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autocuidado, a vivência de uma transição simultânea e relacionada

3. A RECONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA NO AUTOCUIDADO

3.6. A reconstrução da autonomia uma teoria explicativa

3.6.3. Os fatores críticos na reconstrução da autonomia

3.6.3.5. Fatores críticos extrínsecos aos sujeitos

Dentro dos fatores críticos também há fatores extrínsecos aos sujeitos que interferem com a reconstrução da autonomia. A sociedade pode, favorecer a socialização, promovendo o envolvimento e facilitando o processo; ou aumentar e favorecer o estigma social, muito associado a esta questão da dependência, designadamente de pessoas com limitações, dificultando todo o processo. A este nível temos a diferença da forma como as pessoas do norte e do sul da europa veem o uso de produtos de apoio como cadeira de rodas e andarilhos; os

Consciencialização

Envolvimento

Factores críticos

Na pessoa À sua volta

Crença Cultural

Auto-imagem Formalmente guiadoResponsável

Abandono Independente Autocontrolo Força de vontade Locus de contolo Auto-eficácia Interno Externo Tipo de autocuidado Tomar decisões Critérios Experiência Informação Comparação Confrontação Fontes Antecipação Atitude face ao cuidado Volição Crenças

Motivação para mudar

Expectativas Conformismo

Significados negativos

Uso tecnologias apoio Pedir ajuda

Queda

Depender de outros

Condição de saúde

Co-morbilidade Mau status nutricional

Úlceras pressão Confusão Astenia Promove Dificulta Dificulta Promove + + + + + + + Promove _ _ _ _ _ Dificulta Dificulta Confiança Esperança Iniciativa Promove

primeiros entendem-os como recursos para a sua autonomia e tudo fazem para os terem disponíveis e facilitar as acessibilidades a quem os utiliza, acontecendo exatamente o contrário com os segundos. Nos países do sul da europa, o estigma associado aos produtos de apoio leva a que as pessoas que deles necessitem evitem o seu uso e ao não cumprimento da lei das acessibilidades de quem de direito.

Nas situações de perda de autonomia o suporte é fundamental. O suporte poderá ser económico, espiritual, familiar e da comunidade. Em relação ao suporte económico, entendido como a suficiência face ao necessário, este revela-se através do rendimento familiar, das condições da habitação, pela existência de subsídios e a presença de produtos de apoio e recursos. A procura de suporte é também um sinal de que a pessoa está envolvida: “O total por mês é de 80 euros e nós pagamos 50 e a segurança social 30. Também fui ao posto de saúde levar a carta para o médico de família que já fez o relatório para pedir o subsídio para 3ª pessoa” (P8E2). A ajuda profissional passa pelo assistir no requerer de apoio. As pessoas com dependência e a família podem optar por não solicitar determinado apoio, mas deve ser uma escolha consciente e informada.

O suporte espiritual também se pode verificar, revelando-se na procura da igreja, no acreditar que existe algo superior que ajuda a superar as dificuldades. “(…) por amor a Deus, eu não posso cair” (P2E3).

A família é um suporte fundamental que, entre outros aspetos, ajuda, assistindo ou executando as atividades de autocuidado, planeia as tarefas: “A vida deles também mudou, porque têm que estar mais atentos às minhas coisas. Até me dar isto eu é que tratava das minhas coisas” (P2E4). Pela sua importância a família, mais especificamente o familiar ou familiares cuidadores vão influenciar a reconstrução da autonomia da pessoa com dependência no autocuidado. Por exemplo, se a família tiver experiência anterior de tomar conta este será um fator facilitador: “Até fui buscar a tábua para a banheira, mandei-a arranjar, porque já foi usada pelo meu sogro - disse o filho. Parecendo que não nós, eu e minha mulher, já tivemos a experiência com o meu sogro. E, embora as situações e as pessoas sejam diferentes, o que temos que fazer é parecido. Por isso, é que eu me mexo bem, já sei o que é preciso. E mais, não sabemos por quanto tempo” (P3E2). A natureza da prestação de cuidados pelo familiar cuidador também vai promover ou dificultar o envolvimento. Se o familiar cuidador tiver o sentido do potencial da autonomia do doente acaba por promover o envolvimento deste no processo: “Eu

às vezes ajudo, mas a minha filha não quer. A minha filha diz – não faças nada, deixa-o fazer aquilo que ele puder” (P8E2). Pelo contrário, se o familiar cuidador tiver só a ideia da proteção e da substituição vai dificultar o envolvimento, acabando por dificultar a reconstrução de autonomia da pessoa com dependência no autocuidado.

Outro aspeto apresentado pelos membros da família como fator crítico uma vez que foi considerado desgastante está relacionado com a dificuldade em lidar com os momentos de confusão da pessoa com dependência. Os familiares referem mesmo não saber se a pessoa está confusa ou se é um traço da sua personalidade. De facto, como refere Campos (84) estas situações são igualmente difíceis para os profissionais de saúde e o diagnóstico diferencial não é fácil, pois é muito difícil distinguir se os momentos de “confusão” são derivados de perdas de memória, a traços da personalidade ou estão relacionados com questões de relacionamento entre os membros da família.

A comunidade, os profissionais de saúde, nomeadamente os enfermeiros que ajudam as pessoas a vivenciar estes processos de transição e a existência de produtos de apoio, assim como as acessibilidades constituem-se como aspetos fundamentais. A comunidade pode facilitar ou dificultar a vida destas pessoas no que concerne às acessibilidades e às instituições. A atual rede nacional de cuidados continuados é uma alternativa ou uma opção da resposta da comunidade a estas pessoas. No entanto, apesar de estarem disponíveis, continua a ser muito difícil a sua organização e articulação para uma resposta efetiva: “Aquele mês e meio que estive na UCC de convalescença de nada me vai valer se eu, entretanto, não começar a fazer fisioterapia aqui fora. Já estou em casa quase há mais de uma semana e ainda não consegui ir à consulta” (P8E2). “Para mim fez toda a diferença, porque se eu tivesse vindo para casa teria que ter ajuda de outros, dos meus irmãos – em relação à passagem pela UCC convalescença” (P9E2). Neste âmbito continuam a existir lacunas na preparação do regresso a casa das pessoas com dependência e das famílias que integram essas pessoas. A reconstrução da autonomia concretizasse na comunidade, por isso é neste contexto que devem existir respostas efetivas.