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Segundo Celso de Mello, a extinção dos tratados pode ocorrer de diversas maneiras, tais como: sua execução integral; consentimento mútuo mediante forma prevista no tratado, celebração de outro tratado com o mesmo objeto do anterior (revogação tácita); termo, quando o tratado é celebrado por um período de tempo determinado, o tratado termina quando este prazo expira; condição resolutória; renúncia do beneficiário; caducidade, quando o tratado deixa de ser aplicado por um longo espaço de tempo, ou mesmo quando se formar um costume contrário a ele; guerra; fato de terceiro, quando os contratantes dão a um terceiro o poder de terminar um tratado; impossibilidade de execução, decorrente de impossibilidade jurídica ou física, naquele caso quando é declarado inconstitucional; ruptura das relações diplomáticas e consulares; inexecução do tratado por uma das partes contratantes em um tratado bilateral, assim concede-se o direito à outra parte para suspender ou terminar com ele; e a denúncia unilateral. Isto se dá, em regra, por inteiro, salvo se houver estipulação diversa ou as partes concordarem, além disso, tais atos só podem ser feitos em relação a determinadas cláusulas: a) se estas forem separáveis do resto do tratado a respeito de sua aplicação; b) se estas não constituírem “uma

base essencial do consentimento” dos demais contratantes; c) a execução do restante do tratado não acarretar desequilíbrio145. Dentre as hipóteses de extinção apresentadas, interessa, particularmente, a denúncia unilateral por meio da qual o Estado manifesta sua vontade de deixar de ser parte no acordo internacional, extinguindo-o se neste existirem apenas dois contratantes.

Como explica José Francisco Rezek, a exemplo da ratificação e da adesão, aquela constitui em um ato unilateral de efeito jurídico inverso do produzido por esta146.

Dada a natureza formal do tratado, a denúncia se exprime, por escrito, numa notificação, carta ou instrumento, sendo sua entrega pelo denunciante o ato internacional que se refere à vontade de romper o compromisso.

Segundo a prática internacional, a denúncia é um ato retratável, salvo se seus efeitos já foram consumados. Conseqüentemente, no pacto coletivo, quando um contratante o denunciar, o retorno implica uma nova adesão147.

Heleno Tôrres define, por sua vez, a denúncia como: Um ato administrativo praticado pelos órgãos competentes para a representação internacional do país, e no caso, para determinar a resolução unilateral do compromisso firmado num determinado acordo internacional, retirando-se dele148.

145 MELLO, Celso de. Curso de direito internacional público, p. 246-247. 146 REZEK, José Francisco. Curso de Direito Internacional Público, p. 102- 103.

147 Ibidem, p. 104-105.

148 TÔRRES, Heleno. Pluritributação internacional sobre as rendas de

Relativamente à invocação do princípio do rebus sic

stantibus, segundo José Francisco Rezek, esta pressupõe,

destacando que muitos foram os casos na arena internacional de denúncia de tratados, com invocação unilateral de tal princípio, sem observância do direito das gentes: a) as circunstâncias versadas devem ser contemporâneas da expressão do consentimento das partes, restando excluídas as anteriores e supervenientes ao consentimento, e concorrido essencialmente para o consentimento; b) mudança dessas circunstâncias há de mostrar-se fundamental; c) a mudança circunstancial deve ser imprevisível149.

Discute-se se a denúncia do tratado depende de manifestação conjunta dos Poderes Executivo e Legislativo, embora a prática brasileira reconheça ao Presidente da República o poder de denunciar tratado celebrado pelo Brasil, compreendidos, portanto, na figura do chefe do Poder Executivo, tanto os atos formais quanto a decisão sobre a oportunidade e a conveniência de fazê-lo150.

Defendendo a procedência da prática brasileira, José Francisco Rezek refere que:

[...] parece lógico que, onde a comunhão de vontades entre o governo e o parlamento seja necessária para obrigar o Estado, lançando-o numa relação contratual internacional, repute-se suficiente a vontade de um daqueles dois poderes para desobrigá-lo por meio da denúncia. Não há

149 REZEK, José Francisco. Curso de Direito Internacional Público, p. 110- 111.

150 DALLARI, Pedro Boholometz de Abreu. A Recepção do Tratado Internacional

falar, assim, à luz impertinente do princípio do ato contrário, que se as duas vontades tiverem de somar-se para a conclusão do pacto, é preciso vê- las de novo somadas para seu desfazimento. Antes, cumpre entender que as vontades reunidas do governo e do parlamento presumem-se firmes e inalteradas, desde o instante da celebração do tratado, e ao longo de sua vigência pelo tempo afora, como dois pilares de sustentação da vontade nacional. Isso levará a conclusão de que nenhum tratado – dentre os que se mostrem rejeitáveis por meio de denúncia – deve continuar vigendo contra a vontade, quer do Governo, quer do Congresso. O ânimo negativo de um dos dois poderes políticos em relação ao tratado há de se determinar sua denúncia, visto que significa o desaparecimento de uma das bases em que se apoiava o consentimento do Estado151.

Em continuação, o mesmo autor destaca, mais adiante, que a manifestação do Congresso deverá ser por meio de lei ordinária, não bastando um decreto legislativo de “rejeição” do acordo vigente152.

Pedro Boholometz de Abreu Dallari, por seu turno, fazendo um paralelo com o processo legislativo constitucional, destaca que:

O presidente da República dispõe de exclusividade na iniciativa de projetos de lei de diversas naturezas, como em matéria orçamentária, por exemplo. Aprovado o projeto pelo Congresso Nacional, pode sancioná-lo ou vetá-lo. Mas, uma vez em vigor a lei, não pode o presidente revogá- la ou modificá-la unilateralmente, tendo, para isso, que provocar nova deliberação do Poder Legislativo153.

Assim, advoga uma aprovação parlamentar como requisito da denúncia a se expressar por meio de lei ordinária.

151 REZEK, José Francisco. Curso de Direito Internacional Público, p. 108. 152 Ibidem, p. 108-109.

153 DALLARI, Pedro Boholometz de Abreu. A Recepção do Tratado Internacional

Observando que a Constituição brasileira não exige a manifestação dos Poderes Executivo e Legislativo para encerramento das relações internacionais, salvo para declarar a guerra, diferentemente do que ocorre com a constituição de compromissos internacionais, Heleno Tôrres considera que o Congresso Nacional somente deve-se pronunciar se os acordos ou atos internacionais acarretarem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional. Todavia, nada impede que o Congresso Nacional determine à Presidência da República a denúncia de algum acordo em vigor, mediante decreto legislativo154.

Consoante corolário da separação de competências entre os Poderes Executivo e Legislativo, referida no artigo 2º da CF, a fim de que seja denunciado o tratado, deve haver a manifestação conjunta de ambos os Poderes, não se justificando que se aplique neste tópico a discricionariedade autorizada ao Presidente da República, tanto no envio da mensagem ao Congresso, propugnando a autorização legislativa, quanto na ratificação ou adesão. Tal ato deve ser adotado por meio de lei ordinária.

154 TÔRRES, Heleno. Pluritributação internacional sobre as rendas de

2.7 Tratados de troca de informações e cooperação