• Nenhum resultado encontrado

Os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) (2006) revelou mudanças nas características da família brasileira. Em relação à região Sudeste, entre os anos de 1995 a 2005, o percentual de famílias com filhos diminuiu de 56,6% para 48,5% e das famílias chefiadas por mulheres cresceu 35% nesse período, mesmo nas famílias em que há presença do esposo. Esse índice ocorreu por vários fatores, dentre eles, as mudanças culturais e de papéis na família, em que ocorreu a idéia de “chefia compartilhada”. Além disso, no Brasil em 2005, havia seis milhões de pessoas morando sozinhas. Outra alteração no Brasil entre os anos de 1995 a 2005 deu-se pela diminuição do número de pessoas que compõe a família, “de 3,9 para 3,4 componentes no Nordeste e de 3,4 para 3,1 no Sudeste” (IBGE, 2006, s/p.).

Entre os anos de 1995 e 2005, a população com 12 anos ou mais de estudo dobrou e a de ensino superior triplicou. “Esse aumento ocorreu particularmente na população feminina, que atualmente é maioria nas universidades, bem como representa 56,1% da

população” (IBGE, 2006, s/p.). No entanto, as estatísticas apresentaram que 92% das mulheres que possuem trabalho remunerado cuidam dos afazeres domésticos. Enquanto, os homens apresentaram apenas aumento de dois (2) pontos percentuais nessas mesmas tarefas.

A análise desses indicadores mostra que ainda está longe uma divisão igualitária de tarefas entre homens e mulheres no ambiente doméstico: em média as mulheres gastavam 25,2 horas semanais nessas atividades contra 9,8 horas dos homens (IBGE, 2006, s/p.).

Portanto, a partir das alterações econômicas, culturais e sociais, no século XXI desenvolveram-se várias formas de família algumas delas são: família nuclear constituída por pai, mãe e filho(s), família de recasamentos em que se forma novos casais. Nos recasamentos puderam ocorrer a união de duas pessoas ambos com filhos do primeiro casamento, ou apenas um com filho, ou ainda ambos sem filhos. Outra configuração é a família multinucleares, em que os “filhos transitam por casas de dois ou mais casamentos dos genitores”, família dissolvida, mas com a guarda compartilhada dos filhos, família uniparental, em que apenas uma pessoa do casal cria o(s) filho(s), família de casal homossexual com ou sem filhos, família de casais sem filhos, família de irmãos, entre outros (DAFLON, 2008, s/p.).

O Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) (BRASIL, 1990) aponta três tipos de família, são elas: a família natural, família extensa e família substituta. A primeira constitui as pessoas formadas pelos pais, ou por um deles e seus descendentes. A família extensa ou ampliada corresponde aquela que vai além dos pais, filhos e do casal, englobando também os parentes próximos em que são mantidos vínculos e afetividade. Por último, a família substitutiva, que caracteriza-se pela adoção da criança ou adolescente por uma família mediante guarda, tutela ou adoção.

A partir dessas mudanças sociais e culturais o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) a Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social (NOB/SUAS) aprimorou o termo família, referindo-se como “núcleo afetivo, vinculado por laços consangüíneos, de aliança ou afinidade, que circunscrevem obrigações recíprocas e mútuas, organizadas em torno de relações de geração e de gênero” e que tem como deveres a educação de criança e adolescentes, bem como a proteção de idosos e portadores de deficiência. A família é o núcleo social básico, a qual é o foco do programa do SUAS (BRASIL, 2005, p.17).

Corroborando com o MDS, Minuchin (1982) descreve que a família possui dois objetivos: a proteção psicossocial de seus membros e a adaptação da cultura que estão

inseridos. Referente a isso, Ferrari e Kaloustian (1994) destacam que família é o espaço para o desenvolvimento e proteção de seus membros, sendo esta a que propicia base afetiva e material com o objetivo de promoção de bem estar. É no núcleo familiar em que são transmitidos educação, valos morais, éticos e humanitários, e aspectos culturais. No entanto, cada família tem uma dinâmica de funcionamento próprio caracterizada por um “sistema que troca materiais, energia ou informação com o seu ambiente” (ANDOLFI, 1996, p. 16).

Destarte, a família é um sistema formado por unidades. A modificação em uma das unidades propiciará a mudança das outras, o que refletirá na unidade primitiva (ANDOLFI, 1996). Rosset (2007) complementa afirmando que na família existe um movimento contínuo de trocas entre os indivíduos que formam esse sistema. É dentro desse sistema que cada pessoa define uma forma específica e repetida de ser e reagir nas situações. Entretanto, algumas pessoas podem atribuir tarefas e funções de outro membro da família, assim, existem famílias que auxiliam os membros familiares de formas mais adequadas que outras, caracterizados por famílias funcionais ou não funcionais. Deste modo, em famílias funcionais cada pessoa sabe das suas funções, limites e espaço dentro da família, “quem é o marido, quem é a mulher, quem cuida de quem, quem faz parte de quais atividades”, formando subsistemas familiares (ROSSET, 2007, p.67).

Um dos subsistemas familiares é o conjugal que

tem como funções básicas: ser o refúgio para os estresses externos que os dois cônjuges sofrem no dia a dia; ser a matriz para contatos com outros sistemas sociais, criando a forma específica desse casal se relacionar com as famílias e com o social; possibilitar o desenvolvimento da intimidade e da sexualidade; favorecer aprendizagem, criatividade e crescimento, pois é a relação de maior intimidade que se tem (ROSSET, 2007, p.68).

Outro subsistema é o parental que ocorre quando o casal engravida ou tem filho. Este subsistema diferencia-se do conjugal, pois o casal precisa além de apoiar um ao outro precisa, em consonância, desempenhar a tarefa de socializar a(s) criança(s). Tem como funções básicas a nutrição e controle e orientação dos filhos. O subsistema fraterno, ligado aos irmãos, tem como função o desenvolvimento social. No entanto, podem apresentar algumas disfunções tais como: a preferência de um dos pais por um dos filhos e ser alvo de crítica de seu cônjuge, brigas entre os pais que utilizam o filho como instrumento de ataque, pai e mãe unem-se e estão em intenso conflito com o filho, não possibilitando espaço para ele na relação conjugal, entre outros (ROSSET, 2007).

Rosset (2007) descreve as funções básicas da família, são elas a função materna, paterna, de aprendizagem e de historiador. A primeira está relacionada ao vínculo, afeto, cuidado, de ser continente e alimentador. Essa é uma função materna, mas não da mãe, ou seja, pode ser realizados por algum membro da família. A função paterna “significa lei, organização, estrutura, palavra, autoridade; está ligada ao crescimento; leva à aprendizagem e ensina regras e limites” (ROSSET, 2007, p. 69). Da mesma forma que a função materna, não é tarefa exclusiva do pai, e deve ser desempenhada por alguém do sistema familiar. A função de aprendizagem está relacionada à aquisição de conhecimentos e ocorre quando um membro da família critica outro e este aceita a crítica e reformula-se a partir dela. Por último, a “função de historiador contém a tarefa de passar história, raízes, base, continuidade; de fazer a ligação entre passado, presente e futuro” (ROSSET, 2007, p.70).

A família busca por manter o equilíbrio, a homeostase, e para isso, depende da sua capacidade de adaptação que é dinâmica e interativa. Assim, frente a um evento que provoca crise, as alterações para a adaptação “dependerão de como o evento iniciou, dos recursos que essa família dispõe para lidar com essa crise e com a importância, a valorização que fazem desse acontecimento” (O’CONNOR, 1983 apud ROMANO, 1999, p. 72). Crise aqui é entendida como uma situação não habitual em que as respostas habituais são inadequadas para solucionar o problema. Portanto, a crise é o limite, já que “um sistema não pode permanecer em um estado de desequilíbrio: alguma solução deve ser encontrada” para retornar à homeostase (MOOS, 1984 apud ROMANO, 1999, p. 72).