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OLINDA: entre o direito e a formação para a cidadania participativa.

Na análise da materialização da política educacional de Olinda, procurou-se verificar como a experiência se efetivou, com base nas seguintes categorias: participação, criança e formação cidadã. Para a identificação dos reflexos e das implicações político pedagógicas do Programa Participação Criança, partiu-se de uma amostra de escolas que, conforme anunciamos anteriormente, foram selecionadas pelos critérios de: aceitação em participar da pesquisa; terem suas propostas pedagógicas engajadas com a gestão democratizante; terem aderido espontaneamente ao Programa; e terem seu trabalho educativo referendado pelo conjunto que integra a comunidade escolar e o seu entorno, ou seja, foram escolas que demonstraram ter uma certa experiência em construção coletiva e legitimidade junto aos atores sociais internos e externos.

Assim, a escolha de escolas se deu por uma consulta inicial aos gestores da SEDO e ao conjunto dos diretores das escolas (através de um questionário realizado em momento de reunião de gestores), nos quais foram considerados os seguintes critérios: adesão ao Programa Participação Criança, desde o início de sua instituição; ter um Conselho Escolar atuante; ter concretizado a eleição direta para diretores; ter uma boa articulação com as famílias e a comunidade local; ter vivências bem sucedidas de participação das crianças no cotidiano escolar e para além dele.

Ao final dessa sondagem, pelo menos seis escolas atendiam a todos os pré- requisitos, pois tanto tinham sido indicadas pela SEDO, quanto se autodeclararam estar em conformidade com os critérios propostos. Destas seis, três foram selecionadas para caracterizar uma amostragem de, aproximadamente, 10% das 34 escolas daquela Rede que, no período (2005/2008), aderiram voluntariamente ao Programa Participação Criança (no universo de 44 escolas municipais existentes), por se considerar o que

tinham de singular e o que tinham em comum em relação à participação da criança. No que se refere à especificidade de cada uma, considerou-se a localização em seus diferentes territórios de atuação, assim como o perfil dos gestores que imprimem, com sua forma de atuar e conduzir, uma feição única ao projeto político pedagógico de cada escola.

As escolas se destacaram na motivação coletiva, no envolvimento da comunidade escolar e no trabalho cotidiano de inclusão da criança como um aprendiz iniciante do processo de formação cidadã. Estas consideraram que a vivência do Programa foi positiva e trouxe aprendizados significativos para o conjunto da escola e, também, por terem os Projetos Político Pedagógicos referendados por suas comunidades.

Assim, a amostra, apesar de pequena, configura-se em uma análise mais ampla do diverso e do próximo das iniciativas de participação das crianças, no âmbito da Rede Municipal de Educação de Olinda. Interessa-nos analisar as experiências exitosas e não as que não deram certo, porque a perspectiva deste estudo é potencializar/valorizar as iniciativas promissoras, principalmente por se tratar da Rede Pública de Ensino, a qual, tradicionalmente, já carrega o estigma do fracasso. Além disso, há uma cultura instalada que, inclusive entre as pesquisas e investigações de muitos trabalhos acadêmicos, evidenciam mais os seus limites do que as suas possibilidades, os seus esforços de superação e os seus êxitos.

A perspectiva é a de poder revelar uma face do cotidiano escolar, que por não ser hegemônica e apresentar-se com certa timidez, pouco aparece, raramente é mostrada e, muitas vezes, acaba sucumbindo em suas tentativas por falta do reconhecimento e por não ter a visibilidade político-pedagógica que valoriza e impulsiona a motivação para se continuar fazendo.

É, portanto, uma opção político-ideológica que aposta no poder multiplicador das práticas comprometidas dos educadores que, mesmo sendo minoria, não desistiram; ao contrário, resistiram às adversidades e souberam em seu “garimpo diário” descobrir “diamantes”, onde a maioria só enxerga “pedras e lama”.

5.1 – As escolas e suas singularidades

Neste item, faremos uma caracterização das três escolas em seus diferentes contextos, por meio de especificidades mais significativas dos seus projetos político- pedagógicos, tais como: um breve histórico, com suas especificidades; o perfil das gestoras em sua forma de conduzir a gestão; e os aspectos mais significativos observados em cada uma.

ESCOLA A

Histórico da escola

Um primeiro diferencial da Escola A é que ela pertence a um bairro de classe média (Bairro Novo), distinto dos bairros de origem das suas crianças, que moram nas comunidades populares circunvizinhas. Funciona desde 1947 e, atualmente, é composta por uma escola base e quatro anexos. A equipe técnica é constituída pela diretora, 01 coordenadora administrativa, 01 secretária, 03 coordenadoras pedagógicas, 21 professores e 36 funcionários, no atendimento de crianças (Educação Infantil e Ensino Fundamental), além de 03 turmas de jovens e adultos, à noite, perfazendo um total de 38 turmas e 700 alunos, incluindo a escola base e os anexos.

Perfil da diretora

Na Escola A, o desempenho da diretora se destaca pela liderança, capacidade de convencimento e muito entusiasmo para o “fazer acontecer” da instituição. Demonstra ser a grande mobilizadora das inovações da escola, inclusive, ela própria assumiu a coordenação do Programa Participação Criança e teve presença efetiva nas reuniões de formação dos educadores responsáveis pela implementação cotidiana do Programa, constituindo-se a grande indutora dos processos participativos da criança, no espaço da escola.

Seu perfil apaixonado, no qual a dimensão da vida se mistura à dimensão do trabalho, tem contribuído para que a escola participe de vários projetos inovadores, de premiações, de publicações de matérias em jornais e revistas, entre outros, possibilitando-lhe uma inserção cidadã e mais autônoma da escola, no seio da comunidade local, com vistas à visibilidade sociocultural para além dos muros da

escola.

Essa liderança vanguardista da diretora tem sido uma referência para os demais segmentos, inclusive no fortalecimento dos vínculos identitários e de confiança recíproca, conforme as falas que se seguem:

“A primeira coisa é a dinâmica da diretora. Ela gosta muito de participar, de envolver a escola em todos os projetos importantes. E com a sua empolgação ela cativa o professor e contagia todo o resto da escola. O incentivo da diretora é fundamental. Sem o entusiasmo da nossa, talvez aqui não tivéssemos os programas Participação Criança, Mais Educação, Saúde na Escola... e tantos outros” (P-A).

“Acho importante o diretor se interessar pela escola. Eu gosto muito do trabalho da menina aqui (a diretora). Parece até que é mãe das crianças. Quando eles estão no colégio, eu não me preocupo” (Fm/Cm-A).

Essa postura também traduz, de alguma forma certa diretividade, uma liderança que se impõe no cotidiano escolar e, ao mesmo tempo, em que motiva a comunidade, também possibilita a reflexão que o esforço educativo não pode ser feito apenas pela diretora, pois todos são sujeitos sociais componentes da instituição escolar e, portanto, precisam se reconhecer artífices do seu fazer educativo.

Assim, a construção da gestão democrática não pode ser efetivada sem um esforço grande por parte da direção escolar e por parte da administração municipal. Mas o que vai assegurar a sua consolidação é a promoção do envolvimento/ comprometimento da comunidade escolar, por meio de um contexto que permita a livre expressão dos educadores, dos educandos e dos membros da comunidade local, em espaços crescentes de convivência e autoria coletiva.

Aspectos significativos

Entre os principais objetivos presentes no Projeto Político Pedagógico da escola, encontra-se o preparo do educando para o exercício da cidadania. Assim como, na missão pode se ler: Temos como função social, formar cidadãos, através da construção do conhecimento, atitudes e valores que tornem o aluno(a) solidário(a), crítico(a), reflexivo(a), ético(a) e participativo(a).

Entre os itens que se referem aos objetivos específicos e ações a serem realizadas, a comunidade escolar, com destaque, propõe refletir criticamente sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente para favorecer o exercício do respeito e a conquista efetiva de seus direitos e deveres (propondo para tal, parceria com o Conselho Tutelar).

O foco do projeto interdisciplinar de cidadania “Resgatando a