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4 ESTADO E NEOLIBERALISMO NO CAPITALISMO:

4.2 EXPANSÃO CAPITALISTA NA PERIFERIA

A idéia de que as economias periféricas estão sendo reintegradas à lógica de funcionamento dos mercados internacionalizados, com o capital financeiro globalizado sendo o responsável maior por esta expansão, pressupõe que essas economias devem se adaptar às novas configurações impostas pelas necessidades concretas do regime de produção.

Isto tem exigido novas regras (institucionais e jurídicas) capazes de dar

sustentação às mudanças exigidas pelo modo de produção capitalista58. Também

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“O Estado, no Brasil, sempre procurou articular seus espaços econômicos e ajustá-los às tendências mais avançadas da economia mu ndial” (OLIVEIRA, 2004, p. 321).

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“A crise mundial do capitalismo atinge seus fundamentos institucionais” (COGGIOLA, 1996, p. 200). Em Manuscritos de Paris, Marx interessado na questão da alienação do trabalho e de sua superação, preocupa-se com a economia política, justamente pela possibilidade de estarem, na base produtiva, as condições objetivas da transcendência da alienação. A superação dos estágios de alienação do trabalho, na sociedade burguesa, suprimiria seus símbolos que ascendem da base à superestrutura. Assim, numa outra sociedade, não-burguesa, as manifestações simbólicas,

tem promovido mudanças estruturais e importantes naqueles espaços marcados pelas relações sociais de produção que caminham na direção de estratégias e programas que levam à flexibilização, terceirização produtiva, liberalização e desregulamentação da ordem econômica e social e das próprias organizações que ainda estão sob a experiência do regime fordista. Por outro lado, esta reintegração imposta pela ampliação dos mercados financeiros mundiais tem sido compatível com o fortalecimento e a expansão do capital monopolista e com a bancarrota do que restou de formalismo democrático, depois da Segunda Guerra Mundial.59

Portanto, estamos diante de mais um período de forte expansão no contexto da evolução da história moderna que confirma as previsões de Marx e Engels de que o capitalismo tem a vocação de transpor os limites fronteiriços, no

sentido de integrar outros territórios ou subordinar espaços onde o modo de

produção ainda não é predominante. A reintegração às correntes internacionais de acumulação de capital tem imposto conseqüências graves às sociedades latino- americanas. Foi na Argentina, Brasil e Chile, por exemplo, que as reformas mais se aprofundaram e que o Estado tem sido redefinido pelos interesses corporativos.60

Assim, as funções do Estado estão sendo redefinidas; abriram-se novas fronteiras de exploração econômica e financeira em atividades produtivas e comerciais onde o setor público atuava. No caso brasileiro, as novas exigências e possibilidades abertas, determinadas pela internacionalização do capital financeiro, vinham, paulatinamente, ocorrendo desde 1980. A partir deste período, a ideologia da crise fiscal passou a legitimar e dar sustentação aos processos de reformas das estruturas estatais e à constituição de novas funções para o setor público.

A internacionalização, como expressão concreta do avanço das forças produtivas, transfere seus mecanismos de inovação para o âmbito das estruturas estatais e alguns conceitos e categorias que vinham sendo adotados na esfera das atividades econômicas privadas, passaram a ganhar espaço no setor público, tais como flexibilização, reengenharia, terceirização, qualidade total etc.

ideológicas e institucionais como religião, Estado, direito, moral, ciência, arte etc., como formas particulares da produção e que obedecem a sua lei geral, sucumbiriam. (MA RX, 2004, p.106).

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“É importante ressaltar que os esboços de formas novas de organização do processo decisório não estão dissociados do paulatino desmoronamento dos regimes de Welfare, tanto nos países europeus como em outros onde conseguiu ser implantado” (OLIVEIRA, 2004, p. 231-232). Cf. Plihon (1998, pp. 97-139) e Navarro (1997).

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“O neocorporativismo desponta como mecanismo que busca preservar os espaços de negociação nos processos decisórios, num momento, ressalte-se, de crise de autoridade legítima – ou do Estado – e da própria dinâmica da acumulação” (OLIVEIRA, 2004, p. 236).

As políticas neoliberais, difundidas na América Latina sob os “mandamentos” do Consenso de Washington, constituíram, claramente, uma tentativa de descarregar a crise do capitalismo no próprio Estado e em sua estrutura herdada do período desenvolvimentista. As privatizações, a destruição de serviços públicos essenciais, o fechamento de empresas devido à abertura econômica, o aumento do desemprego em nome da estabilidade monetária etc., não foram somente movimentos influenciados pela ideologia neoliberal em si (COGGIOLA, 1996, p. 196). Foram determinados, em última instância, por uma situação mais sistêmica: a própria crise do capital e a sua imperiosa necessidade de remover antigas estruturas e regras institucionais na busca de expandir suas atividades econômicas para onde as perspectivas de lucros sejam favoráveis.

Esse processo destrói o próprio potencial produtivo construído pelo capital, em momentos anteriores, e torna evidente o conflito entre o desenvolvimento das forças produtivas sociais e as relações de produção vigentes. Entretanto, o potencial produtivo herdado do nacional-desenvolvimentismo vem sendo desmontado, paulatinamente, no Brasil, com o auxílio do poder de persuasão ideológica das teses da ortodoxia econômica, na defesa de reformas pró-mercados e de novas configurações do Estado adequadas ao estágio do capitalismo contemporâneo.

A lógica subjacente nas argumentações dos defensores da tese da crise fiscal é a de instituir novas modalidades de funcionamento do Estado através de reformas estruturais em torno de temas prioritários como privatizações, redução dos gastos públicos, diminuição da carga tributária e, principalmente, o equilíbrio fiscal. Então, buscam-se novas atribuições para o Estado, na esfera da regulação econômica. Por outro lado, este novo Estado teria que ser capaz de promover a integração da economia nacional aos mercados financeiros internacionais, integração esta condicionada ao processo de abertura econômica (comercial e financeira61) e, conseqüentemente, à adoção de políticas de estabilização monetária. Abertura econômica, reforma do Estado e privatizações, portanto, formaram os

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Para o caso brasileiro, a abertura e a desregulamentação financeira significam, na prática, entre outras coisas: liberdade para os fluxos de capitais (aprofundada, recenteme nte, com a Reforma Cambial de 4 de março de 2005 e a portaria 3265 do Conselho Monetário Nacional); isenção de pagamento da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira CPMF, antes cobradanas movimentações financeiras nas Bolsas de Valores (Lei n.º 10.833/2003); isenção de impostos nas remessas de lucros ao exterior e nos lucros distribuídos entre os sócios; dedução dos juros sobre o capital próprio; liberalização das contas CC-5 (Carta Circular Banco Central 2259/92).

pilares básicos de sustentação das políticas neoliberais na América Latina e no Brasil.

Como ainda será abordado, este modelo econômico trouxe desequilíbrios

nas contas internacionais do país e, por conseqüência, deteriorou as finanças

públicas. Os desequilíbrios orçamentários e o resultante endividamento público passaram a representar mais uma fronteira, se não a principal, de expansão da acumulação de capital62. O Estado, por sua vez, como credor e operador em última instância dos mercados financeiros e de capital, se tornou vital para a segurança sistêmica da acumulação financeira. (SANTOS, 1998; HARVEY, 2005).