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3. ENSINO DAS ARTES NO BRASIL E ABORDAGEM TRIANGULAR

3.2. ABORDAGEM TRIANGULAR

3.2.2. Experiências de utilização da abordagem triangular

Neste tópico serão mencionados dois exemplos de experiências atuais e bem sucedidas da utilização da abordagem triangular e das ações básicas que a compõe no contexto brasileiro. Essas experiências exemplificam melhor a utilização da abordagem no ensino das artes e também servirão como suporte para os relatos das práticas artístico-pedagógicas do professor de Artes Cênicas e do professor Pedagogo.

3.2.2.1. Experiência – Encontro Internacional Boca do Céu de contadores de histórias narrativas e narradores

O Encontro Internacional Boca do Céu de contadores de histórias narrativas e narradores representa uma experiência da utilização da abordagem triangular, cujo público alvo para o qual destina esse encontro são pessoas que: “[...] trabalham com histórias na realidade escolar, mediações culturais, ações terapêuticas, entre outros campos de ação” (MACHADO, 2010, p. 75).

O relato desse encontro internacional foi realizado pela professora Regina Stela Machado e consta no artigo Sobre mapas e bússolas: apontamentos a respeito da Abordagem

Triangular (2010). Segundo Machado (2010), “Desde o início, a concepção do Boca do Céu

inspirou-se na Abordagem Triangular” (MACHADO, 2010, p. 74). No artigo mencionado é exposto o texto de apresentação do encontro ocorrido em 2010, na Oficina Cultural Oswald de Andrade da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Vale ressaltar que esse encontro teve a primeira edição em 2001, no Sesc Vila Mariana em São Paulo, e em 2006 e 2008 no Sesc Pinheiro e Pompéia.

Diante disso, algumas referências do texto de apresentação do encontro serão expostas para exemplificar melhor a utilização da abordagem triangular:

No Encontro Boca do Céu existem, portanto, três tipos de atividades ligadas aos eixos de aprendizagem da Arte Narrativa: 1. Narração de contos para adultos e crianças, que são atividades de LEITURA e APRECIAÇÃO de contos: APRENDER A ESCUTAR. O nome metáfora para este conjunto de atividades é: O TESOURO; 2. Oficinas. Atividades de produção. Aprender a fazer. O CAMINHO DO TESOURO; 3. Palestras, debates e relatos de experiência. Atividade de reflexão

e compreensão dos fundamentos e contextos da Arte Narrativa. Aprender a pesquisar. O MAPA DO TESOURO (MACHADO, 2010, p. 74).

Em relação à ação básica da abordagem triangular LER, no Encontro Internacional

Boca do Céu foram realizadas algumas atividades, tais como: narração de contos por

convidados estrangeiros e brasileiros (vindos de vários estados), rodas de contadores de história e salas temáticas com inscrição prévia aberta a profissionais e não profissionais. Machado (2010) expôs que:

A ideia de criar esse espaço informal foi planejada a partir do conhecimento de um dos vértices do triângulo-leitura/escuta, relacionada a outras situações dentro do eixo: há narrações temáticas, há narrações de contadores profissionais para crianças, famílias ou escolas (MACHADO, 2010, p. 76).

A ação básica FAZER foi desenvolvida nas oficinas prático-teóricas que ofereceram exercícios ligados à atividade corporal, musical, vocal e à pesquisa de repertório.

[...] os participantes exercitam a arte de contar histórias orientados por profissionais experientes cujas propostas focalizam diferentes conteúdos, habilidades e procedimentos ligados a aprendizagem dessa substância artística (MACHADO, 2010, p. 76).

Por fim, a ação básica CONTEXTUALIZAR foi explorada nas palestras, debates, pesquisas de narração e relatos de experiências: “O eixo da contextualização organiza ações em torno da pergunta: De quantas maneiras se pode refletir sobre a Arte de Contar

Histórias?” (MACHADO, 2010, p. 76).

Machado (2010) afirma que cada participante teve a possibilidade de criar o seu próprio percurso a partir das atividades programadas durante o encontro internacional, assim o encontro favoreceu aos participantes:

[...] a experiência de percorrer - criticando, escutando em silêncio, observando as diferentes ações, encontrando pessoas, passando por desafios perceptivos, reflexivos e afetivos, num bombardeio constante de distintas pulsações que imprime a marca de cada pessoa no aproveitamento único e particular do que o Boca do Céu lhe oferece (MACHADO, 2010, p. 77).

Machado (2010) assevera que:

O encontro não ensina, não explica, não dá receitas de como contar histórias, não fornece “apostilas” do que deve ser feito. Também não tem uma “linha” que deve ser seguida, nem uma “visão” ou “cartilha” política, “palavras de ordem”, “jargões”

ou listas de conteúdos e procedimentos. Também não visa a “resultados” a serem atingidos (MACHADO, 2010, p. 77).

Após a breve exposição dessa experiência, pode-se observar que o Encontro

Internacional Boca do Céu de contadores de histórias narrativas e narradores consiste em uma

proposta viável e aplicável a qualquer situação de ensino e aprendizagem de arte, pois propicia aos participantes a vivência de situações que permitem: inventar, investigar, pesquisar, formular perguntas, interagir, dialogar, resignificar, produzir, refletir, entre outras. Para Machado (2010):

Não basta compreender que é possível aprender arte por meio de três eixos de ações. É preciso aprender a investigar, primeiro dentro de si mesmo, um desejo e um propósito para percorrer os espaços desses três eixos (MACHADO, 2010, p. 78).

É importante mencionar que os participantes do encontro internacional Boca do Céu também fazem relatos e histórias das experiências vivenciadas no encontro. Esses relatos são organizados em coleções que: “atestam a fecundidade de concepção do encontro” (MACHADO, 2010, p. 77). Assim, pode-se inferir que, a partir do artigo, o Encontro

Internacional Boca do Céu de contadores de histórias narrativas e narradores representa um

interessante exemplo de aplicação da abordagem triangular, pois proporciona aos participantes a vivência das três ações básicas da abordagem e também consiste em um bom exemplo a ser recriado, reproduzido e desenvolvido em outros contextos escolares ou extra- escolares.

3.2.2.2. Experiência – Escola Pública Conselheiro Samuel Mac Dowel no grande Recife

O professor Luiz Paulo Ferreira do Amaral, da escola pública Conselheiro Samuel Mac Dowel no município de Camaragibe no grande Recife, realizou um trabalho artístico com os seus alunos e foi considerado por Azevedo (2010) como: “[...] um trabalho extremamente digno de Arte/Educação” (AZEVEDO, 2010, p. 95). Luiz Paulo, a partir da utilização da abordagem triangular, proporcionou aos alunos um trabalho artístico que levava em consideração: “[...] as visões de mundo, atuações profissionais e histórias de vida dos estudantes sem perder de vista o papel emancipatório – crítico e pós-crítico – da Arte/Educação” (AZEVEDO, 2010, p. 95).

Para melhor exemplificar essa experiência, algumas atividades que a compõe serão sintetizadas em relação à ordem dos acontecimentos: 1. Contextualização e leitura – Levantamento das concepções dos alunos sobre a arte; 2. Contextualização e leitura – Obra de Frederico Morais Arte é o que eu e você chamamos de Arte (1998). Nessa segunda etapa, “[...] o arte/educador escutou e discutiu sobre cada formulação, valorizando o pensar de cada estudante sem estabelecer modelo de certo e errado” (AZEVEDO, 2010, p. 96); 3. Contextualização e leitura – Introdução do livro O que é Arte de Jorge Coli (1984); 4. Leitura e contextualização das obras – Davi de Michelângelo, Monalisa de Leonardo da Vinci, A

fonte de Marcel Duchamp, a Nona Sinfonia de Beethoven, A divina comédia de Dante

Alighieri, Guernica de Pablo Picasso, uma história em quadrinhos de Stan Lee e uma colher de pau da vovó; Por fim, 5. Produção (fazer artístico) – A partir da obra Davi de Michelângelo (reprodução xerocada). Nesta última etapa, na produção artística era: “[...] para ser trabalhada com materiais muito simples: lápis de cor e de cera, linhas de lã, retalhos de tecido e caneta esferográfica” (AZEVEDO, 2010, p. 96). Seguem, logo abaixo na Ilustração 6, exemplos de produções artísticas dos alunos do professor Luiz Paulo a partir da obra Davi de Michelângelo – Ilustração 5 :

ILUSTRAÇÃO 5 Davi. Heliogravura original sobre papel Helio Rex. Anônima (1930) Fonte: Disponível em: http://www .french-engravings.com/images/art works/ART-10227/HQ.jpg. Acesso em: 06 ago. 2011

ILUSTRAÇÃO 6 – Reinterpretação da obra Davi de Michelângelo

Azevedo (2010), no seu artigo, relata que o estudo realizado pelos estudantes sobre a obra Davi de Michelângelo corresponde a uma produção artística “sofisticadamente” simples, porém muito criativa:

[...] trabalho desenvolvido por Luiz Paulo, estas – apropriações – interpretações reinventadas do Davi, nos quais se pode perceber a riqueza dos cenários em que o personagem é colocado, as roupas, enfim, a construção reelaborada pelos estudantes (AZEVEDO, 2010, p. 97).

Esse trabalho proporcionou aos estudantes um espaço favorável para o diálogo, pois segundo Azevedo (2010): “Esses jovens tiveram a oportunidade de dizer suas histórias de vida, seus desafios, seus sonhos, suas singularidades e muito provavelmente, hoje, atuam na vida como sujeitos de direito que possuem subjetividade e alteridade” (AZEVEDO, 2010, p. 97-98). Isso porque Luiz Paulo permitiu que os alunos reinterpretassem a obra Davi de Michelângelo e reinventassem a partir da imagem, criando assim novos personagens em cenários diversificados. Vale ressaltar que Luiz Paulo no decorrer do processo de criação sempre levou em consideração: as leituras que os alunos têm de mundo e da obra; dos contextos que eles vivenciam e o do contexto da própria obra e das habilidades deles para a efetivação de uma ideia a partir das distintas maneiras de se realizar uma produção artística.

Após esta breve exposição sobre a educação integral em tempo integral no Brasil, o ensino das artes no Brasil a partir da década de 70, a abordagem triangular com as três ações básicas que a compõe e alguns exemplos de experiências bem sucedidas de ensino integral em tempo integral e da abordagem triangular no Brasil, terá início agora o processo de investigação a partir dos relatos das práticas artístico-pedagógicas do professor de Artes Cênicas e do professor Pedagogo, sujeitos participantes dessa pesquisa de mestrado.

Esse processo terá início a partir da exposição de informações sobre o 1º CREI; em seguida, informações sobre a formação acadêmica e opiniões do professor de Artes Cênicas e do professor Pedagogo sobre o modelo de educação implantado no CREI-DF; e por fim, os relatos das práticas artísticas pedagógica dos dois professores em escolas da rede pública de ensino do DF relacionadas às ações básicas que compõem a abordagem triangular para o ensino das artes. O próximo capítulo destina-se a expor detalhadamente a metodologia que será utilizada para a coleta e exposição dessas informações.