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colônia um país onde o soberano tinha sua residência Declararam-no, então, igual às

3.5.2 Exposição do Centenário da Independência do Brasil

Após a experiência da Exposição Nacional de 1908 no Rio de Janeiro, o Governo Federal realizaria a Exposição do Centenário da Independência, organizada de modo a apresentar um Brasil moderno, cuja modernidade estava amplamente instalada pela reforma urbana, inserida no contexto da ordem capitalista sob os auspícios do regime republicano. Para a comemoração do Centenário da Independência objetivava-se a reedição de uma Grande Exposição Nacional. No entanto, devido à grande quantidade de países estrangeiros interessados em participar das comemorações, ocorreu uma alteração no caráter do evento, tornando-se assim internacional e, “como não podia o convite ficar limitado a estes países apenas, o Governo ampliou-o a todas as nações” 148

.

A Exposição ocupou uma área sobre aterro, resultante do desmonte quase total do Morro do Castelo, estendendo-se do Palácio Monroe, na entrada da Avenida Rio Branco, até o antigo Arsenal de Guerra e terrenos circunvizinhos à Ponta do Calabouço, junto à orla, criando um corredor denominado Avenida das Nações. Cabe ressaltar que, a partir da Exposição Francesa de 1878 o eixo principal das Exposições, abrigando as nações participantes, passou a ter tal denominação.

147Em 25 de outubro de 1912, foi inaugurado o bondinho do Pão de Açúcar no Rio de Janeiro.

(ARQUIVO NACIONAL, 2012, p. 37).

148

Conforme mensagem enviada pelo Presidente Epitácio Pessoa ao Congresso Nacional em 03/05/1922, p. 08. (Disponível em: http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u1297/000029.html- Acesso em 25/05/2013).

Este evento, ao apresentar os resultados da modernização urbana, colocaria o Rio de Janeiro no nível das principais metrópoles mundiais, igualando-se definitivamente, por exemplo, a Paris e Nova York ao idealizar um símbolo metonímico, conforme veremos. A cidade moderna, lugar de representação, de produção e reprodução das forças do capital, símbolo da modernidade, tinha nas grandes exposições um espetáculo entusiasta de progresso. Vitrinas do modo de vida e do ascendente ideal burguês, “nas grandes exposições, os industriais, as câmaras de comércio, a classe dirigente colocam em cena uma espécie de representação de uma cidade modelada na ideia de progresso técnico.” (ZUCCONI, 2009, p. 177).

No Rio de Janeiro, cuja feição colonial se desfazia para dar lugar à cidade moderna, empreender-se-ia no início da década de 1920 o desmonte quase total do Morro do Castelo, berço original da cidade, avistado da entrada da Baía da Guanabara, cujos casarões coloniais haviam se tornado “área residencial proletária incrustada em pleno centro monumental.” (ABREU, 2008, p. 77). O desmonte empreendido pelo prefeito Carlos Sampaio149, objetivava, ao mesmo tempo, abrigar e criar aterro para instalar os pavilhões da Exposição em comemoração ao Centenário da Independência.

Figura 37: Portal da Exposição- Extrema Sul da Avenida Rio Branco

Fonte: http://portalaugustomalta.rio.rj.gov.br/login

149Empossado em julho de 1920, Carlos Sampaio estava decidido a arrasar o Morro do Castelo,

“logo após tomar posse e realizando um desejo antigo, mandou retirar do centro da cidade, “em nome da aeração e da higiene”, o local que dera origem à urbe no século XVI”. (ABREU, 2008, p. 76).

O obelisco ao centro, marco da inauguração da Avenida Central, à esquerda o Palácio Monroe, local que acomodou a Comissão Executiva da Exposição, ao fundo, à direita, o Portal Monumental. A Exposição do Centenário da Independência do Brasil foi organizada de modo a apresentar ao visitante o esplendor da cidade modernizada, cuja modernidade urbana encontra-se representada ao longo da Avenida Rio Branco e Beira-Mar, inserindo-se no contexto da modernidade capitalista sob a égide da ordem republicana. Para tal, objetivando receber as autoridades nas comemorações do centenário da Independência do Brasil seria erguido sob encomenda do Presidente

Epitácio Pessoa na Avenida Beira Mar, o Hotel Glória150. Esta

Exposição, segundo os jornais da época, colocou o Rio de Janeiro na condição de mais fascinante cidade da América Latina, disputando a hegemonia com Buenos Aires.

Aberta em sete de setembro de 1922, a Exposição estendeu-se até julho de 1923151, possibilitando a mais de três milhões de pessoas circularem pelos pavilhões. Ao todo participaram catorze nações e todos os Estados da Federação se fizeram representar. Destacamos a participação do Estado de Santa Catarina, nosso objeto de análise do processo de modernização urbana no próximo Capítulo, para entendermos a dimensão e a importância deste evento aos Estados. Conforme a mensagem do Governador Hercílio Luz 152, “territorial e demograficamente uma das menores unidades da Federação, coube-nos entre elas, o sétimo lugar quanto ao número de distinções conferidas, com 249 prêmios distribuídos aos expositores catarinenses”.

No entanto, diante de uma industrialização embrionária, ainda exportávamos os artigos e materiais nobres para a construção, principalmente o ferro. Enquanto isso, na Europa “por todo aquele período, em muitos países trabalhava-se freneticamente para inventar novas máquinas e novos processos.” (GIEDION, 2004, p. 269). No caso brasileiro, a Exposição importava um modelo que já havia percorrido os principais países inseridos no processo ocidental de industrialização, rompendo etapas, e nessa ruptura, o Brasil antecipava a modernidade.

150Marco na arquitetura "art déco" do Rio e um dos mais luxuosos do País. Construído para ser o primeiro hotel cinco estrelas brasileiro.

151Foi inaugurada a 7 de setembro de 1922 a Exposição Internacional, cujo fechamento foi

adiado para 3 de julho. (Conforme mensagem enviada pelo Presidente Arthur Bernardes ao Congresso Nacional em 03/05/1923, p. 13- Disponível em: http://brazil.crl.edu/bsd/bsd - Acesso em 25/05/2013).

152Conforme mensagem enviada ao Congresso Representativo em 22/07/1923, p. 30.

A Independência Política do Brasil sempre foi comemorada como um marco de partida ao afloramento dos ideais republicanos.

Figura 38: Cartaz da Exposição do Figura 39: Cartaz alusivo à Revolução Centenário da Independência. Francesa

Fonte:Arquivo Nacional (2012, p. 53). Fonte: http://www.google.com.br/imgres

Na imagem à esquerda a bandeira brasileira desfraldada ao vento e carregada por mulheres, simbolizando a liberdade sob o lema “ordem e progresso”. Durante a Primeira República percebe-se que a Proclamação da Independência constituía-se em um evento festejado com maior importância do que a própria Proclamação da República, justificando-se a grandiosidade manifestada na Exposição do Centenário da Independência, algo comprável ao que foi a Exposição de 1889 para a França pela comemoração ao Centenário da Revolução Francesa, representando o surgimento da liberdade política.

Tendo como pano de fundo as comemorações do Centenário da Independência, o evento objetivava integrar o Brasil no âmbito de comemorações como os Centenários da Revolução Francesa (Exposição Universal de Paris de 1889) e da Declaração de Independência dos Estados unidos (Exposição Universal da Filadélfia de 1876), apresentando a Capital da República, urbanizada e saneada para receber as diversas autoridades nacionais e internacionais. Inevitavelmente, por conta deste período de modernização das cidades, em particular à Capital Federal, “as comparações com Paris se sucedem, fixam-se a

novos marcos espaciais da modernidade, e o Rio-metrópole toma o seu lugar no trem da história, movido pelo progresso e inscrevendo o futuro no presente.” (PESAVENTO, 1999, p. 182).

Figura 40: Vista Noturna da Exposição. Rio, a “Cidade Luz”

Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php

Além dos pavilhões de cada um dos Estados da Federação, a Exposição contou com a participação de treze nações153, sendo que algumas delas, “dando prova da sua gentileza e amizade para com o Brasil, transferiram-nos os belos pavilhões que construíram, para seus mostruários, na Avenida das Nações”154

. Estes pavilhões em sua maior parte eram estruturas desmontáveis, já que as exposições em sua transitoriedade criava um cenário efêmero, construído sobre espaços renovados da cidade em que o “ferro, vidro, madeira, gesso e papel machê são utilizados para as construções temporárias, destinadas a serem desmontadas e demolidas logo após o final do evento.” (ZUCCONI, 2009, p. 177).

153Além do Brasil, a Exposição contou com os seguintes pavilhões internacionais: Portugal;

Noruega; Tchecoslováquia; Suécia; França; Bélgica; Itália; Japão; México; Dinamarca; Inglaterra; Estados Unidos; Argentina. (ARQUIVO NACIONAL, 2012, p. 51).

154Conforme mensagem enviada pelo Presidente Arthur Bernardes ao Congresso Nacional em

Enquanto na Europa as exposições nasceram quase simultaneamente à indústria moderna, no Brasil, país eminentemente agrário e indústria incipiente155, estes eventos representaram a exibição de espaços urbanos renovados, almejando, desta forma, demonstrar uma modernidade alcançada em um estágio anterior à industrialização. Estes eventos proporcionavam a exibição do espetáculo capitalista, uma demonstração de que se estava superando o “torpor colonial”.

No que se concerne às ações de saneamento, contemplando a aplicação da ciência à salubridade humana, na Exposição foram apresentados os dados referentes aos serviços de saneamento e profilaxia rural, executados pela Comissão Rockefeller no Brasil. Os trabalhos desta instituição, atuando inicialmente no sul dos Estados Unidos, estenderam-se a outros países que apresentassem necessidade do controle e erradicação de moléstias, principalmente nas cidades as temíveis febre amarela e malária156. Cabe ressaltar que as atividades da Fundação Rockefeller, segundo Araújo (2012, p. 20), “visaram, sobretudo, a combater as moléstias às quais os europeus e norte- americanos eram particularmente suscetíveis quando se dirigiam aos trópicos”.

A exposição repercutiu em obras por outros pontos privilegiados da cidade. O Saneamento da Lagoa Rodrigo de Freitas, constituindo-se em mais um espaço nobre da zona sul incorporado à urbe, foi encarregado a Saturnino de Brito em 1922 pela prefeitura do Distrito Federal, fazendo parte dos melhoramentos a serem apresentados aos visitantes da Exposição, sendo executado com bastante urgência, frente “ao pouco tempo de que dispunha, visto ser propósito da prefeitura inaugurar algo da obra no centenário da independência nacional.” (BRITO, 1944, p. 05). O Brasil tinha a possibilidade de apresentar a si e “ao estrangeiro uma ideia altamente lisonjeira de seu progresso material e cientifico, assim como de sua cultura moral e política”157.

Na Exposição do centenário, alguns edifícios, ou conjuntos, foram construídos ou reformados visando sua permanência, enquanto outros desapareciam como se pode observar na imagem a seguir:

155O país, segundo o censo de 1920, contava com 30.635.605 habitantes e 13.346 fábricas

empregando cerca de 275 mil operários. Predominavam os bens de consumo, como tecidos, alimentos, roupas e calçados, que representavam 70% da produção (ARQUIVO NACIONAL, 2012, p. 49).

156Arquivo Nacional (2012, p. 50). 157

Conforme mensagem enviada pelo Presidente Epitácio Pessoa ao Congresso Nacional em 03/05/1922, p. 08. (Disponível em: http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u1297/000029.html- Acesso em 25/05/2013).

Figura 41: Renovações e Demolições, os Pavilhões da Exposição

Fonte: http://portalaugustomalta.rio.rj.gov.br/login

Na imagem, ao centro, o Pavilhão dos Estados; à esquerda em destaque o Pavilhão das Grandes Indústrias; à direita o Pavilhão da Administração e do Distrito Federal, tendo ao fundo, em destaque, as ruínas do Convento dos Jesuítas no quase totalmente arrasado Morro do Castelo, fragmento da cidade colonial “borrando” a imagem da modernidade pretendida. O Pavilhão das Grandes Indústrias resultou da reforma do Forte do Calabouço, antigo Arsenal de Guerra e Casa do Trem, instalações predestinadas à demolição, surgindo um monumental edifício neocolonial, onde hoje encontra-se instalado o Museu Histórico Nacional. O neocolonial e sua emergência na Exposição deve-se, segundo Puppi (1998, p. 124), “a insatisfação da pretendida elite intelectual com a reprodução dos modelos europeus e desejosa de uma arte nacional”.

A valorização deste estilo de arquitetura histórica e cultural brasileira merece algumas considerações. De acordo com Puppi (1998, pp. 89- 124),

A história do estilo já está esboçada: da adoção em residências, hotéis e escolas, passando pelos pavilhões de exposição, ao sucesso final nos edifícios monumentais. Destacam-se os editais à obrigatoriedade do estilo neocolonial: Pavilhão do Brasil na Exposição de Filadélfia (1925); na Exposição de Sevilha (1928); Edifício da Escola Normal (1928). Particular importância teve o concurso para a Escola Normal que demonstrou a

adaptabilidade do estilo a um edifício de porte monumental. O Pavilhão das Grandes Indústrias, depois Museu Histórico Nacional é tido como a grande realização não só do neocolonial, mas de todo o período.

Por outro lado, as Exposições cumprem a função de apresentar e difundir o progresso logrado pela sociedade industrial, inserindo novos objetos e padrões de consumo para o avanço do capital monopolista. Ao mesmo tempo em que “também respondiam a uma função prática, operavam numa atmosfera bastante à margem do ritmo acelerado da vida cotidiana, sendo também capazes de sustentar um caráter festivo.” (GIEDION, 2004, p. 273). Esta junção, criativa e conveniente ao fetiche da mercadoria, ocorre não somente de maneira teórica, por uma transposição ideológica, “mas também na imediatez da presença sensível, assim apresentam-se as exposições universais, cujo acoplamento à indústria de entretenimento é significativo.” (BENJAMIN, 2007, p. 53).

Em nossa pesquisa, realizada junto ao Museu Histórico Nacional, encontramos na “Coleção Fotográfica de Augusto César Malta de

Campos”, fotógrafo oficial do evento, o registro de imagens que

constitui um acervo de extrema importância para a pesquisa sobre a Exposição do Centenário da Independência do Brasil, um acontecimento que, acreditamos, carregado de simbolismo é ainda pouco estudado em sua relevância à modernidade brasileira. Pela observação das imagens apreende-se o orgulho nacional de fazer parte ou se sentir parte do progresso da civilização em curso, mesmo de forma efêmera e pontual, o Brasil entrava nos trilhos da modernidade.

Torna-se necessário uma transposição do tempo, colocando-nos à época, para entendermos a necessidade de se expor a cidade como resultado de um processo de modernização que implicou em implantação de serviços de transportes, saneamento, abertura de grandes vias, renovação das edificações e tudo isto viria a ser iluminado pela “fada eletricidade”, estabelecendo a sensação de se viver uma Belle

Époque, num cenário de modernidade urbana. Tanto a exposição de

1922, quanto a de 1908, ambas ambientadas no Rio de Janeiro, constituíram-se em um espaço de ostentação de progresso, uma vitrine a pretendida modernidade brasileira sob a égide republicana.

Promovendo estas exposições na Capital da República o país demonstrava ao mundo uma nação renovada, símbolo da nova ordem e adequada ao desenvolvimento do Capital. Estes eventos celebravam o processo de inserção do país em um modo de vida urbano, expostos nos

espaços renovados que conduziam às majestosas avenidas e seu movimento frenético, símbolos paradigmáticos às cidades modernas, repercutindo no erguimento de imagens simbólicas em perspectivas monumentais. Tal qual na França com a ereção da Torre Eiffel, Nova York com a estátua da Liberdade, o Brasil ergueria um símbolo metonímico representativo daquele momento histórico do processo de modernização das cidades brasileiras em sua maior representação no Rio de Janeiro.

3.6 CRISTO REDENTOR- SIGNO METONÍMICO DA “CIDADE