• Nenhum resultado encontrado

2. EDUCAÇÃO INTEGRAL NO BRASIL

2.6. E XPERIÊNCIAS DE E NSINO I NTEGRAL NO B RASIL

2.6.1. Experiência de São Paulo – Cidade Escola Aprendiz

A experiência da Cidade escola aprendiz teve início em 1997, a partir de um projeto experimental realizado pelo jornalista Gilberto Dimenstein no laboratório de informática do conceituado Colégio Bandeirantes. Em 1998, a Cidade escola aprendiz ganhou endereço próprio ao instalar-se em uma antiga oficina de cerâmica localizada na Rua Belmiro Braga, no coração da Vila Madalena, “em frente a um beco e uma praça abandonada, construídos sobre um córrego canalizado, cheio de lixo e vítima fácil de enchentes” (ASSOCIAÇÃO CIDADE ESCOLA APRENDIZ, 2007, p. 7). Por muito tempo o poder público teve pouca presença nesta experiência, mas devido à continuidade do projeto os órgãos públicos começaram a apoiar as iniciativas da educação integral. Assim como defende a diretora geral da Cidade

escola aprendiz, Natacha Costa (2007):

Não há organização não governamental, não há escola que consiga viabilizar esse processo sem que o poder público dê suporte, coloque suas secretarias para olhar, para dar apoio e entenda de fato que tem que haver uma gestão intersetorial, um diálogo da educação com a saúde, com a assistência social, enfim, entre todos (ASSOCIAÇÃO CIDADE ESCOLA APRENDIZ, 2007, p. 36).

Um dos primeiros desafios assumidos pela Cidade escola aprendiz foi recuperar os espaços deteriorados, ruas e praças da Vila Madalena com a ajuda da comunidade. Devido à inclusão da comunidade no projeto, diversos artistas locais se envolveram e muitos espaços comerciais passaram a abrir suas portas para a comunidade, transformando-se, assim, em verdadeiras salas de aula (ASSOCIAÇÃO CIDADE ESCOLA APRENDIZ, 2007, p. 9). Ao longo dos anos, os educadores e as próprias crianças e jovens foram expandindo suas ações pelo bairro e construíram trilhas educativas. Essas trilhas educativas são percursos pelos quais o processo pedagógico se estende, ou seja, extrapolam a sala de aula e os limites físicos da escola. Desta forma, as aulas passaram a acontecer nos mais diferentes lugares: alguns mais convencionais como uma oficina de invenção de brinquedos, escolas de circo e de teatro, e outros pouco convencionais como bufês, ateliês de artesãos, estúdios e restaurantes. Por exemplo, a Locadora 2001 é um dos parceiros que oferece a possibilidade de atividades

planejadas a partir da exibição de filmes de seu acervo e a loja C&A oferece programa de estágio e contratação efetiva para jovens da Cidade escola aprendiz (ASSOCIAÇÃO CIDADE ESCOLA APRENDIZ, 2007). Além disso, também foram feitos acordos com médicos e terapeutas que passaram a acompanhar o desempenho das crianças (ASSOCIAÇÃO CIDADE ESCOLA APRENDIZ, 2007).

Na Cidade escola aprendiz as crianças e jovens desenvolvem atividades regulares nas áreas de arte, música, comunicação e esporte no contraturno escolar. Dentre os projetos que eles participam estão os seguintes: 100 Muros, Escola na praça, Trilhas urbanas, OldNet,

Agência de comunicação comunitária, Jovens comunicadores, Cores da vida, Galeria de arte a céu aberto, Projeto vitrine e arte com saúde. Esses projetos evoluíram ao longo dos últimos

treze anos na Vila Madalena, sendo que alguns também estão em andamento em outras cidades do Brasil. Para a escolha e participação em algum destes projetos às crianças e os jovens passam pelo seguinte procedimento:

Depois de passar por uma série de experiências socioculturais, eles escolhem entre as ferramentas de comunicação e arte, como rádio, vídeo, música, teatro, fanzine. Cada grupo desenvolve um projeto que dialogue com a cidade e, a partir daí, vão atrás de parcerias sob orientação do Aprendiz (ASSOCIAÇÃO CIDADE ESCOLA APRENDIZ, 2007, p. 35).

As partes envolvidas para a efetivação do projeto da Cidade escola aprendiz são as seguintes: A equipe aprendiz que ajuda a construir os objetivos gerais da organização, colabora entre si e com as redes de comunicação internas e externas; As crianças, os

adolescentes e os jovens que definem seus projetos e iniciativas dentro da organização; As famílias e comunidade que apoiam as crianças e os jovens e também são beneficiárias do

próprio sistema; Os parceiros que dão apoio no sentido de doação de bens, serviços e realizam financiamentos; Os fornecedores que mantêm o funcionamento da organização e de suas operações diárias; e por fim, O Governo, como já foi mencionado anteriormente na fala da diretora geral da Cidade escola aprendiz, Natacha Costa, que é fundamental para a efetivação e funcionamento do projeto de educação integral em tempo integral.

A partir dessa experiência em São Paulo houve o desenvolvimento do conceito de bairro escola que consiste em um modelo de gestão de potencialidades educativas pelo qual transforma toda a comunidade em extensão da escola traçando, assim, o processo de ensino- aprendizado à vida cotidiana. Natacha Costa assevera que: “O bairro-escola quebra

paradigmas e traz a referência de que a educação não é responsabilidade única da escola e sim de uma comunidade inteira” (ASSOCIAÇÃO CIDADE ESCOLA APRENDIZ, 2007, p. 36). Em outras palavras, o bairro escola também não é um modelo fechado, localista e desvinculado de políticas públicas nacionais, mas uma proposta de política educativa que trabalha fundamentalmente a partir das condições econômicas, políticas, culturais e territoriais de cada lugar e as potencializa. (ASSOCIAÇÃO CIDADE ESCOLA APRENDIZ, 2009, p. 07).

Após implantar o conceito de bairro escola, a Cidade escola aprendiz começou a compartilhar a experiência com outras comunidades e uma das primeiras iniciativas foi capacitar educadores comunitários que pudessem mobilizar parcerias e construir trilhas

educativas através de articulação com o poder público, com instituições privadas e com a

comunidade. Isto se concretizou com o curso de especialização em educação comunitária realizado em parceria com algumas universidades do país. Dentre os municípios que incorporaram esta concepção de bairro escola no modelo de educação, pode-se citar os seguintes: Bairro escola de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro e Escola integrada de Belo Horizonte, que serão detalhados nos próximos tópicos (“2.6.2” e “2.6.3”).

O relatório de 2009, desenvolvido pela Associação Cidade escola aprendiz, reuniu alguns dos principais resultados alcançados durante os doze anos desta experiência em São Paulo: A United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization e The United

Nations Children´s Fund (UNESCO/UNICEF) reconheceram o bairro escola como modelo de

educação a ser replicado mundialmente (2004); A experiência do bairro escola obteve onze menções e prêmios dados por organizações como: UNICEF, MEC, MINC, Prefeitura Municipal de São Paulo, Banco do Brasil e Deustich Bank; O programa Mais Educação do MEC, cuja elaboração o aprendiz participou ativamente no ano de 2009, disseminou o modelo de bairro escola em 5.000 escolas de todo o país e prevê ampliação para outras 5.000 escolas nos próximos anos; Mais de trezentos muros foram trabalhados (pintados artisticamente) a partir de usinas comunitárias de arte envolvendo 20.000 pessoas diariamente; O educador comunitário (profissional responsável pela gestão de redes locais) tornou-se cargo público municipal a partir da promulgação da Lei Nº 14.093 de 29 de Novembro de 2005; O Núcleo de pesquisa-ação comunitária formou mais de 10.500 educadores comunitários em dezenove cidades brasileiras, influenciando iniciativas comunitárias e políticas públicas como o

programa escola integrada de Belo Horizonte, o programa bairro escola de Nova Iguaçu, entre outros; Documentos produzidos pela professora Rosabeth Kanter da Harvard Business

School em parceria com Stanley Litow, considera o bairro escola como um modelo de

tecnologia para o desenvolvimento local na construção das chamadas Smarter Cities (cidades mais inteligentes). Esse documento foi entregue ao presidente Barack Obama em reunião com líderes para discussão de soluções para as cidades americanas; entre outros resultados (ASSOCIAÇÃO CIDADE ESCOLA APRENDIZ, 2009).