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Factores fisiológicos que determinam o rendimento em corridas de 400m

No documento TRABAJO DE INVESTIGACIÓN FINAL (páginas 36-43)

1. CARACTERÍSTICAS DA CORRIDA DE 400m

1.3. Corrida de 400m como especialidade de RDC

1.3.1. Factores fisiológicos que determinam o rendimento em corridas de 400m

Neste sentido e por forma a que possamos ser mais precisos, passemos a referir os conceitos relacionados com o potencial energético que estão subjacentes ao quadro apresentado, e que se enquadram dentro dos factores fisiológicos que determinam o rendimento em corridas de 400m, são eles:

- Capacidade Anaeróbia aláctica - Potência anaeróbia láctica

- Capacidade Anaeróbia láctica - Potência e Capacidade Aeróbia

Como já referimos anteriormente a Capacidade refere-se à quantidade total de energia disponível, enquanto que a quantidade total de energia gerada por unidade de tempo denomina-se Potência, e diz respeito à intensidade máxima alcançada por esse sistema energético (Green, 1995). Neste sentido, a Capacidade Anaeróbia aláctica é a quantidade total de ATP que pode ser restituída por via do sistema ATP-CP, a qual segundo Green (1995) e Treviño & Hill (2001) reflecte os depósitos de fosfocreatina. A Potência anaeróbia láctica diz respeito ao ritmo a que o ATP pode ser regenerado por via da glucólise anaeróbia, enquanto que a capacidade láctica é a quantidade total de energia que pode ser gerada por via da referida fonte.

Quanto à Potência e Capacidade aeróbia, a primeira é caracterizada pelo Consumo máximo de Oxigénio (VO2 máx.) que corresponde ao ritmo com que o metabolismo aeróbio fornece energia (Thoden, 1995), ou seja é a capacidade de produzir energia aeróbia a uma taxa elevada (Bangsbo et all, 1993 citado por Colaço, 1999). Por sua vez, e pelo exposto anteriormente, podemos considerar a Capacidade aeróbia como quantidade total de energia disponível obtida a partir do metabolismo aeróbio.

Relativamente à importância do metabolismo aeróbio, não obstante a maior participação do metabolismo anaeróbio, não pode ser menosprezada neste tipo de esforços como vimos anteriormente. Newsholme (1986) considera que existem duas vantagens de se produzir energia de origem aeróbia numa corrida de 400m: 1) a produção de ATP é mais eficiente, porque se utiliza menos glucogénio (4,6g de glicogénio por cada mole de ATP quando se produz energia por via do metabolismo aeróbio, em vez de 60g de glucogénio para cada mole de ATP aquando do metabolismo anaeróbio), e 2) o mais importante provavelmente, porque quando se proporciona mais oxigénio ao músculo durante o exercício, o caudal de sangue desse mesmo músculo deve aumentar, e isto permite que os iões de hidrogénio produzidos junto ao lactato possam libertar-se desde o músculo para o sangue e aí metabolizar-se noutros tecidos. Esta capacidade de remoção do lactato é tanto melhor quanto maior for a densidade mitocondrial e a actividade das enzimas oxidativas (Donovan et all, 1989 e 1990 citados por Carter & Oosthuyse, 1999).

Para muitos autores a performance na corrida de 400m depende fundamentalmente da energia fornecida pela Capacidade anaeróbia (Lacour, 1989; Péronnet e Thibault , 1989; citados por Heugas e Brisswalter, 2000).

Reis (1997) entende a Capacidade Anaeróbia como a sustentação durante o maior período de tempo possível, de um esforço de potência inferior à máxima. Para este autor, este parâmetro é vulgarmente indicado como principal limitador do rendimento em provas de 400m (Coelho e Reis, 1995).

Para Medbo (1990), a Capacidade anaeróbia diz respeito à quantidade total de Como podemos verificar, para um mesmo termo, diferentes autores sugerem diferentes definições. Referindo-se a uma revisão efectuada por Green, G. Ayestaran & Calbet (2001, citando Green, 1994) apresentam as definições que podem ser consultadas na tabela seis:

Tabela 6 - Definições de Capacidade Anaeróbia (criado a partir de G. Ayestaran & Calbet, 2001)

Definição Autor

A Capacidade anaeróbia do músculo pode ser medida a partir da determinação da taxa de produção de lactato.

Westra e Cols (1976, citado por Green, 1994) Quantidade de ácido láctico formado durante a actividade até ao esgotamento. Bennett (1978)

Capacidade do metabolismo glucolítico e da máxima produção de ácido láctico para alcançar o limite superior após os primeiros segundos de exercício. Este mecanismo vem determinado pela taxa glucolítica máxima.

Berg e cols (1989, citado por Green, 1994)

A Capacidade Anaeróbia é a quantidade total de energia fornecida pelos sistemas metabólicos anaeróbios, durante o esforço extenuante de curta duração.

Pate e cols (1983)

A Capacidade Anaeróbia do organismo constitui o sistema chave responsável pela libertação de energia em actividades desportivas de duração igual ou inferior a 120 segundos, efectuados a intensidades óptimas ou muito próximas da máxima6.

Mackova e cols (1985)

A Capacidade Anaeróbia é a quantidade máxima de ATP formado pelos processos anaeróbios (hidrólise da fosfocreatina e produção de lactato) durante o exercício.

Medbo e cols (1988)

Habilidade para gerar uma carga ácida7. Walsh e Milligan (1989)

O termo Capacidade Anaeróbia, com as suas componentes Potência anaeróbia máxima e Resistência anaeróbia, é definido como a habilidade para efectuar esforços máximos de curta duração, em condições de déficit de oxigénio.

Szogy (1989)

A Capacidade Anaeróbia máxima é a máxima quantidade de energia fornecida pelo metabolismo anaeróbio.

Camus e Thys (1991)

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Pese embora, hoje se considere que o sistema energético que contribui em maior quantidade para a despesa energética, em esforços que produzem o esgotamento acima de 1 minuto, é o sistema aeróbio (Medbo e cols, 1988 citado por G. Ayestaran & Calbet, 2001)

7 Para G. Ayestaran & Calbet (2001) não é claro se habilidade significa “potencia “ ou “Capacidade”,

Para aqueles dois autores, as definições constantes no quadro seis fazem uso profuso do termo “anaeróbio”. O metabolismo anaeróbio abarca todos aqueles processos que permitem a ressíntesse do ATP em ausência de Oxigénio (G. Ayestaran & Calbet, 2001). Referem ainda os mesmos autores, que no contexto da Fisiologia do Exercício o termo Potência reserva-se à velocidade à qual se realiza o trabalho, enquanto que o termo capacidade tem o significado de trabalho total efectuado independentemente do tempo investido para levá-lo a cabo. Um erro excessivamente frequente consiste em equivaler o trabalho total realizado durante um esforço que produz o esgotamento em pouco tempo (30 segundos a 2-3 minutos) com a capacidade anaeróbia, quando uma parte importante da energia necessária para efectuar esse esforço procede também do metabolismo aeróbio. Posto isto, os autores sugerem a seguinte definição:

“A capacidade anaeróbia é a quantidade máxima de ATP ressintetizada pelo metabolismo anaeróbio (da totalidade do organismo) durante um tipo específico de esforço máximo, de curta duração” (G. Ayestaran & Calbet, 2001, citando Green,

1994; Gastin, 1994, citando Medbo, 1988).

Por outro lado, devemos efectuar também uma diferenciação entre capacidade anaeróbia e capacidade de trabalho anaeróbio. A capacidade de trabalho anaeróbio deve ser definida como: “a quantidade de trabalho mecânico externo (ou seja medido num

ergómetro) efectuado durante um tipo específico de exercício extenuante, de suficiente duração para requerer um aporte de ATP por parte do metabolismo anaeróbio, máximo (ou quase máximo), sempre e quando o fornecimento de ATP por parte do metabolismo anaeróbio seja superior ao aeróbio” (G. Ayestaran & Calbet, 2001, citando Green,

1994; Gastin, 1994).

Quanto à Potência anaeróbia, sugerem que é “a velocidade máxima à qual o

metabolismo anaeróbio (da totalidade do organismo) pode resintetizar ATP, durante um esforço máximo de curta duração” (G. Ayestaran & Calbet, 2001, citando Green,

1994).

Para Medbo e Burgers (1990), existe uma relação próxima entre uma elevada Capacidade anaeróbia e um elevado ritmo de produção de energia anaeróbia (Potência), ainda que sejam conceitos diferentes.

A Potência anaeróbia aláctica vem determinada pela velocidade máxima com que a miosina ATPasa é capaz de hidrolizar ATP “in vivo”. Uma vez que a velocidade

de fornecimento da de ATP por parte da reacção da CK é superior à máxima actividade da miosina ATPasa, a expressão mecânica da potência anaeróbia aláctica só se manifesta naqueles esforços que reunam condições óptimas de velocidade e resistência para que se possa alcançar a potência mecânica máxima (G. Ayestaran & Calbet, 2001). Por sua vez a Potência anaeróbia láctica, segundo os mesmos autores, depende da actividade da fosofofructoquinasa (PFK), que provavelmente alcança a sua máxima actividade entre os 10 e os 30 segundos de esforço, devido ao aumento da temperatura e à acumulação de metabolitos estimulantes da PFK.

Também Arcelli (1995), sugere que uma potência láctica elevada só é conseguida à custa de um elevado trabalho das enzimas glicolíticas. Associado com os conceitos de potência e capacidade láctica, este autor apresenta os componentes do metabolismo láctico. Divide-os em: Componentes lácticos internos à fibra muscular, outros componentes – periféricos e, componentes lácticos centrais. Relativamente aos que podem interferir na prova de 400m apresenta os que se podem consultar na tabela sete.

Tabela 7 - Componentes do metabolismo láctico que interferem na corrida de 400m (Modificado a partir de Arcelli, 1995)

Componentes internos (na fibra muscular)

Elevada capacidade tampão Baixo valor de “ph crítico” Capacidade de trabalho com elevadas concentrações de lactato

Outros componentes – periféricos

Tamponamento da parte muscular

Chegados a este ponto podemos perceber algumas considerações da Metodologia de Treino utilizada para esta prova. Lisowski (2001), sugere que é necessária a determinação de uma terminologia de esforço. Tal como vimos anteriormente, uma subdivisão dos esforços em Aeróbios e Anaeróbios e estes por sua vez, em Anaeróbio glucolítico e fosfagénio. Todos estes esforços podem trabalhar-se em regime de máxima intensidade, i.e. potência, e de duração – capacidade. Neste sentido, para este autor a maioria dos conteúdos de treino para os 400m devem apresentar-se sob a forma de potência e capacidade glucolítica (figura 5).

Figura 5 – Contribuição das fontes energéticas para esforços de diferente duração e

possibilidades de utilização em regime de capacidade e potência (Adaptado de Navarro, 1999)

Outros autores, sugerem ainda que os conteúdos de treino possam ser orientados para a eficiência, ou seja para a economia de esforço, sendo que o objectivo é o de consumir menos energia perante uma determinada intensidade (Garcia Verdugo, 1997; Navarro, 1999). Esta eficiência pode ser conseguida à custa de uma óptima técnica de corrida ou da salvaguarda de energia, entenda-se da sua melhor utilização possível ou ainda de um adequado aproveitamento da sua conversão, nomeadamente de energia metabólica/química a mecânica (Arellano, 2000). Para o autor esta conversão é tanto mais eficiente quanto melhor for o trabalho executado pelo sistema nervoso, no que toca às questões relacionadas com o controlo motor. Com efeito, alguns autores referem-se este aspecto como economia de corrida, termo que traduz os custos em termos de consumo de Oxigénio de uma determinada velocidade de corrida (Lacour et all, 1990a; Kyröläinen et all, 2001; Heise & Martin, 2001). Pese embora para o nosso caso nos interesse mais a economia de sprint, termo proposto por Rusko e colaboradores (1993) o qual assenta na ideia de que quanto maior for a velocidade alcançada para um

determinado nível submáximo de lactato, melhor é a economia e técnica de um determinado sprinter.

Pudemos então resumir os factores fisiológicos decisivos para a corrida de 400m como apresentamos seguidamente (Miguel, 2001):

- Capacidade Anaeróbia Aláctica - dispor de um grande número de depósitos de fosfatos para atrasar a entrada da via anaeróbia láctica e assim mobilizar esta fonte de alta energia;

- Potência Anaeróbia Láctica - a fim de continuar a dispor de muita energia por unidade de tempo, sendo que para tal é necessário - acumular e conseguir tolerar uma elevada concentração de lactato continuando o esforço);

- Capacidade Anaeróbia Láctica – assume maior importância nas mulheres ou em atletas de menor qualificação (Puig, 1998), uma vez que a maior duração da prova exige que, apesar da contínua produção de lactato se consiga atrasar a hiperacidez.

No documento TRABAJO DE INVESTIGACIÓN FINAL (páginas 36-43)