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1. Introdução

1.3. Exercício físico no puerpério

As atitudes clínicas relativamente ao exercício físico durante a gravidez e pós-parto têm sido influenciadas mais por questões culturais do que por evidências científicas (Katz, 2003). Contudo, o avanço da ciência, aliado a um maior conhecimento dos benefícios do exercício físico da população em geral, levantou importantes questões sobre a relação risco/benefício do exercício durante a gravidez e pós-parto, tornando-se imprescindível a criação de consensos relativamente às suas recomendações neste período (Wolfe & Davies, 2003).

Vários estudos têm vindo a mostrar os benefícios do exercício físico durante a gravidez, parto e pós-parto, revelando que um programa de exercício físico de moderada intensidade, iniciado numa fase precoce da gravidez, durante a fase hiperplásica do crescimento placentar, pode aumentar a capacidade funcional da placenta, aumentando a distribuição de nutrientes e melhorando o crescimento fetal (Mann, Kleinpaul, Teixeira & Konopka, 2009).

A evidência vem demonstrando a importância do exercício físico no pós-parto, dado que é uma forma não invasiva de tratamento e uma medida de baixo custo, pelo que os programas de exercício físico direcionados e supervisionados são uma boa opção para prevenir possíveis complicações no puerpério. Este tipo de programas permite intervir nas alterações físicas mais frequentes no puerpério e, ao mesmo tempo, promove o autocuidado da puérpera, tornando-a num agente ativo do seu processo de recuperação física. No pós-parto, a prática de exercício físico de rotina deve ser introduzida de forma progressiva e segura, dependendo do tipo de parto (vaginal ou cesariana) e da presença ou ausência de complicações médicas e cirúrgicas. Na ausência de complicações da gravidez e parto, o retorno à atividade física pode ser iniciado a curto prazo sem efeitos adversos. Os exercícios do pavimento pélvico podem ser iniciados no período imediato ao parto (American College of Obstetricians and Gynecologists [ACOG], 2015).

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de determinadas cadeias musculares de modo a promover uma postura correta, e que os exercícios direcionados ao pavimento pélvico irão reforçar a sustentação dos órgãos pélvicos e promover uma melhor consciência corporal. De facto, vários estudos têm demonstrado que o exercício físico no puerpério pode ajudar na recuperação dos vários grupos musculares afetados pela gravidez e parto (Rett, Bernardes, Santos, Oliveira & Andrade, 2009), na diminuição dos sintomas de incontinência urinária (Pivarnik et al. 2006) e melhoria da autoestima materna e perceção do bem-estar global (Haruna et al., 2013; S. L. Nascimento, Pudwell et al., 2014).

Alguns autores referem que é visível a maior dificuldade no retorno da diástase dos músculos abdominais em mulheres que não praticam exercício físico e defendem que a realização de exercícios corretos pode favorecer a diminuição da diástase abdominal (Difiore, 2000; Rett, Braga et al., 2009). Também Pivarnik et al. (2006), mencionam que a realização de exercícios musculares pélvicos para fortalecer o controlo neuromuscular deve ser recomendado durante a gravidez e no pós-parto, uma vez que vários estudos evidenciaram que as mulheres envolvidas em programas de exercício específicos de fortalecimento do pavimento pélvico têm tendência a apresentar menos episódios de incontinência e alterações sexuais.

A reabilitação e prevenção da dor lombar, associada à prática de atividade física, ganham visibilidade na década de 90, quando Kihlstrand, Stenman, Nilsson e Axelsson (1999) associam a prática de exercícios físicos específicos a uma melhoria da dor lombar. Mais recentemente, diversos autores (Granath, Hellgren & Gunnarsson, 2006; R. Martins & Silva, 2005), confirmam a associação entre a prática de atividade física e a melhoria da dor lombar em grávidas, parturientes e puérperas. Contudo, a utilização do exercício físico no alívio da dor lombar não é consensual, mas alguns autores (Stuge, Hilde & Vollestad, 2003) recomendam a prática de exercícios estabilizadores, que sejam supervisionados e com uma aplicação gradual em mulheres no pós-parto. Acrescentam, ainda, que quando estas premissas são mantidas, existe uma diminuição da intensidade da dor e aumento da qualidade de vida, com resultados visíveis nas primeiras vinte semanas pós-parto e que se mantem até um e dois anos (Stuge, Laerum, Kirkesola & Vollestad, 2004).

Adicionalmente, alguns autores mostram que a manutenção da tonicidade muscular, da força corporal e da resistência física através do exercício, tem melhorias positivas na autoestima global (Spirduso, 1995) e na imagem corporal das mulheres (Smith, 2006). Outros autores (Haruna et al., 2013; S. L. Nascimento, Godoy et al., 2014), relacionaram a prática de

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exercício físico com a promoção da saúde, na medida em que o exercício físico pode melhorar a qualidade de vida e a autoestima da puérpera, com repercussões não só a nível físico mas também na redução de sintomas depressivos e melhoria do bem-estar psicossocial (United States Department of Health & Human Services 2000, cit. por Ko, Yang, Fang, Lee & Lin, 2013). A prática de exercício está associada a um aumento do nível de serotonina, ajudando assim a aliviar os sintomas depressivos leves (Joca, Padovan & Guimarães, 2003; Phillips, Kiernan & King, 2003).

O desconforto músculo-esquelético no pós-parto condiciona de forma significativa a vida da puérpera e deve ser valorizado, tanto por parte da mulher como dos profissionais de saúde. Estas alterações não devem ser consideradas como uma consequência normal do ciclo gravídico-puerperal, sendo fundamental que os profissionais de saúde, em particular os EEESMO, pela proximidade que tem com a mulher e família neste período do ciclo vital, implementem estratégias eficazes na sua prevenção e tratamento. Deste modo, os enfermeiros podem contribuir para o bem-estar materno e do RN, condição essencial à saúde materno- infantil e mesmo ao próprio aleitamento materno (Oliveira & Lopes, 2006). O período de pós- parto pode ser o momento ideal para os profissionais de saúde materna promoverem e reforçarem comportamentos e estilos de vida saudáveis (ACOG, 2015).

1.4. Recuperação pós-parto: um foco de atenção do Enfermeiro Especialista em