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36 SANTOS, Fernando Avilla dos. As Medidas Socioeducativas e a Responsabilidade da sociedade frente à

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A abordagem de infratores tem sido um dos assuntos mais problemáticos na seara de direitos de adolescentes, o Estatuto da Criança e do Adolescente discorre acerca de todas as medidas socioeducativas, como também a forma de abordagem dos infratores, respeitando-lhes a integridade física e psicológica, tendo em vista que ainda estão em construção de suas vidas, construindo pensamentos e amadurecendo humanamente falando.

Incorre ressaltar que eles, os adolescentes infratores, são atraídos por diversos fatores que influenciam a entrada de no mundo do crime, ressaltamos dentre eles o tráfico de drogas, o principal atrativo para eles, sobretudo pela facilidade de se conseguir algum lucro com isto; as drogas são a porta de entrada para o mundo do crime37.

Um dos motivos para que crianças e adolescentes se sujeitem a isto também é a questão da idade e a ausência de punição aos mesmos. Este é o fator primordial e têm sido uma consequência social, precipuamente pelo meio em que estes jovens estão inseridos socialmente falando.

Contudo, sabemos que não há que se falar em punição para crianças e adolescentes, aqueles terão de enfrentar uma medida educativa, já estes é quem poderão, porventura, enfrentar uma medida socioeducativa.

No que pese as medidas socioeducativas é que se centraliza a problemática da questão da negligência estatal, precipuamente pela forma como os adolescentes são abordados, aqui reside toda a problemática.

A respeito do ingresso por parte de ao mundo do crime, é possível averiguar- se que o número de prisões de adolescentes têm se tornado cada vez mais frequente e, outrossim, por vezes em número maior que a apreensão de adultos.

Isto também influi totalmente na questão da abordagem, o número de jovens infratores cria revolta também na sociedade, inúmeros cidadãos defendem que a maior idade penal deve decair, a fim de que estes adolescentes sejam punidos a rigor. Temos verificado alguns motivos para estes dados estarem em crescente desenvolvimento, dentre inúmeras causas temos, antes de qualquer outro, o fator familiar; a família é a base de toda a sociedade, se temos uma família desestruturada,

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sem afeto, sem diálogo, sem educar seus filhos, teremos consequentemente crianças e adolescentes despreparados, negligenciados e mais propícios a se envolverem com as drogas ou qualquer outra espécie de fator negativo para sua conduta.

O seio familiar é razão principal para se resguardarem neste meio, a fim de suprir uma falta que sua família deveria atuar; além destas negligências, os conflitos dentro do lar, entre seus pais, abusos sexuais, violência doméstica, vícios, tudo isso afeta o psicológico do adolescente e lhe torna mais vulnerável a caminhar por caminhos tortuosos.

Outro fator é o econômico, tendo em vista a falta de oportunidade, a situação de miserabilidade em que vive, encontra nas drogas um refúgio não apenas psicológico mas também como uma forma mais fácil de obter seu próprio sustento e de se reafirmar perante o meio em que vive38.

Em virtude da desigualdade social é que muitos adolescentes estão à margem da sociedade, os tornando mais vulneráveis, ligando-os a diversos fatores além da discrepância da desigualdade da má distribuição de renda, tem-se ainda a violência, além da educação de má qualidade etc39.

Podemos citar ainda a influência dos amigos, mesmo que não viva em situação de marginalidade, esse é um motivo de grande relevância.

Ainda temos a falta de posicionamento escolar e a falta de acompanhamento por parte desta, de medidas que conscientizem seus alunos, de medidas de segurança dentro da própria escola que, por vezes, não impõem limites aos seus alunos; além de tudo as escolas públicas estão cada vez menos despreparadas.

Sem incentivo governamental, os próprios educadores estão desestimulados, sem motivação alguma para laborar, o que influencia totalmente na construção do saber e da conscientização de seus alunos, sendo estes os papeis fundamentais das escolas, como sendo formadores de opinião e de cidadãos conscientes e de bem.

É fator relevante pela negligência do Estado, quanto às frágeis medidas socioeducativas, falta de políticas públicas para que esclareçam e efetivem que não compensa um indivíduo, sobretudo crianças e adolescentes, adentrar nessa vida.

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infracional e as medidas sócio-educativas: penalidade ou reintegração social? P 3

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Observa-se que o meio em que muitos vivem influenciam à inserção dos mesmos na criminalidade, todavia, se houvessem medidas governamentais e mais efetivação do poder público em resguardar tais crianças e adolescentes, se houvesse aplicação de políticas públicas, se o sistema socioeducativo e de segurança cumprisse realmente com o papel que lhe compete, veríamos que este quadro se reverteria.

O quadro de marginalidade, miserabilidade, inconformismo, falta de oportunidades e infraestrutura educacional é o quadro que descreve a vida de muitos adolescentes que resolvem viver para o crime; são crianças e adolescentes que foram esquecidos pelo poder público, são afetados pela ausência moral, social e, por que não dizer: afetiva, no contexto familiar, pois é perceptível as semelhanças no seio da família destes adolescentes40.

O artigo 4° do Estatuto da Criança e do Adolescente prevê que a responsabilidade de assegurar, vale ressaltar, com prioridade, cabe à família, a sociedade como um todo e a Administração Pública à efetivação dos direitos de nossas crianças e adolescentes; se esse texto legal fosse devidamente posto em prática, lhes seria garantidos os direitos à vida, saúde, alimentação, educação, esporte, lazer, profissão, cultura, dignidade, respeito, e não só isso, como também liberdade, convivência harmoniosa em família e em comunidade41.

Ao observarmos o dispositivo supracitado vemos quão frágil e desajeitada é a realidade de nossas crianças e adolescentes; quão desrespeitada é a letra da lei de nosso país; quão negligente é a nossa confederação; quão desrespeitoso é o sistema em que estamos inseridos e como isto tem se refletido de forma tão drástica e infeliz na nossa realidade social.

Não obstante, a negligência que abarca nossos adolescentes, quando uma medida socioeducativa lhes é aplicada, por vezes vemos quão infrutífera é tal medida; por exemplo, um juiz encaminha o infrator a um Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS), entidade da Administração Indireta, o mesmo é acompanhado por cerca de três a seis meses e logo após volta para às mesmas

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infracional e as medidas sócio-educativas: penalidade ou reintegração social? P 3

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práticas que outrora cometia, justamente por não lhe ser assegurado o disposto no artigo supramencionado.

Ao mesmo tempo, com isto, percebemos quão inoperante são estas medidas socioeducativas, que ao invés de ressocializar são usadas como um meio paliativo, em nada mudando a realidade desses adolescentes, pois a medida por si só não produz o efeito desejado, se não houver a colaboração do aparelho estatal no cumprimento de suas demais obrigações enquanto Administração Pública.

A medida socioeducativa por vezes não tem causado efeito algum, visto que a realidade continua a mesma, não adianta a punição se logo após o meio em que se vive e a omissão da família e do Estado continuam em efetiva prática.

Não adianta irmos a academia e continuarmos nos alimentando exageradamente e sem acompanhamento nutricional, é o mesmo que acontece nesses casos; não adianta uma medida socioeducativa se o meio em que estão inseridos esses jovens continua o mesmo, mesmas práticas, mesmas negligências, mesma ociosidade etc.

Famílias e Estado conjuntamente se omitem, e neste espectro formamos jovens psicologicamente abalados, negligentes, marginalizados, inconformados e cada dia mais escravos da criminalização. Por isso o mundo da criminalidade chama tanta atenção deles, as drogas correspondem ao principal alvo desses adolescentes, depois disso percorrem caminhos cada vez mais tortuosos.

Infelizmente esta tem sido uma realidade visível em nosso país, encontramos casos em que, além de serem violados em tantos vários aspectos, até nas medidas socioeducativas lhes são negligentes.

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