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República e Modernização Novos serviços, tempos modernos A cidade-vício é, sem dúvida, um problema posto,

colônia um país onde o soberano tinha sua residência Declararam-no, então, igual às

4 FLORIANÓPOLIS: REPÚBLICA, MODERNIZAÇÃO URBANA E SIGNO METONÍMICO

4.3 REPÚBLICA OLIGÁRQUICA, POSITIVISMO E MODERNIZAÇÃO URBANA

4.3.1 República e Modernização Novos serviços, tempos modernos A cidade-vício é, sem dúvida, um problema posto,

onde tudo está para ser refeito e reorientado numa nova direção, condizente com os princípios da moral, da estética, da higiene ou das exigências da técnica moderna. (PESAVENTO, 1999, p. 39).

A imagem da cidade seria transformada não só pelo novo topônimo, Florianópolis, mas pelas ações empreendidas que mudariam a sua feição e a consolidariam como Capital do Estado. A transformação da imagem da cidade viria pela modernização dos serviços urbanos. No período entre a Proclamação da República e as três primeiras décadas do século XX foram realizadas múltiplas intervenções urbanas na capital catarinense, serviços que visavam à salubridade, o saneamento e embelezamento, a higienização, implantação e melhoraria das vias públicas e edificações, além da ligação com o continente uma tentativa de integrar completa e definitivamente a Capital ao interior do Estado.

Florianópolis, então Desterro, em 1872 apresentava uma população urbana menor que a rural, de um total de 25.709 habitantes, 11.322 pessoas concentravam-se na área urbana, a área central, e 14.387 pessoas na área rural, as freguesias do interior da Ilha. Em 1890 esta situação se inverteria, apresentando 30.679 habitantes, sendo 16.506 no

perímetro urbano. A cidade em 1920 atingiria a população de 41.338 habitantes, dos quais 22.874 moravam na área urbana, o polígono central. Portanto, nos sessenta anos que compreendem o período de concentração de nosso estudo, 1870-1930, a população urbana dobrou na Ilha de Santa Catarina200. Estes dados demonstram201, apesar de seu relativo equilíbrio entre rural e urbano, que o adensamento populacional se concentrava na área central, militar, administrativa, comercial e portuária. Em decorrência surgiriam os conflitos urbanos dele advindo.

Após designar um novo nome à Capital, seguindo o ritmo das desejadas transformações republicanas sob o influxo dos ideais positivistas, as ações de Hercílio Luz, já em seu primeiro governo, repercutiriam sobre o espaço urbano da Capital, impondo os princípios “da modernidade urbana e da organização disciplinada, de acordo com os ideais do progresso econômico e da ordem burguesa.” (PESAVENTO, 1999, p. 270).

Este aspecto das intervenções está representado na simbologia das imagens expressas nas estatuetas que ornamentam a Reforma do Palácio do Governo, “velho prédio colonial que sofreu uma ação esteticizante, com a introdução de adornos, ampliações e as armas da República, numa representação do novo poder político.” (TEIXEIRA, 2002, p. 20).

As modificações, dando ao Palácio do Governo o seu aspecto atual, podem ser observadas a seguir:

Figura 48: Palácio do Governo. C. 1890.

Fonte: Acervo Casa da Memória (FCFFC)

200Nas décadas seguintes a situação pouco se alteraria, “até o ano de 1940, quando novos

distritos foram anexados à capital,a população urbana não chegou a 26mil habitantes.” (ARAÚJO, 2012, p. 05).

Figura 49: Palácio do Governo. C.1930

Fonte: Acervo Casa da Memória (FCFFC)

A comparação entre as fotos demonstra nos detalhes o aspecto esteticizante e modernizador da intervenção. Esta reforma representava a imposição da imagem da modernidade e do progresso republicano, expressos nos símbolos das alegorias de sua fachada202. Referindo-se à reforma do Palácio do Governo, Várzea (1985, p. 30), destaca que foi “modificado pela ornamentação moderna das melhores construções atuais do Rio de Janeiro”. Esta obra teve um caráter bastante oportuno, assumindo um cunho político, ou seja, “a atualização arquitetônica do palácio (1895) seria estratégica, pois além de sua situação urbana privilegiada- na praça fundadora- qualquer inovação feita sob a égide da República seria sinal dos novos tempos.” (TEIXEIRA, 2009, p. 194).

No entanto, nos aspectos mais rudimentares da vida urbana a cidade carecia de transformações. O tratamento dado aos resíduos de forma geral, até o findar do século XIX, atentava gravemente contra a saúde, sendo até então, “jogado nas praias e nos terrenos baldios, embora em 1878, uma companhia houvesse aprovado uma tabela para a remoção do lixo doméstico.” (CABRAL, 1987, p. 177). Executados em carroções puxados a burro, não apresentaram maiores resultados, pois, em contrapartida, havia o pagamento pelo serviço, destinando-se o

202Suas toscas paredes dianteira recebem agora decorações acadêmicas mais aprimoradas e

nichos de cada lado da grande porta de entrada. Estátuas decorativas são colocadas no cimo do Palácio em todo o contorno. Entre elas se destacam o Deus Mercúrio- símbolo do comércio da cidade; a Deusa Anfitrite- Deusa do Mar, sugerindo o comércio marítimo; Santa Catarina- que dá nome à Ilha e ao Estado. À frente do edifício e no alto é exibido o Escudo das Armas do Estado. (PAULI, 1976, p. 232).

despejo, comumente, nas praias, como sempre fora. Para os resíduos sólidos, especificamente, “construíria-se no início do século (entre 1910 e 1914), o forno do lixo.” (RAMOS, 1983, p. 81).

No final do primeiro governo de Felipe Schmidt, em 1902, foi firmado contrato visando “fornecer a população desta capital, água potável de boa qualidade e estabelecer um serviço de coleta esgotos de águas servidas e materiaes fecaes”203

, decretando-se a cobrança de impostos dos respectivos serviços que continuaram segundo executados de forma rudimentar. Além destes, estavam previstos outros serviços de ordem mais complexa, destinando-se ao estabelecimento de uma linha de bondes e iluminação elétrica, os quais não se concretizariam naquele governo.

Portanto, apesar destas iniciativas, a cidade passaria pelo governo Felipe Schmidt e pelo seguinte, Vidal Ramos, carecendo de soluções técnicas aos serviços básicos. O sucessor, Gustavo Richard, em sua primeira mensagem ao Congresso Estadual, em 1907, destaca que “a capital carece ainda dos serviços mais rudimentares e dos melhoramentos indispensáveis a uma cidade moderna, como água, esgoto e iluminação”204

.

Uma questão relevante, diante das descontinuidades nos serviços contratados a terceiros e na eminência de que a cobrança das taxas pagariam os serviços e ainda podiam gerar renda para o Estado, surgira com a proposta de encampação dos mesmos. Em mensagem ao Congresso Representativo em 1906, o governo recomendava que na impossibilidade de realizar o “município estes melhoramentos, não êxito em aconselhar-vos a decretação de uma lei autorizando o governo do Estado a chamar a si estes serviços, para executá-los contraindo para si os empréstimos necessários”205

.

Com efeito, na gestão seguinte, Gustavo Richard, coube ao Estado, mesmo concedido a terceiros, a responsabilidade pelos serviços de água e iluminação, até então encarregados à prefeitura, mas com constantes auxílios do Estado. A execução e administração destes serviços pelo Estado ocorreriam a partir de 1919, no governo Hercílio

203Mensagem do governador Felipe Schmidt ao Congresso Representativo em 01 de setembro

de 1902, p. 18. (Disponível em: http://brazil.crl.edu/bsd/bsd- Acessado em 29/04/2013). 204Mensagem do governador Gustavo Richard ao Congresso Representativo em 5 de agosto de

1907 (Disponível em: http://brazil.crl.edu/bsd/bsd- Acesso realizado em 20/03/2013).

205Mensagem do Governador em exercício ao Congresso Representativo em 18/09/1906, p. 33.

Luz206. No entanto, apesar dos esforços empreendidos, a iluminação elétrica e abastecimento de água207, bem como o esgotamento sanitário, apresentariam uma abrangência inicialmente limitada, pois “o alto custo de sua instalação domiciliar dificultava o acesso, por grande parte da população que, mais uma vez, ficara excluída e desconsiderada nestas reformulações urbanas.” (NECKEL, 2003, p. 89).

A obtenção de água, desde os primórdios da ocupação colhida nas fontes diariamente, resultava contaminada na origem pelos maus cuidados das mesmas e ausência de zelo no manuseio da coleta. A melhoria ocorre, a partir de 1860, quando, “surgiu o comércio de água, passando a ser vendida pelas ruas, em pipas sobre carroças.” (RAMOS, 1983, p. 09). Permanecendo desta forma, até a contratação em 1909 sob a forma de arrendamento da captação e canalização, coletando a água nos mananciais do morro da Lagoa e no Itacorubi208.

A implantação da rede de abastecimento de água pode ser observada a seguir:

Figura 50: O Coração da Cidade. C. 1902

Fonte: Acervo Casa da Memória (FCFFC)

206Tratei, pois, desde logo a reentabolar as negociações com a firma arrendatária. Após

acurados estudos, foi a comissão de parecer que se impunha a rescisão do contrato para os serviços de água. (Mensagem enviada ao Congresso Representativo pelo governador Hercílio Luz em 22/07/1919, p. 53- Disponível em: http://brazil.crl.edu - acesso realizado em 10/06/2013).

207Arrendados por 25 anos aos engenheiros Edward Simmonds e John Willianson, pagos por

trimestre adiantados (Mensagem do Governador Vidal Ramos ao Congresso Representativo em, 23/07/1911, p. 55- Disponível em: http://brazil.crl.edu - Acesso realizado 28/04/2013).

208Conforme Mensagem do Governador Gustavo Richard ao Congresso Representativo em

Figura 51: Implantação da Rede de água canalizada. C. 1909

Fonte: Acervo Casa da Memória (FCFFC)

Na figura 50, a rua sem os postes e sem a água canalizada. Na figura 51, a implantação da rede de água, em destaque, os postes de telefônia implantados durante o Governo Gustavo Richard em 1908. Em ambas as imagens observa-se o Palácio do Governo, à esquerda ao fundo. Os contratos para fornecimento de água e energia elétrica foram estabelecidos por 25 anos, sendo inaugurados os serviços em 1910209. Há de se considerar que o serviço de água encanada na Capital catarinense, tão essêncial à salubridade urbana, fora estabelecido com bastante atraso, tendo em vista que “ao findar o século XIX, duas das capitais brasileiras ainda não possuíam sistemas de distribuição domiciliar de água: Paraíba do Norte (atual João Pessoa) e Florianópolis.” (REZENDE, 2008, p. 194).

Mesmo com a canalização, o abastecimento de água, principalmente nas estiagens, era feito de modo bastante deficiente210. Desta forma, sem o compromisso de ampliação do serviço pelos concessionários, os termos do contrato criaram ao governo

209As obras de abastecimento de água desta cidade foram inauguradas oficialmente em 8 de

maio (Conforme mensagem do Governador Gustavo Richard ao Congresso Representativo em 17/09/1910, p. 20- Disponível em: http://brazil.crl.edu- Acesso realizado 20/04/2013).

210Para amenizar a situação o governo, em 1913, procedeu a captação no Córrego Grande

ligando-o ao sistema. (Conforme mensagem do Governador Vidal Ramos ao Congresso Representativo em 24/05/1913, p. 78- Disponível em: http://brazil.crl.edu/bsd/bsd- Acesso realizado em: 25/03/2013).

dificuldades211, principalmente no tocante aos serviços de esgotamento sanitário da Capital. Para um abastecimento adequado e o bom funcionamento do esgotamento, na gestão de Vidal Ramos (1910-1914), o Estado realizou estudos para ampliar o serviço, buscando a construção de nova adutora no Rio Tavares212, efetivamente, inaugurada em 1922 no governo Hercílio Luz. Este governador projetava em larga escala, a construção de uma grande adutora no continente213, passando o duto pela ponte metálica que almejava construir.

Outro aspecto essencial à vida urbana tornara-se a existência de um sistema de iluminação eficiente, sua falta criava muitas áreas de sombra e penumbra. Diante das más condições de iluminação, as ruas se tornavam território das “classes perigosas”. Nesta situação, na área central da Ilha de Santa Catarina, “a noite era dos pretos e dos soldados. Trabalhando o dia todo, na estiva dos barcos, nos armazéns, nas casas e no quartel, à noite saíam todos.” (CABRAL, 1987, p. 94).

Com a República, buscava-se imprimir uma nova ordem, sob as luzes da modernidade, iluminada pela eletricidade214. Em Santa Catarina, Hercílio Luz manifestou a intenção de implantar um sistema de iluminação elétrica às principais cidades. Esta iniciativa começou em 1894, quando em seu primeiro governo “o afã de modernização levou Hercílio Luz à tentativa de um sistema de iluminação elétrica para a cidade de Florianópolis.” (PAULI, 1976, p. 354).

Não logrou êxito as intenções do governador, naquele momento a eletricidade ainda era uma pretensão, algo um pouco distante da realidade florianopolitana. A capital passaria pelos governos de Felipe Schmidt e Vidal Ramos, entre 1898 e 1906, sem conhecer a “fada eletricidade”, alcançando este serviço, símbolo da mais avançada modernidade urbana, somente no final da primeira década do século XX.

No Governo de Gustavo Richard seria construída a usina hidrelétrica que iluminaria a cidade, colocando-a em funcionamento a partir de 1910, uma ação de extrema relevância quanto a salubridade,

211A empresa, não se julga obrigada a estender pelas novas ruas aqueles serviços, alegando que

as instalações respectivas devem ser feitas pelo Estado. (Mensagem do Governador Felipe Schmidt ao Congresso Representativo em 14/08/1916, p. 64- Disponível em: http://brazil.crl.edu/bsd/bsd- Acesso realizado em 25/04/2013).

212Idem, op. cit, p. 63).

213Só viria a ser “inaugurada em 1946 a 1ª adutora de pilões.” (RAMOS, 1986, p. 26). 214A iluminação elétrica, conforme já relatado, difundiu-se na Europa a partir de 1880. No Rio

de Janeiro, por sua vez, a eletricidade surgiu em 1882 com a iluminação do Palácio da Exposição da Indústria Nacional. No entanto, na Capital Federal, no espaço da cidade, a substituição dos lampiões a gás por lâmpadas elétricas ocorreria somente em 1991.

substituindo os fétidos candeeiros e os lampiões a gás215. Portanto, vinte e um anos após a eletricidade conhecer uma implantação real em Paris com a inauguração da usina de Halles (1889), Florianópolis receberia este melhoramento, símbolo da mais alta modernidade urbana, à época.

Durante seu mandato, Gustavo Richard, além de haver reestabelecido o transporte coletivo, executou os serviços de telefonia, iluminação elétrica e abastecimento de água, encaminhando as tratativas à execução da rede de esgotamento sanitário da Capital. No entanto, apesar dos inúmeros avanços à modernização empreendidos, a construção de uma edificação se constituiria no marco de seu governo. Este tipo de obra diferenciava-se das demais em que, uma vez enterrados os canos, desaparecia o feito. Na elevação de uma edificação, mais do que nunca, “a aparência e a fachada têm alta significação e o detalhe é tomado pelo conjunto.” (PESAVENTO, 1999, p. 160).

Assim como Hercílio luz reformou o Palácio do Governo, dando- lhe novo aspecto, Gustavo Richard empreenderia esforços à construção de uma nova sede ao Congresso Estadual, alegando que o antigo prédio “estava necessitando não de consertos, mas de reconstrução. Nestas condições seria mais conveniente que se tratasse da edificação de um outro prédio com acomodações maiores e indispensáveis para o futuro Congresso.”216

Esta investida resultaria na primeira remoção em massa das habitações coletivas em Florianópolis, resultando na demolição do maior cortiço da cidade, o “Cidade Nova”, localizado a uma quadra do renovado Palácio do Governo e lateral à Matriz, entre as atuais ruas Vidal Ramos, Trajano e Marechal Guilherme, estendendo-se à margem oposta desta última. A localização e a “promiscuidade” da população vivendo sob a forma de habitação coletiva entravam em choque com os anseios de modernização, manifestando o governador em mensagem que “tendo em vista o embelezamento e saneamento da capital, resolvi adquirir para demolir e vender, com a obrigação de levantar novas e boas edificações, o conjunto das 20 casinhas”217

. (Grifo nosso).

215Inicialmente queimava-se o óleo de baleia. Em 1863, tentou-se um outro tipo de

combustível, o azeite de nabo mas, em 1868 foi substituído pelo querosene, que chegou até 1880, quando, a 1º de janeiro, passou a ser usado o sistema de gás-globo, com 150 combustores (CABRAL, 1987, p. 177).

216Mensagem do Governador Gustavo Richard ao Congresso Representativo em 05/08/1907, p.

25. (Disponível em: http://brazil.crl.edu/bsd/bsd- Acessado em 22/04/2013).

217Mensagem do Governador Gustavo Richard ao Congresso Representativo em 17/09/1910, p.

Pela transação realizada, promoviam-se melhorias no entorno, onde na parte elevada da quadra, um espaço privilegiado com fundos à Igreja de Nossa Senhora do Rosário, sito à quadra lateral ao Teatro Álvaro de Carvalho e a poucos metros da Matriz e do Palácio, erguia-se o magnífico edifício do Congresso Legislativo. Sob o pretexto do embelezamento e saneamento, o Estado atuava como promotor imobiliário, adquirindo vantagem e retirando da área central a população de baixa renda, concorrendo para a assertiva de que “a urbanização é moldada, modelada, de acordo com as necessidades da acumulação capitalista.” (LOJKINE, 1987, p. 185).

A situação anterior e o Palácio do Congresso construído podem ser observados a seguir:

Figura 52: Casas térreas, junto à Igreja do Rosário. Séc. XIX

Fonte: Gerlach (2010, p. 623)

Figura 53: O Prédio do Congresso. C. 1940

Nas imagens em destaque a Igreja de Nossa Senhora do Rosário. A construção do novo prédio, denominado Palácio do Congresso do Estado, inaugurado em setembro de 1910, ao centro da figura 53, com a cúpula central e tendo a frente uma pequena praça e o Teatro Álvaro de Carvalho, criava um novo espaço símbolo do poder. Por sua condição expansiva, as obras executadas por Richard como instalações de telefonia, água, luz, linhas de bonde, não sustentavam o mesmo valor simbólico do que uma edificação com seu caráter material homogêneo. Com o incêndio em meados do século218 perderia a modernidade republicana este lugar simbólico e representativo, materialmente significativo à imagem do laborioso Governo Gustavo Richard.

Gustavo Richard de origem francesa, mas radicado desde a mais tenra idade na Capital catarinense, “laurista”, tornara-se um republicano histórico e, mesmo tendo participado das campanhas de Hercílio Luz, sofreria forte oposição da ala “hercílista” durante seu produtivo governo219. Todavia, o reconhecimento do impulso modernizador de Richard viria no governo Felipe Schmidt, quando em mensagem ao Congresso Legislativo, em 1916, este governador atestava que “a Capital, nos últimos anos, a começar principalmente da administração do Sr. Coronel Gustavo Richard, tem progredido de modo acentuado, tonando-se bem apreciável o desenvolvimento da edificação urbana”220.

O esgotamento sanitário, executado entre 1910 e 1918, tornou-se o maior feito, em termos de melhoramentos urbanos na Capital, realizado pelos governos Vidal Ramos e Felipe Schmidt. Há de se considerar neste período as dificuldades referentes ao fornecimento do material vindo da Europa, além das atenções voltadas às questões do Contestado e definição de limites com o Paraná. A busca pela resolução destas últimas questões contribuíram à indicação e condução dos citados políticos lageanos para estas novas gestões sucessivas no governo do Estado.

No Governo Vidal Ramos (1910-1914), por indicação do engenheiro Francisco Saturnino de Brito, os trabalhos de projeto e execução da rede de esgotos foram confiados ao engenheiro Luiz Costa.

218O Poder Legislativo funcionou no local até 1956, quando o prédio incendiou (CORRÊA,

2004, p. 288).

219Vinculado à corrente “laurista”, Richard sofreu oposição do grupo “hercilista”. A cisão no

PRC refletiu na campanha presidencial de 1910. A derrota de Rui Barbosa afetou o hercilismo que não participou do processo sucessório ao Governo do Estado. (MEIRINHO, 1997, pp. 134-136).

220Mensagem do Governador Felipe Schmidt ao Congresso Representativo em 14/08/1916, p.

Os serviços, contratados em fins de 1911, foram suspensos em 1913, devido às dificuldades no embarque dos dutos pela deflagração da Primeira Grande Guerra. Desta forma, “não sendo possível adiar a conclusão dessas obras, encomendou-se este material nos Estados Unidos em condições de preços muito mais elevadas”221

. Os trabalhos retomados no governo Felipe Schmidt, em 1915222, seguiram até sua conclusão em abril de 1918223.

A abrangência da obra, sobre a área central, pode ser percebida na planta a seguir:

Figura 54: Planta da rede de esgotos de Florianópolis em 1913.

Fonte: IPUF (Marcações nossa)

A planta apresenta em vermelho as obras executadas até aquele presente momento, novembro de 1913, e em verde as obras restantes. Percebe-se que as tubulações implantadas convergem para o

221Mensagem enviada ao Congresso Representativo pelo governador Felipe Schmidt em

14/08/1917, p. 63. (Disponível em: http://brazil.crl.edu - Acesso realizado em 25/03/2013).

222Os serviços de esgotos da capital acham-se parados desde 31 de dezembro de 1913

(Mensagem enviada ao Congresso Representativo pelo governador Felipe Schmidt, 29/07/1915, p. 18- Disponível em: http://brazil.crl.edu- Acesso realizado em 25/03/2013).

223“Terminado em abril último, finda a administração do engenheiro Luiz Costa, realizando

1231 ligações domiciliares”. (Mensagem enviada ao Congresso Representativo pelo governador Felipe Schmidt em 08/09/1918, p. 54- Disponível em: http://brazil.crl.edu- Acesso realizado em 25/03/2013). Porto Pç XV Matriz Tronqueira Campo do Manejo Castelinho Pedreira

“castelinho” situado em frente à praça, ao lado do Trapiche Municipal. A rede de esgotos da capital catarinense foi construída dentro do que havia de mais avançado, à época, o Sistema Separador Absoluto224, com o direcionamento para uma estação de depuração biológica pelo ar difuso, próximo ao Forte Santana, local que receberia a cabeceira insular da futura ponte metálica. Este sistema, amplamente difundido por Saturnino de Brito, foi aplicado com êxito em várias cidades, “entre as quais Buenos Aires, e está sendo executado em Santos.” (BRITO, 1943b, p. 46).

Adepto do urbanismo sanitarista225, Luiz Costa seguiu o padrão estético e as concepções projetuais das obras executadas por Saturnino de Brito. Nos trabalhos de Brito destaca-se a arquitetura despojada dos edifícios das estações elevatórias que, segundo Andrade (1990, p 78), “quase sempre comportava banheiros públicos”. Em Florianópolis, conhecidas como “Castelinhos”226

, as estações cumprem o papel de destacar a estética na implantação, além de deixar à vista a materialização de tão vultoso investimento.

Figura 55: O valor estético do Castelinho, junto ao mar. C.1930

Fonte: Mural do Edifício Cristal (Rua Trajano)- Foto do autor/Jul-2012

224O sistema separador absoluto, de valor sanitário vitoriosamente proclamado no XIII

Congresso Internacional de Higiene, reunido em 1903 em Bruxelas, consiste em distribuir os serviços de saneamento em duas redes distintas: 1ª a rede sanitária, que só recebedespejos;