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FAMILIARIZAÇÃO COM A ÁREA DE ESPECIALIDADE

3. FASE DE PRÉ-TERMINOGRAFIA – VERTENTE CONCEPTUAL

3.4. FAMILIARIZAÇÃO COM A ÁREA DE ESPECIALIDADE

3.4.1.

FONTES E RECURSOS

Os primeiros contactos com o domínio têm por objectivo dar ao terminólogo uma visão de conjunto, uma compreensão da extensão e dos limites do campo, das dificuldades a serem enfrentadas (Barros, 2004:193).

A fase de pré-terminografia caracteriza-se tanto pelo estabelecimento de objectivos para a elaboração de um recurso terminológico, como pelo desenvolvimento de um trabalho preparatório que permite uma melhor execução do mesmo. Este trabalho preparatório inicia-se, por conseguinte, com a identificação da abrangência e limites da área de especialidade: “the first practical step consists in identifying a subject field the terminology of which is to be defined and described in one or several languages” (Rey, 1995:138).

Cabe, portanto, ao terminógrafo familiarizar-se com a área em análise, adquirindo para tal, e de acordo com Cabré, uma competência cognitiva que lhe dará uma visão da sua extensão e limites, das relações de interdisciplinaridade que mantém, dos seus conceitos e das relações que estes estabelecem entre si, num contexto sócio-cultural específico:

Se procede en primer lugar a la adquisición de una de las competencias básicas en terminología: la competencia cognitiva. En realidad se trata de que el terminólogo no especialista adquiera los conocimientos suficientes para que pueda entrar en el tema (Cabré, 1999d:143-144).

Efectivamente, na análise da área de especialidade que constituirá objecto de estudo, é necessário considerar que esse conhecimento está assente em raízes contextuais próprias e que existem, por conseguinte, factores geográficos,

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históricos, económicos, políticos, sociais, etc., que o caracterizam e que constantemente influenciam a sua estrutura.

A segunda etapa da fase de pré-terminografia visa, efectivamente, a representação conceptual da área de especialidade, quer através da indicação das suas áreas de especialização, quer das áreas com as quais estabelece relações de interdisciplinaridade.

Será, no entanto, importante de manter em mente que esta representação é dinâmica e estará, por conseguinte, sujeita a alterações, uma vez que visa reflectir o estado actual do conhecimento, tal como é reconhecido e partilhado pelos membros da comunidade de especialistas. Os discursos produzidos por essa comunidade, e concretamente a terminologia aí presente, espelham a evolução desse conhecimento, permitindo, através da sua observação, a constante actualização da representação conceptual da área: “it is through the specialized text that the specialist decisively contributes to the evolution of knowledge. Specialists use specialized texts both to transmit knowledge and have access to it” (Costa, 2005a:4).

Esta etapa não faz, porém, do terminógrafo um especialista, e, por conseguinte, a consulta e colaboração com especialistas é fundamental. Para a elaboração da representação conceptual das Ciências da Nutrição – a área de especialidade em análise –, e dada a nossa formação base em Linguística Aplicada, tornou-se, pois, necessário estabelecer uma rede de contactos com especialistas da área, assim como recorrer a e consultar um vasto conjunto de fontes e recursos. Este processo intensivo de pesquisa e documentação, que se prolonga por todo o processo terminográfico – num esforço de constante actualização e descoberta –, é essencial para o terminógrafo que não é especialista da área de especialidade.

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Começaremos por descrever o contacto com especialistas em Ciências da Nutrição, para posteriormente nos centrarmos na análise de fontes e recursos, com vista a uma familiarização com a mesma.

O contacto e reunião com especialistas da área – docentes, investigadores e nutricionistas – e com as instituições que eles representam – a Sociedade

Portuguesa de Ciências de Nutrição e Alimentação (SPCNA) e a Associação Portuguesa dos Nutricionistas (APN) – mostraram-se fundamentais não só para o

conhecimento da área, como também para a auscultação das necessidades de ordem terminológica que a comunidade enfrenta e que melhor nos permitiram definir o nosso objecto de análise. Para tal, mostrou-se essencial motivar o especialista para o desenvolvimento de um trabalho colaborativo, através da demonstração do contributo da Terminologia e dos seus produtos, na optimização da comunicação na área de especialidade.

Do mesmo modo, a participação em eventos científicos da área possibilitou a familiarização com um discurso especializado – escrito e oral – comum a esta comunidade. Efectivamente, os especialistas, para além de um conhecimento específico à área, detêm um conhecimento acerca do discurso que lhe é próprio, assim como, e muitas vezes inconscientemente, do seu funcionamento. Esta competência (meta)linguística mostrou-se mais evidente nos especialistas que desempenham actividades de docência, devido à constante necessidade de reformulação do discurso para futuros especialistas.

A APN, fundada em 1982, é uma associação profissional de direito privado, representativa dos nutricionistas em Portugal, cujos objectivos principais são o desenvolvimento das Ciências da Nutrição e da Alimentação e a promoção e dignificação da profissão de nutricionista. Na página electrónica desta instituição, rica em informação útil para o trabalho que desenvolvemos, a profissão é definida nos seguintes termos:

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Profissional com formação universitária que trabalha no âmbito das Ciências da Nutrição e Alimentação, fazendo o estudo, orientação e vigilância da nutrição e alimentação e intervindo nos domínios da adequação, qualidade e segurança alimentar, com o objectivo da promoção, prevenção e tratamento da doença (Associação Portuguesa dos Nutricionistas, 2002).

Nesta página, são ainda enumeradas as áreas de actuação e os locais de trabalho do nutricionista, informação que nos permitiu adquirir uma visão do contexto profissional da área, em Portugal (Figura 10, Figura 11).

FIGURA 10–CAMPOS DE ACTUAÇÃO DO NUTRICIONISTA31

FIGURA 11–LOCAIS DE TRABALHO DO NUTRICIONISTA32

A partir da definição da profissão de nutricionista acima transcrita e da análise dos dois esquemas supracitados, pudemos, efectivamente, melhor compreender os limites e extensão da área, cuja abrangência se estende desde o

31 Estes dados constituem uma adaptação da informação presente no seguinte endereço:

http://www.apn.org.pt/apn/index.php?option=displaypage&Itemid=69&op=page&SubMenu =69.

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controlo da qualidade e segurança alimentares, até ao contexto clínico – quer a nível profilático, quer terapêutico.

Centremo-nos, agora, nas fontes e recursos em Ciências da Nutrição consultados. Relativamente a estes, salientamos a leitura e análise de:

a) literatura da área e curricula e programas de cadeiras de cursos de ensino superior;

b) sistemas de classificação e thesauri;

c) relatórios produzidos no contexto do Processo de Bolonha.

Apesar da variadade de fontes e recursos consultados, nenhum – como veremos – nos forneceu, a título individual, uma visão holística das Ciências da Nutrição, área fortemente caracterizada não só pelos laços de interdisciplinaridade que mantém, como também pela actuação, quer a nível da promoção da saúde, quer a nível da prevenção e tratamento da doença. Assim, foi com base na conjugação da informação obtida a partir da análise do conjunto de fontes e recursos que passaremos a enumerar, que a nossa visão das Ciências da Nutrição se foi, mentalmente, construindo.

Ao longo da apresentação de cada fonte e recurso que se segue – em especial no que concerne os sistemas de classificação e os thesauri consultados –, faremos, de igual forma, uma breve referência à natureza e objectivos dos mesmos – como forma de mais claramente podermos expor o nosso raciocínio. Do mesmo modo, sempre que relevante, compararemos estes recursos com os sistemas conceptuais comummente desenvolvidos em Terminologia e/ou, especificamente, com o sistema conceptual das Ciências da Nutrição que visamos elaborar, dadas as suas – aparentes – semelhanças. Com efeito, este facto que pode conduzir à não correcta expectativa de que algum destes recursos

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poderia, por si, satisfazer as nossas necessidade de representação do conhecimento.

A. Literatura da área e curricula e programas de cadeiras de cursos de