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2. EDUCAÇÃO INTEGRAL NO BRASIL

2.6. E XPERIÊNCIAS DE E NSINO I NTEGRAL NO B RASIL

2.6.2. Experiência do Rio de Janeiro – Bairro escola de Nova Iguaçu

A experiência de Educação Integral Bairro escola de Nova Iguaçu é um projeto da Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu, iniciado em março de 2006 na Baixada Fluminense. A prefeitura implantou o ensino em tempo integral utilizando a cidade como espaço de aprendizagem. Em meados de 2007, a iniciativa já contava com 31 escolas em 20 bairros e atendia cerca de 25.000 alunos. É importante mencionar que todas as escolas tiveram que implantar a educação integral em tempo integral, devido à política pública do município (ASSOCIAÇÃO CIDADE ESCOLA APRENDIZ, 2007, p. 41 e 43).

O Bairro escola de Nova Iguaçu se fundamenta em dois conceitos básicos: Cidade

educadora – que parte da ideia de que a educação não ocorre apenas nos limites da escola,

mas em todos os espaços da comunidade e educação integral – uma educação que promove o desenvolvimento da criança e do adolescente em suas múltiplas dimensões, considerando o corpo, a mente e a vida social, no sentido da construção da cidadania, do sujeito autônomo, crítico e participativo (BRASIL, 2009a). Para que o projeto ocorresse foi necessário utilizar os recursos já disponíveis na cidade e valorizar a cultura local, conforme declaração do prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, no lançamento do programa:

[...] o Bairro-Escola é o alinhamento de todas as políticas educacionais que acontecem num bairro, sejam elas públicas ou privadas. Por exemplo: no seu bairro, além das ações da Prefeitura na área social, deve haver uma igreja que trabalha com reforço escolar ou uma ONG que cuida da questão ambiental. Seu bairro certamente tem também espaços ociosos: a piscina de um clube que não tem movimento durante o dia, o forno da padaria parado várias horas por dia. No Bairro-Escola, a prefeitura está promovendo melhorias na infra-estrutura e integrando tudo o que já existe num projeto educacional global. O forno da padaria, por exemplo, pode ser usado num projeto de qualificação profissional. Não carece a Prefeitura construir uma padaria- escola, que seria cara. Melhor utilizar o que já existe (GADOTTI, 2009, p. 71).

A Secretaria Municipal de Educação (SEMED) de Nova Iguaçu definiu o seguinte objetivo geral do Programa bairro escola:

[...] formação global dos sujeitos envolvidos nos processos de aprendizagem ofertados na cidade por meio dos diferentes atores sociais, saberes, equipamentos e instituições. [Para a Semed, a proposta pedagógica da Educação Integral visa a promover a formação de competências diferenciadas ao mesmo tempo que educa para cidadania ativa, favorecendo a participação crítica no cotidiano do bairro e da cidade]. (GADOTTI, 2009, p. 76 apud NOVA IGUAÇU, 2008, p. 11).

Segundo Moacir Gadotti (2009) em relação às atividades desenvolvidas no programa

bairro escola de Nova Iguaçu, num turno as crianças ficavam com os professores da escola e

no contraturno eram divididas em grupos de vinte e cinco, conforme a idade. Após a divisão dos grupos as crianças, sob a companhia dos monitores, circulavam pelo bairro com a intenção de serem sensibilizadas sobre a rede local de educação, a história do bairro, os pontos turísticos com as obras materiais e imateriais da cidade e os parceiros que contribuíram e/ou contribuem para o funcionamento do programa. E assim, as atividades desenvolvidas com as crianças totalizavam nove horas diárias.

Os monitores vinculados ao programa bairro escola de Nova Iguaçu são estudantes do ensino médio ou superior contratados pela prefeitura municipal e também participantes dos programas federais que são os seguintes: Pró-jovem da Presidência da República (PR), Pontos

de cultura do Ministério da Cultura (MINC) e Segundo emprego do Ministério do Trabalho

(MT). Os programas federais oferecem aos monitores: bolsa auxílio (remunerada), experiência, novos conhecimentos e acessos a espaços de lazer, esporte e cultura. Além dos bolsistas também existem voluntários, em sua maioria mães de alunos e integrantes do Grupo

de convivência de idosos, que ficam com as crianças principalmente no horário intermediário,

entre um turno e outro, quando os alunos almoçam, escovam os dentes, tomam banho e fazem atividades de relaxamento. É importante mencionar que todos os voluntários passam por capacitações nas áreas de saúde, cultura e educação, oferecidas pelo programa bairro escola

de Nova Iguaçu (ASSOCIAÇÃO CIDADE ESCOLA APRENDIZ, 2007, p. 42).

Em relação aos passeios orientados no bairro, os agentes do trânsito, da defesa civil, do ordenamento urbano, da limpeza urbana e da saúde atuam como educadores na atenção voltada para a proteção das crianças que participam de atividades fora do limite físico da escola. Desta forma, o programa bairro escola de Nova Iguaçu prioriza a proteção integral da

criança e estimula comerciantes, empresários, entidades, líderes religiosos e moradores a atuarem como parceiros do bairro escola. Na visão de Gadotti (2009), toda a comunidade se beneficia com o programa, pois: “A proposta de Nova Iguaçu é que a escola vá para o bairro durante a semana e o bairro vá para a escola nos finais de semana, fortalecendo a participação dos pais e da comunidade” (GADOTTI, 2009, p. 72)

Dentre as atividades desenvolvidas com as crianças, os jovens e a comunidade, estão as seguintes: oficinas culturais (teatro, dança, cinema, artes plásticas, música), oficinas esportivas e oficinas de informática. Todas sob a responsabilidade das Secretarias de Cultura, Esporte, Desenvolvimento Econômico e Educação. No que se refere às atividades culturais, o objetivo é desenvolver a criatividade das crianças e jovens e valorizar a cultura local; as atividades esportivas buscam desenvolver, conforme a proposta pedagógica, habilidades psicomotoras e a estimulação da cooperação e da solidariedade em detrimento da competição; e as oficinas de aprendizagem têm como objetivo garantir o desenvolvimento da autonomia, motivando que os alunos reforcem sozinhos aquilo que aprenderam nas aulas através da resolução de exercícios que forem passados para casa. Essas atividades do programa bairro

escola de Nova Iguaçu tem o intuito de incentivar as crianças do primeiro ao quinto ano do

ensino fundamental a passarem por todas as oficinas em sistema de rodízio, para que, ao início do sexto ano, possam escolher de forma reflexiva e crítica uma delas para se aprofundarem. (ASSOCIAÇÃO CIDADE ESCOLA APRENDIZ, 2007, p. 42).

Vale mencionar que o bairro escola de Nova Iguaçu não é apenas um projeto pedagógico, mas também um projeto urbanístico. Com isso, foi criado o programa de estruturação urbanístico bairro escola que realizou melhoria das condições sanitárias, ambientais, controle do trânsito, construção e desobstrução de calçadas, redutor de velocidade, entre outras, com a intenção de facilitar a circulação dos alunos entre a escola e o local onde realizam as atividades no contraturno escolar. Essa requalificação do espaço público e urbano inclui:

O tratamento de vias e calçadas [...] a implantação de mobiliário urbano, como lixeiras, telefones públicos, abrigos de ônibus; ordenamento dos espaços públicos, com a definição de espaços para comércio ambulante, estacionamentos, ciclovias; e, tendo sempre em conta questões referentes à acessibilidade universal, sinalização e segurança, que permitam não só a clara informação para circular, como a movimentação segura de idosos, deficientes e, principalmente, de crianças (GADOTTI, 2009, p. 75 apud PINTO, 2008, p.80).

Para Gadotti (2009), o bairro escola de Nova Iguaçu alcançou um equilíbrio entre o projeto pedagógico de educação integral e o projeto urbanístico, sendo que essa concepção já havida sido pensada por Anísio Teixeira no Plano humano de Brasília e foi efetivada em quatro superquadras da Capital Federal. Vale ressaltar que cada superquadra de Brasília deveria ter: escola parque, jardim de infância, centro cultural, parque de diversão, supermercados e comércios, posto de saúde, biblioteca, entre outros, que contribuiriam para a circulação com segurança de crianças, jovens e comunidade pela quadra, sem atravessar pistas, e para o usufruto de todos os bens materiais e imateriais muito próximos das suas residências. Porém, como já foi mencionado anteriormente, apenas quatro superquadras de Brasília apresentam atualmente características dessa proposta de Anísio Teixeira.

Na visão de Gadotti (2009) o programa bairro escola de Nova Iguaçu consiste em uma experiência com caráter de inovação educacional muito especial pelo fato de oferecer: “[...] um bom exemplo de como a educação pode ser entendida integralmente e não separada das condições de vida concreta da população beneficiada” (GADOTTI, 2009, p. 77). Outro ponto importante a observar é que o projeto teve o apoio, desde o início, da Secretaria de Educação do município, como pode ser constatado neste trecho: “[...] A secretaria de Educação de Nova Iguaçu manteve-se fiel aos seus princípios ligados à educação integral, defendendo sempre o papel protagônico da escola no programa” (GADOTTI, 2009, p. 75-76).

Como resultado dos avanços desta proposta, em 2009, o bairro escola de Nova Iguaçu foi complementado pelo programa rede de saberes que busca aproveitar todos os saberes produzidos na cidade, tendo por ideal a cidade-utopia, onde sujeitos e territórios vivem de forma integrada e harmoniosa (GADOTTI, 2009, p. 79). Portanto, esse programa, segundo a Secretaria Municipal de Educação (SEMED), busca: “contribuir para a construção de uma cidade democrática, justa, fraterna e socialmente, economicamente e ambientalmente sustentável” (GADOTTI, 2009, p. 79 apud NOVA IGUAÇU, 2009, p. 2). Tendo, assim, como objetivos: estimular a integração da criança com o lugar onde mora e contribuir para o melhor rendimento escolar dos alunos.