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EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES POR DESCUMPRIMENTO

EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES POR DESCUMPRIMENTO. INADIMPLEMENTO.

OBJETIVO:

Compreender as causas de extinção das obrigações por descumprimento, especialmente aquelas imputáveis ao devedor e diferenciá-las da mora (des- cumprimento relativo).

INSTRUÇÕES:

Ler LOBO (2013), Capítulo XVI, item 16.1. INADIMPLEMENTO

O tema do inadimplemento é um dos mais problemáticos para a Ciência do Direito, pois se insere no estudo dos fatores que levam à falta da prestação devida, cuja classificação e nomenclatura são objeto de discussão entre os autores.

Embora a identificação de tais fatores não seja propriamente tormentosa, sua alocação sob um ou outro grupamento nominado de figuras não encon- tra consenso na doutrina.

Mesmo o fenômeno principal (a falta de entrega da prestação prevista) é ora chamado de inadimplemento, ora de incumprimento, ora de não cum- primento ou descumprimento (Almeida Costa adota os três termos como sinônimos).

De todo modo, o que importa no seu estudo é exatamente a identificação desses fatores que geram ou caracterizam a não-entrega da prestação devida. É dentre eles que, independentemente da classificação e nomenclatura ado- tadas, se encontrará o inadimplemento.

Quando a prestação devida não é realizada a relação obrigacional pode es- tar diante de um mero atraso ou demora; de uma impossibilidade; ou de um cumprimento defeituoso, sendo que este e a demora poderiam levar a uma inutilidade da prestação.

Na concepção desenvolvida por Agostinho Alvim, também utilizada por Orlando Gomes, esses fenômenos constituiriam o inadimplemento em sen- tido amplo.

É mais provável que a falta da prestação devida não seja definitiva, ou seja, que decorra de um mero atraso do devedor ou mesmo do credor. É o que os sistemas em geral chamam de mora. O nosso traça um desenho mais abran- gente dessa figura, considerando envolver também a entrega da prestação fora do lugar, tempo ou modo convencionados.

E aí se incluiriam também as hipóteses de cumprimento defeituoso, adim- plemento ruim ou violação positiva do crédito (na doutrina nacional há par- cas referências a essa assemelhação; Orlando Gomes a menciona, embora para afastá-la (p.174); Ruy Rosado de Aguiar a acata expressamente (p. 126)).

De todo modo, a mora recebe tratamento específico no Código Civil, que a diferencia do caso de impossibilidade, mesmo quando configura inutilida- de. Para este caso, o regime de responsabilização não é inferido por meio de uma equiparação a uma hipótese de impossibilidade (artigos 389 a 393), mas por via própria (parágrafo único do artigo 395).

Para Agostinho Alvim e Orlando Gomes, o inadimplemento em sentido estrito somente pode ser reconhecido na impossibilidade, mas, não fazendo qualquer distinção entre as causas de impossibilidade, reunirá sob esse nome casos de soluções distintas (inadimplemento em sentido estrito imputável ao devedor e inadimplemento em sentido estrito não imputável ao devedor).

Por isso, alguns autores, como Menezes Cordeiro e Judith Martins-Cos- ta restringem a nomenclatura “inadimplemento” apenas à impossibilidade culposa.

Não obstante a conveniente atribuição de um ‘nomen juris’ para uma so- lução legal específica, parece mais adequado ao estudo do Código Civil a adoção do termo inadimplemento em sentido estrito aos casos de impossi- bilidade, seja fortuita ou culposa. Afinal, estes estão reunidos no Capítulo I (Disposições Gerais) do Título IV (Inadimplemento das Obrigações). EM se entendendo que o Título reúne todas as figuras-causa de inadimplemento, é razoável que as disposições gerais se refiram ao inadimplemento em sentido estrito (onde se encontram o inadimplemento fortuito e o culposo).

INADIMPLEMENTO (STRICTU SENSU)

O inadimplemento em sentido estrito se dá com a impossibilidade da prestação:

Esta pode decorrer ou não de culpa do devedor. Conforme um ou outro caso, a solução legal será diversa.

Inadimplemento Culposo

A impossibilidade por culpa é aquela correspondente ao que Judith Mar- tins-Costa chama de regime geral do inadimplemento (com solução em per- das e danos).

É regulada pelo artigo 389 do Código Civil: “não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segun- do índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado”.

Sabe-se que essa solução é relacionada ao descumprimento culposo por conta da regra do artigo 392 (“Nos contratos benéficos responde por simples culpa o contratante a quem o contrato aproveite (..). Nos contratos onerosos res- ponde cada uma das parte por culpa...”) e da exceção feita pelo artigo 393 (que isenta de perdas e danos a impossibilidade decorrente de fortuito).

Culpa

A culpa não difere daquela que constitui elemento da responsabilidade civil. Os conceitos são ontologicamente iguais. Modernamente se reconhece sua unificação, sendo a culpa entendida como a violação de um dever, de uma norma (seja legal ou contratual) e abrangente dos casos de dolo (viola- ção consciente do dever).

No entanto, por conta de efeitos práticos, identifica-se a culpa contratual e a culpa aquiliana.

A primeira se refere à violação de um dever de origem contratual (Orlando Gomes esclarece que não “se refere tão somente ao inadimplemento culposo de obri- gação assumida contratualmente... Configura-se, igualmente, quando a obrigação deriva de declaração unilateral de vontade ou de situações legais que se regulam como se fossem contratuais”), enquanto a segunda a um dever previsto em lei.

O dever contratual cuja violação vai ensejar a culpa contratual é o dever específico de prestar. Já o dever legal, cuja violação vai ensejar a culpa aqui- liana, é o próprio dever genérico de não causar prejuízo (neminem laedere): artigo 186 do Código Civil.

E é essa distinção que vai determinar o ônus da prova na responsabilização: Na responsabilização contratual, como o devedor tinha de prestar e não o fez, é ele quem terá de provar que o inadimplemento ocorreu por causa alheia a sua vontade. Já na responsabilização extra-contratual, aquele que alega o prejuízo, o dano, é que terá que provar que tal dano foi causado pela conduta do outro. Veja-se que nesse caso, não há necessariamente um dever específico de fazer alguma coisa; senão, um de não fazer (não causar dano). Não há um vínculo pré-existente.

Não obstante tais distinções, é importante notar que não há dois tipos diferentes de culpa ou dois tipos diferentes de responsabilidade. Ambos se fundam no mesmo pilar: a violação de um dever jurídico.

Responsabilidade por Perdas e Danos

Se essa violação culposa de um dever causa um dano, terá havido a prática de um ato ilícito (no caso da violação de um dever contratual, o ilícito será contratual).

A prática do ato ilícito gera o dever de reparação (responsabilidade civil). Em resumo, quem infringe um dever (legal ou contratual), causando dano a outrem, fica obrigado a reparar esse dano.

Daqui se extrai que a simples violação culposa de um dever não pode gerar o dever de reparação. Deve ser correlacionada a um dano.

A questão é saber se esse dano já se presume com o inadimplemento ou não: 1) Uns entendem que o próprio descumprimento do dever de prestar (o inadimplemento da obrigação) já caracterizaria o dano, ensejando a reparação.

2) Outros entendem que o dano não pode ser presumido. Há que ser provada a existência de danos emergentes (depreciação do ativo ou au- mento do passivo) e lucros cessantes (frustração da expectativa de ga- nho), assim como se dá na responsabilidade extra-contratual. É a corrente adotada entre nós.

Além disso, há que estar presente o nexo de causalidade.

A presença desses três elementos (culpa, dano e nexo causal) configura, em regra, a responsabilidade contratual.

Mas essa regra comporta três importantes exceções.

Responsabilidade com Culpa Qualificada (Dolo)

Em primeiro lugar, há casos em que a responsabilidade dependerá de uma culpa qualificada como dolo. É o caso das obrigações inseridas em um con- trato gratuito. É delas que trata o artigo 392, 1a parte: “Nos contratos benéfi-

cos responde por simples culpa o contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça”.

Responsabilidade sem Culpa

Em segundo lugar, pode bastar a presença do dano e do nexo causal para que se configure. Cuida-se, aqui, dos casos de responsabilidade objetiva.

Não se estará propriamente no campo do inadimplemento, pois este en- volve a impossibilidade causada por culpa do devedor ou por evento fortuito. Não se estende, na lição tradicional, ao descumprimento imputável (ainda que não culposo) de um dever contratual.

Mas será o caso de uma falta de cumprimento da obrigação contratual atribuível ao devedor ou à sua atividade.

Esse talvez seja um bom exemplo da inadequação ou insuficiência das classificações para o auxílio na solução dos problemas verificados em casos concretos.

A responsabilidade objetiva está, por exemplo, nas relações de transporte, bancárias, de serviços públicos e de consumo em geral.

Culpa sem Responsabilidade

Por fim, pode haver culpa, dano e nexo causal sem que haja responsabilidade. É o caso de exclusão da responsabilidade contratual por vontade das partes. A possibilidade é polêmica mas existe. E inúmeros autores a defendem (entre nós, por exemplo, Orlando Gomes e Caio Mario).

A polêmica é bem representada pelas escolas belga e francesa que dispu- tam sobre o tema.

Segundo a Escola Francesa, não é possível afastar a responsabilidade. Essa corrente considera o dever de reparação como sendo de ordem pública.

Para a Escola Belga, por outro lado, o dever de reparação é de ordem par- ticular e, portanto, disponível, fundada na autonomia das vontades.

Essa exclusão abrangeria os casos de responsabilidade por simples culpa. A exclusão de responsabilidade por dolo é repudiada desde o Direito Ro- mano. De fato, importaria em uma não-vinculação (aquele que está isento de responder juridicamente pelo descumprimento de uma dever contratual na verdade não está obrigado juridicamente): “o devedor que reservasse a faculda- de de não cumprir a obrigação por seu próprio arbítrio, em verdade não estaria obrigado” (Orlando Gomes, p. 158).

Uma cláusula nesse sentido violaria o disposto no artigo 122 do Código Civil.

Embora ainda se possa admitir, de modo geral, a possibilidade dessa exclu- são, hoje está cada vez mais restrita.

Basta que se lembre do Código de Defesa do Consumidor que, em seu artigo 51, I comina de nulidade as cláusulas que “impossibilitem, exonerem ou

atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços...” (note-se que o próprio dispositivo libera a possibilidade para o caso de relação de consumo entre pessoas jurídicas, o que é prova da possibilidade).

Ou que, com relação aos contratos de adesão, sendo nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio, eventual cláusula de exclusão da responsabilidade acabaria por autorizar, ainda que indiretamente, um descumprimento.

Conseqüências (possíveis) do Inadimplemento:

# Responsabilidade

AULA 22: MORA

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