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Estratégias psicossociais utilizadas por familiares no acompanhamento de pacientes internados em hospital geral

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Academic year: 2021

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GIRLANE MAYARA PERES

ESTRATÉGIAS PSICOSSOCIAIS UTILIZADAS POR FAMILIARES NO ACOMPANHAMENTO DE PACIENTES INTERNADOS EM HOSPITAL

GERAL

Palhoça 2011

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ESTRATÉGIAS PSICOSSOCIAIS UTILIZADAS POR FAMILIARES NO ACOMPANHAMENTO DE PACIENTES INTERNADOS EM HOSPITAL GERAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Psicólogo.

Área de Concentração: Psicologia e Saúde

Orientadora: Ana Maria Pereira Lopes, Msc.

Palhoça 2011

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GIRLANE MAYARA PERES

ESTRATÉGIAS PSICOSSOCIAIS UTILIZADAS POR FAMILIARES NO ACOMPANHAMENTO DE PACIENTES INTERNADOS EM HOSPITAL GERAL

Este trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e adequado à obtenção do título de Psicólogo e aprovado em sua forma final pelo curso de Graduação em Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Palhoça, 24 de novembro de 2011.

Professor e orientador Ana Maria Pereira Lopes, Msc. Universidade do Sul de Santa Catarina

Prof. Saidy Karolin Maciel, Dra. Universidade do Sul de Santa Catarina

Enf. Luizita Henckemaier, Msc. Hospital Universitário de Santa Catarina

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço à minha família, que esteve comigo em todos os momentos, compartilhando experiências, sentimentos, emoções, vivências. Agradeço todo apoio e solidariedade.

Ao meu esposo, Jeferson Rodrigues, pela compreensão, paciência, incentivo, acolhimento, cuidado que teve comigo e pelos longos e profundos debates que tivemos , a fim de me auxiliar nas análises. Jef, você é um grande homem.

Aos meus pais, Carlos José Peres e Rogéria de Sousa Peres pelo carinho, apoio, confiança que em mim depositaram para a realização dessa graduação e pela torcida para que tudo desse certo em minha vida. Pai e mãe, obrigada pelo exemplo.

Agradeço aos meus amigos, Lara de Bruchard Costa, Kariny Louise Moser, José Roberto Lacerda Silveira e Betânia Pedroso pelos sorrisos, palavras, ajudas, abraços, gargalhadas, visitas. Vocês proporcionaram momentos inesquecíveis.

Agradeço à minha orientadora Ana Maria Pereira Lopes, pois esse trabalho também foi possível pela sua dedicação, persistência, habilidade, acolhimento, exigências e torcida. Com todo seu jeitinho, proporcionou aprendizagem, descobertas, amadurecimento e novas maneiras de observar o fenômeno humano.

Aos meus amigos de orientação Patrícia Viríssimo e Everton Morfim Pelegrini, pelo apoio, trocas, descontrações e gargalhadas. Tive a sorte e a felicidade de ter vocês como companheiros de orientação. Foram momentos singulares.

Agradeço, aos membros da banca Saidy Karolin Maciel e Luizita Henckemaier pela contribuição, e por terem acrescentado na construção de uma psicóloga.

Gostaria de agradecer à secretária do curso, Lívia da Cruz, e a secretária do Serviço de Psicologia, Gabriela da Silva Schmidt, pelo apoio, ajuda, compreensão, pois sei que se esforçaram e possibilitaram que minha vivência durante o curso fosse inesquecível. Obrigada!

Por fim, agradeço a todos que fizeram parte da minha vida durante esse período. Cada um, a seu modo, possibilitou a construção e o desenvolvimento de uma nova pessoa.

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Família. Família... Todos temos, Dela viemos. Nela nascemos... Então crescemos. Para uns, a família é só o pai, para outros, só a mãe, muitos só têm o avô... Mas é família: sinônimo de calor! Tem família que é completa, repleta, discreta, seleta, aberta... Outra, é engraçada, atiçada, afinada, engrenada, esforçada, empenhada... Mas tem família

complicada, indelicada, desajustada, desacertada, debilitada... Família... Família é assim: lá não temos capa - nada nos escapa! Máscaras, como usar? Não, não dá prá enganar! Às vezes queremos fingir, mas isto é apenas mentir...

E, é lá dentro de casa que surge, cresce, aparece,

o lobo voraz, o urso mordaz, elefantes ferozes, (com trombas e tudo)

leões velozes com unhas e dentes

inclementes... Família... Família é lugar onde convivem os diferentes: um é risonho, outro tristonho;

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um é exibido, outro inibido; um é calado, outro exagerado;

um é cabeludo, outro testudo; um é penteado, outro descabelado...

Família... Família é assim: nunca é possível contentar,

pois onde há diferenças, haverá desavenças. como a todos agradar? Mas entre todos os valores

Cultivados entre nós Há algo como uma voz

Muito enfática a dizer: Cultive a educação, faça lazer, haja afeição; dê carinho, tudo aos seus!

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RESUMO

A história do hospital caracteriza-se por uma centralidade corporal e orgânica das pessoas, não sendo encontrado neste espaço um projeto de consideração da subjetividade. Nesse processo, os familiares acompanhantes se fazem presentes, e ainda que esteja vigente uma Política Nacional de Humanização (PNH) no país, suas necessidades biológicas e psicológicas, não são alvo de consideração pelo hospital, sendo necessárias por parte destes a intensificação de estratégias para enfrentar sua permanência no Hospital . Assim, esse trabalho tem como objetivo geral caracterizar as estratégias psicossociais utilizadas por familiares no acompanhamento aos pacientes internados no Hospital Geral. Buscou-se, também, identificar o cotidiano dos acompanhantes, as formas de convivência com o sofrimento da pessoa internada, as atividades dos acompanhantes que propiciem bem-estar ao paciente e as condições físicas disponibilizadas pelo Hospital Geral. Foi realizada uma pesquisa de natureza qualitativa, do tipo descritiva e exploratória, com entrevista semi-estruturada com seis familiares acompanhantes de um Hospital Geral e, para a análise dos dados, utilizou-se a análise de conteúdo. Os resultados indicam que algumas pessoas são pré-dispostas no seu sistema familiar a serem acompanhantes, e são definidas por corresponder ao padrão de funcionamento familiar. Em relação às estratégias psicossociais pelos acompanhantes, algumas ocorrem pela realização de atividades ocupacionais. As motivações que levam às escolhas dessas atividades são singulares a cada um, no entanto, o ambiente hospitalar limita as escolhas e possibilidades. Percebeu-se que as atividades que os familiares fazem para com o paciente estão relacionadas à atenção física, emocional e de prevenção de danos. Destaca-se a importância do acompanhante no hospital, que pode qualificar e dar suporte a permanência do paciente nesse espaço e auxiliar no enfrentamento de dificuldades. Todavia, ações convergentes à PNH no hospital, a partir dos entrevistados, ocorre de forma paulatina. Isso pode ocorrer devido à necessidade de mudar a cultura hospitalar e propor uma nova forma de se fazer a gestão do hospital enquanto um serviço de saúde encaminhado pela perspectiva biopsicossocial.

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LISTA DE ABREVIATURAS

AVC - Acidente Vascular Cerebral CEP- Comitê de Ética em Pesquisa DECS- Descritores em Ciência da Saúde ECA- Estatuto da Criança e Adolescente

IBEG- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística PIB - Produto Interno Bruto

PNH- Política Nacional de Humanização

PNHAH - Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar MDS- Ministério do Desenvolvimento Social

MS - Ministério da Saúde

NOB- Norma Operacional Básica OMS- Organização Mundial da Saúde SC- Santa Catarina

SUAS - Sistema Único de Assistência Social TCC- Trabalho de Conclusão de Curso

UNISUL- Universidade do Sul de Santa Catarina UTI - Unidade de Terapia Intensiva

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

QUADRO 1: Cotidiano dos familiares acompanhantes na internação...46

QUADRO 2: Convivência com o sofrimento do paciente durante a internação...47

QUADRO 3: Atividades realizadas pelos familiares acompanhantes junto ao paciente...48

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SUMÁRIO 1INTRODUÇÃO ... 11 1.1 PROBLEMÁTICA ... 12 1.2 JUSTIFICATIVA ... 15 2. OBJETIVOS ... 23 2.1 OBJETIVO GERAL: ... 23 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ... 23 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 24

3.1 A HISTÓRIA DO HOSPITAL GERAL ... 24

3.2 A HISTÓRIA DO HOSPITAL GERAL NO BRASIL ... 26

3.3 A HUMANIZAÇÃO HOSPITALAR ... 27

3.4 PSICOLOGIA HOSPITALAR ... 31

3.5 ASPECTOS HISTÓRIOS DA CONSTRUÇÃO FAMILIAR ... 34

3.6 FAMÍLIA BRASILEIRA NA CONTEMPORANEIDADE ... 35

3.7 A FAMÍLIA FRENTE À HOSPITALIZAÇÃO ... 38

4. MÉTODO ... 42

4.1 TIPO DE PESQUISA ... 42

4.2 PARTICIPANTES OU FONTES DE INFORMAÇÃO ... 42

4.3 EQUIPAMENTOS E MATERIAIS... 43

4.4 SITUAÇÃO E AMBIENTE ... 43

4.5 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ... 43

4.6 PROCEDIMENTOS ... 44

4.6.1 Da seleção dos participantes ou fontes de informação. ... 44

4.6.2 Contato com os participantes ... 44

4.6.3 Coleta dos registros de dados ... 45

4.6.4 Organização, tratamento e análise dos dados ... 46

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5.1 COTIDIANO DOS FAMILIARES ACOMPANHANTES NA INTERNAÇÃO ... 49

5.2 CONVIVÊNCIA COM O SOFRIMENTO DO PACIENTE DURANTE A INTERNAÇÃO ... 54

5.3 ATIVIDADES REALIZADAS PELOS FAMILIARES ACOMPANHANTES JUNTO AO PACIENTE ... 60

5.4 CONDIÇÕES DISPONIBILIZADAS PELO HOSPITAL AOS FAMILIARES ACOMPANHANTES ... 65

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 74

REFERÊNCIAS ... 78

APÊNDICES ... 85

APÊNDICE A – REVISÃO BIBLIGRÁFICA DE LITERATURA ... 86

APÊNDICE B – ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA ... 89

ANEXOS ... 90

ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ... 91

ANEXO B – TERMO DE CONSENTIMENTO PARA FOTOGRAFIAS, VÍDEOS E GRAVAÇÕES ... 93

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1INTRODUÇÃO

Esta pesquisa está articulada ao Núcleo Orientado em Psicologia e Saúde e vinculado ao Estágio Obrigatório de psicologia em Hospital Geral. Este estágio foi desenvolvido no Imperial Hospital de Caridade no município de Florianópolis/SC, onde a Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) possui parceria para a realização do mesmo. Assim, a realização do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) junto ao estágio obrigatório possibilita o desenvolvimento de aprendizagens, teorias, habilidades e experiências da pesquisadora/estagiária, visto que no hospital são realizados atendimentos individuais e em grupo com pacientes, familiares e acompanhantes. Os atendimentos distribuídos nos diversos setores como Unidade de Tratamento Intensivo, Unidade Coronariana, Unidade Oncológica, Clínica Médica entre outras, envolvem intervenções desde o pré e pós cirúrgico até o ritual de despedida e escuta qualificada com o objetivo de minimizar a ansiedade e sofrimento.

Portanto, a partir de experiências pessoais e de estágio no hospital a pesquisadora optou pelo tema “Estratégias psicossociais utilizadas por familiares no acompanhamento de pacientes internados em Hospital Geral” por compreender que a atenção dada aos familiares pela instituição hospitalar precisa de aprimoramentos, sendo necessárias pesquisas sobre o tema. Compreender como os familiares criam estratégias psicossociais para permanecer no hospital pode auxiliar a gestão hospitalar, equipe de saúde e os próprios familiares a pensar nas formas de permanência no hospital do familiar. Além de auxiliar também na compreensão de que no hospital é necessário desenvolver prevenção do desenvolvimento de doenças e o cuidado de todos a partir das tecnologias de cuidado.

Este projeto de pesquisa será apresentado em capítulos da seguinte forma: introdução contendo o tema da pesquisa, problemática e justificativa. No segundo capítulo serão apresentados os objetivos da pesquisa, subdivididos em objetivos geral e específicos. No capítulo seguinte o leitor encontrará a fundamentação teórica que se subdivide em seis subcapítulos: 1) A história do hospital geral, 2) A história do hospital geral no Brasil, 3) A humanização hospitalar, 4) Psicologia hospitalar, 5) Aspectos históricos da construção familiar, 6) Família brasileira na contemporaneidade e 7) Família frente à hospitalização. Neste capítulo também é apresentada a perspectiva para a análise dos dados, qual seja, a abordagem sistêmica. No quarto capítulo é apresentado o método da pesquisa com informações acerca do tipo de pesquisa, delineamento, participantes da pesquisa, local para a

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coleta de dados, instrumento de coleta de dados, análise dos dados, entre outros. O capítulo seguinte compreende a apresentação e análise dos dados, o qual divide-se em quatro subcapítulos intitulados: 1) Cotidiano dos familiares acompanhantes na internação, 2) Convivência com o sofrimento do paciente durante a internação, 3) Atividades realizadas pelos familiares acompanhantes junto ao paciente e 4) Condições disponibilizadas pelo hospital aos familiares. Nesses capítulos encontrar-se-ão às categorias e subcategorias.

1.1 PROBLEMÁTICA

Os primeiros registros sobre a existência de hospitais datam do século IV. Neles, as ações praticadas, tinham funções de caridade e cuidados vinculados à Igreja Católica. Após a Revolução Industrial, os hospitais iniciaram uma transição entre caridade e medicina hospitalar. Assim, surgiram grandes hospitais em toda a Europa com objetivos de terapêutica. Após a Segunda Guerra Mundial, os hospitais já representavam um espaço para examinar, investigar e tratar as condições de saúde da população, sendo considerados o centro do sistema de saúde (NETO, BARBOSA, SANTOS, 2008).

No século XXI se estabeleceu uma centralização do modelo de atenção em saúde no hospital e que, consequentemente, propiciou uma série de dificuldades. Os principais problemas apresentados são a fragmentação e verticalização dos processos de trabalho, centralidade do trabalho nas práticas médicas e preparo inadequado para lidar com as dimensões subjetivas e sociais pela equipe e gestão. Destacam-se ainda o baixo investimento na qualificação dos trabalhadores, mecanização da relação trabalhador-paciente, distanciamento dos profissionais no contexto da formulação e acompanhamento das políticas públicas, entre outros (BRASIL, 2004).

Dessa forma, em 2001, o Ministério da Saúde (MS), implementou nos hospitais o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH) que visa mudar a forma de assistência às pessoas que utilizam os hospitais no Brasil. Esse programa tem como objetivos difundir uma cultura de humanização na rede hospitalar, melhorar a qualidade da atenção aos usuários dos hospitais, capacitar os profissionais, implantar iniciativas de humanização para beneficiar usuários e profissionais, articular as estratégias de humanização da rede de saúde, desenvolver indicadores de resultados ao tratamento humanizado e tornar as instituições mais harmônicas e solidárias (BRASIL, 2001).

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Corroborando com a PNHAH foi criado, em 2004, pelo Ministério da Saúde, a Política Nacional de Humanização (PNH), que define o conceito de humanizar: “ofertar atendimento de qualidade articulando os avanços tecnológicos com acolhimento, com melhoria dos ambientes de cuidado e das condições de trabalho de profissionais” (BRASIL, 2004 p.6). Assim, a PNH é uma política que opera transversalmente em toda a rede do Sistema Único de Saúde (SUS) para garantir o direito dos usuários e familiares (BRASIL, 2004). Este direito, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS) envolve a pessoa em todas as suas dimensões, como a biológica, social, psíquica, espiritual, entre outras. Destarte, a PNH pretende “olhar cada sujeito em sua especificidade, sua história de vida, mas também olhá-lo como sujeito de um coletivo, sujeito da história de muitas vidas” (BRASIL, 2004, p. 9).

A PNH tem como diretrizes, nos hospitais, a garantia de continuidade de assistência, cuidados domiciliares após a alta hospitalar, equipe multiprofissional para atendimento dos pacientes, família e rede social, mecanismos de escuta para os pacientes, familiares e trabalhadores, acolhimento aos usuários, grupos de trabalho de humanização e garantia do paciente de ter visita aberta com a presença de acompanhante e de sua rede social. Assim, a PNH envolve toda a população existente no hospital. Entretanto, percebe-se que a família dentro da instituição hospitalar não é considerada pela PNH, PNHAH e MS, pois ela é citada de forma esparsa, indicando tão somente que serviços hospitalares devem incluir a família nas ações em saúde de acordo com cada instituição.

Segundo Ferrari e Kaloustian (1994) família é o espaço para o desenvolvimento e proteção de seus membros. Ela que propicia a base afetiva e material com o objetivo de promoção de bem estar. É no núcleo familiar que são transmitidos educação, valores morais, éticos e humanitários, e aspectos culturais. Cada família tem uma dinâmica de funcionamento própria, caracterizada por um “sistema que troca materiais, energia ou informação com o seu ambiente” (ANDOLFI, 1996, p. 16). A família é um sistema formado por unidades, nela, ao ocorrer a modificação em uma das unidades, propiciará a mudança das outras, e a mudança dessas outras unidades refletirá na unidade primitiva. Assim, na medida em que a família é maior do que a soma das partes, já que existe o aspecto relacional, cada tipo de tensão seja intra-sistêmica ou intersistêmica irá repercutir “no sistema de funcionamento familiar e exigirá um processo de adaptação, isto é, uma transformação constante das interações familiares” (ANDOLFI, 1996, p. 20).

Essa interação familiar pode ser percebida no âmbito hospitalar. Com o adoecimento de um de seus membros, a família modifica a sua forma de agir frente ao mundo

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e na sua relação com a família. A família, como faz parte do sistema, também se modifica, alterando a relação entre as pessoas e tendo que se readaptar ao novo sistema. “Dessa forma, os papéis são reajustados conforme modificações das pessoas individuais, das condições internas, relacionais, e, às externas ao grupo como um todo” (ROMANO, 1999, p. 71). Portanto, frente à internação de uma pessoa, as necessidades adaptativas dependerão de como o evento se iniciou, dos recursos que essa família dispõe para lidar com essa crise e a valorização que fazem dessa internação (O’CONNOR, 1983 apud ROMANO, 1999).

A hospitalização de um dos membros da família é um evento que gera estresse. Como o equilíbrio do sistema é interrompido pelas necessidades internas e pelas solicitações externas, a hospitalização é percebida como ameaçadora. Se o equilíbrio não é restaurado, tem-se uma crise. As estratégias adaptativas usadas e seu sucesso em restaurar o equilíbrio do sistema podem ser medidas pelas respostas individuais, tanto motora quanto afetivas (ROMANO, 1999, p. 73).

Geralmente, a ansiedade da família ou do acompanhante familiar são devido a incerteza sobre o prognóstico, falta de privacidade e de individualidade, ambiente desconhecido e por vezes aterrorizante, separação física e/ou distância de casa sem amigos ou outro familiar, entre outros. Esse afastamento tem como conseqüências a mudança nos papéis da família, quebra das rotinas, sentimento de isolamento e de perda do controle (ROMANO, 1999). Nesse sentido,

[...] os profissionais devem estar atentos para o fato de que os membros de uma família correm o risco de doenças físicas, diminuição da atenção, irritabilidade e comprometimento da sua capacidade de decisão. Dessa forma, pode estar comprometida a habilidade de entender políticas, rotinas e procedimentos do hospital que parecem lógicos e racionais para a equipe. Apesar de ser reconhecido por consenso o papel da família durante o processo do adoecer, não há uma profissão da saúde que tome como seu este tema. É de todos e de ninguém. A interação com a família é habitualmente vista como estressante, limitada e menos que satisfatória, devido à falta de tempo (porque a atenção primeira é cuidar do paciente) e também pela falta de formação e informação de como lidar com ela (DUNKEL, 1983 apud ROMANO, 1999, p. 74)

Foucault (2006) afirma que o hospital é o lugar especializado das partes do corpo, em que a pessoa é vista fragmentada tanto pela equipe como por ela mesma. Assim, decorre da visão do autor, que pela natureza do hospital, muitas vezes a instituição se coloca em direção inversa à visão integral da pessoa, que abrange dimensões, dentre elas, a familiar. Além disso, o hospital é um lugar destinado ao tratamento e reabilitação, sendo as ações de promoção e prevenção da saúde menores dentro de seus objetivos. Logo, o familiar

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acompanhante, que pode precisar de ações de cuidado pode não receber, já que no hospital o lugar para ele é reduzido, mas ampliado para a doença.

Entretanto, o familiar é uma pessoa presente no hospital e que acompanha o paciente e está “internado” juntamente. Neste contexto, a inclusão da família no processo de cuidado do paciente, depende da forma como a instituição concebe e formula ações de acompanhamento hospitalar para a família. Depende também da maneira como a gestão do serviço de saúde integra a família dentro da organização do processo de trabalho da equipe, e como a equipe e família se relacionam no acompanhamento e cuidado ao paciente internado. Os aspectos psicossociais do paciente e familiar fazem-se presente no hospital e, logo, as pessoas devem receber atenção da equipe de saúde em relação a essas dimensões a fim de proporcionar o cuidado integral. O termo psicossocial surgiu da idéia de que às mudanças das pessoas e da sociedade ocorrem nos níveis físicos, psicológicos e sociais. E a partir disso, ocorreu transformação relacionada à prática-médica na tentativa de integração da dimensão social presente nas pessoas hospitalizadas. O temo psicossocial aparece como uma ruptura do modelo biomédico vigente ao incluir as dimensões psíquicas e sociais na complexidade humana (HALLIDAY, 1948).

Logo, as estratégias psicossociais que as famílias utilizam neste contexto para vivenciarem o acompanhamento com o paciente permitem conhecer uma realidade que possibilite ao familiar ter uma melhor qualidade de vida e no cuidado do paciente. Assim, pergunta-se: quais as estratégias psicossociais utilizadas pelos familiares para

acompanhar os pacientes internados no hospital geral?

1.2 JUSTIFICATIVA

A política de Estado voltada para a Atenção à Saúde tem preconizado a inclusão da família no processo de acompanhamento e participação nas ações em saúde, tendo em vista que a família é co-participante do tratamento, desde diagnóstico ao tratamento da doença. Referente a isso, de acordo com a Política Nacional de Humanização (BRASIL, 2004), a equipe deve se importar com o vínculo aos usuários e familiares e garantir seus direitos, além de disponibilizar horário para atendimento à família e/ou à sua rede social. Entretanto, como se tratam de diretrizes, a implementação dessa política depende de cada realidade e política da instituição hospitalar, o que não garante atenção à família durante a internação do paciente.

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Concomitante à PNH, as diretrizes da PNHAH (BRASIL, 2001) em relação à família apontam a criação de um sistema de apoio psicológico e social a usuários e familiares; implementação de formas de participação dos familiares dos usuários no cuidado e de apoio às suas necessidades, assim como orientação e acompanhamento. Todavia, espaços para a família ao acompanhamento e cuidado do paciente na internação hospitalar podem não ser universais como recomendado, necessitando de aprofundamentos a partir de realidades locais.

É afirmado no Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) (BRASIL, 1990) no Art. 12 a permanência de tempo integral de um dos responsáveis pela criança, bem como cabe ao hospital proporcionar condições para a permanência desse cuidador. Semelhante ao ECA, o Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003) Art. 16, indica o direito do idoso em ter um acompanhante, o qual, legalmente, deve receber condições adequadas para a sua permanência em tempo integral. Na carta dos direitos aos usuários da saúde, no terceiro princípio, que assegura às pessoas atendimento acolhedor, tem-se escrito que o paciente tem “direito ao acompanhamento por pessoa de sua livre escolha nas consultas, exames e internações” (BRASIL, 2007, p. 5). Em 2005, foi implementado a Lei Estadual em Santa Catarina (SC, 2005), n. 13.324. Esta informa que se o paciente desejar, ele tem o direito ao acompanhante tanto nas consultas quanto nas internações. No entanto, é ausente nas diretrizes políticas da saúde sobre os direitos e deveres dos familiares dentro das unidades hospitalares. Dessa maneira, os familiares podem encontrar dificuldades para se empoderarem e criarem melhores estratégias psicossociais em relação ao acompanhamento do paciente no hospital.

A relação paciente-família-equipe justifica-se, pois a família no processo de internação hospitalar, por vezes, encontra-se fragilizada, desabilitada de suas funções cotidianas, em desconforto tanto físico quanto psíquico. Este momento exige um atendimento com inclusão e atenção além de uma escuta qualificada em que o familiar sinta-se pertencente no processo saúde-doença-cuidado (PIERRE, 2006).

A ausência da inserção da família na atenção em saúde pela equipe de saúde hospitalar tem como conseqüência a tensão, o conflito e a inexistência de vínculo entre o familiar e a equipe de saúde. Dessa forma, é necessário “pensar e articular espaços institucionais para analisar, refletir, discutir e exercitar modelos de assistência pautados na coordenação do processo de cuidar que incluam a família” (DELL’ACQUA, 2008, p. 118), já que o processo de humanização pauta a valorização dos sujeitos implicados no processo de bem estar do paciente e seu familiar.

No entanto, para Foucault (1987) a disciplina e vigilância têm sido atributos que se destacam na prática hospitalar, pois o exercício de manter o controle sobre as ações das

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pessoas internadas requer um modelo pautado em normas sem flexibilidade. Logo, a família seria um elemento de ameaça, porque influencia no êxito deste controle com o paciente. Por outro lado, quando a equipe compreende que a família deve ser incluída no processo de cuidado com a pessoa internada, o familiar contribui apenas com uma parcela de responsabilidade do próprio hospital promovendo em conjunto a recuperação do paciente/familiar (MARCON, et al, 2005).

Na pesquisa de Moreno (2007) com enfermeiros, estes apontaram que quando a família está junto com paciente durante o processo de internação, há demonstração pelo paciente de maior adesão ao tratamento, o que aproxima a relação entre paciente-família no tratamento após a alta. Todavia, o “estar junto” do familiar nos cuidados em saúde no hospital para que qualifique ainda mais a adesão do paciente ao cuidado, faz com que, por um lado, o familiar contribua positivamente, mas por outro lado ele pode se sentir sobrecarregado. A sobrecarga familiar pode gerar estresse emocional repetido, podendo torná-lo doente e dependente como aquele de quem está sendo cuidado (BRITO, RABINOVICH, 2008).

É importante neste contexto a reflexão que o familiar faz sobre seus sentimentos, emoções e ações no acompanhamento do paciente, pois esta análise implica na forma como o familiar se percebe e se posiciona em relação ao espaço que está inserido. Tendo em vista que o lugar onde o familiar se reconhece necessita de reflexão crítica para que novas estratégias psicossociais sejam propostas e a rotina não se torne uma dificuldade ainda mais no acompanhamento.

Além disso, compreendendo as formas possíveis de vivenciar a situação, o familiar poderá criar suas próprias estratégias psicossociais para a permanência no hospital e, após alta hospitalar, inclusive para dar suporte ao paciente e a outros familiares. Portanto, pesquisar a forma como a família vivencia o acompanhamento e cuidado do paciente na situação de internação, a partir de sua perspectiva justifica-se, pois estas estratégias podem se tornar novas formas de cuidado pela equipe e melhorar a qualidade da assistência à família-paciente.

Na busca por estudos que subsidiassem esse projeto foi feita uma pesquisa por meio dos radicais das palavras família e hospital no DeCS (Descritores em Ciência da Saúde) da biblioteca Virtual em Saúde, os quais foram acessados artigos nacionais indexados nas bases de dados scielo1 e bireme2. Em uma primeira tentativa, procurando por palavras no título e assunto, foram encontrados 589 artigos. Destes, 559 foram descartados porque

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www.scielo.com.br

2

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apresentavam temas sobre hospital psiquiátrico, pré-natal, saúde mental na atenção básica, relação enfermeiro/paciente, relação da equipe de enfermagem, criança hospitalizada, violência doméstica, neoplasias, entre outros. Foram selecionados 30 artigos publicados entre 1997 e 2010 que encontravam-se próximos ao objeto da pesquisa3. Optou-se por manter os estudos de crianças acompanhadas, ainda que estes possuam direitos legais nacionais para o acompanhamento, enquanto que os adultos não. A permanência desse grupo populacional na pesquisa deu-se pelo fato de que acompanhantes de crianças também necessitam criar estratégias para a permanência no hospital.

Os estudos de Pereira e Graças (2003), Beuter, Brondani, Szareski et al (2009), Leite e Cunha (2007), Valadares e Paiva (2010), Henckemaier (2002) destacam-se, pois as demandas que a família apresenta durante a internação hospitalar não é vista pela equipe de saúde como sua atribuição. Isso ocorre já que o foco da atenção está na pessoa doente e não no familiar, que está ali, conforme os autores, para auxiliar a equipe. Assim, percebe-se que os cuidados às famílias preconizados pela PNH (BRASIL, 2004) e PNHAH (BRASIL, 2001) podem não ser cumpridos. Isso pode ocorrer por vários motivos, dentre esses o não interesse do hospital na família, número insuficiente de profissionais para atender a demanda familiar, falta de capacitação dos profissionais, entre outros.

Valadares e Paiva (2010) destacam que existem poucos estudos que apontam as estratégias da equipe de saúde em relação à inclusão da família como demanda. Entretanto há trabalhos voltados para a relação enfermagem e família. Henckemaier (2002) diz que a equipe de enfermagem está preparada para atender a patologia e não às pessoas que estejam internadas ou família. Este fato ocorre, dentre outros fatores, segundo Henckemaier (2002) e Moreno (2007) quando na formação profissional não há a sensibilização e/ou preparo do aluno/enfermeiro sobre a temática família, ficando estes profissionais com uma lacuna na formação. Consequentemente, caso os profissionais não busquem qualificação e/ou seja inexistente a educação em serviço pela gestão, terão dificuldades de atender o familiar ou sequer percebê-lo como parte do trabalho.

Ainda sobre o preparo profissional, Monticelli e Boehs (2007); Tavares, Queiroz e Jorge (2006); Pinho e Kantorski (2004); Pinto, Ribeiro e Silva (2005); Escher e Cogo (2005); Moreno (2007); Silva (2008) Centa, Moreira, Pinto (2004) e Andraus, Minamissava, Munari (2004) afirmam que o hospital e a equipe de saúde, apesar de verem a família como demanda, não estão preparados para atendê-la.

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Foi construída uma tabela contendo os seguintes tópicos: ano, autor, título para que se pudesse demonstrar a realidade das produções científicas referentes ao objeto de estudo (Anexo I).

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Além do preparo profissional, Tavares, Queiroz e Jorge (2006) informam que a implementação da prática hospitalar que envolva o familiar encontra dificuldades relativas à organização dos serviços, políticas que apóiem mudanças necessárias, bem como a capacitação profissional e infra-estrutura hospitalar, já que, a instituição é caracterizada por estruturas rígidas e normativas. Corroborando com esse autor, Andraus, Minamissava, Munari (2004, p.207) dispõem que a equipe de saúde pouco valoriza as interações com a família e que a implementação de ações para a família encontra muitos “desafios de ordem operacional, em razão da infra-estrutura e da organização dos serviços, bem como das condições políticas, econômicas e culturais”. Além de constatar a necessidade do melhor preparo técnico-científico dos profissionais de saúde para atender o familiar. Dessa forma, conclui-se que identificar as estratégias psicossociais dos familiares acompanhantes durante a internação pode auxiliar a equipe e hospital na capacitação dos profissionais de saúde e, assim, cumprir a PNHAH (BRASIL, 2001).

Na perspectiva da família, os estudos de Escher e Cogo (2005) afirmam que o familiar acompanhante encontra, além das dificuldades do não reconhecimento da sua demanda de sofrimento, condições precárias de infra-estrutura. A identificação pelos familiares da forma como estes enfrentam as possíveis dificuldades em relação à infra-estrutura, permite à gestão hospitalar pensar em formas de cuidar dessas pessoas nessa condição. Silva (2008) complementa que na prática institucional as informações prestadas pela equipe não superam as necessidades do familiar, gerando aflição e angústia. Centa, Moreira, Pinto (2004) afirmam, mesmo com as informações prestadas, os familiares sentem mais necessidade de informação, orientação, aconselhamento e apoio.

Costa, Mombelli e Marcon (2009); Tavares, Queiroz e Jorge (2006); Crepaldi e Varella (2000); Pinho e Kantorski (2004); Pettengill (2005); Leite e Cunha (2007); Escher e Cogo (2005); Henckemaier (2002); Silva (2008); Montefusco, Bachion e Nakatani (2008) salientam em suas pesquisas, os sentimentos apresentados pelos familiares durante a internação. Costa, Mombelli e Marcon (2009, p. 321), em seu artigo sobre o acompanhamento das mães com crianças durante a internação hospitalar, apontam que o estado afetivo delas é demonstrado por sentimentos tais como “temor, ansiedade, desespero, impotência, saudade, solidão, preocupação, insegurança, medo, tristeza, entre outros”. Percebe-se que as pesquisas, em geral, apresentaram sentimentos dos familiares que possuíam crianças internadas, pessoas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), e de familiares que alteram o cuidado com outros familiares, dividindo a responsabilidade. Entretanto, ainda são necessários estudos para

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identificar sentimentos do familiar acompanhante de adultos que permanecem internados junto ao paciente no hospital.

Escher e Cogo (2005) afirmam que o familiar acompanhante expressa vários sentimentos como o medo e insegurança de assumirem alguns cuidados e prazer e satisfação de poder estar ajudando no cuidado. Crepaldi e Varella (2000) afirmam que os familiares de crianças internadas demonstram vivenciar um estado de ansiedade generalizado não sabendo nomear o profissional que os atendeu além de lembrarem de informações fragmentadas das suas necessidades imediatas. Pettengill (2005) concluiu que, na internação de uma pessoa do núcleo familiar, a família sente sua autonomia ameaçada, ficando vulnerável já que são retirados seus poderes e as possibilidades de escolha, visto que têm que se submeterem à situação de internação.

Leite e Cunha (2007) apontam quatro mudanças significativas nos familiares acompanhantes: a emocional, social, financeira e impacto nas atividades rotineiras. Complementando, Montefusco, Bachion e Nakatani (2008) informam que 100% dos familiares entrevistados demonstraram tensão devido ao papel de cuidador, 75% das famílias sentiram-se prejudicadas no que tange a comunicação verbal, 66% prejudicada a manutenção do lar, 66% apresentaram ter processos familiares prejudicados e 25% dos familiares alegaram que a interação social estava prejudicada. Henckemaier (2002, p.404) aponta que são constantes as experiências da equipe vividas com famílias nervosas, descontroladas e fragilizadas com a situação da doença, além de terem “de fazer parte de uma instituição cujo ambiente é sombrio, diferente e permeado de normas e rotinas a serem respeitadas a partir do momento da internação, também causa transtornos à vida familiar”.

Costa, Mombelli e Marcon (2009, p. 318) afirmam que há, ainda, outras preocupações que advém dos filhos, esposo/esposa, trabalho e outras que se apresentam fora do ambiente hospitalar. Assim, a internação hospitalar constitui, por vezes, um fator conflitante para a família, visto que exige desta uma nova organização. “A família, então, defronta-se com duas tarefas: cuidar da criança doente e lidar com as emoções, a maioria das vezes inconscientes, que passam a transformar as relações entre seus membros”.

Em relação às estratégias utilizadas pela equipe para o atendimento familiar Bomfim e Bastos (2007); Oliveira (2004); Soares e Leventhal (2008); Carneiro (2008); Gomes, Erdmann e Busanello (2010); Dell’Acqua (2008); Carvalho e Rossi (2006); Pinto, Ribeiro e Silva (2005), Pettengill e Angelo (2006) apontam que a instituição hospitalar e a equipe de saúde tem influência durante o acompanhamento do familiar e que devem apresentar às famílias alternativas psicossociais para melhorar a qualidade de vida e/ou

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reforçar as já existentes. Em relação a isso, Bonfim e Bastos (2007) informam que esse objetivo deverá ser atendido com eficácia se a instituição tiver profissionais específicos para esse fim, como o psicólogo hospitalar.

Pinto, Ribeiro e Silva (2005) informam que mesmo que a equipe não tenha conhecimento de como cuidar da família, esta última aciona os profissionais no intuito de minimizar seu sofrimento. Entretanto, a equipe de saúde deve estar atenta quando a manifestação do familiar apresenta-se por agressividade, medo, dificuldade de compreensão da situação, pois isto requer do profissional uma qualificação que desmistifique tais comportamentos. Assim, mesmo que a equipe esteja qualificada, esta qualificação deve vir ao encontro de como o familiar se organiza, estrutura e enfrenta a situação hospitalar, para posteriormente ter um atendimento pela equipe de saúde.

Soares e Leventhal (2008, p. 327) identificaram as principais estratégias utilizadas pela equipe de enfermagem para o atendimento ao familiar como “manter diálogo, transmitir confiança técnica, compreender e respeitar o outro e respeitar as normas do hospital”. Carneiro (2008) informa algumas estratégias utilizadas pelo enfermeiro para o atendimento à família, salienta que o enfermeiro não precisa dispor de um tempo além do já disponibilizado e que o profissional deve fazer um bom uso das palavras proporcionando carinho, segurança e conforto, sendo a estratégia ouvir a pessoa, estar disponível e ter interesse pelo outro.

Corroborando com Carneiro (2008), Gomes, Erdmann e Busanello (2010, p.146) dizem da importância da sensibilidade do enfermeiro em compreender os sentimentos dos familiares que vivenciam a internação, sendo que este deve estar alerta às necessidades e as novas demandas do familiar. A presença do familiar “requer que os profissionais de enfermagem realizem uma avaliação da unidade familiar com dados sobre seu ciclo vital, sua composição, uso dos recursos sociais, econômicos e pessoais, suas crenças e cultura”.

Carvalho e Rossi (2006, p.252) dizem que a família precisa ter comunicação com a equipe, segurança emocional e serviço de apoio disponíveis. É necessário “que a própria equipe de saúde permita uma maior aproximação com os familiares para ouvi-los, conhecê-los, apoiá-conhecê-los, explorar seus recursos e dificuldades, trocar saberes e ajudá-los”, além de auxiliarem no papel de cuidado da pessoa internada, minimizar seu sofrimento.

Destaca-se o estudo de Oliveira (2004) por apresentar proximidade com o objeto de pesquisa. Este relata algumas estratégias de psicossociais dos familiares, contudo se refere a familiares de internados em UTI. Dentre os entrevistados, 94% dos familiares apresentam reavaliação positiva, sendo este um mecanismo de enfrentamento que está baseado nas estratégias aprendidas baseadas nas experiências de vida, 88% utiliza o suporte social, 84%

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resolução de problemas, 78% auto-controle, 78% fuga-esquiva, 54% aceitação de responsabilidade, 32% confronto com a realidade e 30% afastamento do problema. Assim, é preciso que o profissional fique atento às formas de enfrentamento da família para dar o suporte necessário.

Portanto, constata-se com esta revisão de literatura, que as estratégias psicossociais utilizadas pelas famílias que acompanham as pessoas internadas necessitam de pesquisas e produções que contribuam com a prática profissional em face da presença de famílias de pessoas internadas com vistas às políticas de humanização na internação.

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2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL:

Caracterizar as estratégias psicossociais utilizadas pelos familiares para acompanhar os pacientes internados no Hospital Geral.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Descrever o cotidiano dos familiares durante o acompanhamento de familiar internado no Hospital Geral;

• Identificar formas de convivência com o sofrimento do acompanhante familiar advindas da patologia do paciente durante a internação hospitalar;

• Identificar atividades realizadas pelos familiares acompanhantes que propiciem bem-estar ao paciente;

• Identificar as condições disponibilizadas pelo Hospital Geral aos familiares acompanhantes de pacientes internados.

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3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 A HISTÓRIA DO HOSPITAL GERAL

Na Grécia Antiga, aproximadamente no século VI a.C., Hipócrates criou uma corrente na medicina, cujo objeto era a pessoa doente em sua totalidade, ou seja, observava aspectos como o temperamento da pessoa, ambiente em que ela estava inserida, aspectos sócio-culturais. Assim, a doença se manifestava a partir da reação global da pessoa, em que a terapêutica objetivava “restabelecer a harmonia da pessoa com seu ambiente e consigo mesma” (RIECHELMANN, 2002, p. 175). No entanto, no século I d.C., Galeno propôs outra corrente à medicina, a qual tinha como objeto a doença, vista como algo autônomo em relação à pessoa, sendo a terapêutica localizar a doença e extirpá-la (RIECHELMANN, 2002).

Os primeiros registros de aparecimento do hospital no mundo ocorreram no século IV depois de Cristo. Estes funcionavam a partir da orientação religiosa cristã, que coordenava a organização interna, administração e o cuidado à pessoa. Muitos desses estabelecimentos eram conhecidos como “Casas de Deus” ou “Casas de misericórdia”, em que destacavam a “cura” espiritual em relação à física. Entretanto, tais hospitais desempenhavam também o papel de exclusão social, retirando a população enferma do convívio social e a acolhendo. Assim, o hospital representava um espaço exclusivo para pobres que apresentavam ameaça a coletividade (FOUCAULT, 1979).

No final da Idade Média o modelo hospitalar vigente começou a passar por modificações políticas, econômicas e sociais conseqüentes da transição social da época. A assistência hospitalar começou a perder o enraizamento cristão, não sendo administrado exclusivamente pela Igreja, mas também pela cidade (ROSEN, 1980). A partir da Revolução Industrial surgiu um novo olhar à assistência hospitalar devido às transformações econômicas e sociais. Surgiram grandes hospitais gerais em toda a Europa e o foco estava nas pesquisas, experiências e modernização hospitalar (NETO; BARBOSA; SANTOS, 2008). Nesse período, a orientação adotada para a reorganização era a vigilância e registro constante das pessoas que estavam internadas na instituição (FOUCAULT, 1979).

O passo seguinte da história hospitalar consistiu na conquista médica do espaço na instituição, não sendo mais um espaço de caridade. Destarte, as pessoas que possuíssem qualquer patologia passaram a ir ao hospital em busca da cura, e o hospital ganhou o status de medicalizador. Essas foram às circunstâncias em que se formou o hospital moderno. Nele a

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intervenção terapêutica orientou-se por uma nova perspectiva, qual seja, centrada no exame clínico do paciente. Em relação ao locus da medicina, lugar o qual Porter (2004, p. 165) faz analogia: “o hospital de hoje está para a medicina como a catedral para a religião e o palácio para a monarquia”.

O médico tinha como dever ensinar às pessoas as regras de higiene e, em contrapartida, estes precisam respeitar em benefício da sua própria saúde e da dos outros. No entanto, as desordens do hospital, a dificuldade de tratar efetivamente os doentes e a precária vigilância médica fizeram do hospital um instrumento inadequado. Por isso, foram elaboradas duas novas propostas: ajustar o hospital em um espaço urbano, hospitais grandes para acolher uma população numerosa, os cuidados seriam agrupados a fim de facilitar o controle e ter menos gastos, ou construir hospitais pequenos, onde os doentes seriam melhor vigiados e os riscos de contágio seria menor. Outra modificação ocorreu no sentido da disposição interna do hospital, “de modo a torná-lo medicamente eficaz: não mais um lugar de assistência, mas lugar de operação terapêutica”. O controle estava fazia-se presente nos espaços sociais, exemplo disso são o suprimento dos fatores que o tornavam perigoso para os doentes como problemas de circulação de ar e lavagem da roupa de cama, sistemas de observação, anotações e registros (FOUCAULT, 1979, p. 205).

O século XIX é marcado por um período de descobertas científicas da medicina, principalmente pelo surgimento de áreas como a medicina anatomoclínica, bioquímica e a microbiologia, que solidificaram a relação hospital e medicina moderna. A partir da incorporação de novos instrumentos e técnicas para a realização dos exames físicos a intervenção terapêutica orientou-se pela perspectiva centrada no exame clínico do paciente, observando sintomas e sinais apresentados. “A instituição hospitalar passa, então, a representar o espaço ideal para que os médicos examinem, tratem e investiguem essas condições mórbidas” (NETO; BARBOSA; SANTOS, 2008, p. 674).

O período que se segue à Segunda Guerra Mundial é, portanto, de difusão e radicalização de um determinado padrão de assistência à saúde, fundado no hospital moderno, organização idealmente projetada em edificações arrojadas, que abriga um grande número de leitos, que busca reunir o mais amplo e diversificado corpo de especialistas e concentrar o mais atualizado e completo parque de equipamentos (NETO; BARBOSA; SANTOS, 2008, p. 676).

Após a Segunda Guerra Mundial, os hospitais foram considerados os centros do sistema de saúde; estes, por sua vez, classificados de hospitalocêntrico. O hospital como centro consiste em um “modelo de atenção à saúde em que prevalece a hegemonia das

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práticas hospitalares e curativas, em detrimento de práticas extra hospitalares, em especial de atenção primária4, tanto preventivas quanto curativas” (NETO; BARBOSA; SANTOS, 2008, p. 677).

3.2 A HISTÓRIA DO HOSPITAL GERAL NO BRASIL

A fundação do primeiro hospital no Brasil deu-se em 1543, na cidade de Santos, São Paulo, com o nome de Hospital de Todos os Santos, que posteriormente mudou para Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Santos (NETO; BARBOSA; SANTOS, 2008). No Brasil, a explosão do desenvolvimento dos hospitais ocorreu, principalmente, nas décadas de 1940 e 1950, quando estes utilizam a maior parte dos recursos financeiros destinados à saúde. No entanto, este modelo de saúde baseado no hospital levou à crise no sistema econômico do país, visto que, os hospitais passaram a consumir grandes parcelas do PIB. Logo, no século XX, o âmbito da assistência médico-hospitalar possuía preocupação de ordem econômica e de racionalização dos gastos. Destarte, foi o início da “formulação de um novo modelo de organização do cuidado à saúde” criando um sistema integrado de serviço de saúde em que a atenção básica passa a ser o centro do sistema da saúde (NETO; BARBOSA; SANTOS, 2008, p. 679). Assim, com as ações na Atenção Básica, o foco passou a ser a promoção da saúde e prevenção da doença, e quando necessário o atendimento ambulatorial, ou mesmo o hospitalar.

Após a Constituição de 1988 uma série de práticas do poder executivo do setor saúde do Estado foi ofertada à população e com novas características como: o esforço por constituir serviços voltados à proteção, aos direitos humanos, à atenção integrada, interdisciplinar, transdisciplinar e intersetorial e a promoção à saúde. No entanto, essas novas práticas de cuidado, que inclusive foram tensionadas ao modelo de saúde hospitalar, são novidades no cenário de saúde e social. Por conseguinte, profissionais não se encontram preparados para essa forma de atendimento, além de predominar toda uma lógica hospitalar de saúde (NETO; BARBOSA; SANTOS, 2008).

Nessa nova reorientação, os hospitais deveriam fazer parte de um nível de atenção em saúde onde o paciente deve permanecer o menor tempo possível dentro da instituição, isso com o intuito econômico, e também de não afastá-lo de seu meio familiar e social

4

Em 1978, ocorreu a Conferência Internacional da Atenção Primária intitulada de declaração de Alma-Ata. Esta reafirma que a saúde é a principal meta do governo e que todas as pessoas têm direito, dando destaque a Atenção Primária em Saúde (ALMA- ATA, 1978).

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(STOECKLE, 1995 apud NETO; BARBOSA; SANTOS, 2008). Deslandes (2004) aponta algumas dificuldades psicossociais apresentadas pelos hospitais, destacam-se

a deficiência do diálogo, a debilidade do processo comunicacional entre profissionais e usuários e entre profissionais e gestores, repercutindo de forma negativa no cuidado prestado. O desrespeito à palavra e a falta de troca de informações, a debilidade da escuta e do diálogo promoveriam a violência, comprometeriam a qualidade do atendimento e manteriam o profissional de saúde refém das condições inadequadas que não raro lhe imputam desgaste e mesmo sofrimento psíquico (DESLANDES, 2004, s/n.)

É com base na crítica às instituições hospitalares como espaços de não cumprimento à integralidade foi implementado, em 2001, o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH)

3.3 A HUMANIZAÇÃO HOSPITALAR

Em 2001 foi implementado pelo Governo brasileiro o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH) (BRASIL, 2001, p. 14), cujo objetivo refere-se à criação de uma nova cultura hospitalar, em que propõe uma nova forma de ser e fazer os serviços de saúde, seja ela o respeito à pessoa, melhores condições de trabalho aos profissionais, melhor qualidade no atendimento, capacitação dos profissionais para um novo conceito em saúde pautado pela humanização. Além desses, são também objetivos da PNHAH “conceber e implantar novas iniciativas de humanização dos hospitais que venham a beneficiar usuários e os profissionais de saúde”, fortalecer e articular as formas de humanização já existentes na rede de saúde, estimular a realização de parcerias de troca de experiências. A PNHAH também objetiva, desenvolver indicadores de resultados e incentivos ao tratamento humanizado e “modernizar as relações de trabalho no âmbito dos hospitais públicos, tornando as instituições mais harmônicas e solidárias”. No entanto, esse programa “depende da vontade política dos dirigentes [dos hospitais] em participar de ações efetivas e permanentes de transformação da realidade hospitalar” (BRASIL, 2001, p. 12).

Geralmente emprega-se a noção de "humanização" para a forma de assistência que valorize a qualidade do cuidado do ponto de vista técnico, associada ao reconhecimento dos direitos do paciente, de sua subjetividade e referências culturais. Implica ainda a valorização do profissional e do diálogo intra e interequipes (DESLANDES, 2004, s/p.)

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A proposta do MS é a criação de uma rede entre os hospitais públicos do país e de Grupos de Multiplicadores de Humanização Hospitalar. Esses grupos irão trabalhar com o intuito de treinamento e capacitação de pessoas que levarão o processo de humanização aos hospitais com apoio das Secretarias de Saúde. Além desses grupos, deverão ser formados Grupos de Trabalho de Humanização Hospitalar constituídos pelos próprios trabalhadores do hospital e são dispositivos para as mudanças institucionais como a cultura hospitalar e a promoção e respeito às pessoas. Eles deverão:

difundir os benefícios da assistência humanizada; pesquisar e levantar os pontos críticos do funcionamento da instituição; propor uma agenda de mudanças que possam beneficiar os usuários e os profissionais de saúde; divulgar e fortalecer as iniciativas humanizadoras já existentes; melhorar a comunicação e a integração do hospital com a comunidade de usuários (BRASIL, 2001, p. 16).

O processo de trabalho dos Grupos de Trabalho de Humanização Hospitalar se expressa em quatro planos: pedagógico, político, subjetivo e comunicativo. O primeiro contribui com a educação permanente, bem como a promoção de eventos educativos e treinamentos. O plano político dá-se pela realização da democratização das relações de trabalho, permitindo a expressão de todos os setores, ouvindo reclamações e críticas. O terceiro plano está relacionado aos trabalhadores, em que reflete com eles como e para que se trabalha em uma organização hospitalar. Por último, o plano comunicação, em que o grupo deverá criar fluxos de informação aos profissionais sobre o tema humanização (BRASIL, 2001).

O processo de humanização é o rompimento da separação mente e corpo e a concepção de um novo paradigma, já proposto por Hipócrates, seja ele, o olhar para a pessoa como um todo, que valoriza os aspectos históricos, subjetivos, culturais e biológicos da pessoa que está sendo assistida. “Humanizar é garantir à palavra a sua dignidade ética”, ou seja, a dor e o sofrimento expressos pelas pessoas em palavras necessitam ser reconhecidas pelo outro (BRASIL, 2000). No entanto,

ainda não são consensuais os contornos teóricos e mesmo operacionais do que se convencionou designar como humanização, sua abrangência e aplicabilidade não estão inteiramente demarcadas. Considerando a organização e estrutura física das instituições de saúde da rede pública, a formação biomédica, as relações de trabalho e sua lógica de produção, haveria espaço para mudanças estruturais e para a implementação de novos conceitos e práticas, voltados para a humanização da assistência (DESLANDES, 2004, s/p.)?

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Para isso, Merhy (2002) propôs práticas de cuidado, as quais valem para todos os lugares onde se pensa em humanização. Na perspectiva de Merhy (2002), ele buscou compreender as tecnologias de cuidado, sendo elas a leve, leve-dura e dura. A tecnologia leve é a parte da relação entre a pessoa que recebe o cuidado e o profissional. A tecnologia leve-dura dá-se pelos saberes e conhecimentos técnicos, enquanto a leve-dura está centrada nas máquinas e procedimentos. Dessa forma, uma tecnologia de cuidado complementa a outra, entretanto, a tecnologia leve deveria conduzir todo o trabalho, visto que a humanização depende do diálogo entre cuidador e cuidado (BRASIL, 2000); (DESLANDES, 2004). Assim, mesmo quando for necessário realizar uma intervenção de tecnologia dura, deve-se ser realizado a leve também. Conforme o Ministério da Saúde

as tecnologias e os dispositivos organizacionais, sobretudo numa área como a da saúde, não funcionam sozinhos – sua eficácia é fortemente influenciada pela qualidade do fator humano e do relacionamento que se estabelece entre profissionais e usuários no processo de atendimento (BRASIL, 2001, p.5).

Merhy (2002) utiliza a idéia do trabalho vivo que está ligado às três tecnologias e pautado na relação, produção de vínculo, acolhimento, conhecimento técnico, equipamentos, entre outros. Para exemplificar pode-se fazer referência ao trabalho do médico: a tecnologia dura deste profissional é o momento que ele medica, prescreve; a leve-dura é quando ele fala das relações que a pessoa pode ter com o consumo de sal; já a tecnologia leve é quando ele escuta a pessoa buscando suas possibilidades de compreensão e relação com a prática estabelecida. Portanto, se em um atendimento não passar pelas três tecnologias, e o profissional não se relaciona com a pessoa atendida, é considerado um trabalho morto.

Desse modo, não há como realizar uma intervenção apenas com tecnologia dura, pois esta caracterizar-se-ia como violenta. Por exemplo, se uma pessoa chega a um serviço de saúde para ser atendida e o trabalhador não a olha, não explica qual o procedimento que será realizado, não informa, entre outros, isso pode ser considerado um tipo de violência. Conclui-se que a pura tecnologia dura no cuidado é violência. Tal como aponta Merhy (1999, p.3): o usuário sente-se “desinformado, desamparado, desrespeitado, desprezado, depreciado”

Corroborando com Merhy (1999), Deslandes (2004. s/p.) diz que resgatar a humanização é ir contra a violência tanto física como psicológica “que se expressa nos ‘maus-tratos’, seja simbólica, que se apresenta pela dor de não ter a ‘compreensão de suas demandas e suas expectativas’ ouvidas e compreendidas”. Portanto, se a equipe de saúde entender esse

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processo de cuidado, estará cuidando das pessoas. Em relação ao cuidado, o Ministério da Saúde aponta que, para os usuários

a forma do atendimento, a capacidade demonstrada pelos profissionais de saúde para compreender suas demandas e suas expectativas são fatores que chegam a ser mais valorizados que a falta de médicos, a falta de espaço nos hospitais, a falta de medicamentos (BRASIL, 2001, p. 5)

Assim, além da PNHAH o Ministério da Saúde desenvolveu a Política Nacional de Humanização, que abrange todos os níveis de atenção (PNH) (BRASIL, 2004). A PNH tem como intuito romper as barreiras do modelo centrado na técnica trazendo a transversalidade como princípio levando a mudanças da cultura vigente. Este último ponto é corroborado pelo PNHAH. Dessa forma, para a PNH, humanização envolve o cuidado as esferas da pessoa como

garantir os direitos dos usuários e seus familiares, é estimular a que eles se coloquem como atores do sistema de saúde por meio de sua ação de controle social, mas é também ter melhores condições para que os profissionais efetuem seu trabalho de modo digno e criador de novas ações e que possam participar como co-gestores de seu processo de trabalho (BRASIL, 2004, p. 7).

Portanto, a PNH planeja potencializar, mobilizar e autonomizar os atores sociais, pois poderão transformar a realizada existente na saúde. Para isso, como a PNHAH, a PNH tem como a rede de saúde uma estratégia para a implementação da política. Nela, devem participar todos os atores sociais como usuários, cidadãos, gestores, trabalhadores da saúde, trabalhadores da assistência social, entre outros. Essa rede tem como proposta “olhar cada sujeito em sua especificidade, sua história de vida, mas também de olhá-lo como sujeito de um coletivo, sujeito da história de muitas vidas”.

Essa política tem como princípios norteadores a

1- Valorização da dimensão subjetiva e social em todas as práticas de atenção e gestão, fortalecendo/estimulando processos integradores e promotores de compromissos/responsabilização;

2- Estímulo a processos comprometidos com a produção de saúde e com a produção de sujeitos.

3- Fortalecimento de trabalho em equipe multiprofissional, estimulando a transdisciplinaridade e a grupalidade.

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4- Atuação em rede com alta conectividade, de modo cooperativo e solidário, em conformidade com as diretrizes do SUS.

5- Utilização da informação, da comunicação, da educação permanente e dos espaços da gestão na construção de autonomia e protagonismo de sujeitos e coletivos (BRASIL, 2004, p. 10).

Dessa forma, espera-se que tenham transformações em quatro marcas, a primeira é de que seja do conhecimento dos usuários os seus profissionais de referência, outra marca é a informação dos profissionais para com os usuários; a diminuição da fila e tempo de espera, e por último, a garantia de gestão participativa aos trabalhadores e usuários, bem como a educação permanente aos profissionais. É proposto pela PNH formas de implementação desta política tanto na Atenção Básica, Especializada como na Hospitalar. Em relação ao nível hospitalar, existem dois padrões de adesão: B e A (BRASIL, 2004).

No padrão B para a implementação da política o hospital deve criar grupos de trabalhos de humanização, garantir a visita aberta ao usuário respeitando a dinâmica de cada unidade hospitalar, acolhimento aos usuários, escuta da população e trabalhadores, equipe multiprofissional para o atendimento à família e a rede social, mecanismos de desospitalização do usuário e garantia de assistência nos outros níveis de assistência com sistema de referência e contra-referência. Em relação ao padrão A, é acrescentado do padrão B a ouvidoria em funcionamento, existência de um conselho gestor local, acolhimento com avaliação de risco nas áreas de acesso e educação permanente do tema de humanização (BRASIL, 2004).

3.4 PSICOLOGIA HOSPITALAR

Um dos itens que se destaca para a efetivação da implementação da PNH e do PNAH é o atendimento multiprofissional. Em relação aos psicólogos, eles têm um papel no hospital que abrange a Psicologia Preventiva e de Tratamento. Nessas instituições, sua atuação abrange a psicologia clínica, social, organizacional e educacional, já que estar doente impede a pessoa de trabalhar, divertir-se, descansar, tira-o do convívio da família, dos amigos, cotidiano, logo, acaba isolando a pessoa. Entende-se que “cada um vive a sua dor; por mais que os outros se esforcem para compreendê-lo, ninguém sentirá o que ele sente. A experiência de estar doente é sentida de uma forma sempre única” (CAMPOS, 1995, p. 42). Portanto, o psicólogo trabalha no sentido de reconhecer e acolher essa dor.

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Campos (1995) aponta algumas dificuldades que experienciou ao longo de sua carreira hospitalar. Refere-se à forma particular de cada pessoa adoecer e reincidir na doença, outras pessoas apresentavam-se eternas queixosas e, outras reagiam bem frente à cirurgia, mas ainda outras se mostravam infantilizadas diante do adoecimento. Em alguns momentos, a autora refere que alguns pacientes não sabiam ao certo o que estava acontecendo com eles, com os seus corpos, já alguns pacientes reagiam de forma negativa ao atendimento, outros negavam a doença. Dessa forma “o paciente queria não só ser visto e examinado como também ser ouvido, ser entendido na sua linguagem oculta e o atendimento psicológico fazia com que ele se percebesse melhor” (CAMPOS, 1995, p. 12).

Diante do processo de adoecimento e recuperação da saúde, o paciente tem sua forma peculiar de entender o processo que está passando principalmente quando esse apresenta inúmeras dificuldades psicossociais, algumas delas são: “Ameaça à integridade narcísica” como o controle sobre seu destino, “medo de estranhos” como membros da equipe do hospital, outro paciente que esteja no quarto, “ansiedade de separação” de casa, da família do trabalho, animal de estimação, entre outros, “medo da perda de amor e aprovação” em que surge a partir de sentimentos de desvalorização devido a dependência de outras pessoas, “medo da perda de controle de funções adquiridas durante o desenvolvimento infantil” como a fala, marcha, esfíncter, “medo de perda de alguma parte do corpo” e ‘culpa e medo de retaliação” dos profissionais de saúde (PENNA, 1992, p. 367).

Outras características hospitalares que refletem no paciente estão relacionadas à “invasão” do corpo, quando ele fica submetido ao tratamento, sente-se manipulado e invadido, sem muita oportunidade de opinar sobre si. Como conseqüência o paciente fica passivo ou agressivo, podendo demonstrar raiva durante a internação.

Essas reações podem ocorrer, na maioria das vezes, pela dificuldade em aceitar não só sua doença, mas todo o processo de hospitalização e tratamento. São mecanismos de defesa que procurar preservar a integridade do seu eu (ISMAEL, 2005, p. 26)

Campos (1995) identificou que a doença das pessoas está relacionada à sua história de vida e sua forma de se relacionar com o mundo. Logo, quando a pessoa está hospitalizada ela não trás apenas partes do seu corpo, ela está ali por inteiro, e deve ser atendida desse modo. Portanto, Freitas (1980) pontua que fenômenos psicossociais podem alterar a doença, afirmando que quando a pessoa apresenta estados de estresse ou depressão o organismo diminui a capacidade de reconhecer células ou órgãos que estão apresentando alguma patologia. Desse modo, o estresse é prejudicial ao bem-estar da pessoa. Em relação à

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dimensão física, pode contribuir para o aumento da pressão arterial, doenças cardíacas, redução do sistema imunológico, modificações de neurosubstâncias, tendo como conseqüência alterações emocionais e cognitivas e aumentar a vulnerabilidade às infecções, cicatrização de ferimentos, entre outros (CAPITÃO, SCORTEGAGNA, BAPTISTA, 2005). Assim sendo, “esse é um dos motivos pelos quais quando o sentimento de culpa é muito intenso, é necessária ajuda psicológica para evitar que o estado emocional impeça de responder positivamente ao tratamento” (FREITAS, 1980, p. 45).

Em relação à atuação do psicólogo no hospital, este deve realizar algumas ações assistenciais de forma individual ou grupal em “espaços reservados, junto ao leito do paciente ou em outros espaços hospitalares, conforme a pertinência do atendimento” (TONETTO; GOMES, 2007, p.44). No ambiente hospitalar o setting5 terapêutico é peculiar, visto as diferenças dos espaços para atendimento na clínica; o atendimento dá-se, muitas vezes, no quarto, pois o paciente pode estar acamado, caso haja outro paciente no mesmo quarto ou familiar, o psicólogo deverá ter o bom-senso da forma de conversar com o paciente e/ou familiar e o limite adequado para a intervenção. Um exemplo do atendimento hospitalar é dado por Ismael (2005, p.21).

O médico entra no quarto para avaliar o paciente, ao mesmo tempo, a enfermeira chama o paciente para um raio X, a família não quer sair do quarto e temos de atender o paciente no meio de mais outros 10 em uma grande enfermaria, onde há a impossibilidade de se manter o sigilo.

A atuação do psicólogo visa diminuir a ansiedade e estressores que estão presentes no paciente. Dessa forma, prestar informações desmistificando algumas crenças do paciente e possibilitar a autonomia deste ajuda o paciente a aumentar o controle da situação. Outra forma de atuação do psicólogo juntamente com outros profissionais, dá-se pelos grupos educativos cujo objetivo é o de conscientizar o paciente e sua família da doença e de formas de tratamento (ISMAEL, 2005). Nesse sentido, a orientação ao paciente e familiar tem como metas a prevenção e o tratamento (CAMPOS, 1995).

Para Tonetto, Gomes (2007, p.44) a intervenção psicológica tem diversos objetivos como:

Avaliar o estado emocional do paciente; esclarecer sobre dúvidas quanto ao diagnóstico e hospitalização; amenizar angústias e ansiedades em situações

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Setting terapêutico é o espaço singular que se oferece à pessoa, o qual propicia vínculo e a possibilidade realizar o atendimento psicológico (WOLF, 2009).

Referências

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