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O direito à educação na Constituição Federal do Brasil de 1934

CAPÍTULO 2 – DIREITO À EDUCAÇÃO: VÁRIOS OLHARES

2.3 O direito à educação nas Constituições do Brasil

2.3.3 O direito à educação na Constituição Federal do Brasil de 1934

A Constituição Federal de 1934, conforme Costa (2011, p. 32), foi “[...] influenciada pela Carta Constitucional de Weimar [...]” e, a partir de então, “[...] inaugura com a nova Declaração de Direitos, o Estado Social brasileiro, com a inserção de títulos relativos à ordem econômica e social, à família, à educação e à cultura, enfim a positivação de direitos sociais [...]”.

Para Costa (2011, p. 33), a Constituição Federal do Brasil de 1934

[...] representou um passo adiante no processo de modernização do ensino e foi a pioneira e mais rica Constituição brasileira no que diz respeito à educação. Pela sua importância, muitos dos princípios nela inseridos vigoram até hoje na ordem constitucional [...].

O direito à educação surge na Constituição Federal do Brasil de 1934, sendo que o artigo 5º expressa as competências da União, dentre as quais se destaca, no inciso XIV, “[...] traçar as diretrizes da educação nacional [...]”. No artigo 10, observa-se as competências da União e dos

Estados, dentre as quais, o prescrito no inciso VI: “[...] difundir a instrução pública em todos os seus graus [...]”.

A proibição do voto aos que não sabiam ler e escrever e aos mendigos permanece no artigo 108 desta Constituição, reafirmando uma discriminação e uma exclusão para com aqueles que foram privados do direito à educação, que sequer existia formalmente, até então, bem como a condição financeira que, também, estava e está atrelada às condições históricas, sociais, econômicas e políticas em que o Estado se encontrava e se encontra. Desta forma, atribuir ao cidadão uma restrição em relação ao voto pela pobreza ou pelo analfabetismo é atribuir uma punição a quem já foi punido pela ausência do papel do Estado na educação e no trabalho.

Mais uma vez, observa-se no artigo 113, item 1, que “[...] todos são iguais perante a lei [...]” e que “[...] não haverá privilégios, nem distinções, por motivo de nascimento, sexo, raça, profissões próprias ou dos pais, classe social, riqueza, crenças religiosas ou ideias políticas [...]”. No entanto, privar o cidadão do voto pela condição de “mendigo” não se coaduna com a ausência de privilégios em relação à “classe social”, demonstrando no próprio texto uma contradição que revela uma diferença entre iguais.

No capítulo “Dos Direitos e Garantias Individuais”, pode-se localizar, nos artigos 138 e 139, incumbências em relação à educação. Assim, o artigo 138 estabelece que cabe à União, aos Estados e Municípios, nas alíneas “a” e “b”, “[...] estimular a educação eugênica [...]” e “[...] amparar a maternidade e a infância [...]”, respectivamente.

Já o artigo 139 demonstrava uma preocupação com os trabalhadores e familiares analfabetos, delimitando incumbência aos empregadores quanto ao ensino primário, expressando que “[...] toda empresa industrial ou agrícola, fora dos centros escolares, e onde trabalharem mais de cinquenta pessoas, perfazendo estas e os seus filhos, pelo menos, dez analfabetos, será obrigada a lhes proporcionar ensino primário gratuito [...]”.

Contudo, o que de fato inovou nesta Constituição foi a inserção de um Capítulo que tratava, especificamente, “Da Educação e da Cultura”. Assim, pela primeira vez, a educação foi contemplada enquanto direito de todos neste instrumento legal, tal como constava no art. 149:

A educação é direito de todos e deve ser ministrado, pela família e pelos Poderes Públicos, cumprindo a estes proporcioná-la a brasileiros e estrangeiros domiciliados no País, de modo que possibilite eficientes fatores na vida moral e econômica da Nação, e desenvolva num espírito brasileiro a consciência da solidariedade humana [...].

As competências da União, dos Estados e Municípios foram expressas nesta Constituição, delimitando o dever de cada ente federado. O art. 150 expressava que competia à União:

[...] a) “fixar o plano nacional de educação, compreensivo do ensino de todos os graus e ramos, comuns e especializados; e coordenar e fiscalizar a sua execução, em todo o território do País”.

[...]

Parágrafo único – O plano nacional de educação constante de lei federal, nos termos dos art. 5º, nº XIV, e 39, nº 8, letras “a” a “e”, só se poderá renovar em prazos determinados, e obedecerá às seguintes normas:

a) ensino primário integral gratuito e de frequência obrigatória extensivo aos adultos;

b) tendência à gratuidade do ensino educativo ulterior ao primário, a fim de o tornar mais acessível;

[...]

e) limitação da matrícula à capacidade didática do estabelecimento e seleção por meio de provas de inteligência e aproveitamento, ou por processos objetivos apropriados à finalidade do curso [...].

A alínea “a”, do parágrafo único, do artigo 150, reporta-se à obrigatoriedade e gratuidade, apenas, do ensino primário, o que evidencia que o direito à educação, formalmente, apesar de tardio, se restringiu, apenas, às quatro primeiras séries do ensino primário.

O direito à educação, expresso legalmente, ganhou novos contornos, quando observa- se a alínea “e” do referido artigo, que limita a matrícula não só à capacidade didática da escola, mas quanto à necessidade de “[...] seleção por meio de provas de inteligência e aproveitamento [...]”, o que entende-se tratar-se de pressupostos que contrariam o direito de todos à educação, previsto no artigo 149. Assim, um preceito que estabelece o direito comum, no mesmo texto legal, contradiz o expresso, quando delimita situações para a obtenção desse direito já instituído. O artigo 156 expressava que “[...] a União e os Municípios aplicarão nunca menos de dez por cento, e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento, da renda resultante dos impostos na manutenção e no desenvolvimento dos sistemas educativos [...]”.

Constata-se a inclusão da fixação de um percentual específico para aplicação na manutenção da educação no país, estabelecendo aos entes federados a sua incumbência nesse aspecto.

Em estudo referente à Constituição do Brasil de 1934, Horta (1998, p. 17) se reporta a Pontes de Miranda que, em 1933, publicou um “estudo sobre o direito à educação”. Nesse estudo, Miranda já apontava que

[...] o atendimento do direito não pode ficar dependendo do “movimento espontâneo do Estado para educar a população” e que a matrícula na escola

pública não pode ser apenas um “ato administrativo, falível do Estado”. Pontes

de Miranda defenderá, pela primeira vez, o princípio da educação enquanto

“direito público subjetivo no Estado de fins precisos”. Tal princípio implica, segundo ele, garantia de ação gratuita contra o Estado, no caso de não atendimento do direito à educação, e exige, para sua concretização o planejamento educacional [...].

No entanto, apesar da tentativa de defesa do direito à educação, enquanto “direito público e subjetivo”, à época, tão defendida por Pontes de Miranda, a Constituição Federal de 1934 garantiu o direito à educação; contudo, no que se refere ao “direito público e subjetivo”, o mesmo só foi introduzido na Constituição Federal de 1988; ou seja, 50 anos após sua indicação.

Pode-se considerar, no entanto, que a Constituição Federal do Brasil de 1934 se constituiu num marco legal que deu início ao “direito à educação” no país.