. Nessa situaomo de atitudes incertas e ambtguas que traduzem bem a polissemia do real, os participantes vivem sob a ameaoa de um fim.
No entanto, smo potencializados a reconhecer que a recusa a esse fim, torna-se potrncia afirmativa que acentua a intensidade de um presente vivido e pela necessidade que trm de continuar acreditando na potente convicomo de que assim como a vida que p feita de m~ltiplos momentos, esse jogo tambpm pode ser incorporado como tal, pois os
detalhes cada vez mais precisos smo descobertos progressivamente, e, contudo smo eles que dmo a impressmo de conjunto e a qualidade da experirncia.
No Big Brother Brasil 3, dentre os jogadores, um p indicado semanalmente pelo ltder da casa e o outro concorrente pelo restante dos jo gadores. Os dois smo julgados e apenas um deixari a casa. Para precisar um pouco mais sobre a exclusmo nesse jogo, mostraremos como ocorreu com alguns dos integrantes: Alan indicado pela ltder Elane forma com o Dhomini escolhido pelo voto do grupo, um paredmo de titms, realizado no quadragpsimo primeiro dia do jogo, (23/2/03). Apys a definiomo dos candidatos, eles se abraoam, lembrando que isso p uma disputa e Alan desabafa ³Calma, isso p um jogo, junto j gente se fortalece´.
A casa estava agitada com a formaomo dos compl{s, Dhomini e Sabrina tentam formar um pacto com Emtlio para favorecer Alan, mas ele nmo aceitou. O mineiro inconformado com a indicaomo afirmava; ³O grande articulado de tudo isso p o Jean Massumi, que me colocou junto com o Alan ³Ele p muito esperto e consegue tudo que quer´ desabafou Dhomini. Mas um gigante foi abatido e deixou a casa mais famosa do Brasil. Alan com 57% dos votos foi exclutdo com o recorde absoluto na votaomo entre todas as edio}es do bbb. Os gritos do p~blico de Alan! Al an! Alan! nas arquibancadas colocadas fora da casa confirmavam sua satda e causavam espanto e impressionavam os jogadores da casa que pronunciavam estarrecidos: ³Nossa, ouoam isso! Referiam - se ao barulho da platpia que delirava com a chagada de Alan.
Como podemos perceber, p na rotina das despedidas a cada semana, quando da eliminaomo de um parceiro que o jogo bbb 3 foi considerado do ponto de vista da movimentaomo dos jogadores como sendo o melhor dos trrs. Foi o primeiro programa que contou com dois candi datos muito bons (Jean e Dhomini). Nys vimos o assessor parlamentar trair o grupo masculino, fazendo uma alianoa com as
mulheres e o Jean percebendo, lutou formando uma contra- alianoa com (Emtlio e Harry e mais tarde com Elane e Viviane), sagrando-se vence dor aquele que demonstrou mais habilidade no jogo, alpm do apoio incondicional da produomo.