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Anonimato e fama no reality show BBB 3

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Academic year: 2017

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Cirncias Humanas, Letras e Artes Programa de Pys Graduaomo em Cirncias Sociais

Anonimato e fama no reality show

BBB 3

(2)

Mirian Moema Filgueira Pinheiro.

Anonimato e fama no reality show

² BBB 3

Dissertaomo apresentada ao Programa de Pys Graduaomo em Cirncias Sociais, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial j obtenomo do tttulo de Mestre em Cirncias Sociais, sob a orientaomo da professora Dra. Lisabete Coradini.

(3)
(4)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Cirncias Humanas, Letras e Artes Programa de Pys Graduaomo em Cirncias Sociais

BANCA EXAMINADORA

Aprovado em : __/__/200 5

Prof. Dr a. Lisabete Coradini Orientadora

Prof. Dra. Olga Tavares UFPB Examinadora

Profž. Dr. Eduardo Oliveira Examinador

(5)

DEDICATÐRIA

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AGRADECIMENTOS

Este trabalho germinou com a ajuda de virias pessoas que ajudaram de

formas variadas em diferentes etapas do processo de sua realizaomo.

Agradeoo inicialmente a Deus por ser a luz da minha vida.

Agradeoo as contribuio}es do amigo Adriano Gomes e a dedicaomo de seu

tempo na leitura das minhas primeiras reflex}es.

Meu agradecimento a Professora Dra. Lisabete Coradini, orientadora

desta pesquisa, pelo respeito as minhas idpias, discutindo cada uma delas,

indicando fontes bibliogrificas e sugerindo redimensionamentos.

Sou muita grata aos amigos Hplcio e Socorro pela pacirncia e inestimivel

ajuda em tudo que precisei, com destaque jediomo do vtdeo.

Agradeoo aos meus companheiros de fp Fabrtcio e Ana Cplia pelo apoio e

compreensmo nos momentos de desknimo.

­ Evaneide agradeoo a compreensmo, envolvimento e amizade.

Meu agradecimento ao amigo sempre leal e prestativo Itamar Nobre que

ajudou neste exerctcio de passagem acadrmica.

Agradeoo aos meus colegas de mestrado, por terem me proporcionado um

ambiente intelectual e afetivo. Em especial a Milena Freire e Rita Luzia pela

companhia e cumplicidade nas quest}es teyricas.

Agradecimentos Especiais:

­ minha famtlia por acreditar e torcer por mim.

Ao meu companheiro pela pacirncia e dedicaomo.

­ minha filha querida por seu sincero e profundo amor.

­ Professora Dra. Olga Tavares por me apontar diferentes caminhos e

pela presteza em disponibilizar seus livros.

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Vida real

Se vocr pudesse me dizer Se vocr soubesse o que fazer O que vocr faria

Onde iria chegar...

Se vocr soubesse quem vocr p Atp onde vai a sua fp

O que vocr faria Pagaria pra ver

Se pudesse escolher Entre o bem e o mal Ser ou nmo ser Se querer p poder Tem que ir atp o final Se quiser vencer

Se pudesse eu te levaria Atp onde vocr quer chegar O brilho das estrelas O primeiro lugar

O mundo p perigoso E cheio de armadilhas De mistprio de gozo Verdades e mentiras

Viverp quase um jogo Um mergulho no infinito Se souber brincar com fogo Nmo hi nada mais bonito.

(8)

RESUMO

No presente trabalho fazemos uma incursmo sobre o Reality Show, num estudo

espectfico do programa Big Brother Brasil 3, abordando a questmo do Anonimato e

Fama, atravps da anilise de suas Estratpgias Narrativas. Buscamos explicar o

fen{meno da transformaomo de pessoas an{nimas em celebridades, mostrando toda

rede de relao}es estabelecidas pelos participantes do BBB 3, durante a convivrncia na

casa cenirio, palco da trama que narra o cotidiano de um grupo de jovens. Apoiado

em conceitos de Comunicaomo, Cultura, Televismo, Narrativa e Reality Show, o

trabalho p vinculado a teoria semiytica da significaomo, proposta por Algirda Julien

Greimas. Ressaltamos as estratpgias do programa, mostrando que elas se estruturam

com base em elementos ficcionais que estimulam e seduzem o p~blico receptor.

Como referrncia emptrica, o trabalho fundamenta-se no programa Big Brother Brasil,

exibido pela Rede Globo de Televismo, canal aberto, no pertodo de 14 de janeiro a 01

de abril de 2003. Diante dos resultados obtidos na anilise, verificamos que o BBB 3p

um formato misto de realidade e ficomo. Que apesar de criar o efeito de um sentido de

real, de tudo mostrar, sua realidade p artificial, construtda principalmente pela ediomo

das imagens.

Palavras-chave: COMUNICAd­O, CULTURA, TELEVIS­O, NARRATIVA,

(9)
(10)

SUMÉRIO

Reality show... Realidade ou show? 10

1. Luz e Ckmera no BBB 3 21

1.1 Comunicaomo e Cultura 22

1.2 O Grnero reality show 30

1.3 Big Brother Brasil 39

2. A Formaomo do mito na produomo televisiva 50

2.1 Mito na sociedade tradicional 51

2.2 O Mito na modernidade 55

2.3 Mito na televismo 62

3. Estratpgias narrativas do bbb 3: do anonimato j fama 72

3.1 Comeoa o 3ž espeticulo 78

3.2 Na casa: o show da vida 82

3.3 Ao}es e reao}es 90

A Ficcionalizaomo Do Cotidiano 108

Referrncias 115

(11)

Capttulo 1

O olhar apalpa as coisas, repousa

sobre elas, viaja no meio delas,

mas delas nmo se apropria.

(12)

LUZ E CÇMERA NO BBB 3

1.1. COMUNICAd®O E CULTURA

Numa perspectiva macroscypica de apreensmo do mundo, buscamos

entender o homem e sua relaomo com a realidade e com os outros, o que

se configura numa constante necessidade do humano em si manter em

permanente interaomo com outros indivtduos constituintes dessa mesma

realidade. Algupm a quem possamos dirigir a palavra e estabelecer uma

situaomo de comunicaomo. Precisamos nos ver como humanos

constitutdos de sensibilidades, sentimentos e emoo}es para poder

praticar atos com sentido como o de contemplar o mundo e dele saber

assimilar e recolher informao}es o que em si ji seria um fen{meno

comunicacional.

A filosofia moderna nmo vr o homem como uma criaomo da

natureza, mas como um produto resultante de sua prypria experirncia,

arttfice de si mesmo p a tese de Hegel, Nietzsche e Sartre. Uma

concepomo historicista do homem baseada no princtpio da liberdade

sobre a inteligrncia, da histyria sobre a natureza e da existrncia sobre a

essrncia. Para os propysitos desse estudo, escolhemos a concepomo que

considera o homem como ser cultural, por ser a que apresenta maior

sinton ia como os nossos interesses investigativos.

Alpm disso, p a que distingue o homem das outras esppcies, por

ser dotado da capacidade que lhe possibilita compreender o mundo e,

portanto ocupar um lugar no espaoo social, aqui entendido como

sociedade, na qual sua atuaomo se realiza atravps das crenoas, normas e

regras. Nas Cirncias Humanas, os estudos da cultura smo utilizados para

compreender os agentes dos processos culturais, os homens. Na

comunicaomo os modos como esses sistemas smo processados para

(13)

A semiytica se esforoa para apurar como os processos de

linguagem engendram -se e funcionam na comunicaomo e na cultura.

Antes de precisarmos o conceito de cultura, vamos relacionar pelo

menos trrs semiyticas: a doutrina dos signos de Charles Sanders Peirce,

o desenvolvimento do formalismo Russo e a teoria da significaomo

proposta por Algirdas Julien Greimas. Nosso trabalho p vinculado j

teoria Greimasiana que se diferencia das demais pela rnfase dada ao

processo de significaomo capaz de gerar as relao}es entre os signos. A

semiytica estuda a significaomo, que p definida no conceito de texto.

O texto, por sua vez, pode ser definido como uma relaomo entre o

plano de expressmo e o plano de conte~do. O plano de expressmo

refere-se j manifestaomo do conte~do em um sistema verbal e nmo- verbal. O

plano de conte~do diz sobre o significado do texto, ou melhor, dizendo,

o que o texto diz e como faz para dizer o que diz. A semiytica proposta

por Greimas concebe o sentido como um processo gerativo em um

pe rcurso que vai do mais simples ao mais complexo.

Sob esse enfoque, podemos agora falar da questmo que

consideramos importante que p a cultura. Empregando o termo texto,

Santaella define assim os domtnios da cultura:

[...] A cultura p a totalidade dos sentidos de significaomo´. Atravps dos quais o ser humano ou um grupo particular, mantpm a sua coesmo.(Seus valores de identidade e sua (Interaomo com o mundo). Esses sistemas de significao}es, usualmente referidos como sendo sistemas modeladores s ecundiri os (ou a linguagem da cultura), englobam todas as artes, as virias atividades sociais assim como os padr}es de comportamento, mas tambpm os mptodos pelos quais a comunidade preserva sua identidade (mitos, histyria, sistemas de leis e crenoas). Cada trabalho particular de atividade cultural p visto como um texto gerado por um ou mais sistemas. (A. Shukman apud Santaella, 1996, p.28).

Verificamos que o termo texto colocado nesse conceito, assume a

rnfase dada pela semiytica j concepomo da atividade cultural como

(14)

O processo de culturaomo do homem comeoa a se exteriorizar com

o aparecimento da fala, a linguagem que instaura o processo de

hominizaomo. Como afirma Wittgenstein (1994, p.245) ³o homem possui

a capacidade de construir linguagem com a qual pode exprimir sentido´.

Para esse autor, todos os sistemas simbylicos que costumamos chamar

de linguagem, smo materializao}es que lhe possibilita afirmar; ³os

limites da minha linguagem significam os limites do meu mundo´

(WITTGENSTEIN, 1994 p.246). O exposto nos induz a pensar que

somos cada vez mais dependentes da cultura e que na concepomo de

Geertz, ³sem os homens certamente nmo haveria cultura e de forma

semelhante sem cultura nmo haveria homens´ (1989, p.61).

A linguagem p uma articulaomo de signos que expressa valores,

crenoas, sentimentos e desempenha um papel importante no processo de

evoluomo da humanidade. Ela surge como base fundante da ³interaomo

verbal´ (BAKHTIN, 1995, p. 123) ela p produto da interaomo do emissor

e do receptor. Conforma Barthes, ³a linguagem p uma legislaomo, a

ltngua p seu cydigo´ (1993, p.55). Se esta faculdade permite ao homem

o saber, p atravps dela que operacionaliza toda a apreensmo do mundo,

nmo esquecendo que entre ele e o mundo, o eu e o outro se interp}em js

redes de signos. Nmo hi conhecimento sem linguagem. O simples fato de

estarmos diante das coisas, ji estamos elaborando atos cognitivos.

Respondemos ao signo sempre com outro signo e isso produz um efeito

de pensamento.

Por tudo que entendemos, somos levados a pensar que a linguagem

favorece o homem, as condio}es socializantes da vida. Atravps dela, se

estabelece a comunicaomo, envolvendo diferentes formas de express}es:

Palavras, imagens e sons todos com m~ltiplos significados.

Diante de tantas significao}es precisamos nos ater js estratpgias

de produomo de novos sentidos que nos possibilitem o diilogo e a

(15)

dando consistrncia cada vez mais ao imaginirio do homem

contemporkneo que vive sob a pgide dos signos.

O homem se relaciona, interage com o outro e desse modo

organiza a sociedade. Podemos entmo falar do simbylico. O universo

simbylico se constitui das objetivao}es sociais e, portanto, possui uma

histyria. Para entendermos melhor o significado social, recorremos a

Peter Berger e Thomas Luckman que pontificam:

O universo simbylico p concebido como a matriz de todo os significados socialmente objetivados e subjetivamente reais.Ordena e por isso mesmo legitima os pappis cotidianos, as prioridades e os procedimentos operatyrios, colocando -se sub specie universi, isto p no contexto do quadro de referrncia mais geral concebtvel. (BERGER E LUCKMAN, 1985, p.132).

Encontramos o simbylico primeiramente na linguagem. Mas o

encontramos tambpm nas instituio}es que preservam uma estreita

relaomo e consiste em ligar a stmbolos (a significantes) significados

(ordens, normas, injuno}es) e escrevr- los como tais na sociedade. Isso

explica que a lygica do simbolismo expressa um conte~do pryprio que

sustenta as relao}es sociais. A sociedade se reveste de sentidos e o

mundo de significados.

Neste contexto parece-nos apropriado falar das diversas

modalidades de percepomo de mundo, nas quais o ver nomeia e define os

aspectos da realidade e a transforma no fen{meno das representao}es

sociais que expressam as nossas interpretao}es, na relaomo que

mantemos com o mundo e com seu objeto, uma relaomo de simbolizaomo.

Podemos observar que essa explicaomo reforoa o nosso

ent endimento da cultura como um sistema que faz comunicar. Diante do

exposto, precisamos ressaltar a importkncia das relao}es de poder

construtdas. Colocamos o poder com a capacidade de fazer com que algo

aconteoa conforme o esperado. Nesse caso, pensamos que ter poder

(16)

preconcebido, indicando que o poder nmo p apenas o sentido do

comando, mas sobretudo da obedirncia. Para compreender melhor o

poder, p preciso entendr-lo nmo como aparelho de estado e das

ideologias que o acompanham, mas essencialmente, pelas titicas da

dominaomo que, na concepomo de Foucault, p colocada como sendo: ³[...]

Por dominaomo eu nmo entendo o fato de uma dominaomo global de um´.

sobre os outros ou de um grupo sobre o outro, mas as m~ltiplas formas

de dominaomo que podem exercer na sociedade. [...]´. (FOUCAULT

apud SOUZA FILHO, 1993, p. 181).

O autor salienta que nmo p o Aparelho de Estado, o instrumento

espectfico de um sistema de poder, assim sendo o poder reduziria o

Estado. Em suas anilises, questiona a idpia de um poder concebido

como atributo e propriedade de uma classe e prop}e consideri- lo como

um sistema de relao}es, priticas e estratpgias. Em vez de pensar o

aparelho, observa o dispositivo, conjunto heterogrneo que engloba o

discurso (dito e o nmo dito), instituio}es, leis, decis}es regulamentares.

A intenomo de Foucault permitiu identificar os dispositivos da

comunicaomo -poder em sua formaomo organizacional. O exerctcio da

disciplina sup}e um dispositivo que obrigue pelo jogo do olhar. O

modelo de organizaomo em panyptico acabou servindo para caracterizar

o modo organizacional da televismo, seu espaoo, o tempo, vigiar o

indivtduo e assegurar a produomo de comportamentos.

O autor tomou emprestado a J. Bentham a idpia do panyptico,

miquina de vigilkncia, na disposiomo de uma torre central que se podia

controlar com visibilidade plena, todos os vigiados.

Tudo comeoou, quando a visibilidade era marcada por olhares

desconhecidos o que indicava desencadear nos homens um certo

³deslumbramento´, vaidade, sensaomo prazerosa de serem olhados.

Estamos falando de olhares humanos, numa relaomo rectproca que

acontecia num mesmo tempo e espaoo, numa interaomo face a face. Esses

(17)

da realidade suas verdades, condio}es que prescrevemos para apreender

o mundo que percebemos e integramos.

Com o advento da modernidade, a visibilidade tornou- se mais

evidente porque o mundo passou a ser mais legtvel e as coisas mais

vistveis. A comunicaomo resignificou o olhar, nmo mais permitindo

apenas a vismo do sujeito, mas da coletividade que p}e em comum suas

opini}es, descrevendo o real a partir de suas pryprias vivrncias. A

televismo surge com seu olhar colossal, fascinante e revelador.

Aprisiona os acontecimentos e transforma- os numa vismo de sonho,

atingindo o mundo da fantasia e da imaginaomo. Inverte o sentido da

vismo e permite os vigiados verem e serem vistos. Alpm do que nmo

funciona mais por controle disciplinar, mas por fascinaomo e seduomo.

Configura - se o mundo da visibilidade, as imagens se sobrep}em js

informao}es. Estamos diante de uma armadilha ditada pelo poder de

olhar a todos o tempo todo. O controle ocorre de forma diferente. Mas,

ao que parece, p crescente. O poder dar a ver e vr. O indivtduo

constitui -se naquilo que se apresenta ao seu olhar. O mundo converte-se

num cenirio. Tudo p imagem, linguagem, signos.

Com o desenvolvimento acelerado dos meios de comunicaomo, a

cultura desfruta de condio}es especiais para disseminaomo dos

mecanismos de processamento e difusmo das atividades sociais e padr}es

de comportamentos, conformados nas modalidades de sistemas de

significao}es, atravps dos quais, os homens mantrm sua coesmo.

Nesse sentido, concordamos com Santaella, quando diz que foi a

partir disso que ascendeu uma outra forma de comunicaomo, denominada

de comunicaomo denominada de comunicaomo de massa que no dizer da

autora, ³[...] p um processo no qual uma pessoa fala para muitas,

ignorando os traoos distintos das ~ltimas´ (1996, p. 33). De fato essa

comunicaomo ocorre entre um emissor e uma quantidade diferenciada de

receptores que nmo mantrm qualquer conexmo entre si. Denomina o

(18)

Com o que dizemos vamos situando nosso olhar na comunicaomo e

cultura sem fazer cortes. Nessa associaomo, passamos a conceber as

mtdias como produtoras de cultura de modo que ressaltamos a ³cultura

das mtdias´ posto que a consideramos diferentemente da cultura de

massa, pois nmo se constitui numa massa disforme, ao contririo,

apresenta uma diversidade de vetculos de comunicaomo, conforme nos

indica Santaella: ³[...] Cada vetculo tem funomo espectfica e diferencial

que se engendra numa multiplicidade de cydigos e processos stgnicos

dentro de cada mtdia produzindo efeitos comunicativos e perceptivos

diferenciais e espectficos [...]´. (1996, p. 30).

O crescimento constante das mtdias parece favorecer a interaomo

das diferentes formas de cultura, numa notivel dinamizaomo das relao}es

entre as variadas esppcies de produo}es culturais. Contudo devemos

ainda seguindo o pensamento de Santaella, que essa cultura traz o fator

da ³provisoriedade´ que parece ser sua caractertstica, em oposiomo a

permanrncia que marca as formas mais tradicionais de cultura.

A cultura das Mtdias configura-se como uma cultura efrmera, do

fugaz e que por isso, passa a produzir uma esppcie de ansiedade,

aguoando constantemente o desejo do receptor, que diante de sedutoras

mensagens curva-se reverenciando o poder de sonhar.

Outra caractertstica dessa cultura apontada por Santaella p a

³mobilidade Informacional´ ( 1996, p.36). A capacidade que detpm no

trifego da informaomo de uma mtdia a outra. Notamos, portanto, que se

apresenta como sendo a cultura do instantkneo, das apario}es

relkmpagos, ao contririo dos contextos que possuem profundidade

analttica. Qualquer coisa na mtdia, seja o que for, aparece, dissemina-se

rapidamente com foroa imensurivel para logo desaparecer, assumindo

um cariter volitil. Na forma atual dessa cultura denominada de

(19)

³[...] O receptor p ~nico interagindo com uma miquina de variadas

opo}es a partir de uma fonte potencialmente infinita de informao}es.

[...]´ (1996,p.43).

Ao nosso ver, a Cultura das Mtdias contribui cada vez mais para a

sedimentaomo do espeticulo na sociedade. Conforme destaca Debord, o

espeticulo nmo p um conjunto de imagens, ³mas a relaomo social entre

pess oas mediada pelas imagens´ (1988, p.14). Dependemos do

espeticulo para confirmar que existimos e para nos orientar em meio aos

outros.

O espeticulo tenta promover a fusmo entre o que p real e

imaginirio, verdadeiro e falso o que p e o que apresenta ser. Ignorando

o princtpio de realidade, privilegiando as leis do inconsciente. Dessa

forma, p posstvel pensar que sem nos dar conta vivemos em uma

sociedade monopolizada pelo imaginirio da televismo, meio que disp}e

da capacidade ~nica de fazer ver o quanto p estreita a margem entre a

imaginaomo e a realidade. Sociedade do espeticulo? eposstvel. E como

diz o filysofo Guy Debord, ³hi quase meio spculo estamos vivendo

numa sociedade regida pelo espeticulo´ (1988 , p. 18).

Isso significa que nessa sociedade o impacto dos eventos p tmo

mais importante que seu papel na histyria. Assim, a dimensmo dos

acontecimentos, das estratpgias de poder e dominaomo se deslocam e se

diluem na sociedade do espeticulo. O espaoo da religimo e da polttica p

substitutdo pela visibilidade instantknea dos shows, a forma torna-se o

objetivo central, o exibicionismo produz mais efeitos do que a

participaomo ativa dos sujeitos na produomo dos discursos capazes de

simbolizar o real.

Debord vai mais alpm na sua teoria do espetacular quando

assevera que o espeticulo ³faz calar, alpm do que p propriamente

secreto´ e complementa dizendo que a mtdia p capaz de organizar com

³habilidade a ignorkncia do que acontece´ (1988 , p. 26). Conforme

(20)

programas e astros precisam surgir para desaparecem em seguida, numa

vistvel constituiomo da cultura do ³esquecimento´ explicada por Debord:

³[...] Aquilo que o espeticulo deixa de falar´. Durante trrs dias p como

se nmo existisse´[...] O que aparece p bom, o que p bom aparece´.

(1988 , p. 27)

Na espetacularizaomo da mtdia, ganhar dinheiro e fazer sucesso

pod e ser a aspiraomo e o projeto de vida das pessoas. A fonte do sucesso

p hoje a visibilidade obtida, mas precisamente na televismo que atua de

maneira a criar identidade para seus artistas a fim de que sejam

facilmente reconhecidos. Essa forma espetacular transforma a mtdia

eletr{nica em instrumento de sucesso e lucro quase obrigando ao

candidato a fama fazer de tudo para aparecer, na maioria das vezes

experimenta um processo doloroso que p a travessia do anonimato ao

estrelato.

Dessa forma compreendemos que o espeticulo acaba por facilitar a

capacidade do cidadmo de apropriar-se do espaoo migico do imaginirio

coletivo, tornar-se um astro merecedor de atenomo, do interesse e da

empatia da sociedade. No espetacular reside a grande chance de rxito na

viagem do incygnito ao famoso, a transmutaomo do ser comum para o

destaque no olimpo, na morada dos deuses televisivos.

1.2. O GENÈRO REALITY SHOW

A televismo enquanto espaoo de construomo de significados evoca

para si um lugar no qual convergem priticas simbylicas que contpm na

forma e no conte~do, abertura para a cotidianidade e para o mundo da

vida. Parece- nos ser uma nova forma de atuaomo desse meio que vem

produzindo formatos de programas como os reality shows. Esse grnero

desenvolve a sua maneira, estratpgias, visando a construomo de

(21)

como forma de afirmaomo, fazendo com que a vida privada ascenda j

esfera p~blica.

Dessa forma, permite que identidades exclutdas possam ter

visibilidade e com o conseqrncia, o reconhecimento do p~blico o que

significa celebrizaomo, fama e sucesso. No kmbito da produomo

televisiva destacam - se virios grneros de programas, dentre eles, os

reality shows ou shows de realidade que tomam cada vez mais espaoo na

mtdia. Vem sendo considerado como um ³novo´ grnero nas produo}es

da televismo aberta no Brasil.. Para entendr-lo melhor, recorremos a

Fausto Neto que nos ajudou na compreensmo desse formato de programa

quando diz:

[...] e um formato televisivo no qual se desenvolvem diferentes modalidades de falas, olhares, escutas e presenoa de atores sociais. [...] Smo estratpgias que provrm de enquadramentos e operao}es simbylicas de modo que o mu ndo da vida se faz presente [...] (2001, p. 16-17).

Constitui - se de um conjunto de pessoas escolhidas previamente

para participarem de um programa-jogo que se constryi numa mistura de

realidade e ficomo. Tenta responder o desejo da audirncia de ver pessoas

comuns que por mera exposiomo js ckmeras, transforma-se em

celebridades, ganhando uma identidade midiitica.

O show da vida representa o estigio de aplicaomo de uma estrutura

ji pensada por George Orwell, em meados de 1940, na qual existia um

³grande olho´ que tudo via e tudo sabia. Na sua obra 1984, o autor

concebe, como parte de uma fantasia totalitiria sobre os destinos da

humanidade, o dispositivo conhecido como ³telatela´, uma televismo de

mmo dupla em que o telespectador, alpm de ver, p visto atravps da

mesma tela.

Esse conjunto de idpias acerca da articulaomo do ver- ser veste

aponta para uma reflexmo que consideramos importantes: as pessoas

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vigiadas pelos telespectadores, sem portanto, poderem efetivar o

cruzamento de olhares, por nmo verem o olhar daqueles que as vrem. O

que demonstra a impossibilidade de qualquer chance de reciprocidade na

relaomo, face js regras desse jogo. Nesse sentido, a televismo produz

uma situaomo em que o indivtduo p aprisionado por milhares de olhos.

Ao que parece, essa condiomo provoca uma reaomo de negaomo de

tal fato por parte dos participantes, que passam a desenvolver um

esforoo redobrado para manterem - se diante das ckmeras, que captam

todas as situao}es vivenciadas, uma aparente naturalidade, uma tentativa

de imprimir ao programa, um cariter de realidade, de cotidianidade da

vida ³real´. No entanto, percebemos mesmo assim, indtcios de que as

situao}es que estruturam os episydios podermo ser construtdas com base

na intencionalidade da ediomo do programa.

Mesmo sabendo que a idpia de grnero tem sido questionada,

optamos por ela para analisar o reality show/bbb, pois entendemos como

a melhor maneira de identifici- lo. De acordo com Arlindo Machado, ³o

grnero deriva do latim genus/generis (familta, esppcie). Nesse caso, p

aplicado ao meio semiytico (interior de uma linguagem). Mas hi uma

referrncia na literatura sobre grnero de Maurice Blanchot´ que diz: ³e a

classificaomo de obras, identificaomo de um tipo de obra´ (BLANCHOT

apud MACHADO, 2000, p. 67.)

Porpm, as obras produzidas em nosso spculo nmo smo facilmente

identificadas, percebemos uma esppcie de hibridismo (mistura de estilos

e formatos) nas obras culturais. No sentido de explicitar, recorremos j

teoria de grnero de Mikhail Bakhtin, a que melhor nos responde a

anilise das obras do nosso tempo, apesar de nmo se dirigir

especificamente ao audiovisual:

(23)

e a continuidade dessa forma junto as comunidades futuras. (BAKHTIN apud MACHADO, 2000, p. 69).

Nmo devemos, portanto extrair uma conclusmo de que grnero p

definitivo, pois consideramos que por estar inserido na dinkmica de uma

cultura, pode ser e nmo ser o mesmo. Com isso nmo seria posstvel

classificar definitivamente todos os grneros televisuais. Mas, como

afirma Bakhtin, ³essas esferas de acontecimentos´ (BAKHTIN apud

MACHADO, 2000, p. 91), ou dizemos nys esses modos de sistematizar o

material televisual, podem ser chamados de grneros. Dat a denominaomo

para o reality show que na tevr da atualidade se diferencia dos demais

programas.

Os chamados reality shows vrm marcando a cena cultural em

diversos patses nos ~ltimos anos. Vers}es diferentes desses formatos

contam com a participaomo de pessoas selecionadas dentre um

contingente de milhares de candidatos. A intimidade dos participantes p

mostrada em episydios editada e televisionados em horirio nobre, em

canais de TVs abertas, canais a cabo e sites que exibem o programa-jogo

vinte e quatro horas, em tempo real.

A primeira versmo do reality show estreou em setembro de 1999,

na Holanda. O formato foi exportado para a Inglaterra, Alemanha,

Espa nha, Estados Unidos, Noruega, Dinamarca, Supcia e Bplgica.

Apresentam -se como programas televisivos dedicados a divulgar

histyrias pessoais, tntimas de an{nimos que aceitam revelar seus

segredos diante das ckmeras.

Esse grnero meio novela sem roteiro, introduz mudanoas que

podem ser entendidas como elementos de um novo paradigma do

audiovisual, trazendo transformao}es que vrm compondo o que Manuel

Castells denomina de µSociedade em Rede´. Reality show seria entmo

uma nova era televisual? A introduomo de canais privados com sua

lygica comercial vem gerando mudanoas nos padr}es da programaomo

(24)

p~blico e privado, cidadmo e indivtduo, sendo considerado como um

fen{meno contemporkneo, indicador da diluiomo das fronteiras entre os

grneros da ficomo, do documentirio como tndices de participaomo do

p~blico na programaomo.

Os reality shows vrem fascinando o p~blico, produzindo dezenas

de celebridades instantkneas e mudando a programaomo das tevrs em

qua se todos os patses que exibem os programas. Em entrevista a Revista

epoca, o presidente da empresa que criou esses formatos, Aat

Schouwenaar diz: ³A curiosidade move o sucesso mundial desse

grnero´. Dat a idpia do Big Brother que ele considera como um

³exp erimento sociolygico´, pois que apresenta todos os aspectos da vida

humana como; bondade, ci~me, maltcia. O p~blico se identifica como os

participantes, preferem uns e odeiam outros. Sobre o sucesso do reality

show, o executivo da Endemol assinala: ³Nmo hi uma regra geral. A

primeira ediomo sempre tem um sucesso maior. Por isso nmo

recomendamos uma ediomo atris da outra. Assim as pessoas nmo se

cansam do formato.´ (SCHOUWENAAR, Revista epoca, p. 27-29 )

O formato tenta criar uma relaomo entre o p~blico e os

participantes. e um incentivador da idpia de que o p~blico alpm de atuar

na definiomo do entretenimento atua como comandante do programa,

definindo evoluo}es e desfechos. O exibicionismo e a sede dos

an{nimos pelo olhar, ganha mais espaoo nas predileo}es do p~blico e a

intimidade que aparece possivelmente p adestrada e codificada pelo

espeticulo. O reality show trouxe a revalorizaomo do ³real time´,

proporcionando ao telespectador saborear as coisas no ritmo em que elas

acontecem, acompanhando os fatos da vida.

Opera com as puls}es primirias relacionadas ao olhar e com a

iminrncia de que o sujeito seri levado a uma situaomo extrema em que a

etiqueta e a boa conduta social sermo incineradas e as pessoas acabam

mostrando - se como smo realmente. Isso parece ser nada alpm de um

(25)

apenas o voyeurismo ilimitado que estrutura o reality show, mas

sobretudo o exibicionismo. De acordo com os valores do nosso tempo, a

forma justifica toda humilhaomo e o que pode tornar- se humilhante hoje,

p nmo ser ningupm, nmo ser consumido.

No palco contemporkneo, o espeticulo em cartaz p a vida. Os

ingressos na bilheteria dmo direitos a entrar na intimidade dos

participantes do grande show de realidade. A lygica do

espe tacularizaomo dita as regras desse jogo, tornando p~blico o que p

tradicionalmente particular ± a vida privada. Na novela da vida real,

participam: o mocinho, o malvado, o ignorante, a arrogante, a sensual, a

inteligente, a mal-educada. Smo caracterizao}es que fundamentam a

trama, sustentando conflitos e gerando identificao}es por parte do

p~blico que pode seguir roteiros mimetizados da ficomo. A vida imitando

a arte.

O reality show constitui-se num jogo do tipo concurso, em que

todos smo concorrentes entre si, tendo como regra fundamental, a

convivrncia constante e a observaomo dos comportamentos, durante dois

meses e uma semana, com 14 homens e mulheres, escolhidos de uma

multidmo de aspirantes an{nimos.

Eles devem levar consigo um microfone dia e noite, que completa

a tarefa de um dispositivo onipresente de observaomo audiovisual

espalhado pela casa. A cada quinze dias, um dos participantes, entre

dois que smo designados pelos pryprios moradores num recinto fechado,

conhecido como confessionirio situado dentro da casa, p expulso pela

votaomo do p~blico. O vencedor p quem sobrevive a esse mecanismo de

seleomo eletr{nica. Ele sai por ~ltimo com uma recompensa financeira.

Esse formato mantpm elementos comuns que identificamos assim:

1. Os jogadores protagonizam a si pryprios e suas atuao}es

devem corresponder a verdade. Isso provoca uma questmo: Onde

(26)

2. Os participantes smo expostos js ckmeras pois o programa

conta com equipamento de gravaomo e ediomo, numa vigilkncia

constante. Smo exibidos fragmentos desse cotidiano,

Despertar-nos curiosidade no que concerne j seleomo e ediomo das cenas,

causando perda de naturalidade.

3. Submetem -se js disputas, atividades que participam e que

devem obedecer js regras estabelecidas, senmo sermo

eli minados. O que demonstra j lygica do lucro.

4. O cenirio do jogo: casas, praias, barcos, desertos, locais nos

quais tudo acontece para dar visibilidade, a televismo precisa

que esses espaoos estejam muito bem arranjados de forma que

possam plasmar objetos, sensao}es, num encadeamento feito de

luzes, planos e contra-planos, isolando completamente os

participantes. Com isso tenta subliminar a tensmo dos

relacionamentos de convivrncia e afetivos.

Mesmo mantendo elementos comuns, percebemos que os reality

shows nmo demonstram operar apenas com uma realidade, mas, com o

que chamamos de diferentes planos de realidade que tem como

referrncia, o mundo exterior ao programa, o mundo interior ao pryprio

meio e o mundo interior ao discurso.

Com esse olhar pretendemos chamar atenomo para o que Franoois

Jost no livro: ³A Televismo do Cotidiano. Entre a Realidade e a Ficomo´

chamam de ³Autentificadores´, aqueles programas que devem informar

sobre o mundo, (telejornais, documentirios e reportagens). Esses

programas trm o mundo exterior como referrncia. Denomina de

³f ictivos´, aqueles que se assumem como construomo de uma realidade

interna ao discurso que nmo trm como referrncia o mundo externo.

Diante do exposto, indagamos: O que acontece com o reality

show? Diz Jost: ³tem referrncia no mundo exterior, mas tambpm p

(27)

construtda no interior do pryprio meio, num processo de

autoreferencialidade, que fomenta os acontecimentos e os transmuta em

nottcias. A realidade em que vivem os participantes mostra sinais de que

p cuidadosamente elaborada, pois se trata de um jogo, cujas regras smo

arbitririas. Realiza uma produomo seriada, apresentando caractertsticas

tpcnicas de um formato telenoveltstico, para tornar- se mais atrativo e

atender ao gosto do p~blico.

Vem tentando propor ao telespectador algo de tentador e inovador.

A aventura de estar acompanhando uma histyria sem script na qual nmo

se sabe o final. Isso provavelmente venha a fundamentar o grau de

interesse despertado pelo p~blico por esse tipo de programa, pois

conforme o pensamento de Vattimo, p a ³imprevisibilidade´ (1992, p.

102), a novidade imersa no interior da narrativa, que prende a atenomo

do p~blico receptor e desperta-lhe interesse pelas histyrias atuais. No

reality show o que provavelmente desperta interesse no telespectador

fiel p a esperanoa de que a exibiomo pela televismo da banalidade de um

cotidiano parecido com o seu, lhe ponha em evidrncia, proporcionando

brilho e sentido a sua vida que nmo tem.

O voyeurismo p outro componente que se mistura aos demais. Sy

que esse sempre fez parte de nossas vidas. Quem nunca ficou em casa

vendo o que acontecia nas novelas ou nmo parou diante de um acidente

de trknsito?

e o mecanismo psicolygico da curiosidade que move a vida

humana e que nesses programas funcionam da mesma forma.

Alpm disso, entram em cena, as estratpgias de marketing para

vender nmo sy o programa, mas principalmente os participantes que

mesmo apys serem eliminados, aparecem nas capas de revistas,

programas de tvs, novelas e Internet. Smo jovens figuras de

comunicaomo, capazes de condensar, sintetizar e representar toda a foroa

de entrega e idealizaomo. Jovens cujos ftsicos e rostos smo protytipos dos

(28)

sociedade que sente essa necessidade. Na vismo de Artur da Tivola,

situa - se entre ³bonitinhos e sensuais´ que correspondem aos padr}es de

sensualidade ditados pela cartilha estptica do mundo jovem.

Seguindo o pensamento de Tivola, smo figuras que representam, de

maneira efetiva, a efervescrncia da idade regida pela ³libertaomo´ e um

mi sto de ³seduomo e medo´ (1985, p. 225), a procura pela aventura. Eles

surgem como candidatos an{nimos em busca de fama, de ganhar

dinheiro e ser reconhecido pelo p~blico, realizando o que p o sonho para

tantos outros jovens. Apesar disso nmo p pelo desempenho arttstico que

se opera a comunicaomo, mas, pela empatia entre portadores de signos

comuns em estado de troca. Nisso, conseguimos ver um indicativo de

que o sucesso esti mais nas representao}es de alegria, jovialidade,

sensualidade e aventura, do que mesmo no talento de cada um deles.

Tudo isso, conduz o p~blico receptor a respostas emotivas, numa

confirmaomo de que somos seres cada vez mais simbylicos, imersos num

dil~vio de imagens.

Outro elemento que destacamos no reality show p a disputa que se

estabelece, principalmente quando das provas determinadas para a

obtenomo dos resultados priticos que definem a continuidade no jogo.

As ao}es smo vigiadas de perto para que assim, o prrmio seja liberado ao

ganhador.

Vale o pragmatismo e o resultado, pois o prazer consiste em

competir para vencer, mostrando aos demais que p no espeticulo que se

realiza a conquista dos objetivos, mesma que para isso precise passar

pelo julgamento do p~blico que lhe confere j aprovaomo pelo brilho

individual, portanto legttimo e justo.

Tal espeticulo esti a dizer ao mundo que ali se constryi uma

³verdade´ na qual o valor e a virtude justificam o sucesso. A propysito,

Tivola fala sobre a vityria salientando que numa sociedade competitiva,

de excesso, ³o jogo aparece como forma de conquistas´ (1985, p. 275).

(29)

superar, derrotar, derrubar o outro de qualquer maneira. At se destaca a

coragem como enfrentamento da vida, mecanismo adotado nos jogos em

que a voracidade da competiomo assume caractertstica principal. Tudo

nos leva a crer que a histyria da mtdia televisiva deveria ser

compreendida depois desse formato.

Es se formato aponta para a probabilidade do que constitui o seu

diferencial, que p a atuaomo dos telespectadores entendidos atp entmo

como receptores passivos diante da tela. Ele acena com a possibilidade

de interaomo tmo vislumbrada pela TV aberta, que hi m uito, vinha

empreendendo esforoos e tentando vencer uma de suas maiores

restrio}es a intervenomo do p~blico nos rumos dos programas.

Isso talvez venha justificar a preocupaomo com que produtores e

telespectadores vem demonstrando em buscar desesperadamente a vida

como ela p. O indivtduo, suas ao}es, seus esforoos, suas realizao}es

estmo no centro do palco. Assim parece, que o p~blico nmo quer ser

iludido como nas narrativas ficcionais nas quais a vida se apresenta de

forma melosa. Mero engano, pois os reality shows apresentam -se como

sendo mais uma forma eficiente de ilusmo que a televismo produz. Afinal

os participantes sabem que estmo sendo filmados e que seus movimentos,

diilogos e atitudes vmo contar a favor ou contra. Dat que o show de

realidade pode enganar, tornando-se mais uma entre as infinitas

possibilidades de falsificaomo que televismo vem oferecendo.

1.3. BIG BROTHER BRASIL

O Big Brother p um programa televisivo que pertence ao grande

capttulo dos reality shows, que surgiram na Holanda em 1999, criados

por Jonh De Mol, difundidos em mais de vinte e cinco patses, atravps de

uma das maiores empresas de entretenimento da Europa, a Endemol.

(30)

quais, virias produo}es foram exportadas para o Brasil, como Fama,

Acorrentados, Casa dos Artistas e Amor a Bordo. Numa entrevista

concedida j revista Veja, na ediomo de 22 de janeiro de 2003, o criador e

produtor do BBB diz como surgiu a idpia do programa:

[...] De uma nottcia publicada num jornal americano que falava sobre um projeto cienttfico chamado Biosfera 2, em que um grupo de pesquisadores se isolara numa estufa por um longo pertodo, como se estivessem em outro planeta. Fiquei interessado em saber detalhes sobre esse projeto e o que acontecera com a experirncia. A idpia bisica nasceu at. Engana -se quem imaginar que o livro 1984, de George Orwell tenha sido uma influrncia, pois nmo foi. Sy peguei emprestado o nome Big Brother porque ele soava melhor. (Revista Veja, 2003, p. 22).

Ape sar dessa afirmativa negando a influrncia que originou a

criaomo desse programa, encontramos muita semelhanoa com a histyria

do livro 1984 do escritor inglrs George Orwell, obra que narra a vida

dos habitantes de um pats ficttcio que smo vigiados diariamente por

ckmeras que funcionam como os olhos do governo. No Brasil, o

primeiro programa da sprie foi ao ar de janeiro a abril de 2002 e

chamou -se BBB 1. O segundo, conhecido como BBB 2 foi veiculado de

maio a julho de 2002 e o terceiro ou BBB 3 aconteceu de janeiro a abril

de 2003, sendo este o nosso objeto de pesquisa.

e um programa exibido diariamente pela rede Globo de Televismo,

durante 10 semanas, que re~ne de 12 a 14 pessoas previamente

selecionadas para participar do programa gincana, concorrendo a 500

mil reais. A escolha dos participantes ao BBB, acontece atravps de uma

seleomo entre milhares de cadastros realizados pela Internet. A aceitaomo

por parte dos participantes da apropriaomo, ediomo e veiculaomo de

qualquer imagem sua, pela emissora p a condiomo para entrar no

concurso e tentar obter o prrmio oferecido. Suas participao}es realizam

(31)

Com relaomo j seleomo, um ponto que pode ser questionado p o da

transparrncia na escolha dos participantes, pois atp agora, nmo sabemos

de que maneira as pessoas smo selecionadas, quais os critprios de

escolha smo adotados. O que existe smo suposio}es que acabam por

suscitar alguns questionamentos: Teriam os selecionados determinados

compromissos com o programa, de desempenhar certos pappis? Seri que

tudo nmo passa de uma combinaomo das partes envolvidas?

Estas quest}es deveriam ser esclarecidas j populaomo visto que se

trata de um jogo com premiaomo e se p um jogo, as regras devem ficar

claras a todos. Na terceira ediomo do programa, 70 mil pessoas se

inscreverem e 12 mil foram prp-selecionados e destas 14 foram

escolhidos para o elenco.

Os participantes smo confinados e passam a conviver numa casa

devidamente montada como cenirio, aparelhada com tecnologias

modernas de captaomo, gravaomo e ediomo de imagens. Todos os

moradores usam microfones e smo monitorados permanentemente por 40

ckmeras, 60 microfones espalhados por toda casa. Smo filmados em

todos os c{modos, sendo exclutdas apenas, as imagens captadas no vaso

sanitirio.

Ficam completamente isolados por dois meses do mundo exterior,

inclusive da famtlia, nmo podendo fazer ligao}es telef{nicas, manter

correspondrncia, seja por carta ou e-mail, assistir televismo e ouvir

ridio. O ~nico aparelho de tv da casa, p usado exclusivamente em

momentos espectficos e com uma ~nica finalidade: permitir o diilogo

entre jogadores e apresentador.

A eliminaomo de cada jogador ao longo do programa acontece js

teroas - feiras, atravps de um processo que inclui inicialmente a escolha

do ltder da casa que automaticamente adquire imunidade no pertodo

equivalente hi uma semana. A cada semana, dois participantes vmo para

o ³paredmo´, sendo um indicado pelo ltder e o outro eleito pela votaomo

(32)

participa das votao}es tanto pela Internet, como por telefone. O jogo na

casa p marcado pelas regras que estipulam que homens e mulheres

dividem dois quartos e um banheiro, sendo que o ltder tem direito a um

quarto exclusivo. O kit alimentaomo p conquistado atravps das provas

semanais. Ji as refeio}es, a limpeza da casa e a lavagem de roupas smo

tarefas realizadas individualmente.

Entre 10:00 e 12:00 horas, ocorre um toque que obriga os

participantes a despertar e levantar. Apesar de nmo ser uma regra,

destacamos ainda que durante o programa hi festas proporcionadas pela

direomo com freqrncia de pelo menos uma semana, com visitas de

artistas da televismo.

O programa p exibido diariamente, em horirio nobre, sendo que

nas segundas, quartas quintas e sextas-feiras smo apenas edio}es. Na

teroa, sibado e domingo, p transmitido ao vivo intercalado com as

edio}es. Nestes dias, o programa p conduzido por um animador que

interage com os participantes da casa e os telespectadores.

No que se refere j estrutura do programa, um ponto fundamental

diz respeito a como se di a seleomo das cenas que smo passadas ao

p~blico. Percebemos que hi uma escolha de determinadas cenas em

detrimento de outras que smo editadas. Smo elas que estruturam o teor do

programa.

A partir desses pressupostos apresentamos alguns pontos

espectficos relacionados ao programa que consideramos importantes. O

ponto central p a traiomo ao cotidiano. e que o programa Big Brother

Brasil passa para a populaomo brasileira uma representaomo e um

ensinamento de um cotidiano corriqueiro, no qual predominam a

ociosidade, a promiscuidade e a competiomo.

A maior parte do que p selecionado, smo cenas de banalidades,

provocao}es, sensacionalismos, enfim, nmo certamente p o melhor de

tudo. Mas o que se vr p uma traiomo de um pressuposto que esti, ao

(33)

lhe apresente coisas melhores e positivas e nmo apenas conspirao}es,

armadilhas, estratpgias descaradas para derrubar os companheiros e

garantir a prypria permanrncia no jogo. Numa demonstraomo de que a

vida p uma constante batalha, na qual o vencedor seri sempre o melhor.

O programa numa anilise mais geral p um modelo marcado pelas

tendrncias da competiomo e da exclusmo, do sucesso individual a

qualquer custo. Os jogadores sy respeitam a lei do mais forte, do mais

esperto. O confessionirio parece revelar bem esta situaomo, pois p li,

que delatam os melhores amigos, justificam suas traio}es com motivos

banais ou simplesmente porque nmo sabem o que dizer no momento de

dar raz}es para a escolha que fizeram no jogo. As conseqrncias dessa

guerra diiria, sob a miscara da amizade e do bom convtvio deixam os

telespectadores passivos e abobalhados.

Outrora, a recompensa do agir moral era o reconhecimento, a

admiraomo e o respeito de todos. Agora, valemos o que pesamos em

dinheiro e isso faz com que o mercado detenha a batuta do show de

realidade. Isto implica em nmo termos idpia de quanto os canais de

televismo lucram com tais programas. No caso dos reality shows, a tv

globo vendeu as duas primeiras edio}es do bbb por 12 milh}es. Um

outro canal vendeu duas cotas publicitirias de 11,2 milh}es e o outro

vendeu duas cotas por 4,8 milh}es cada. O que o programa sugere e

ensina no seu currtculo oculto, p que pelo dinheiro podemos trair os

amigos e revelar os segredos mais tntimos.

Marcondes Filho, comentando sobre o programa, afirma: ³o tntimo

antes era o segredo de cada um, seu tesouro´(F olha de Smo Paulo ,

caderno Mais, 31 de maroo de 2002, p. 9). As pessoas se marcavam pelo

mistprio. Era a alma do romantismo. Hoje, terminou a demanda do

tntimo, seu valor desapareceu. A impressmo que se tem p que a

intimidade mostrada nmo p mais intimidade.

A tevr vai assassinando com o olho da ckmera, centtmetro por

(34)

de surpresa. Nmo hi o que pensar e criar. Tudo esti gasto. Torna-se

diftcil acreditarmos na autenticidade da intimidade mostrada na tv,

posto que, as pessoas sabem que estmo sendo acompanhadas pelo

p~blico. Elas sabem que o olhar eletr{nico do telespectador nmo vai

perdoar os deslizes. A realidade vista nmo p precisamente realidade.

A liberdade do grupo tambpm p arrancada. Enjaulados poucos

conseguem conservar a dignidade e passam a reagir como criaturas que

se angustiam com a reduomo de seu territyrio para ir e vir, correndo o

risco de uma desumanizaomo. Se for verdade que a clausura ajuda o

mergulho em si mesmo, para refletir e meditar, as atividades propostas

no programa im pedem isso, pois fomentam disputas, distrao}es e

mexericos.

Um dos meios utilizados pela televismo para apresentar o programa

como ³um show de realidade´ p dizer que o confinamento deve provocar

sentimentos verdadeiros, pois nmo di para adiar e nem realoar emoo}es

ou indisposio}es com os companheiros de casa. Isso significa que o total

isolamento dos participantes, na concepomo original do programa

deveria traduzir sentimentos verdadeiros. Percebemos controvprsias

neste pressuposto, pois observamos nas opini}es emitidas pelos

telespectadores, em programas de entretenimento de outros canais de

TV, de que o Big Brother nmo passa de uma emissmo cansativa,

enfadonha, que nmo tem quase nada de ³vida verdadeira´.

Mesmo assim, como pode chegar tmo longe? Nmo acreditamos que

seja somente por foroa da prypria presenoa e das chamadas da televismo.

e preciso lanoar o olhar mais profundo e tentar captar o sentido atual

das transformao}es. O da mudanoa das sensibilidades que provocaram o

fen{meno da corrosmo das intimidades. Hi mais ou menos de cento e

poucos anos para ci estamos assistindo a um processo cultural

interessante: Surgiu o cinema que logo ocupou o espaoo das festas e

quermesses populares. Em seguida, meado dos anos 50, a televismo

(35)

Hoje, temos a Internet que oferece bancos, bibliotecas e outros servioos

aos domictlios.

Nisso tudo, hi indtcios de que esti acontecendo realmente uma

profunda mudanoa. O mundo, a vida se condensando cada vez mais nas

telas. O Big Brother apresenta-se como sendo capaz de operar algumas

dessas mudanoas, restituindo aos telespectadores o sentido de

onipotrncia diante de pessoas frigeis. Reinventa o sentido de

comunidade entre os fms do BBB. Os fuxicos, as fofocas, as

especulao}es tornam - se mais notiveis, js vezes mais interessante que a

prypria sprie.

O mais incrtvel p que esse formato capturou outra mudanoa: As

pessoas nmo desejam tanto mais ver, elas precisam, sobretudo de ser

vistas. Homens e mulheres necessitam mais do que nunca do olhar da

ckmera para provarem suas existrncias. A fantasia de ser o objeto do

sonho de uma outra pessoa p mais forte. Por isso j pulsmo de se mostrar.

Pessoas exp}em seus sentimentos mais interiores e as platpias deliram

com confidrncias escandalosas e revelao}es pessoais.

O Big Brother Brasil demonstra um apurado requinte nos detalhes,

esmera -se no tratamento estptico da imagem, mostra as emoo}es

cotidianas de um grupo de pessoas que exp}e suas vidas privadas js

ckmeras, com flagrantes de intimidade compondo uma realidade que flui

para dentro da narrativa. A trama estende- se por diversos episydios,

com textos pouco usados, diilogos pobres, fundados na coloquialidade

corriqueira da vida cotidiana. Usa como matpria prima o mesmo

ingredien te universal do folhetim, marcado pelas paix}es arrebatadoras,

os desencontros, as tristezas, as emoo}es exarcebadas e as disputas pelo

objeto de desejo.Sua semkntica constryi-se sobre imagens que

permanecem indiferentes j oposiomo verdadeiro/falso, real/ficomo que

rege os enunciados. Surgem como uma representaomo que carece de

valor de verdade o que de certa forma justifica a denominaomo de show

(36)

Seu cenirio p tecnologicamente sofisticado, mas, simples nos

adereoos de cena, ambientado numa casa que disp}e de uma irea de

lazer, jardim gramado com espaoos para jogos, piscina, mini academia

de ginistica, sauna, sala- de -estar com telmo para os diilogos entre

animador e jogadores, dois quartos, um banheiro e uma cabine ac~stica,

conhecida como confessionirio para a declaraomo de votos.

Numa composiomo perfeita que cria um clima de convtvio familiar.

Esses espaoos nmo podem ser vistos de maneira fragmentada, mas como

uma estrutura ~nica integrada de uma produomo semiytica que se

determina na narrativa.

Embora com a marca de show de realidade, o Big Brother Brasil,

como outros grneros da televismo, trabalha com o imaginirio do

telespectador, somando aos seus desejos, necessidades e anseios, uma

realidade que p o mundo posstvel dos participantes, constituindo -se num

campo de visibilidade no qual ele ver e p visto. Desse ponto de vista,

podemos dizer que o reality show BBB p uma construomo dialygica na

qual o receptor se integra aos demais e atravessa o percurso narrativo

decidindo o rumo da histyria.

A lygica narrativa do BBB baseia- se no real e tambpm na ficomo

do tipo telenoveltstico, o que parece despertar o interesse renovado do

telespectador por este formato televisual, embora sua estrutura

discursiva apresente-se de forma simples e repetitiva, configurando -se

numa relaomo do homem comum com a mtdia. Ainda que o fazer

ficcional possa ser considerado mimptico, mesmo assim, situa-se dentro

de um quadro mais vasto da comunicaomo, das artes e da literatura, com

predomtnio da funomo estptica da linguagem. O reality show,

apresenta-se como um verdadeiro entrelaoamento de estilos narrativos, no qual

presenciamos o diilogo entre os processos de produomo e especialmente

de ediomo.

Possui uma narrativa linearmente progressiva, compondo

(37)

cotidiana que o participante que se destacam ao longo da histyria passa

a ser reconhecido pelo p~blico como sendo ³protagonista´. Conta ainda

com o reforoo sensacionalista do animador que enaltece determinadas

ao}es com o intuito de eleger as figuras principais da trama como

aconteceu com o casal Dhomini e Sabrina no BBB 3, que passaram a

pontuar e construir com mais intensidade, a teia dramitica dos episydios

desse programa, num conjunto organizado de cenas que a produomo

selecionou e disponibilizou aos telespectadores para que pudessem

atribuir valores.

A iluminaomo destaca a figura em relaomo aos objetos, o centro de

interesse da narrativa p projetado nos participantes an{nimos, com

planos alternados, sobressaindo-se diferentemente dos usuais da TV,

planos abertos, intercalados com detalhes das ao}es individuais. Os

planos em conjunto smo explorados, pois o desempenho dos jogadores

acontece quase sempre em dupla, em funomo dos diilogos que como nas

telenovelas imp}e ritmo a trama. As ckmeras, embora fixas, fazem

diferentes movimentos, demarcando os espaoos numa correta eleiomo das

imagens, mostrando que estmo diante dos acontecimentos todo o tempo,

vendo as cenas de um ponto de vista privilegiado, como observadores

ide ais.

No jogo da narrativa, o mundo posstvel do BBB assume um tom de

verdadeiro, sentido de que os objetos, ambientes e pessoas (atitudes,

sentimentos, palavras) passam a visitar o imaginirio do telespectador,

constituindo um universo real. Dada a inseromo no seu cotidiano, o

receptor aceita esse jogo, nmo consegue perceber no mosaico da ediomo

uma divismo entre o real e o posstvel, permitindo-nos apontar que o

sucesso desse programa poderi estar na capacidade de lidar com os

sentimentos dos telespectadores. Os integrantes do show da vida

constroem estratpgias para manter uma identidade capaz de impressionar

a audirncia com a intenomo de obter o reconhecimento dos seus

(38)

numa tentativa de conquistar o voto favorivel do p~blico, garantindo

sua permanrncia atp o final do jogo.

A terceira ediomo do BBB nmo representou grande novidade em

relaomo js duas primeiras. Sua produomo p simples e mais barata em

relaomo aos milh}es que a TV Globo de Televismo gasta em telenovelas e

minisspries. Foi menos chata que as anteriores, visto que a emissora (TV

Globo) passou a dirigir a trama, editando as conversas interminiveis dos

participantes.

Passou a organizar os planos e contraplanos, produzindo o que

fosse posstvel para criar ³tensmo dramitica´, a cada episydio da vida

daquela gente jovem, encarcerada na mansmo est~dio global.

Podemos observar que nessa ediomo o interesse sexual decaiu um

pouco entre seus participantes, apesar dos esforoos do animador no

sen tido de incentivi-lo, a fim de oferecer ao p~blico receptor um pouco

mais de excitaomo. e bem verdade que o participante Dhomini ³ficou´

com a carismitica Sabrina. Mas, alpm desse episydio, parece que a

convivrncia na casa do BBB 3 foi menos excitante e mais marcada pelos

³pared}es´ o que se revela as incansiveis conspirao}es, traio}es,

armadilhas, estratpgias descaradas para derrubar os companheiros e

gar antir suas permanrncias no jogo.

Os concorrentes nmo perdiam tempo, porque o dinheiro era mais

importan te, por isso nmo paravam de conspirar. Nmo foi precisamente o

sexual o frenesi que animou participantes e p~blico da terceira ediomo

do BBB 3. O que movimentou o programa foi j concorrrncia perversa,

envolvendo os jogadores numa esppcie de ³topa- tudo -por -dinheiro´. Isto

porque o BBB nmo exige habilidades espectficas. As armas nessa batalha

smo psicolygicas, os afetos.

O candidato, ao entrar nessa ediomo do programa- jogo,

desenvolveu uma knsia de vityria, que nmo resistiu em transformar sua

prypria vida num a cartada favorivel ao alcance do desejado,

(39)

mesmo aprisionado, buscava alcanoar a cada instante, o sentido

mobilizador que possibilitasse a validade do jogo. Na realizaomo de

erros e acertos, na sucessmo de momentos, o jogador viveu da stntese de

suas miximas emoo}es.

Tensmo p a palavra predominante durante todos os jogos, uma vez

que p ela responsivel pela constkncia da trama, porque senmo o

resultado pode mudar por vacilaomo do pryprio concorrente.

Nessa terceira ediomo, o jogo foi cheio de estratpgias por parte dos

integrantes, o que exigiu objetividade de todos eles, agilidade nas ao}es,

porque senmo o adversirio penetrava com mais inteligrncia e perspicicia

como foi o caso do Jean Massumi que em decis}es ripidas e eficazes,

valendo -se da capacidade de simular, virou o jogo contra o que parecia

ser o favorito atp entmo, o Dhomini. Por isso, passou a ser considerado o

grande articulador e estrategista do grupo.

As hostilidades despontaram logo no intcio, gerando conflitos a

ponto de provocar uma separaomo por grnero, denominada de ³guerra

dos sexos´, o que exigiu de cada jogador, racioctnio lygico e poder de

decismo, ficando claro que a aomo inteligente p a titica que prescreve a

(40)

CAPÌTULO 2

Sibio p o que se contenta com o

espeticulo do mundo.

(41)

A FORMAd®O DO MITO NA PRODUd®O TELEVISIVA

2.1 MITO NA SOCIEDADE TRADICIONAL

Mitos, stmbolos e ritos smo elementos que se perpetuam de geraomo

a geraomo. O mito p uma narrativa que procura dar conta de virios

problemas existenciais e de quest}es que nmo comportam explicao}es

µracionais ¶. Sua tarefa principal p mediar, instaurar o contato entre o

desconhecido e o que ji p conhecido, o simbylico e a racionalidade. Na

concepomo do antropylogo Everardo Rocha, mito p:³[...] uma narrativa

atravps da qual uma sociedade se expressa, indica caminhos, discute

consigo mesmo´ (1986, p.95).

Conforme o autor, o mito flutua, seu registro p imaginirio, seu

poder p a sensaomo, a emoomo, a didiva. Sua possibilidade intelectual p

o prazer da interpretaomo. O escritor Artur da Tivola, no livro

³Comunicaomo p Mito´ tenta explicar o mito fazendo uma correlaomo

entre os fatos atuais e os mitos gregos do passado. A propysito do

conceito de mito, vejamos o que diz Tivola: ³[...] e uma forma

comunicativa de conservar e de significar de um stmbolo ou

meio-stmbolo, que expressa, amplia, fixa, antecipa, esclarece, oculta ou

exalta o valor significado. E, portanto; Representa uma verdade

profunda da mente [...]´. (1985, p. 11).

No entanto, Roland Barthes vr as narrativas tradicionais como

forma de linguagem, podendo todo e qualquer tema se transformar em

mito, apresenta e identifica o mito como sendo ³um sistema de

comunicaomo, uma mensagem que nmo tem formato espectfico e, assim

pode ser adaptada´. (1980, p.132). Explica que a fala mttica p uma

mensagem que pode alpm de tomar a forma oral, ser formada por

(42)

cinema, os espeticulos e a publicidade. Tudo isso pode servir de suporte

a fala mttica.

Entendemos que o mito funciona para justificar o que p

inconsciente ou transcendente. Assim quando Jung fala do inconsciente

coletivo, esti tratando paralelamente de mitos. O mito nmo pode ser

identificado como mentira, ele comunica, preserva e representa valores.

Desta forma p que as civilizao}es tradicionais definem o mito, que p

entendido como uma realidade cultural que relata um acontecimento,

pois ensina aos homens, as histyrias primordiais que o constitutram

existencialmente. Por conseguinte, p considerado pela civilizaomo

tradicional, como a palavra ³revelada´, o dito. O historiador Mircea

Eliade ressalta:

[...] O mito conta uma histyria sagrada, ele revela um a contecimento, uma realidade que passou a existir, seja a realidade total ou um comportamento humano. e sempre uma narrativa de uma criaomo. Fala do realmente ocorreu, do que se manifestou plenamente. (1991, p.11).

Observamos, portanto, que o mito p definido nas sociedades

tradicionais como uma narrativa exemplar que se prop}e a explicar o

mundo e seu funcionamento. Para os homens primitivos, tudo que p

narrado pelos mitos concerne diretamente deles, pois que lhes ensina

histyrias primordiais consideradas verdadeiras, retratando as origens do

mundo e como tal seus protagonistas smo: ³Os entes queridos e seus

ancestrais mtticos´ (ELIADE, 1991, p. 12).

Os mitos smo instrumentos de crenoas para os que aceitam e por

eles pautam sua vida, como p o caso da civilizaomo tradicional. Alguns

mitos presentes em determinadas culturas smo importantes e ricos porque

estmo relatando de alguma forma, a vivrncia de um povo e por isso, o

mito nem sempre p igual a falsidade. Malinowski nos explica o que p o

(43)

O mito nmo p uma explicaomo que satisfaoa o interesse cientifico, m as, a narrativa de toda realidade para satisfazer necessidade religiosa, anseios m orais, submiss}es sociais e atp requisitos priticos. Um mito desempenha na cultura primitiva, uma funomo fundamental, pois expressa, ace ntua e codifica a crenoa, reforoa a moral, di regras priticas para a orientaomo do homem. (MALIN OWSKI apud PATAI, 1974, p. 39)

O mito, de um modo geral parece ser compreendido como uma

histyria sobre as coisas fabulosas, mas nmo podemos esquecer do

signif icado profundo que carrega. Somente os Gregos principiaram as

histyrias transmitidas dos deuses e do surgimento do mundo esse

significado assumiu importkncia perante os povos. Surgiram muitas

teorias sobre a origem do universo. Possivelmente as cosmog{nicas,

formuladas anteriormente, explicavam melhor a origem dos mitos nas

sociedades tradicionais, que os compreendiam na revelaomo do mundo,

do homem e da vida.

Contudo nmo estamos esvaziando o pensamento mttico de conte~do

histyrico, pois percebemos que em m uitos casos, os mitos trm cerne

histyrico, assim como as tradio}es histyricas assumem formas mtticas e

sobrevivem por muito tempo. O que importa para nys p o poder que

disp}e o mito de influenciar as pessoas sobre a histyria humana.

Verificamos certos protytipos histyricos como, por exemplo, Napolemo

Bonaparte que, em suas faoanhas, confundia-se miticamente com

Alexandre, o maior heryi do mundo Grego. As pessoas criam novos

mitos que as satisfaoam, fazendo com que eles continuem sempre

explicando o que smo e o que sermo.

Em outros termos, o mito vai se delineando como representaomo

coletiva, transmitido atravps das gerao}es, relatando uma explicaomo do

mundo.Antes mesmo de ser explicado, de ser inteligtvel, vemos que o

mito, nas suas mais variadas formas, palavras, imagens, gestos, p

sentido, vivido, circunscrevendo o acontecimento no coraomo do homem,

(44)

vrm sendo ³rememorados e reatualizados constantemente, atravps dos

rituais, num permanente retorno js origens´ (1985, p.23).

Essa volta js origens, representa as foroas que a civilizaomo

tradicional depositava nelas (origens), que advpm do mundo

transcendente dos deuses e heryis. Compreendemos que hi nas culturas

tradicionais uma certa aversmo, uma rejeiomo a irreversibilidade do

tempo, pois para elas, p justamente o contririo, a reversibilidade que se

apresenta como sendo a libertaomo do homem, do peso do tempo morto,

pois entendem o profano como o tempo da vida e o sagrado como o

tempo da eternidade.

Como vimos, o homem tradicional usava virios meios que

dispunha ao seu alcance, para colocar-se em oposiomo j histyria, por

necessidade que tinha de regenerar- se periodicamente por meio da

anulaomo do tempo, da aboliomo do tempo concreto. Percebemos uma

esppcie de recusa em aceitar-se como ser histyrico, em dar valor a

memyria, aos acontecimentos fora do comum, um desejo no sentido de

desvalorizar o tempo.

O homem tradicional possuta uma vida reduzida j repetiomo dos

atos arquettpicos, ignorando tudo o que p caractertstico numa

conscirncia do tempo. Demonstram uma compreensmo do mundo em

movimento numa direomo ctclica, anulando completamente a

irreversibilidade. Na repetiomo dos arquptipos primordiais, o homem

esti sempre atualizando o momento mttico, mantendo dessa forma, o

mundo no instante do princtpio.

Entendemos, portanto, que essa recusa j histyria e a necessidade

que apresenta de confinar-se na repetiomo arquettpica, venha a ser um

temor pela perda de si mesmo, deixando- se dominar pela falta de

significado da existrncia profana. Isso vem mostrar que seu

comportamento p pautado pela crenoa numa realidade absoluta, oposta

(45)

A civilizaomo tradicional ligava-se ao ritual, meio pritico que

garantia a preservaomo. Mas em certo sentido tambpm se ligava ao

futuro, pois nas priticas de repetiomo realizadas, o futuro volta ao

passado. Para esses povos, nmo havia separaomo de tempo e espaoo, os

indivtduos mantinham uma trajetyria comum, disputavam de

experirncias simultkneas, visto que os acontecimentos ocorriam num

mesmo tempo e na mesma localidade.

A partir do spculo XVII, uma nova concepomo progressista da

histyria afirma-se cada vez mais. Nessa trajetyria, o pensamento de

Hegel atribui e conserva um valor ao acontecimento histyrico como tal,

³o acontecimento em si mesmo e para si mesmo´ (ELIADE, 1992, p.

128). Alpm do mais, o pensamento marxista lanoou fora todo o

significado transcendental da histyria, que passa a ser uma estrutura

coerente, diferente de uma sucessmo de acidentes arbitririos, com o

propysito de eliminar o terror da histyria j salvaomo. Os homens passam

a considerar a histyria para o reconhecimento da existrncia dos seus

povos. Dessa maneira, conseguimos marcar a irreversibilidade do tempo

e dos acontecimentos como o traoo diferencial entre o pensamento

tradicional e o moderno.

2.2 O MITO NA MODERNIDADE

Contrariamente a civilizaomo tradicional, a moderna, proclama o

resultado de determinados eventos que se sucedem, considera-se

constitutda pela histyria. O homem moderno acredita no universo

abrindo caminho para as descobertas, uma nova era que p impulsionada

pelo racionalismo, pelo empirismo, pelo pensamento cienttfico que

marginaliza o mito por sin{nimo de superstio}es e ilus}es. O mundo sy

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