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3 TURBOCAPITALISMO FINANCEIRIZADO

3.5 ACUMULAÇÃO FINANCEIRA NA AMÉRICA LATINA

3.5.1 NEOLIBERALISMO NA AMÉRICA LATINA: BREVE

Na América Latina, as experiências neoliberais foram, inicialmente, aplicadas, em termos de políticas e reformas econômicas, no Chile (1973), Uruguai (1974) e Argentina (1976). No Chile, o governo golpista, liderado por Augusto Pinochet, conseguiu, sob uma ditadura violentíssima, fazer do país um laboratório de trabalho para absorver os policy-makers norte-americanos, liderados pelo Nobel de economia e neoliberal convicto, Milton Friedman. Reproduzindo a cartilha filosófica de Hayek, Friedman tornou-se um dos principais conselheiros de uma das mais sanguinárias ditaduras de que se tem conhecimento na segunda metade do século XX.

O modelo neoliberal adotado na América Latina, sobretudo duas décadas após a experiência chilena, tem suas especificidades, diante do contexto histórico do capitalismo e das transformações sociais engendradas pelo avanço das novas tecnologias.

As correntes neoliberais partiam do pressuposto de que, se os países da periferia realizassem uma liberalização financeira de seus respectivos mercados, aumentando o grau de exposição às finanças internacionais, isto proporcionaria melhores condições de financiamento para a modernização da capacidade produtiva. Possibilitaria, então, a estes países, melhores condições de competitividade naquelessetores voltados para o comércio exterior.

Essa estratégia de crescimento induzida para o comércio internacional resultaria, em seguida, em uma posição mais favorável desses países para enfrentar os desequilíbrios de seus respectivos balanços de pagamento e uma inserção mais “confortável” na economia globalizada. Os ganhos de competitividade fariam crescer a capacidade exportadora e, com isso, os superávits comerciais aumentariam os estoques de divisas, os quais poderiam ser utilizados para realizar os reembolsos dos encargos das dívidas contraídas no período anterior, no momento da liberalização financeira e do ingresso de capitais estrangeiros. Em toda a América Latina, essa estratégia vinha sendo reforçada, desde o final da década de 1980.

É por este período que o Brasil, por exemplo, já reunia as condições políticas favoráveis para colocar em prática suas primeiras experiências no campo

da ortodoxia econômica. Todavia, parece evidente que as condições não estavam amadurecidas a tal ponto. Essa questão, qual seja, o país ingressar na era neoliberal, concretamente, quando um bloco de poder hegemônico, representando os interesses do grande capital internacionalizado e os mercados financeiros, se consolida no poder, só vai ser definida mesmo, no início da década de 1990.

De qualquer maneira, os governos Sarney (1985/1990) e Collor de Melo (1990/1992) já representavam a premonição de qual iria ser a escolha futura das elites subservientes brasileiras. A eleição do Presidente Fernando Collor de Melo é mais sintomática neste sentido, por representar o início de uma mudança naquela direção. Todavia seu impeachment demonstrou que ainda não se consolidara um poder, genuinamente, neoliberal no país.34

Será, definitivamente, com as eleições de 1994 que o quadro político se desenhará com todas as tintas, com a ascensão ao poder de um bloco político hegemônico que conduzirá os destinos do país, com uma plataforma política alinhada aos interesses do grande capital internacional.

Por sua vez, no sistema financeiro internacional, as condições eram favoráveis para que o Brasil se inserisse, de vez, no grupo daqueles países que já vinham adotando políticas neoliberais. Para todos os países da América Latina, novamente, o acesso aos mercados de capitais financeiros internacionais estava livre. Com isso, os países da região poderiam se financiar e promover políticas de modernização produtiva com o objetivo de se tornarem mais atrativos aos investidores internacionais e competitivos na economia internacional35. Por outro

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De qualquer maneira, as equipes econômicas lideradas pelos Ministros da Fazenda, Luiz Carlos Bresser-Pereira (1987) e Maílson da Nóbrega (1987), já apontavam para uma guinada neoliberal, a partir das propostas de política e reformas econômicas. É por essa época que a ortodoxia econômica, através dos economistas da PUC-Rio (templo do liberalismo econômico no país), intensifica a produção dos trabalhos nas áreas de reforma monetária e liberalização financeira os quais serviram, também, de base para as estratégias do Plano Real, em 1994.

Ver, por exemplo, os ensaios organizados por Arida. (ARIDA ET AL., 1986).

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Como afirmava o então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso: “Os países (ou parte deles) incapazes de repetir a revolução do mundo contemporâneo e, ao mesmo tempo, encontrar um nicho no mercado internacional, terminarão no pior mundo possível. Não valerão ao menos o trabalho de serem explorados; tornar-se-ão irrelevantes, sem qualquer interesse para a economia global em desenvolvimento” (CARDOSO, 1996). Esta colocação é inoportuna porque o ex-presidente tenta desviar a atenção para a questão da exclusão, deixando de lado, perspicazmente, o problema da exploração. Ora, a abertura econômica permitiu aumentar o grau de exploração da força de trabalho, concomitantemente à expulsão de massas de indivíduos do emprego formal. Atualmente, observa-se, trabalhadores muito mais oprimidos por salários baixos e mais trabalho, enquanto os excluídos, que não são integrados na exploração capitalista, diretamente, servem, involuntariamente, para aumentar o grau de controle do capital sobre a força de trabalho empregada.

lado, a estratégia, também, contava com a subordinação da economia doméstica aos objetivos estreitos da estabilização monetária e do combate ao processo inflacionário, no intuito de estabelecer as condições necessárias à atração de investimentos estrangeiros. Os neoliberais parecem ter ressuscitado o “Tratado de Methuen”36 dando-lhe conotação de modernidade!

Oliveira (1998, p. 14) aponta que o consenso político instalado no Brasil, com o plano econômico de estabilização monetária, alinhou os interesses comuns das elites do país. Para ele, a estabilidade monetária foi responsável pela construção de um amplo consenso entre dominantes e dominados. Seria esse consenso que teria soldado as bases materiais da ampliação da dominação de classe das antigas clivagens burguesas setoriais e regionais do país.