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A falta de vagas na creche e a mídia

CAPÍTULO 3 – EDUCAÇÃO INFANTIL NO MUNICÍPIO DE MAUÁ: AVANÇOS

3.2 Breve histórico da educação infantil no município de Mauá

3.2.2 A falta de vagas na creche e a mídia

Em relação à falta de vagas na creche, salienta-se que tal fato tem sido objeto de matérias veiculadas na mídia, na região do ABC e na cidade de São Paulo, dentre outros. Em reportagem da jornalista Natália Fernandes, do jornal Diário do Grande ABC, de 1º de março de 2016, destacou-se que “[...] pelo menos 15.780 crianças com idade entre zero e três anos aguardam em fila de espera por vaga em creche no Grande ABC [...]”.

Nessa reportagem, uma mãe, moradora de Mauá, que trabalha como cabelereira e aguarda vaga para sua filha na creche, revela que “[...] é uma dificuldade grande. Minha mãe é diarista e dependo dos dias de folga dela para que cuide da bebê e eu possa trabalhar. Praticamente só me restaram aquelas clientes que são amigas e compreendem a situação [...]”.

Conforme consta na reportagem, “[...] após receber negativa de vaga para matricular a filha na rede municipal de Mauá [...]”, a mãe recorreu à Justiça e declarou não ter outra alternativa: “Procurei o Conselho Tutelar e advogado para tentar o acesso. Vamos torcer para que saia uma liminar [...]”.

Além do caso específico que destaca a procura por uma vaga na creche, tal fato reafirma o movimento realizado pelos pais, mães e responsáveis, na busca por uma vaga junto ao Ministério Público, caracterizando a judicialização da educação.

De acordo com a referida reportagem, a ausência de vagas na creche, na rede municipal, ocorre em seis dos sete municípios do Grande ABC; apenas São Caetano do Sul atende 100% das crianças em idade de zero a três anos. O município com maior déficit de vagas é São Bernardo do Campo que contou com uma fila de espera de 4.313 vagas, em 2015. No município de Santo André, 3.885 crianças de zero a três anos aguardam vaga na creche. Em Mauá, 3.000 crianças aguardam vaga. Em Ribeirão Pires, a espera atinge 582 crianças. O município de Diadema possuiu, em 2015, um déficit de 4.000 vagas. O município de Rio Grande da Serra não respondeu à reportagem.

Como justificava dessa falta de vaga em relação à demanda existente, destaca-se nesta matéria que

[...] o principal gargalo das administrações é resultado de baixo

investimento na construção de unidades de ensino, custo alto para manter o aluno na creche em período integral e alta taxa de natalidade, principalmente nas áreas periféricas, lembra o doutor em Educação da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo) Ocimar Munhoz Alavarse. “A escolarização é um direito da criança, ainda que a mãe não trabalhe. Uma das alternativas tem sido estabelecer convênio com entidades privadas para incluir

alunos, mas isso esbarra na dificuldade de financiamento”, ressalta [...]. (FERNANDES, N., 2016, p. 6).

Em relação aos procedimentos a serem adotados pelos municípios a fim de reverter o problema, destaca-se que cinco das sete cidades prometem abrir, juntas, 4.120 vagas para crianças da creche. Diadema e Rio Grande da Serra não informaram as providências a serem tomadas. No município de Santo André, a pretensão é de criar 560 vagas com novas quatro creches a serem inauguradas. Em São Bernardo, a proposta é de abertura de 2.600 vagas, em oito escolas e de um CEU (Centro de Educação Unificada). O município de Mauá pretende “[...] continuar a otimizar espaços, como brinquedotecas e salas de leitura, para ampliar as vagas, além de entregar duas unidades e o CEU [...] somando 760 vagas [...]”. O município de Ribeirão Pires “[...] informou apenas ter projeto para erguer duas escolas”, sem especificar o número de beneficiados.

A reportagem veiculada no jornal Diário do Grande ABC, além de destacar a ausência de vagas, expôs as propostas dos municípios a fim de solucionar parte do problema.

Ressalta-se que a ausência de vagas na creche não é recorrente, apenas, nos municípios da Região do ABC. A cidade de São Paulo enfrenta o problema com uma demanda muito superior, compatível com a população de zero a três anos de idade. Assim, de acordo com matéria veiculada no jornal Folha de S. Paulo – on line (UOL, 2016), a partir de 2007 triplicou o número de crianças matriculadas na creche; no entanto, a fila de espera por vagas não teve a necessária redução. De acordo com dados da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e do Programa de Metas da Prefeitura de São Paulo (2013-2016), a fila de espera para vaga na creche, no ano de 2016, na cidade de São Paulo, atingiu 133.000 crianças, enquanto que, nesse mesmo ano, 284.000 crianças foram matriculadas na creche.

A respectiva matéria especifica que essa fila de espera se faz de forma desigual nas diferentes regiões da cidade. A região de Vila Andrade, por exemplo, localizada em Paraisópolis, região sul da cidade de São Paulo, é a que menos atende a demanda por creche, sendo que a fila de espera chegou a ultrapassar um ano e três meses em 2015.

O jornalista Artur Rodrigues, do jornal Folha de S. Paulo, em reportagem veiculada em 19 de novembro de 2015, referente à fila de espera para vaga na creche, destaca que essa espera, em média, em alguns bairros da cidade de São Paulo, chega a 500 dias, podendo chegar até 840 dias. Assim, “[...] cansados de esperar, muitos pais e mães recorreram à justiça para conseguir a vaga [...]”.

Nessa matéria, o defensor público Allan Ramalho Ferreira afirma que “[...] os juízes dão as liminares, mas, mesmo assim, a prefeitura às vezes demora a cumprir, pela falta de estrutura física [...]”.

Observa-se nessas reportagens que, tanto na Região do ABC paulista quanto na cidade de São Paulo, em especial, em determinados bairros, a falta de vagas na creche tem se tornado recorrente nos últimos anos; fato este que tem mobilizado pais e mães a recorrerem à justiça em busca de vaga, promovendo a judicialização da educação na creche.