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MITO NA SOCIEDADE TRADICIONAL

No documento Anonimato e fama no reality show BBB 3 (páginas 41-45)

Mitos, stmbolos e ritos smo elementos que se perpetuam de geraomo a geraomo. O mito p uma narrativa que procura dar conta de virios problemas existenciais e de quest}es que nmo comportam explicao}es µracionais ¶. Sua tarefa principal p mediar, instaurar o contato entre o desconhecido e o que ji p conhecido, o simbylico e a racionalidade. Na concepomo do antropylogo Everardo Rocha, mito p: ³[...] uma narrativa atravps da qual uma sociedade se expressa, indica caminhos, discute consigo mesmo´ (1986, p.95).

Conforme o autor, o mito flutua, seu registro p imaginirio, seu poder p a sensaomo, a emoomo, a didiva. Sua possibilidade intelectual p o prazer da interpretaomo. O escritor Artur da Tivola, no livro ³Comunicaomo p Mito´ tenta explicar o mito fazendo uma correlaomo entre os fatos atuais e os mitos gregos do passado. A propysito do conceito de mito, vejamos o que diz Tivola: ³[...] e uma forma comunicativa de conservar e de significar de um stmbolo ou meio- stmbolo, que expressa, amplia, fixa, antecipa, esclarece, oculta ou exalta o valor significado. E, portanto; Representa uma verdade profunda da mente [...]´. (1985, p. 11).

No entanto, Roland Barthes vr as narrativas tradicionais como forma de linguagem, podendo todo e qualquer tema se transformar em mito, apresenta e identifica o mito como sendo ³um sistema de comunicaomo, uma mensagem que nmo tem formato espectfico e, assim pode ser adaptada´. (1980, p.132). Explica que a fala mttica p uma mensagem que pode alpm de tomar a forma oral, ser formada por escritas ou por representao}es. O discurso escrito, a fotografia o

cinema, os espeticulos e a publicidade. Tudo isso pode servir de suporte a fala mttica.

Entendemos que o mito funciona para justificar o que p inconsciente ou transcendente. Assim quando Jung fala do inconsciente coletivo, esti tratando paralelamente de mitos. O mito nmo pode ser identificado como mentira, ele comunica, preserva e representa valores. Desta forma p que as civilizao}es tradicionais definem o mito, que p entendido como uma realidade cultural que relata um acontecimento, pois ensina aos homens, as histyrias primordiais que o constitutram existencialmente. Por conseguinte, p considerado pela civilizaomo tradicional, como a palavra ³revelada´, o dito. O historiador Mircea Eliade ressalta:

[...] O mito conta uma histyria sagrada, ele revela um a contecimento, uma realidade que passou a existir, seja a realidade total ou um comportamento humano. e sempre uma narrativa de uma criaomo. Fala do realmente ocorreu, do que se manifestou plenamente. (1991, p.11).

Observamos, portanto, que o mito p definido nas sociedades tradicionais como uma narrativa exemplar que se prop}e a explicar o mundo e seu funcionamento. Para os homens primitivos, tudo que p narrado pelos mitos concerne diretamente deles, pois que lhes ensina histyrias primordiais consideradas verdadeiras, retratando as origens do mundo e como tal seus protagonistas smo: ³Os entes queridos e seus ancestrais mtticos´ (ELIADE, 1991, p. 12).

Os mitos smo instrumentos de crenoas para os que aceitam e por eles pautam sua vida, como p o caso da civilizaomo tradicional. Alguns mitos presentes em determinadas culturas smo importantes e ricos porque estmo relatando de alguma forma, a vivrncia de um povo e por isso, o mito nem sempre p igual a falsidade. Malinowski nos explica o que p o mito:

O mito nmo p uma explicaomo que satisfaoa o interesse cientifico, m as, a narrativa de toda realidade para satisfazer necessidade religiosa, anseios m orais, submiss}es sociais e atp requisitos priticos. Um mito desempenha na cultura primitiva, uma funomo fundamental, pois expressa, ace ntua e codifica a crenoa, reforoa a moral, di regras priticas para a orientaomo do homem. (MALIN OWSKI apud PATAI, 1974, p. 39)

O mito, de um modo geral parece ser compreendido como uma histyria sobre as coisas fabulosas, mas nmo podemos esquecer do signif icado profundo que carrega. Somente os Gregos principiaram as histyrias transmitidas dos deuses e do surgimento do mundo esse significado assumiu importkncia perante os povos. Surgiram muitas teorias sobre a origem do universo. Possivelmente as cosmog{nicas, formuladas anteriormente, explicavam melhor a origem dos mitos nas sociedades tradicionais, que os compreendiam na revelaomo do mundo, do homem e da vida.

Contudo nmo estamos esvaziando o pensamento mttico de conte~do histyrico, pois percebemos que em m uitos casos, os mitos trm cerne histyrico, assim como as tradio}es histyricas assumem formas mtticas e sobrevivem por muito tempo. O que importa para nys p o poder que disp}e o mito de influenciar as pessoas sobre a histyria humana. Verificamos certos protytipos histyricos como, por exemplo, Napolemo Bonaparte que, em suas faoanhas, confundia-se miticamente com Alexandre, o maior heryi do mundo Grego. As pessoas criam novos mitos que as satisfaoam, fazendo com que eles continuem sempre explicando o que smo e o que sermo.

Em outros termos, o mito vai se delineando como representaomo coletiva, transmitido atravps das gerao}es, relatando uma explicaomo do mundo.Antes mesmo de ser explicado, de ser inteligtvel, vemos que o mito, nas suas mais variadas formas, palavras, imagens, gestos, p sentido, vivido, circunscrevendo o acontecimento no coraomo do homem, antes de fixar-se como narrativa. Na vismo de Artur da Tivola, os mitos

vrm sendo ³rememorados e reatualizados constantemente, atravps dos rituais, num permanente retorno js origens´ (1985, p.23).

Essa volta js origens, representa as foroas que a civilizaomo tradicional depositava nelas (origens), que advpm do mundo transcendente dos deuses e heryis. Compreendemos que hi nas culturas tradicionais uma certa aversmo, uma rejeiomo a irreversibilidade do tempo, pois para elas, p justamente o contririo, a reversibilidade que se apresenta como sendo a libertaomo do homem, do peso do tempo morto, pois entendem o profano como o tempo da vida e o sagrado como o tempo da eternidade.

Como vimos, o homem tradicional usava virios meios que dispunha ao seu alcance, para colocar-se em oposiomo j histyria, por necessidade que tinha de regenerar- se periodicamente por meio da anulaomo do tempo, da aboliomo do tempo concreto. Percebemos uma esppcie de recusa em aceitar-se como ser histyrico, em dar valor a memyria, aos acontecimentos fora do comum, um desejo no sentido de desvalorizar o tempo.

O homem tradicional possuta uma vida reduzida j repetiomo dos atos arquettpicos, ignorando tudo o que p caractertstico numa conscirncia do tempo. Demonstram uma compreensmo do mundo em movimento numa direomo ctclica, anulando completamente a irreversibilidade. Na repetiomo dos arquptipos primordiais, o homem esti sempre atualizando o momento mttico, mantendo dessa forma, o mundo no instante do princtpio.

Entendemos, portanto, que essa recusa j histyria e a necessidade que apresenta de confinar-se na repetiomo arquettpica, venha a ser um temor pela perda de si mesmo, deixando- se dominar pela falta de significado da existrncia profana. Isso vem mostrar que seu comportamento p pautado pela crenoa numa realidade absoluta, oposta ao mundo profano das ³irrealidades´.

A civilizaomo tradicional ligava-se ao ritual, meio pritico que garantia a preservaomo. Mas em certo sentido tambpm se ligava ao futuro, pois nas priticas de repetiomo realizadas, o futuro volta ao passado. Para esses povos, nmo havia separaomo de tempo e espaoo, os indivtduos mantinham uma trajetyria comum, disputavam de experirncias simultkneas, visto que os acontecimentos ocorriam num mesmo tempo e na mesma localidade.

A partir do spculo XVII, uma nova concepomo progressista da histyria afirma-se cada vez mais. Nessa trajetyria, o pensamento de Hegel atribui e conserva um valor ao acontecimento histyrico como tal, ³o acontecimento em si mesmo e para si mesmo´ (ELIADE, 1992, p. 128). Alpm do mais, o pensamento marxista lanoou fora todo o significado transcendental da histyria, que passa a ser uma estrutura coerente, diferente de uma sucessmo de acidentes arbitririos, com o propysito de eliminar o terror da histyria j salvaomo. Os homens passam a considerar a histyria para o reconhecimento da existrncia dos seus povos. Dessa maneira, conseguimos marcar a irreversibilidade do tempo e dos acontecimentos como o traoo diferencial entre o pensamento tradicional e o moderno.

No documento Anonimato e fama no reality show BBB 3 (páginas 41-45)

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