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Existência dos pontos de equilíbrio

Modelos presa-predador: sistemas suaves

2.2 Modelo 2: presa-predador com colheita do predador

2.2.1 Existência dos pontos de equilíbrio

    dx dt = rx(1 − xK) − βxy, dy dt = κβxy − αy −1 + wyqy , (2-4) com os parâmetros:

r: taxa intrínseca de crescimento da população presa, K: capacidade de suporte,

β: taxa de captação por predado,.

κ: taxa de eficiência com que a presa capturada é convertida em novos predadores, α: taxa de mortalidade do predador.

Além disso,

1+ωyqy : representa a colheita do predador (função de saturação), • ω : constante adequada,

• q : taxa de colheita.

E condições iniciais x(0) = x0e y(0) = y0no conjunto de interesse biológico:

Ω =(x, y) ∈ R2; x > 0 e y > 0 .

Ao sistema de equações diferenciais ordinárias (2-4) associamos um campo vetorial g : Ω → R2, dado por g(x) = (g1(x), g2(x))T e, assim, reescrevemos a equação (2-4) da forma

˙x = g(x). (2-5)

2.2.1 Existência dos pontos de equilíbrio

O sistema de colheita (2-4) sempre tem o ponto de equilíbrio trivial E0= (0, 0) e o ponto de equilíbrio da extinção do predador Ek= (K, 0), pois, avaliando o ponto E0= (0, 0) na função g definida em (2-5), temos que g(E0) = g(0, 0) = (0, 0). Analogamente, para o ponto Ek = (K, 0) temos que g(EK) = g(K, 0) = (0, 0). Assim para determinar outros possíveis pontos de equilíbrio temos temos que determinar soluções simultâneas

para as seguintes equações: r(1 − x K) − βy = 0, (2-6) κβx − α − q 1 + ωy = 0. (2-7) Da equação (2-6), obtemos y=r(K − x)(2-8)

e, substituindo em (2-7), obtemos a equação quadrática

ax2+ bx + c = 0 (2-9)

com a = −κβωr, b = κβ2K+ κβKωr + αωr e c = −αωrK − qβK − αβK.

Para garantir a existência de uma solução x em Ω temos que observar o sinal do discriminante “∆”da equação (2-9), consideremos

M = κβ2K+ αωr − κβKωr,

N = q + α − κβK. (2-10)

Nosso objetivo é escrever ∆ em termos de M e N, pois a partir do estudo de seu signo podemos encontrar novos parâmetros que nos permitirão estudar a classificação dos pontos de equilíbrio, então

∆ = (κβ2K+ κβkωr + αωr)2− 4κβωr(αωrK + qβK + αβK),

= (κβ2K+ αωrK − κβkωr + 2κβkωr)2− 4κβKωr(q + α) − 4κβ22r2α, = (κβ2K+ αωr − κβKωr)2− 4κβ2Kωr(q + α − κβK).

Logo,

∆ = M2− 4κβ2KωrN. (2-11)

Para a equação (2-9) temos que suas raízes são dadas por:

x1= b

−2a e x2=

b+√ ∆ −2a .

Além disso, para encontrar os pontos de equilíbrio as raízes da equação (2-9), x1,2, devem ser menores que K, pois se x1,2< K então pela equação (2-8) teríamos y1,2> 0, e, portanto, temos a existência de pontos de equilíbrio em Ω. Desta maneira, se:

(a) ∆ < 0, não temos nenhuma raiz real e as seguintes condições são satisfeitas

M2

4κβ2Kωr < N e N> 0. (b) ∆ = 0, temos uma raiz positiva com multiplicidade dois

x1= κβ

2K+ κβkωr + αωr

2κβωr , (2-12)

com a condição, M2= 4κβ2KωrN e N ≥ 0. Além disso,

x1− K = M

2κβωr < 0 ⇔ M < 0.

Portanto, o sistema (2-4) tem um ponto de equilíbrio E1= (x1, y1) em Ω quando M< 0, N > 0 e M2= 4κβ2KωrN.

No caso em que ∆ = 0 com a condição M = N = 0 temos o ponto de equilíbrio limite EK = (K, 0).

(c) ∆ > 0, temos duas raízes x1e x2com a condição M2

4κβ2Kωr > N.

Pela equação (2-8) analisamos o sinal de x1− K e x2− K, de onde obtemos que • x2− K = M+ √ ∆ −2a , e para

i) M > 0, x2− K > 0 então y2< 0. Portanto, o ponto de equilíbrio E2não está em Ω;

ii) M < 0 analisamos o sinal de

∆ − M2= −4κβ2KωrN seu sinal é determinado pelo sinal de N

     se N < 0 ⇒ ∆ − M2> 0 ⇒ x2> K, se N = 0 ⇒ ∆ − M2= 0 ⇒ x2= K, se N > 0 ⇒ ∆ − M2< 0 ⇒ x2< K.

Portanto, E2∈ Ω se M< 0 e 0 < N < M 2 4κβ2Kωr. • x1− K = M √ ∆ −2a , então

i) Para M < 0, x2− K < 0 então y2> 0. Portanto, o ponto de equilíbrio E1= (x1, y1) está em Ω.

ii) Para M > 0 analisamos o sinal de

∆ − M2= −4κβ2KωrN seu sinal é determinado pelo sinal de N

     se N < 0 ⇒ ∆ − M2> 0 ⇒ x1< K, se N = 0 ⇒ ∆ − M2= 0 ⇒ x1= K, se N > 0 ⇒ ∆ − M2< 0 ⇒ x1> K. Portanto, E1∈ Ω se    N< 0 e [M < 0 ou M = 0 ou M > 0] , M< 0 e  N= 0 ou N = M 2 4κβ2Kwr  .

A Figura 2.2 a seguir mostra a relação entre M, N e a existência dos pontos de equilíbrio de acordo com as condições dadas.

Quando β < ωr, podemos traduzir as condições correspondentes a M e N àquelas sobre K e q, de acordo com as seguintes relações de equivalência:

N> 0 ⇐⇒ q> qK(K) ˙=κβK − α, (2-13)

M< 0 ⇐⇒ K> ˜K=˙ αωr

κβ(ωr − β), (2-14)

∆ > 0 ⇐⇒ q< q(K) ˙=(κβkωr + κβ2K− αωr)2

4κβ2Kωr . (2-15)

A partir das definições desses novos parâmetros e dados E1,2 = (x1,2, y1,2) pontos de equilíbrio do sistema 2-4 em Ω, temos os seguintes resultados:

Teorema 13 O sistema com colheita (2-4) não tem um ponto de equilíbrio em Ω se alguma das seguintes condições for satisfeita:

(a) qK(K) < 0,

(b) qK(K) > 0, q ≥ qK(K) e β > ωr,

(c) qK(K) > 0, q ≥ qK(K), β < ωr e K ≤ ˜K,

(d) qK(K) > 0, q ≥ qK(K), β < ωr, K > ˜K e q> q(K). Prova.Dividiremos a demonstração em alguns passos:

(a) Suponha que qK(K) < 0, então κβK < α, assim N > 0 e M > 0, pois N = q+ (α − κβK) e M = κβ2K+ wr(α − κβK). Portanto, se M > 0 temos

x2− K = M+

∆ −2a > 0,

de onde x2> K e, para N > 0, ∆ − M2= −4κβN < 0, então M −∆ > 0. Obtemos daí que,

x1− K = M

∆ −2a > 0. Logo, E1e E2não pertencem a Ω.

(b) Suponha β > ωr e como M = κβK(β − wr) + wrα, temos que M > 0. Agora, se q> qK(K) então q > κβK − α, logo N > 0. No caso em que q = qK(K), temos que N= 0 de onde x1= K e temos o ponto de equilíbrio E1= (K, 0) o qual não pertence a Ω.

(c) Suponha que q ≥ qK(K), então N > 0 ou N = 0. Agora, se β < ωr e K < ˜K temos que

K< αωr κβ(ωr − β),

de onde M > 0. No caso K = ˜K temos que M = 0. Portanto, temos os seguintes casos:

– se M > 0 e N > 0 então E1e E2não pertencem a Ω,

– se M > 0 e N = 0 então ∆ − M2= 0, de onde x1= K e x2> K, – se M = 0 e N = 0 então E1= E2= (K, 0) não pertencem a Ω, – se M = 0 e N > 0 então ∆ < 0 não temos raízes reais.

(d) Suponha que q ≥ qK(K), então N > 0 ou N = 0.

Agora, uma vez que β < ωr e K > ˜Kentão M < 0 pois M = αωr − κβK(ωr − β). Dada a hipótese q > q(K) temos que

q > (κβkωr + κβ2K− αwr)2

4κβ2Kωr ,

então

4κβ2Kωrq > (κβkωr + κβ2K− αωr)2,

adicionando as expressões αωr − αωr = 0 e κβKωr − κβKωr = 0, obtemos

q > (κβ2K+ αωr − κβkωr + 2ωr(κβK − α))2 > M2+ 4(κβK − α)2ω2r2+ 4(κβK − α)ωrM > M2+ 4(κβK − α)κβ2K.

Assim,

M2− 4κβ2KωrN < 0, de onde ∆ < 0. Portanto não temos raízes reais.

Desta forma, o resultado fica demonstrado. 

Teorema 14 O sistema com colheita (2-4) tem um único ponto de equilíbrio E1em Ω se alguma das seguintes condições for satisfeita:

(a) κβK − α > 0, q < qK(K) e β > ωr, (b) κβK − α > 0, q < qK(K) e β < ωr,

(c) κβK − α > 0, q > qK(K), β < ωr, K > ˜K e q= q(K), (d) κβK − α > 0, q = qK(K), β < ωr e K > ˜K.

Prova. Suponha que κβK − α > 0, então:

(a) Se que q < qK(K) então q < κβK − α de onde N < 0, no caso β > ωr temos que M> 0. Assim, como

x2− K = M+

temos que x2> K, portanto (x2, y2) /∈ Ω. No caso de x1 x1− K = M √ ∆ −2a < 0,

pois ∆ − M2= −4κβN e N < 0, de onde, M −∆ < 0. Logo, (x1, y1) ∈ Ω.

(b) Suponha q < qK(K) então N < 0. No caso β < ωr temos as seguintes possibilidades em M 1. Se αωr < κβK(ωr − β) então M < 0. De onde x1− K = M √ ∆ −2a < 0 e, como N < 0, então M +√ ∆ > 0. Portanto, x2− K = M+ √ ∆ −2a < 0. 2. Se αωr = κβK(ωr − β) então M = 0, de onde x1− K = √ ∆ −2a e x2− K = √ ∆ −2a. 3. Se αωr > κβK(ωr − β) então M > 0. Segue dos itens i, ii, iii que (x1, y1) ∈ Ω.

(c) Suponha que q > qK(K) então N > 0. Agora, se temos que β < ωr e K > ˜K então M< 0 pois M = αωr − κβK(ωr − β). Além disso, se q = q(K) então ∆ = 0. Assim, como N > 0 e ∆ = 0, temos a existência de uma única raiz x com multiplicidade dois, e dado que

x− K = M

−2a e M< 0

temos que x< K. Portanto, (x, y) ∈ Ω.

(d) Suponha que q = qK(K) então N = 0. Agora, se temos que β < ωr e K > ˜K então M < 0. Como N = 0 temos que M −√

∆ = 0, de onde x2 = K, portanto (x2, y2) = (K, 0) /∈ Ω. No caso de x1 x1− K = −M a < 0, pois M < 0. Logo, (x1, y1) ∈ Ω.

Teorema 15 O sistema com colheita (2-4) tem dois pontos de equilíbrio, E1 e E2 em Ω se as seguintes condições são satisfeitas:

(a) κβK − α > 0, (b) β < ωr, (c) K> ˜K,

(d) qK(K) < q < q(K).

Prova. Por hipótese q < q(K), o que implica que ∆ > 0, logo temos a existência de duas raízes reais. Agora, se β < ωr e K > ˜Ktemos que M < 0, logo temos o ponto de equilíbrio E1= (x1, y1) ∈ Ω.

No caso em que q > qK(K) temos que N > 0, então temos o ponto de equilíbrio

E2= (x2, y2) ∈ Ω. 

Exemplo 4 Para os seguintes valores dos parâmetro r = 0.8, κ = 0.7, α = 0.5, β = 0.6, K= 15 e ω = 1, obtemos que q(K) = 5.86114, qK(K) = 5.8 e ˜K= 4.76. Além disso, para q= 5.82 temos que qK(K) < q < q(K). Temos então todas as condições do Teorema 15 satisfeitas:

(a) κβK − α = 5.8 > 0, (b) β = 0.6 < ωr = 0.8, (c) K= 15 > ˜K= 4.76,

(d) qK(K) = 5.8 < q < q(K) = 5.86.

Na Figura 2.3 ilustramos a existência do ponto de equilíbrio trivial E0, que é um ponto de sela, o ponto de equilíbrio de extinção do predador EK, que é um nó estável, e os dois pontos de equilíbrio admissíveis, E1 e E2, que são um foco estável e um sela, respectivamente.

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