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3 A INTENCIONALIDADE EM SEARLE COMO ASPECTO

4.1 Expressabilidade

Antes de tudo, Searle (1981) adota o princípio da expressabilidade como parte inicial para prosseguir em sua teoria dos atos de fala. O princípio da expressabilidade baseia-se no fato de que tudo o que se quer dizer pode ser dito de forma clara. De acordo com as regras constitutivas e as partes que constituem os atos de fala é que se pode executar uma emissão significativa e compreensível. A linguagem dispõe de elementos que a constituem e fazem com que um ato de fala possa ser executado satisfatoriamente.

Searle assinala dois casos contrários que ocorrem na comunicação e são importantes de serem apresentados para evitar mal-entendidos: (1) quando o que dizemos significa mais do que realmente dizemos e (2) quando não é possível dizer o que queremos dizer. Sobre o primeiro caso, este filósofo fornece o exemplo de quando um falante pergunta ao seu interlocutor “Você vai ao cinema hoje?” e o interlocutor simplesmente responde “Sim”. Mas de acordo com o contexto, o que o interlocutor quer dizer é “Sim, eu vou ao cinema hoje”58 e

assim ele se compromete em realizar uma ação.

No segundo caso existem duas razões, primeiro porque não conhecemos muito bem a língua59 ou porque a língua utilizada não contém palavras ou construções que o permitam dizer o que se quer dizer. Para Searle, pode-se resolver a primeira razão aumentando o conhecimento sobre a língua utilizada, já no segundo caso, se a língua não for adequada ou se não dispuser de meios para dizermos o que queremos dizer, então podemos enriquecê-la introduzindo novos termos para dizermos o que queremos dizer.

4.2 Tipos de Atos de Fala

58 Apenas queremos dizer aqui que, no contexto de uso, normalmente utilizamos a palavra “sim” em uma réplica

para responder afirmativamente “Sim, vou ao cinema hoje” à pergunta “Vai ao cinema hoje?”. A não ser que seja um caso de ironia.

59 Se um falante estivesse utilizando outra língua que não a sua língua pátria e, consequentemente, não fosse

Searle afirma que existem três tipos de atos de fala que precisam ser distinguidos para se ter uma melhor compreensão do que seria um ato de fala. Sendo assim, Searle nos expõe o conceito de atos de enunciação, atos proposicionais e atos ilocucionários. Reitera-nos que, somente por meio da distinção destes três atos é que se consegue entender como funciona o significado de uma frase em uso.

O ato de enunciação baseia-se em balbuciar frases, textos, palavras ou quaisquer outros sons ou sequência de sons, podendo este ato estar separado do ato proposicional e do ato ilocucionário. No entanto, Searle apresenta-o como constitutivo do ato ilocucionário. O ato proposicional, assim como o ato ilocucionário, consiste em pronunciar palavras no interior de frases sob certas condições e com determinadas intenções. O ato ilocucionário se caracteriza pela frase completa, isto é, a enunciação de uma proposição com uma força ilocucionária em um contexto, como veremos mais adiante. O ato proposicional constitui-se ainda do ato de referir e do ato de predicação.60 Vale ressaltar que ele não ocorre sozinho, diferentemente do ato de enunciação, ele só ocorre em um contexto ilocucionário. A seguinte citação ratifica de forma esquemática o que acabamos de afirmar (SEARLE, p.35, 1981):

a) Enunciar palavras (morfemas, frases) = executar actos de enunciação; b) Referir e predicar = executar actos proposicionais;

c) Afirmar, perguntar, ordenar, prometer, etc. = executar actos ilocucionais.

O termo “ato proposicional” fora introduzido em contraposição ao termo “ato locucionário” de Austin. Na visão de Searle há uma contradição ao se aderir este termo, pois quando uma frase completa é enunciada, não se segue uma ação locucionária e depois uma ação ilocucionária. Como podemos notar na citação a seguir (SEARLE, p.35, 1981):

Não estamos, é claro, a dizer que se trata de coisas separadas que o falante faz, simultneamente, como por acaso, da mesma forma que alguém pderia fumar, ler e coçar a cabeça, tudo ao mesmo tempo; dizemos, isso sim, que, quando se executa um acto ilocuicional, executam-se, efectivamente, actos proposicionais e actos de enunciação.

60 O ato proposicional caracteriza-se por ter uma referência e a respeito desta referência ter uma predicação. É

preciso diferenciar o ato ilocucionário (asserir, prometer, perguntar) da proposição. A proposição não ocorre isoladamente, mas sim num contexto de um ato ilocucionário completo.

Segundo Searle, há uma confusão ao se aderir esse termo, pois, o que há, na verdade, é que ao enunciar uma frase completa se está realizando um ato ilocucionário, não executando atos seguidos. Em outras palavras, não dizemos para depois significar, e sim significamos algo ao dizer.

Searle afirma que a relação desses três atos é análoga à relação de marcar um “X” em uma cédula eleitoral no ato de votar. Nas palavras de Searle (SEARLE, p.36, 1981) “...os actos de enunciação são para os actos proposicionais e para os actos ilocucionais aquilo que, por exemplo, fazer um <<X>> numa cédula eleitoral é para o acto de votar.” Na ação ilocucionária, não há atos que se seguem, mas atos que são concomitantes na comunicação, pois para significar algo a um ouvinte enunciamos uma frase que tem uma proposição com uma determinada força ilocucionária (asserção, promessa, pergunta, entre outras). Do mesmo modo, no caso da cédula, ao marcarmos um “X” nela, concomitantemente estamos votando.

Vejamos agora o conceito de ato perlocucionário na concepção searleana. O ato pelocucionário consiste no fato de que, ao realizar um ato ilocucionário, o falante causa certos efeitos no interlocutor, isto é: induz o interlocutor a modificar ou realizar novas ações e excluir ou criar novas crenças através do enunciado proferido. São exemplos de atos perlocucionários: convencer, esclarecer, inspirar, conscientizar, entre outros. Apresentamos aqui o ato perlocucionário, tendo como objetivo apenas mostrar que o seu conceito possui uma correlação entre Austin e Searle, pois ambos compartilham da mesma concepção de que este ato consiste na intenção de causar determinado efeito no interlocutor.