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A hospitalização de um dos membros da família é uma situação que pode gerar crise à homeostase do sistema familiar. Isto ocorre devido ao interrompimento do padrão de funcionamento do sistema familiar visto às necessidades internas e as solicitações externas (ROMANO, 1999). Na crise, as estratégias adaptativas utilizadas sem sucesso para manter o equilíbrio podem ser

dormir menos, com qualidade pior de sono, permanecer acordado ou dificuldade para dormir; redução ou aumento na ingestão de alimentos, mudanças no padrão alimentar (para pior); aumento do uso de cigarros, álcool e medicações autoprescritas ou “indicadas” em balcões de farmácia (como analgésicos, aspirinas, calmantes); ficar menos tempo vendo televisão e mais tempo conversando, rezando, visitando o paciente, esperando, lendo; sentimentos de abandono, menos valia, culpa, raiva. São manifestações universais de ansiedade (ROMANO, 1999, p. 73).

Essas respostas de ansiedade, que ocorrem pelo interrompimento do padrão de funcionamento do sistema familiar, podem aparecer devido aos estímulos da ansiedade, alguns deles são: súbito aparecimento da doença em um membro familiar, dúvidas do tratamento, prognóstico, medo de que o paciente sinta dor ou morra, falta de privacidade e individualidade tanto do paciente quanto do acompanhante, ambiente desconhecido, separação social seja do trabalho, casa, amigos, vizinhos, parentes, animais de estimação, entre outros. Logo, estes estressores levam a família e o paciente a mudanças nos papéis familiares, por exemplo, se a mãe está hospitalizada, alguém deverá realizar o papel dela dentro do sistema familiar. Outra alteração que ocorre a partir da mudança dos papéis familiares é a quebra de rotinas, já que estão tendo que se adaptar a uma nova situação, assim o familiar deve pensar nos cuidados às crianças, em outras pessoas que estão doentes, despesas extras. Isso pode provocar sentimentos de perda de controle e de isolamento. “Logo, paciente ‘incapacitado’ (mesmo que temporariamente) é igual à família incapacitada, ainda que disponha de potencial interno para reorganiza-se rapidamente” (ROMANO, 1999, p.74).

Corroborando com Romano (1999), Moos (1984 apud ROLLAND, 1995, p. 378) descreve algumas atitudes práticas universais ligadas à doença tanto do paciente quanto da família, são elas: “aprender a lidar com a dor, incapacitação [...] aprender a lidar com o ambiente do hospital e com os procedimentos terapêuticos relativos à doença e estabelecer e manter bons relacionamentos com a equipe que presta cuidados”. Em relação à família, atitudes universais são

criar um significado para o evento da doença que maximize a preservação de um sentimento de domínio e competência, entristercer-se pela perda da identidade familiar pré-enfermidade; buscar uma posição de aceitação da mudança permanente, mantendo um sentimento de continuidade entre seu passado e seu futuro; unir-se para conseguir a reorganização da crise a curto prazo e, perante a incerteza, desenvolver a flexibilidade no sistema, tendo em vista objetivos futuros (MOOS, 1984 apud ROLLAND, 1995, p. 378).

Para Rolland (1995) as doenças podem apresentar-se de duas formas, uma gradual como o Parkinson, e outra de início agudo como o infarto e derrames. Cada uma dessas formas se apresentam de forma diferente para a família e o paciente, mesmo ambas requerendo o ajustamento, troca de papéis e manejo da família. As doenças de início agudo exigem da família a capacidade de se reestruturarem mais rapidamente e apresentam uma tensão maior quando comparadas com as doenças que pioram gradualmente.

Para esse mesmo autor (ROLLAND, 1995), o curso das doenças pode ser dividido em três: progressiva, constante ou reincidente. A primeira, que tem como doenças a artrite,

Alzheimer, entre outros, progride ao decorrer do tempo. Logo, a pessoa e a família se defrontam com uma doença sem cura e que permanecerá ao longo da vida da pessoa. Deste modo, é preciso da família uma contínua adaptação de papéis, além dos cuidadores apresentarem crescente exaustão e o contínuo de acrescimento de tarefas. “Está em jogo a flexibilidade familiar, em termos de reorganização interna de papéis e da disposição para utilizar recursos externos” (ROLLAND, 1995, p.375).

A doença de curso constante tem um início agudo, mas é estabilizada. Como exemplo de doença, tem-se o Acidente Vascular Cerebral (AVC), dano na medula espinhal provocando a paralisia, amputação de um membro do corpo, entre outros. Assim, depois do período inicial a pessoa apresenta algum déficit claro e permanente que leva a ela e a família a uma possível exaustão, mas sem tensão de novas demandas do papel de cada membro familiar (ROLLAND, 1995).

Por último, a doença de curso reincidente, como asma, enxaqueca, que se faz presente em alguns momentos da vida da pessoa, podendo ser semanal, mensal, anual, sazonal, entre outras. Esse tipo de doença mantém a rotina da família. No entanto, esta sabe que a doença deverá aparecer novamente, e isso, pode causar ansiedade. Todavia, esse curso requer menos cuidados contínuos da pessoa e redistribuição dos papéis quando comparados com os outros dois cursos da doença (ROLLAND, 1995).

Assim, além dos diferentes cursos da doença, os diferentes tipos de incapacitação que a doença implica na pessoa demandam à família diferenças nos ajustamentos específicos necessários para a família.

Por exemplo, os déficits cognitivos e motores de uma pessoa, combinadas com um derrame, exigem uma redistribuição de papéis familiares muito maior do que no caso de uma pessoa que sofreu dano de medula espinhal, mas retém suas faculdades cognitivas (ROLLAND, 1995, p.377)

Portanto, incapacitações das pessoas decorrentes de lesão medular ou AVC exercem maior influência no início da crise, quando a pessoa e os familiares estão se adaptando a nova situação. Já, nas doenças progressivas como esclerose múltipla e demência, permite à família maior tempo para preparar-se para as mudanças além de possibilitar ao ente da família com tal prognóstico, sua participação no planejamento familiar relativo à doença.

Dessa forma, ser familiar e acompanhante é uma tarefa difícil e sofrida, visto que, apresentam expectativas, ansiedades, preocupações, entre outros sentimentos, bem como em relação à infra-estrutura, que por vezes, é um local sem condições adequadas e sem o mínimo

de conforto. No entanto, a permanência nos hospitais do acompanhante é percebida pelos familiares acompanhantes como importante para o paciente, pois este último pode ter a sensação de apoio e segurança (FRANCO; JORGE, 2002).