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Bom, meu caro aluno, vamos encerrar nosso estudo desse remédio tratando de alguns últimos aspectos que podem ser explorados em sua prova! Vejamos:

(i) O procedimento do mandado de segurança será especial, de rito sumaríssimo, no qual o objeto principal do remédio é a anulação de ato ilegal ou abusivo de direito líquido e certo, ou a determinação

25. REsp 1.266.278-MS, Corte Especial, DJe 10/5/2013. REsp 1.124.254-PI, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 1º/7/2014.

da prática do ato omitido pela respectiva autoridade coatora competente ou mesmo uma ordem de não fazer.

(ii) A concessão da liminar é direito subjetivo do autor, sendo o juiz obrigado a concedê-la se estiverem preenchidos os requisitos processuais. Assim, o magistrado, ao despachar a inicial, ordenará que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida. Contudo, vale informar que a Lei nº 12.016/2009 traz em seu bojo exceções legais, que deverão ser observadas pelo juiz (são situações nas quais os requisitos da “probabilidade do direito” e “o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo” estão presentes, mas, ainda assim, a lei não admite liminar em mandado de segurança):

(A) para a compensação de créditos tributários;

(B) para a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior;

(C) para a reclassificação ou equiparação de servidores públicos e a concessão de aumento ou extensão de vantagens ou pagamento de qualquer natureza (art. 7º, § 5º da Lei nº 12.016/2009).

Entenda que a opção do legislador em vedar a concessão de liminar nestes casos se deve ao fato de estarmos diante de matérias de extrema relevância, que não devem ser resolvidas de forma precária, por intermédio de medida liminar. Pense só, meu caro aluno: quando há a compensação de créditos tributários, um ente da federação (União, Estado-membro, DF ou Município) “desculpa” um débito que o contribuinte possui a partir de um crédito que ele tenha. Para ilustrar, visualize um cenário no qual o contribuinte deve uma quantia referente ao IR (imposto de renda), mas é credor de valores em razão de um outro tributo: neste caso, ele usaria o crédito para compensar o débito.

(iii) Em maio de 2013, no julgamento do RE 669.367, o Plenário do STF, por maioria, decidiu que a desistência do mandado de segurança é possível, sendo uma prerrogativa de quem o propõe e pode ocorrer a qualquer tempo, sem anuência da parte contrária e independentemente de já ter havido decisão de mérito, ainda que favorável ao autor da ação. De acordo com o entendimento da maioria dos ministros, o mandado de segurança é uma ação dada ao cidadão contra o Estado e, portanto, não gera direito a autoridade pública considerada coatora, pois seria “intrínseco na defesa da liberdade do cidadão”.

(iv) No processo do mandado de segurança não há condenação ao pagamento de honorários advocatícios (ônus de sucumbência), o que significa que em caso de o impetrante não obter judicialmente a procedência do seu pedido (isto é, se ele ‘perder’), ele não será condenado a pagar as despesas que a outra parte (impetrado) teve com advogado.

(v) Segundo o STF, o mandado de segurança deverá ter seu mérito apreciado independentemente de superveniente trânsito em julgado da decisão questionada pelo mandamus. Nesse sentido, se a impetração do mandado de segurança for anterior ao trânsito em julgado da decisão questionada, mesmo que venha a acontecer, posteriormente, o mérito do MS deverá ser julgado, não podendo ser invocado o seu não cabimento ou a perda de objeto.

(vi) Por último, vale comentar um interessante julgado do ano de 2019, proferido pela 1ª Turma do Supremo26, no qual foi decidido que o acórdão concessivo do MS que determina o pagamento retroativo dos valores devidos a anistiado político deve incluir também os juros de mora e correção monetária. Nesse sentido, não é necessário o ajuizamento de ação autônoma para o pagamento dos consectários legais inerentes à reparação econômica devida a anistiado político e reconhecida por meio de Portaria do Ministro da Justiça, a teor do disposto no art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) e no art. 6º, § 6º, da Lei 10.559/2002.27

Questão para fixar

[Quadrix - 2016 - CRO - PR - Procurador Jurídico - Adaptada] “[...] Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. (Constituição Federal de 1988). Considerando o texto constitucional acima indicado, bem como as considerações doutrinárias sobre o aludido remédio constitucional, julgue o item:

Nos termos da jurisprudência do STF, não cabe condenação em honorários de advogado na ação de mandado de segurança.

Comentário:

Item verdadeiro! De fato, não há tal condenação.

Gabarito: Certo

26. STF. 1ª Turma. RMS 36182/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/5/2019 (Info 940).

27. RMS 36182/DF, Rel. Min. Marco Aurélio.

(4.3) Mandado de segurança coletivo (Art. 5º, LXX, CF/88) (A) Introdução

À luz da nossa atual Constituição Federal, podemos afirmar que o mandado de segurança é um gênero, que se fraciona em duas espécies: o mandado de segurança individual e o coletivo. A conceituação do mandado de segurança coletivo, por isso, é a mesma do mandado de segurança individual. Também se apresenta como uma ação constitucional de natureza civil e de procedimento especial, que visa tutelar direito líquido e certo.

Mas então, você me pergunta: “Qual é a diferença central entre eles, professora?”. Bom, como no mandado de segurança coletivo o foco é a coletividade e a proteção de seus direitos (coletivos e individuais homogêneos), e no MS individual a atenção é sobre o sujeito considerado em sua individualidade, eu diria que as duas diferenças significativas entre eles residem no objeto e na legitimação ativa.

Não é à toa, portanto, que a doutrina tradicionalmente afirma que o mandado de segurança coletivo nada mais é do que a possibilidade de impetrar o mandado de segurança individual por intermédio da tutela jurisdicional coletiva.

A Lei nº 12.016/2009 deixou firmado, de maneira expressa, que o mandado de segurança protege os direitos coletivos e os individuais homogêneos, mas não os direitos difusos. É o que indica o art. 21, parágrafo único:

(i) Coletivos, assim entendidos, para efeito da Lei, os transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica básica.

(ii) Individuais homogêneos, assim entendidos, para efeito da Lei, os decorrentes de origem comum e da atividade ou situação específica da totalidade ou de parte dos associados ou membros do impetrante.

A limitação determinada pela lei ao não abarcar os direitos difusos é duramente criticada pela doutrina, ao argumento de que a lei está vedando, inadequadamente, a tutela dos direitos difusos por meio do mandado de segurança coletivo. Deve-se ressaltar, no entanto, que alguns autores consideram que o entendimento posto na lei é a tradução do que vem sendo defendido nos Tribunais Superiores, que descartam o uso do mandado de segurança coletivo como substituto da ação popular. Nesse sentido é a súmula 101 do STF: “O mandado de segurança não substitui a ação popular”. Discordamos.

Em nossa percepção, o art. 21 da Lei nº 12.016 é de constitucionalidade duvidosa, pois deveria sim

abarcar os direitos difusos a partir da incidência do princípio da máxima efetividade do dispositivo constitucional que prevê a garantia do MS.

Por último, em que pese não termos uma definição constitucional acerca do intuito e do objeto do MS coletivo, podemos apontar para ele uma tríplice finalidade:

(1) fortalecer as organizações classistas, eis que ele permite a defesa de direitos dos membros ou associados, por exemplo, das associações e das entidades de classe;

(2) facilitar o acesso à justiça;

(3) evitar o acúmulo de demandas idênticas, pois a ação permite a substituição de diversos mandados de segurança individuais por um único de caráter coletivo.

(B) Cabimento

O mandado de segurança coletivo poderá ser utilizado nas mesmas hipóteses de cabimento do MS individual. Assim, possui por finalidade a proteção de direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o paciente sofrer lesão ou ameaça a direito, por ação ou omissão da autoridade.

Vale lembrar que o mandado de segurança coletivo não se destina à tutela de direitos de um indivíduo em particular, devendo ser utilizado apenas para a tutela de direitos coletivos em sentido amplo. Não é necessário, contudo, que esse remédio coletivo busque tutelar o direito da totalidade dos associados do impetrante, bastando que se destine à tutela de algum direito coletivo de uma parcela deles (para exemplificar, pensemos em um cenário no qual o sindicato ingressa com MS coletivo para defender direito referente à aposentadoria, o que vai abranger, tão somente, seus filiados inativos).

Aliás, o STF tem até uma súmula sobre isso, que é a de nº 630, que diz: “A entidade de classe tem legitimação para o mandado de segurança ainda quando a pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da respectiva categoria”. Esse aspecto, aliás, é bastante explorado em prova. Vejamos como:

Questões para fixar

[CESPE - 2013 - TJ-RN - Juiz - Adaptada] A respeito do mandado de segurança, julgue a assertiva:

A entidade de classe não tem legitimidade para propor mandado de segurança coletivo se a pretensão veiculada interessar a apenas parte da categoria representativa.

Comentário:

Identificou essa assertiva como falsa? Conforme preceitua a súmula 630, do STF, a entidade de classe tem legitimação para o mandado de segurança ainda quando a pretensão veiculada interesse apenas a uma parte

da respectiva categoria.

Gabarito: Errado [CESPE - 2012 - DPE-AC - Defensor Público - Adaptada] A respeito do entendimento sumulado do STF no que se refere a mandado de segurança, julgue o item:

As entidades de classe não têm legitimidade para impetrar mandado de segurança caso a pretensão veiculada interesse apenas a parte da categoria representada.

Comentário:

O item apresentado é falso: conforme prevê o enunciado da súmula 630 do STF, a entidade de classe será legitimada para impetrar o mandado de segurança coletivo ainda que a pretensão interesse apenas a uma parte da categoria.

Gabarito: Errado [CESPE - TJ - PB - 2015 - Juiz Substituto - Adaptada] Julgue o item a respeito da tutela constitucional das liberdades:

Determinada organização sindical impetrou mandado de segurança coletivo para defesa de interesse de parte da categoria de profissionais a ela vinculados. Nessa situação, o magistrado deverá reconhecer a ilegitimidade ativa, pois é imprescindível, para o conhecimento do remédio constitucional, que a pretensão veiculada interesse a toda a categoria ligada à organização sindical.

Comentário:

A assertiva deverá ser julgada como falsa. O fato de existir envolvimento de direito apenas de parte do quadro social não afasta a legitimidade da organização sindical.

Gabarito: Errado